Ceci n'est pas une Pomme escrita por Charbitch


Capítulo 8
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

A história acaba aqui. E você vai ficar muito puto comigo, possivelmente desejando me empurrar de um abismo xD



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761825/chapter/8

CECI N'EST PAS UNE POMME

EPÍLOGO

POV POMME

O inferno era de fato minha casa. Eu não tinha lembranças concretas das minhas vivências como Light Yagami, mas algo dentro de mim me dizia que eu já havia sofrido todos aqueles castigos e humilhações antes. A história parecia se repetir. Tudo era familiar. O inferno era familiar. Até o demônio que me assediava era familiar. Eu não sentia que era novidade quando ele me segurava por correntes e me penetrava com força até as lágrimas escaparem involuntariamente de meus olhos. Minha alma estava para sempre manchada por seu esperma, por suas palavras sujas, por seu cheiro de morte. E muito embora eu suportasse bravamente cada vão momento, eu não desejava o inferno a ninguém. Meu único desejo era desaparecer. Se existisse morte após a morte, eu a quereria durante todos os dias da minha existência. Afinal, nada parecia fazer sentido para minh’alma amaldiçoada. Oh, anjos do céu, Pomme já não teria sofrido o bastante? Quando a garota estaria verdadeiramente pura a ponto de receber outra chance? Nunca? Oh, nunca...

Nunca...

Nunca verei a luz do sol de novo.

A única coisa que me consolava naquele lodaçal era saber que eu havia cumprido o desejo de L. Desde meu nascimento, ele desejava que minha alma descesse ao lago de enxofre, sob a acusação de ter forçado a minha inocência diante do tribunal. Após trancos e barrancos, lá estava eu, no exato ponto onde ele sempre quis que eu estivesse. Porém, o que mais me estranhava era que, em meu derradeiro momento com L, quando eu olhei nos olhos daquele anjo pela última vez, ele clamava; clamava para que eu subisse com ele até os céus, para que eu criasse lindas asas de anjo e fosse viver com ele lá em cima.

Ah, as artimanhas do amor... Levam à contradição até o mais sábio dos anjos, fazem tendencioso até o mais imparcial dos juízes...

Eu te amo, L. Te amo a ponto de sucumbir ao mais baixo círculo do inferno apenas para satisfazer a sua vontade... por mais dúbia que ela seja. No fundo, eu sei que você quer minha ruína. Você compete comigo. Você quer me vencer, quer provar por a vezes b que sabe todos os meus pontos fracos, que me subjuga tão bem como ninguém. Mas você já me venceu, querido. E agora? Quem sobrou para te aplaudir?

Às vezes eu olhava esperançosa para os portões do inferno. Eu aguardava uma possível visita de L. Muitos dos demônios que conviviam comigo recebiam o apoio e a benção dos espíritos bons quando suplicavam com jeitinho. Já eu nunca recebia uma visitinha sequer. Aparentemente L havia se esquecido de mim... Ou talvez ele não tivesse sido aceito de volta no céu. Eu sinceramente preferia que a primeira opção fosse a verdadeira. Era melhor que ele tivesse me esquecido e estivesse bem, em vez de padecer pensando em mim todos os dias, sofrendo copiosamente. Era um destino demasiadamente trágico para um homem bom como ele, por mais rancorosa e desgostosa que eu estivesse me sentindo.

Só digo uma coisa...

Se L não tiver conseguido retornar ao seu posto no céu, afirmo categoricamente que a culpa é toda minha.

E é por isso que eu mereço o inferno.

O inferno eterno.

Oh, tão agridoce inferno eterno...

Meu amado inferno eterno.

...

Por onde será que anda o Ryuk?

~*~

POV L LAWLIET

Era sozinho na morte. Não que eu fora cercado de companhias quando era vivo. Porém, tornara-me mais solitário do que nunca. Infelizmente os outros Shinigamis não eram como Ryuk. Eles não reclamavam de nada, não questionavam nada, não demonstravam nenhuma emoção; apenas seguiam as suas vidinhas entediantes sem fazerem nada para mudá-las. Eu não gostava nem um pouco daquela chatice. Eles eram satisfeitos demais, acomodados demais e bom... conformados demais. Eu sentia que era aquele o efeito que o mundo dos Shinigamis causava em quem quer que vivesse nele. Talvez um dia eu até viesse a me tornar um deles. Quem sabe?

O tédio nos faz apáticos, pensei.

Depois que Ryuk se foi, acabei ficando com o caderno dele. Como eu já não tinha mais nada a perder, comecei a escrever alguns nomes nele só por distração. Nunca pensei que um dia fosse usar um Death Note, mas... eu já não tinha mais ética, de qualquer forma. Aonde quer que eu fosse, sentia-me rejeitado, completamente sem lugar. Eu não me encaixava em nenhuma categoria. Não era oficialmente um anjo, apesar de minhas asas. Não era um demônio, apesar de meus crimes. Não era um Shinigami, apesar de viver no mundo deles. Também não era um humano como os que viviam lá embaixo, já que estava morto. Mas pelo menos eu era o dono de um Death Note. Aquele era o único rótulo que me cabia perfeitamente bem.

Chame-me de hipócrita, diga que me tornei o que um dia tentei combater. Não discutirei com você, não direi meias-verdades para tentar encobrir minhas mentiras. Você está certo. Ryuk dissera anos atrás que eu tinha me igualado a Kira. Exatamente. E jamais estive arrependido disso.

Talvez você me pergunte: “Mas... Mas... onde está o L, onde está o detetive que lutava por paz e justiça? O que se tornou? E seus princípios? Você não costumava ser um herói?”.

Eis que te respondo:

Não, eu nunca fui um herói e nunca tive talento pra isso. Na verdade, eu nunca quis ser um herói. Só quis fazer o que eu achava certo. Mas deu errado.

Isso não é frustrante pra você?

...

Tenho certeza de que a resposta é sim.

Com o tempo, minhas asas foram adquirindo uma coloração avermelhada, como se tivessem sido mergulhadas em vinho tinto. Notei que a cada nome que eu escrevia no caderno, o tom de vermelho ficava mais e mais forte.

Estou me deteriorando..., pensei, Perdendo minha luz e minha alma, tal qual Pomme um dia perdera... Que sensação esquisita... O vermelho em minhas asas me faz sorrir diante de minha própria desgraça. Uau... Isso é divertido, vamos de novo?

Não tenho mais a obrigação de ser ético. Não tenho mais a obrigação de ser nada. Isso, por algum motivo, é libertador.

Talvez eu não seja tão bom assim, afinal.

E eu tenho corrido do incruento... por medo do exílio, por todas as minhas feitiçarias... que se esquivam da luz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu disse que o final seria surpreendente, haha. Quem diria que a fã número 1 do L o transformaria numa pessoa moralmente cinza? Bom, eu nunca disse que ele era santo, mas eu sempre o amarei independente de qualquer coisa.
Até outro possível retorno da queen of tragedies, mwahahahahaha ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ceci n'est pas une Pomme" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.