— ora ora... Parece que temos uma joaninha perdida por aí sem os raios de sol...

— Quem está aí? - Questionei, retornando dos meus pensamentos das memórias do passado. Me posicionando de pé, olhando ao meu redor com um frio na barriga. “Por essa eu não esperava!”. Pensei.

Uma luta contra um inimigo já causa uma certa intensidade, por mais confiante que possamos ser, há sempre aquela pontinha de incertezas e inseguranças. Mas agora lutar com alguém que nem sabemos quem ou o que é, trás ainda mais questionamentos e incertezas.

Tudo o que mais queria naquele momento era colocar meus pensamentos em ordem e agora estava me sentindo em uma emboscada.

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17 - A noite tem seus mistérios, as joaninhas também.

"Poucas pessoas valorizam a beleza que há na noite. Muitos atrelam o mistério da escuridão como algo negativo. Mas quando paramos para observar o brilho da lua e das estrelas, podemos contemplar a sua grandeza.

Lembre - se, a noite também pode ser mágica."

— Anda responda! - Falei com a voz mais firme, engolindo seco o medo que corria pelo meu corpo. Sei que já enfrentei muitos super vilões e inclusive o próprio Hawk Moth, mas todos esses últimos acontecimentos, fugiam do que eu já conhecia. Era tudo novo. - Por quê você não mostra sua cara?

— Até que essa joaninha é valente! - Respondeu rindo. - Sabe que sempre admirei essa sua coragem?

— Deixa de gracinhas! - Falei ainda com mais raiva, devido a audácia de quem falou.

Foi quando de repente, senti alguém cutucar meu ombro por trás. - Boa noite, My... - Antes que pudesse terminar a frase, me virei dando um chute. - Aaaaaa! 

Só consegui ouvir o grito, quando me dei conta de quem era o atrevido que falara comigo.

— Chat Noir?! - Gritei quando percebi o que havia acontecido, vendo aquele gato atrevido pendurado na Torre Eiffel.

— Ai! - Murmurou de dor o herói. - Uma coisa não se pode negar. - Foi falando enquanto se colocava de pé. - My Lady, você chuta muito bem.

— Mas isso são modos de cumprimentar alguém? - Questionei o gato loiro. - E aliás, o que você faz por aqui?

— Bom! Parece que tivemos a mesma ideia. - Respondeu o bichano.

— Como assim? - Retruquei. - Mesma ideia? - Estava um tanto cética com a resposta dele, até porque, o Chat nunca me passou a mensagem de ter conflitos internos. O garoto por trás da máscara sempre me transmitira a imagem de garoto travesso, inconsequente, brincalhão e também, supergalanteador, o qual não se preocupava em ter um compromisso sério. Acredito que por esses motivos, nunca me passou pela cabeça em dar uma oportunidade para ele.

— Assim que cheguei aqui. - Foi ele se explicando. - Notei que você estava distante em seus pensamentos. Você me parecia um pouco tensa. - Fez uma pequena pausa, olhando fundo em meus olhos, quando pude notar que havia uma tristeza naqueles olhos verdes. Foi quando ele se virou, apoiando-se nas barras de segurança da torre, olhando distante para a cidade. - E cá entre nós. - Continuou ele. - Esse é um bom lugar para se refletir sobre a vida.

Essas palavras me fizeram ver um outro Chat Noir que eu não conhecia. Por trás daquele gato malandro, havia alguém que almejava por atenção, que precisava de um apoio. Talvez de fato, ele era realmente um gato solitário.

— Você tem razão. - Concordei com ele. - Mas o que tem te afligindo Chat? - Perguntei curiosa.

— Você interessada em saber sobre minha vida? - Perguntou ele com um sorriso. - Apesar de tudo, esse dia está sendo perfeito. Ganhei um abraço da minha Bugaboo e agora, ela quer saber como estou! - realmente ele estava feliz, podia ver os olhos dele brilhando. 

— Vai com calma gatinho! - Falei rindo. - Me conte só o necessário, pois precisamos....

— Sim! - Disse ele, me interrompendo. - Precisamos manter nossas identidades secretas. - Fez uma pequena pausa. - Eu sei disso. - Ficou me olhando por um tempo. - Sabe My Lady! Será que precisamos mesmo manter todo esse segredo? Você nem imagina o quanto foi difícil passar esses 4 anos sem ter uma notícia sua! Sem saber se você estava bem, se estava precisando de algo. - Fez uma pausa para respirar. - Sem ao menos saber seu primeiro nome.

— Chat... - Falei com a voz fraca. Consegui perceber na voz dele o quanto esse segredo todo o fez mal. Não sei se eu estava sensível demais com tudo que estava acontecendo, mas eu conseguia perceber o carinho verdadeiro que ele tem pela Ladybug. “O carinho verdadeiro que ele tem por mim”, pensei enquanto processava todo o acontecimento.

— Eu entendo toda essa necessidade para a segurança. - Falou olhando nos meus olhos, enquanto se aproximava. - Mas quero que saiba que apesar de todo esse tempo já ter se passado. - Ele fez uma pausa, ficando ainda mais próximo. Passou a mão direita no meu cabelo, empurrando parte de minha franja atrás da orelha, enquanto com a esquerda, envolvia em minha cintura, me aproximando ao seu corpo. - Eu ainda te amo! - Disse próximo a minha boca, finalizando a frase roubando um beijo meu, eu acabei cedendo.

Meu coração estava acelerado, me sentia como se fosse o meu primeiro beijo. O abraço forte do herói me envolvendo, não consegui resistir, acabei por corresponder, envolvendo meus braços em volta do pescoço, deslizando meus dedos em seu cabelo loiro e macio, trazendo sua cabeça para mais perto, como se fosse possível!

Tudo em nossa volta parecia ter parado, era como se não houvesse mais nada e nem ninguém no universo. Estar nos braços dele era como se meu mundo fosse completo.

Fomos obrigados a separar nossos lábios devido ao fôlego que faltou em nosso pulmão. Mas isso não me impediu de permanecer abraçada nele, com minha cabeça escorada em seu peito, ouvindo as batidas do coração e sua respiração. 

— Por favor, me diga que isso não é um sonho. - Falou o gatinho. - Não quero acordar e descobrir que nada disso foi real.

— Chat...- Foi tudo que eu consegui dizer, sentindo as lágrimas escorrendo por meu rosto e involuntariamente, acabei abraçando ainda mais forte o gato preto. Confesso que também não queria que esse momento acabasse, mas também não podia negar o sentimento de culpa estava presente.

O herói percebeu o meu estado emocional e começou a me acariciar, secando minhas lágrimas, buscando me olhar nos olhos.

— Fiz algo de errado? - Perguntou ele.

— Não Chat! - Respondi. - Na verdade eu também quis. - Acrescentei. - Eu também estava me questionando o que teria acontecido com você nesses últimos anos, também estava com saudades. Mas a verdade é que a nossa vida acaba dando voltas e a minha vida pessoal, como cidadã comum está uma bagunça.

— Sei bem o que você quer dizer. - Suspirou o bichano.

— Sabe? - Questionei surpresa, claro! Ele sempre demonstrava que a vida era tão simples.

— Sim! - Disse ele - Minha situação real também não é nada boa. Na verdade, nunca fui livre de verdade, mas graças ao miraculous eu tive essa oportunidade de provar o que é ser livre de verdade. - Completou. - E pelo jeito, estou tendo essa oportunidade novamente. Só que dessa vez, estou podendo compartilhar a visão das estrelas com alguém especial.

Essas palavras partiram o meu coração, eu não queria enganá-lo, não ia poder ser nada dele, pois eu já estava comprometida. Eu, Marinete Dupain-Cheng.

— Chat, por acaso você tem namorada? Chegou a se casar? - não resisti, precisei perguntar.

— Gostei das perguntas. - Ele sorriu de canto. - Está interessada? 

— Chat! - Falei mais firme.

— Está bem! - Respondeu. - No momento estou solteiro e confesso, tive alguns lances, mas nenhum com futuro e recentemente, descobri que perdi a oportunidade de ter alguém especial junto comigo por ter sido ingênuo demais.

— Você ingênuo? Eu não acredito! - Acabei rindo, mas não consegui acreditar. - Então eu não fui o único amor da sua vida?

— Ficou com ciúmes? - Questionou. - E você Bugaboo?

— Talvez um pouquinho. - Brinquei, mas, na verdade, estava gostando sim de estar com ele. - Então, esse é a área da minha vida que está complicado. Prefiro não comentar a respeito.

— Sinto muito. - Respondeu, me abraçando. - Espero que você consiga resolver. - Completou . - Eu sempre estarei por aqui, se precisar, palavra de gato. - Falou com um sorriso e com a mão erguida, em forma de juramento.

— Obrigada Chat! - Agradeci.

Vendo ele se preparando para ir embora.

— Ladybug! - Me chamou. - Nunca se esqueça, eu te amo muito! Pode ter certeza que vou te esperar, o tempo que for preciso. Essa noite foi muito especial para mim. Até a próxima! - Finalizou ele se retirando, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

Respirei fundo olhando as estrelas. Tudo o que eu queria era ter organizado os meus pensamentos, mas agora tudo o que eu tinha, eram mais questionamentos. Eu não podia negar, estou apaixonada pelo Chat Noir.

Peguei meu ioiô e voltei para casa.

— Ããf! - Suspirei assim que cheguei em minha varanda, voltando a ser a Marinette. - O que foi tudo isso? - Pensei alto.

Tikki ficou apenas me observando, até acreditei que ela diria algo, mas apenas me apresentou o silêncio da noite.

— Tikki. - Falei quebrando o gelo. - Não sei exatamente o que fazer.

— Marinette. - Foi falando. - Normalmente eu diria para você seguir seus instintos ou o seu coração. - Fez uma pausa. - Mas no caso do amor, se tratando do seu futuro, o melhor conselho que posso te dar é você usar a sua cabeça. - Orientou ela, olhando firme em meus olhos.

— Mas esse é o problema Tikki! - Falei desesperada. - Meus pensamentos estão confusos! Eu firmei um compromisso com o Luka, mas não posso negar que ainda tenho sentimentos pelo Adrien e agora, o Chat Noir! - O gatinho preto realmente estava mexendo comigo.

— Realmente, o que aconteceu hoje com o Chat Noir... Eu nunca te imaginei fazendo isso, Marinette! - Comentou ela sorrindo e eu não pude evitar ficar corada. - Mas sinceramente, você realmente quer ter o futuro que o Luka está te apresentando? 

— Mas ele está me apoiando agora... - Respondi mas logo sendo interrompida por meu kwami.

 - Por quanto tempo Mari? - Questionou. - Você já pensou que talvez ele esteja querendo apenas te agradar com receio de te perder? Mari, um relacionamento saudável é quando o casal luta pelos mesmos objetivos. Tudo bem se vocês têm carreiras opostas, mas uma parte o Luka tem razão, não há como um relacionamento resistir a um distanciamento longo. É normal ele querer que você esteja por perto nos momentos importantes para ele, assim como você deseja isso também. Quando gostamos de alguém, esse é o nosso maior desejo. - Fez uma pausa respirando. - Mas a questão é Mari, até que ponto um de vocês está disposto a abrir mão do maior sonho para ficar ao lado do outro. Pode parecer egoísta esse pensamento, mas a única forma de dar certo é essa, por isso o maior propósito da vida de ambos precisa ser algo em comum. Assim ninguém precisa sacrificar o objetivo de vida. - Fez uma pequena pausa antes de completar. Acredito que fora para me observar, deveria estar me achando um tanto cética com esse assunto. - Se ainda têm dúvidas Marinette, é só você observar seus pais. Os dois estão sempre juntos, lutam juntos, conquistam juntos, é até difícil de pensar em uma vida individual, pois os dois se completam, é impossível olhar para um e não ver o outro. - Concluiu com um lindo sorriso. Confesso que sorri junto.

“Realmente Tikki tem razão. Nunca pensei por esse lado. A vida a dois vai muito além que as batidas do coração. E eu tenho um grande exemplo, dentro de minha própria casa.”. Pensei.

Agreste’s mansion

8h da manhã

Acordei com o som do meu despertador, por mais que seja prazeroso ficar deitado descansando, posso garantir que nem isso conseguiria estragar o meu humor. Ainda conseguia sentir o gosto do beijo da Ladybug. Eu estava me sentindo nas nuvens.

— Bom dia garotinho apaixonado! - Falou o ser magico.

— Bom dia para você também Plagg. - Respondi, sem perder o meu bom humor.

— Que noite mágica você teve. - Comentou de forma irônica. - Nunca imaginei que presenciaria tal momento, sabendo o quão lerdo você é. - Finalizando rindo.

— Hey! - Retruquei. - Com qual direito você fala assim comigo?

— Adrien, você teve uma garota completamente apaixonada por você durante três anos e nunca percebeu! Ou você já esqueceu a Marinette? - Perguntou ele. - Como você acha que eu ia acreditar que um dia iria ver você prendendo a Ladybug nos teus braços? - Fez uma pequena pausa. - Estou vendo que a vida adulta te ensinou algumas coisinhas. - Finalizou a frase rindo.

De fato a vida nos ensina muitas coisas. Se bem aproveitado, o tempo nos amadurece, nos dá uma visão melhor sobre as situações, coisas e pessoas. E falando na Marinette, não posso esquecer de ir até a empresa do senhor Bronette para cumprimentá-la, hoje ela se tornará oficialmente uma das colaboradoras da empresa.

Enquanto planejava o meu dia, fui interrompido pela secretária de meu pai, a Natalie. Ela bateu à porta e após ouvir minha autorização, abriu-a.

— Bom dia Adrien! - Disse ela. - Seu pai e a senhoria Bourgeois o esperam para o café da manhã.

— O que? - Perguntei espantado. - Como assim, meu pai e a Chloé? Não pode ser!