A primeira vez que nos falamos.

Era uma típica manhã de segunda. Eu havia acordado com o som de meu despertador, treinado, tomado um belo banho e uma xícara de café, depois fui levado por meu motorista para o prédio de minha firma. Nada de novo em minha rotina – ainda.

Saí do elevador e contemplei os letreiros na parede: “Pearson Specter Litt”. Sorri fraco, lembrando-me brevemente do quão difícil fora para colocar meu nome naquela parede. Mas, no final das contas, anos dedicados àquela firma haviam valido à pena.

Virei-me e segui meu caminho até minha sala, e, como esperado, minha secretária adentrou o local logo em seguida, provavelmente vindo lembrar-me de alguma coisa que teria de importante naquele dia.

— Bom dia, Sr. Specter. Tem uma mulher esperando pelo senhor na Sala de Conferência, e diz ser urgente. – afirmou, pegando-me de surpresa. Mesmo eu sendo um pouco desligado sobre minha agenda, eu me lembraria de ter marcado algo com uma mulher no primeiro horário da segunda-feira.

— Ela tem horário marcado? – indaguei, franzindo o cenho.

— Não. – a moça negou com a cabeça.

— Então diga a ela para voltar outro dia. – abaixei meu olhar para uma pasta que estava sobre minha mesa, começando a ler o que estava em seu interior.

— Eu tentei manda-la embora, mas ela disse que não vai sair daqui enquanto não falar com o senhor. – a jovem insistiu, arrancando-me um suspiro.

— Meu Deus do céu Alycia, se você não consegue se livrar de uma mulher indesejada, para que eu te contratei como minha secretária em primeiro lugar? – rebati, já um pouco impaciente com a situação – Quem é? – recompus-me, notando seu semblante sem graça.

— Donna Paulsen. A atriz.

— Nunca ouvi falar. – menti, fazendo uma cara de desprezo. Não podia dizer que era um fã número um da atriz, mas já vira alguns de seus trabalhos, tanto filmes quanto alguns episódios da série sobre advogados que ela estrelava.

Fechei a pasta que eu estava estudando e parti em direção à Sala de Conferência, cedendo. Entrei no cômodo com minha postura confiante de sempre, tentando intimidá-la. Encontrei a mulher em pé na frente da janela, enquanto observava a paisagem. A mesma virou-se para mim assim que notou minha presença na sala, e ambos nos medimos com o olhar antes que pudéssemos falar qualquer coisa.

— Harvey Specter. – estendi a mão para ela apertar, e ela assim o fez – Queria saber o que você precisa de tão urgente para aparecer na minha firma no primeiro horário da segunda-feira sem hora marcada. – afirmei com uma pitada de hostilidade, ajeitando meu terno.

— Donna Paulsen. Vou poupar seu tempo, já que parece ser um homem tão ocupado. – disse com uma pitada de ironia – Eu quero que você me represente contra um diretor de cinema. Estou processando-o por assédio sexual. – continuou, com firmeza nas palavras.

— Eu não sei se você sabe, mas eu sou um advogado coorporativo. Não pego casos como esses. Desculpe-me, mas não posso ajudar. – neguei com a cabeça, não crendo em seu pedido.

— Eu não sou burra Sr. Specter, sei bem em qual ramo você trabalha. No entanto, mesmo você sendo um babaca, fiquei sabendo que é um dos melhores. E eu fiz meu dever de casa. A empresa de cinema rival da qual esse diretor trabalha, é uma cliente sua. Royal Movies, soa familiar? – ergueu uma sobrancelha, desafiadoramente.

— E o que uma coisa tem a ver com a outra? – encolhi os ombros, não entendendo muito bem onde ela queria chegar.

— Oras, para um advogado tão bem-conceituado, eu achei que você fosse um pouco mais inteligente. – sorriu debochadamente – O nome da concorrente de sua cliente vai ficar mal visto, e não é isso que ela quer? Defendendo-me nesse caso, você vai me ajudar a ter justiça, e vai deixar sua cliente para lá de feliz. – encarou-me vitoriosa – E aí, o que me diz?

Ela tinha um ponto. Além disso, depois dos vários escândalos que a firma havia se metido, um caso público como aquele seria bom para a imagem. No final das contas, não parecia tanta perca de tempo assim.

— Diga-me um nome, e eu darei entrada no processo hoje mesmo. – cedi, fitando-a confiante.

— O nome dele é Benjamin Oliver. – disse, e pude sentir certo ódio misturado com repúdio em sua voz.

— Daremos início em seu caso amanhã mesmo. – assenti – Agora, se você me dá licença, eu tenho outras coisas das quais tenho que tomar conta.

— Obrigada, Sr. Specter. Eu ouvi falarem muito bem do senhor como advogado. Espero não me arrepender de tê-lo escolhido. – a mulher sorriu educadamente.

— Eu posso te garantir que não vai se arrepender. Vamos pegar aquele pervertido. – devolvi-a o sorriso, e ficamos nos encarando por alguns momentos. Seus olhos castanhos não saíram dos meus, e um clima um pouco estranho se formara ali.

Era notável que seu corpo e rosto eram esculturais, afinal ela era uma das mais famosas atrizes da atualidade, no entanto, seu olhar parecia carregar algo a mais, e seu jeito destemido era diferente do que eu julgava que ela era por sua imagem na televisão. E os vários comerciais de produtos de beleza que ela fazia apenas reforçavam minha visão de sua futilidade.

— Adeus, Sra. Paulsen. – falei finalmente, quebrando o silêncio estabelecido.

— É Srta. Paulsen. – retrucou, e foi só aí que notei a falta de uma aliança em seu anelar esquerdo.

Ri fraco e deixei a sala de vez, negando com a cabeça. Ela definitivamente era bastante diferente do que eu esperava que fosse. E aquela definitivamente não fora só mais uma manhã de segunda-feira comum.