Cáp 1: O “amigo”

Ah! Que cena linda, que cena maravilhosa! O que não daria para poder tirar uma foto? Seria a sua luz nos seus dias sombrios.

Apoiado em sua mesa escolar, com as mãos nos bolsos da calça cinza do uniforme e um sorrisinho cínico – o máximo que poderia se permitir para manter sua fama de mau – Uchiha Sasuke apreciava a cara de desespero do loiro sentado ao seu lado. Se ele colocasse as mãos nas bochechas seria uma cópia viva do quadro O grito.

Respirou fundo para controlar a gargalhada escandalosa que quase escapou por seus lábios diante de tal visão imaginária, mas não conseguiu controlar as palavras. Cruzou os pés, fechando os olhos enquanto dava de ombros.

— Eu te disse, idiota. Você nunca vai tirar uma nota boa em inglês, simplesmente você não é bom nisso.

O loiro amaçou com força o papel em suas mãos, onde se via nitidamente um três em vermelho e encarou o outro com olhos azuis furiosos.

— O que você disse? — questionou batendo na mesa, sem levantar da cadeira — E eu posso saber quanto você tirou então, gênio?

Oh! Era esse o momento pelo qual o Uchiha tinha esperado longos quarenta minutos! Pegou a folha da prova com a ponta dos dedos e ergueu-a lentamente, fingindo indiferença, até tê-la na altura do ombro, ao alcance da visão do amigo.

Os olhos azuis de Uzumaki Naruto se arregalaram e seu queixo caiu tanto que quase encostou no chão. Ele puxou a folha da mão de Sasuke bruscamente, perplexo e o Uchiha sentiu as costelas rachando tamanha a força para se conter.

— Nove! — exclamou com uma voz grave — Como nove?

— É o que está escrito aí. ­— Sasuke respondeu — Quer dizer que além de burro, você agora é cego?

— Ora, seu...

O sorriso cínico do moreno ficou maior e seus chifrinhos vermelhos quase ficaram visíveis com o tanto que estava se divertindo.

Se alguém lhe perguntasse o porquê de toda aquela alegria sádica em cima de Naruto, seu amigo desde sempre, não saberia responder com honestidade. Era algo, um instinto. Na sua cabeça, estava constantemente competindo com o loiro, mesmo em coisas das quais ele não sabia ou se importava – quem terminaria a lição primeiro, quem chegaria na escola primeiro, quem ficaria mais tempo sem comer. Essa última o Uzumaki perdia sempre, então Sasuke se declarou vencedor unânime e procurou outra atividade para esquentar a competição. E queria vencer sempre!

Algumas vezes, tinha a impressão que Naruto conhecia esse lado tirano de sua personalidade e perdia de propósito apenas para se divertir em silêncio vendo-o se gabar. Isso o enfurecia e aumentava sua ambição. Já tinha conquistado tantas e tantas coisas desejadas pelo amigo antes que ele pudesse fazê-lo e mesmo assim não se sentia satisfeito. Talvez fosse pelo fato do loiro nunca se mostrar realmente chateado ou irritado, como se demostrasse com isso que os esforços do moreno eram inúteis.

E Uchiha Sasuke não fazia esforços inúteis!

Puxou sua prova das mãos de Naruto bem no momento em que Kakashi-sensei entrou pela porta da sala de aula.

— Ok, ok — ele começou colocando uma pasta preta em cima da mesa no centro. — Fim do intervalo. Sentem-se.

Enquanto se sentava, Sasuke não perdeu a oportunidade de exibir um pouquinho mais o seu nove azul. Sacudiu e dobrou levemente a folha, com um sorriso nos lábios. O Uzumaki fumaçou pelas orelhas de raiva. Depois que estavam todos sentados, Kakashi foi dizendo:

— Certo, classe, hoje receberemos uma aluna nova. Ela é daqui do Japão mesmo, mas teve que viajar durante um tempo e voltou agora. Sejam educados e cuidem bem dela.

Fez um gesto com a mão na direção da porta, chamando a aluna nova. Sasuke apoiou o queixo nas mãos, entediado. Ver a apresentação de uma garota nova, que logo o estaria perseguindo pelos corredores não era nada interessante.

Uma garota de longos cabelos azuis entrou lentamente. Usava um casaco pesado, apesar do calor e olhava timidamente para o chão. Antes mesmo que o Uchiha pudesse analisar, indiferente, que tipo de fã ela seria, espantou-se com um grito ao seu lado.

­— Hinata!

Naruto estava de pé, com as mãos apoiadas na mesa e um sorriso imenso no rosto. A tal Hinata ergueu o rosto surpresa, mostrando pela primeira vez os olhos perolados, encarou-o corando até a raiz dos cabelos e devolveu o cumprimento sorrindo:

— Olá, Naruto-kun.

Falava tão baixo que se a sala não estivesse em silêncio, totalmente impactada, Sasuke não teria conseguido ouvir. Ela e Naruto ficaram se encarando como se só estivessem os dois ali. O Uchiha olhou de um para o outro com interesse renovado.

— Eh? — Kakashi-sensei foi o primeiro a se pronunciar; a sobrancelha arqueada — O que foi isso, Naruto?

— Nos conhecemos, sensei. — Naruto respondeu sem desviar os olhos da garota — Eu e Hinata...Eu e Hinata nos conhecemos.

Se não conhecesse o loiro muito bem, Sasuke podia jurar que ele tinha corado.

— Isso é verdade? — o sensei perguntou, virando-se para a garota que confirmou com a cabeça, encarando-o.

— Sim, sensei. Naruto-kun e eu estudávamos juntos.

— Hum, interessante. Apresente-se para a classe e sente-se ao lado de Naruto, então. Vou encarregá-lo de mostrar a escola para você.

Pelo canto do olho, o moreno espiou o amigo. Parecia um coelhinho saltitante.

— Eu me chamo Hyuuga Hinata...— ela mal tinha terminado de falar quando os cochichos começaram. — Por causa do emprego do meu pai, eu tive que morar fora do país por dois anos, mas agora voltei. E pretendo ficar. Por favor, cuidem bem de mim.

Hinata curvou-se em uma longa reverência enquanto a classe em uníssono lhe desejava as boas-vindas. Nem o Uchiha, nem o Uzumaki contribuíram para o coro. O primeiro porquê observava o segundo e o segundo porquê não conseguiria fazer nada, além de babar pela garota nova. Kakashi-sensei bateu as mãos.

— Muito bem, Hinata. Pode se sentar agora.

Ela sentou ao lado do loiro e dois segundos depois já estavam trocando números de telefone.

Sasuke olhou para Hyuuga Hinata uma vez mais, por cima do ombro de Naruto. De repente, ela lhe pareceu incrivelmente irresistível.