Nightingale escrita por masakrowiec


Capítulo 2
Capítulo 2




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Era uma vez um rouxinol. 

Suas penas eram brancas, diferentes de todos seus parentes e seu canto melodioso vibrava em uma nota diferente. Essa era uma promessa de renovação para todos os rouxinóis, mas um canto de desafio para outros. O tesouro foi aprisionado então, ainda filhote para aprendesse a harmonizar seu canto com todos os outros.

Porém o rouxinol branco nunca esqueceu de seu talento.

 

 

2º de janeiro, Complexo Hyuuga, manhã

Neji gostava de se sentar à janela de manhã, para ver o sol nascer enquanto fazia seu desjejum sozinho na cozinha da casa secundária e praticava sua meditação para o dia. A janela estava preenchida com a mesma horda de cotovias barulhentas, todas o encarando atentamente. Seu lábio se ergueu um pouco. Ele pegou um dos bolinhos de arroz entre seu hashi e o depositou no batente da janela, observando os pássaros se juntarem em volta da comida.

As manhãs eram suas preferidas no complexo.

Ele deixou a brisa gelada resfriar um pouco sua face, e aliviar a dor de cabeça sempre presente. Talvez pedisse à algum Hyuuga

Estava no meio do movimento de comer outro bolinho quando seus pássaros se agitaram e o ar pareceu de repente mais pesado. Neji não interrompeu seu movimento, mas seu corpo se tensionou, preparado.

Um...

Dois...

Neji largou o bolinho na mesma hora em que o ataque veio, e ouve um baque alto que assustou os pássaros momentos depois. Neji piscou serenamente, olhando para baixo. As mãos de Hanabi estavam brilhando com chakra concentrado, porém estava bem apertada entre o hashi de Neji, e seu joelho imobilizava a prima menor no chão.

Hanabi gemeu em decepção. 

"Muito lenta", disse o primo com um sorriso.

"Ah é? Então lide com isso!".

Hanabi atacou com a outra mão e Neji usou novamente seu hashi para se defender. Hanabi grunhiu e pulou fora de alcance, entrando em posição de luta. Neji se ergueu, estoico, mas pronto para acabar com isso.

Quando a prima atacou, já sabia o que fazer.

Em um movimento que lembrou Lee, o jovem jounin torceu seu corpo e deslizou por uma brecha na postura da prima, concentrando  pouco chakra na mão e cutucando-lhe nos joelhos. Hanabi, pega de surpresa com a evasão inesperada, gritou e tropeçou para frente, conseguindo se equilibrar logo em seguida.

“Muito barulhenta”, disse Neji se endireitando. “Sua postura tinha uma brecha que me permitiu aplicar esse golpe”.

“Mas eu apenas copiei o seu Juuken”, reclamou Hanabi com um beicinho. Seu punho estava vermelho de onde Neji a havia segurado com os hashis.  

“E eu sei os pontos fortes e fracos de minha postura. Você não. Antes de desenvolvê-la, tive de dominar a postura perfeita para então assimilá-la ao meu estilo. Você deve primeiro entender o que está tentando fazer para então personalizar, e não simplesmente copiar um estilo de luta”.

“Mas você ensinou a Hinata...”

Neji desviou os olhos. Era verdade, é claro. Por mais que Hanabi preferisse copiar seus métodos pouco ortodoxos, ainda não era o estilo puramente Hyuuga de luta, e apesar de Hiashi nunca lhe ter diretamente desaprovado, o pouco tempo que Neji passou treinando Hinata, acabou por lhe passar seus próprios maus hábitos.

Um herdeiro Hyuuga não poderia lutar como um membro da família secundária.

“Eu a treinei, porque ninguém mais o faria”, afirmou Neji calmamente, e assistiu o rosto da prima mais nova se colorir com o vermelho da vergonha.

“Neji-kun está certo, é claro”.

Neji e Hanabi se assustaram, virando-se para a porta de entrada. Neji arregalou os olhos antes de curvar a cabeça rapidamente, com seu coração batendo muito forte em seus ouvidos.

Hitomi Hyuuga estava parada na porta da cozinha, puxando levemente suas vestes cerimoniais para não arrastar pelo chão da cozinha. Seu rosto tinha uma expressão neutra e serena que muito lembrava o rosto do próprio filho, apesar do temperamento de Hiashi ser muito mais brando que o da mãe.

A avó de Neji era pequena em sua idade, mas não perdia os modos nunca. Uma verdadeira dama Hyuuga. Por baixo de toda essa delicadeza, porém, se escondia um gênio terrível.

“Vovó”, apressou-se a dizer Hanabi, “Neji só estava corrigindo minha postura no Juuken”.

“O que ele faz atrozmente ruim”, respondeu Hitomi num tom extremamente doce. “Hanabi querida, você irá desprezar os ensinamentos de seu pai, um mestre no estilo de luta Hyuuga, ao ponto de procurar imitar outro estilo de luta falho e desajeitado? Essa é a maneira que você paga o trabalho duro e dedicação do líder do clan?”

Hanabi empalideceu e gaguejou uma resposta. Neji permaneceu de olhos baixos, tomando cuidado para não mover um fio de cabelo, mas por dentro estava fervendo.

Hitomi-hime era uma adepta rígida das velhas regras e tradições do clã Hyuuga, e uma das razões pela qual Neji não se atrevia nem a sonhar em ter seu selo amaldiçoado extinto.

Ela se aproximou e, com suas mãos pequenas e delicadas, agarrou o pulso de Hanabi e o elevou até a altura de seus olhos. As marcas vermelhas do hashi pareciam piores do que realmente eram por causa da pele extremamente branca de Hanabi.

Hanabi recolheu o braço depressa, escondendo-o atrás das costas. “Eu bati enquanto me vestia hoje de manhã”, apressou-se a mentir. Neji sentiu vontade de gritar com a confiança inocente da prima.

Hitomi-hime sorriu vitoriosamente.

“Não se preocupe, Hana-chan”, sua avó disse com a voz ainda doce, sorrindo encorajadamente para a neta mais nova. “Nori-chan está lhe esperando com seu café da manhã e você ainda precisa se arrumar para o encontro com seu pai e outros líderes políticos”.

Os olhos de Hanabi cresceram e ela bateu na testa. “Eu me esqueci!”.

Sua avó riu suavemente. “Agora vá”.

Ela esperou até Hanabi sumir de vista para agarrar o antebraço de Neji em um aperto firme, suas unhas compridas beliscando a carne. Ela tentou manobrá-lo para a parede, tarefa difícil já que Neji era bem mais alto que ela. Ele se sentiu vingativamente satisfeito por esse fato, mesmo que exteriormente não dissesse nada. Não daria motivos a mais para ser punido.

“O que você estava dizendo para ela, menino?”

“Nada Hitomi-san”.

“É Hitomi-sama para você”. Sua avó lhe deu um sorriso feral. “Se eu pegá-lo tentando ensinar suas técnicas bastardas para ela, vou levá-lo ao Conselho e puní-lo eu mesma”.

Neji ficou quieto no aperto de suas garras, mas por dentro ele estava fervendo como  um vulcão em erupção. Sua meditação foi arruinada em cinzas e a falta de controle não era uma característica Hyuuga.

Sua avó tinha o dom de elevar as falhas de Neji e mostrar à ele e à todos como ele era tão inadequado para se chamar Hyuuga.

Ainda sim, a ideia de baixar a cabeça mansamente para essa velha harpia fazia o peito de Neji se retorcer em desgosto. Tinha que escolher suas palavras cuidadosamente para não parecer desrespeitoso.

“Hanabi-san pediu por minha opinião, tenho a obrigação de lhe responder, não é?”

“A obrigação com o treinamento dela não é sua”, ela retrucou. “E você usará os honoríficos adequados para a sua posição, Neji-kun. Se eu lhe pegar treinando Hanabi-chan ou se referindo impropriamente à ela, terei de expor-lhe às punições do Conselho. Entendeu?”.

Neji considerou por um momento jogar tudo para o alto e bater na mão da avó, que ainda agarrava-lhe o ombro com força. O ódio ou ressentimento não eram sentimentos aceitáveis para Hyuugas. Na verdade, um Hyuuga era sempre bem equilibrado em seu yin e yang, nunca uma coisa ou outra.

Ele engoliu seu orgulho, seu rosto ainda inexpressivo.

“Nunca treinei Hanabi-sama, só lhe dou o benefício da pouca experiência que tenho como membro desse clã e shinobi de Konoha”, Neji mentiu, adorando a expressão feia que Hitomi-hime fez ao não ver seu único neto abaixar a cabeça como um bom cordeiro. Ele continuou com a voz cuidadosamente respeitosa. “Até que Hiashi-sama me proiba, não posso ser responsabilizado por apenas lhe conceder seus desejos”.

Hitomi o encarou com os lábios franzidos e lentamente retraiu a mão. Neji aguardou, certo de que a conversa teria terminado. O que ele não esperava era outro tipo de toque.

Um dedo fino e macio acariciou sua bochecha e seu olhar duro pareceu se derreter num núcleo quente e afetuoso. Hitomi-hime alisou os traços de seus rosto e colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, quase como o toque de uma mãe amorosa.

“Você tem o desafio de Hizashi”, ela anunciou com um tom saudosista. Por um momento descrente, Neji pensou que ela sucumbiria à nostalgia do seu filho perdido.

Então ela juntou a mão em um selo inconfundível.

“É por isso que muitas vezes você esquece seu lugar na hierarquia desse clã”.

Neji mal pode se preparar e o selo amaldiçoado se ativou. Fogos de artifício explodiram dentro de seu crânio, ao mesmo tempo em que seu cérebro parecia estar sendo perfurado continuamente por pequenas agulhas. A visão da sala sumiu. Seus olhos pareciam estar se derretendo, como ácido químico.

Ele sentia sangue saindo dos ouvidos e nariz, sentia seu corpo desmoronar, em choque com a quantidade de dor. O selo era uma proteção dos segredos do clã e servia como uma ameaça suave, mas eficiente, para todos. Um lembrete constante. Raramente era ativado enquanto os portadores estavam vivos e fora de perigo, pois a tortura dolorosa era muito cruel e podia deixar sequelas que inutilizavam o portador do selo para qualquer tarefa exigindo as habilidades do clã.

Um preço que Konoha não estava disposta a pagar, por isso reprimiram os Hyuugas no uso da ativação do selo como método de punição.

Hitomi-hime, como uma tradicionalista, ignorava todas aquelas recomendações.

Ao mesmo tempo em que se cérebro parecia estar começando a liquefazer, Neji podia fazer seu cérebro voltar para a cozinha serena da casa secundária e enxergar sua avó de pé diante dele, com as sobrancelhas arqueadas, como se duvidasse do poder do selo sobre ele.

Interiormente Neji estava urrando. Exteriormente, era como se ele estivesse se transformado em um boneco, tão imóvel quanto as marionetes de Kankurou.

Então acabou.

Neji estremeceu ao sentir o selo regredir, ofegando como se tivesse levado um soco no estômago e começando a tossir na pressa de reunir oxigênio. Sua garganta ardia de ter permanecido contraída, sua cabeça parecia querer cair do pescoço e seus olhos formigavam perigosamente, como se alguém tivesse tentado os extrair porém sem êxito.

Hitomi-hime acenou satisfeita com a reação.

"Espero que você tenha aprendido sua lição, Neji-kun". Ela se virou, erguendo as vestes novamente para evitar arrastar pelo chão da casa secundária. Na porta, escondido pelas sombras, estavam várias pessoas da casa secundária acordadas, espreitando-os com olhos temerosos. A mãe do líder do clã nunca se dignara a pisar na casa secundária.

"É tolice tentar lutar contra isso", ela lhe disse com a voz doce e melodiosa de antes. "Você vai aprender um dia, assim como seu pai aprendeu".

 


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