Cama de Gato escrita por calivillas


Capítulo 5
Uma longa noite




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761651/chapter/5

Não pude acreditar naquela oferta tão generosa, significava que não precisaria pedir um favor, fazer uma mala enorme e me mudar para a casa de não sem quem, poderia ficar ali mesmo no meu apartamento, com todas as minhas coisas ao alcance. Será que não entendi direito?

— Você tem mesmo a certeza, que posso usar o seu banheiro?

— Sim, tenho. A não ser que tenha outros planos.

— Não, não tinha plano nenhum. Seria maravilhoso! Então, eu posso ir até lá tomar um banho?

—Sim e usar o banheiro, para tudo mais que precisar.

— Eu nem sei como agradecer.

— Não precisa.

— Então, vou juntar tudo e ir até lá, não tomo um banho desde, ontem à noite, antes da festa.

— É, eu um percebi — Ele me deu um sorrisinho malicioso, fiquei aflita, imaginando se estaria cheirando mal, do jeito que dancei e me agarrei com Lucas, mesmo com todo perfume francês que usei. — Está na cara. Vejo você depois. — Virou-se e foi embora, me deixando no ar.

Na cara?! Corri para o espelho mais próximo, para constatar que toda aquela maquiagem, que deixou os meus olhos misteriosos e sedutores na noite anterior, havia se defeito, me deixando com cara de guaxinim. Ainda bem que foi só George que me viu assim.

 Usei o demaquilante para remover todos os resquícios daquele desastre, antes de ir para o apartamento de George, com minha pequena bagagem para tomar banho. Estou sem jeito, mas ele não parece se importar com a minha invasão e quando a água morna começa a cair sobre o meu corpo, remove qualquer sentimento de intromissão da minha parte. Sai do banheiro uma outra mulher, completamente revigorada, encontrei George e Sabbath instalados no sofá da sala.

— Bem, obrigada pelo banho, já estou indo de volta para o Atacama.

— Não precisa ter pressa.

— Para falar a verdade, eu nem almocei ainda.

— Se quiser, posso ver se tem algo na minha geladeira.

— Não quero atrapalhar você ainda mais.

— Você não está atrapalhando, só tenho um compromisso mais tarde, à noite. — No mesmo momento, imaginei que a fila anda e Letícia estava se tornando lembrança. — Vou jantar com um velho amigo. Espere um pouco que volto já. — Antes que eu protestasse, sumiu pela porta, indo à cozinha.

Fiquei parada no meio da sala, sem saber o que fazer, sentei-me no sofá e comecei a alisar as costas do gato, então, meus olhos depararam com algo que nunca havia visto antes, estiquei a mão para pegar o porta-retratos na mesinha lateral ao sofá, onde a imagem de uma linda mulher com um sorriso doce estava congelada.

— Essa é Letícia — Fui pega em flagrante, quando ele voltou com um prato, com algo que cheirava muito bem. Coloquei o porta-retratos, rapidamente, no seu lugar e sorri sem graça.

— Ela é bem bonita.

— Sim, é. Essas são as sobras do meu almoço. Espero que goste de peixe. É salmão com molho de alcaparra e salada verde.

Para mim, com a fome que estava, ficaria feliz com uma sopa de pedra, mas aquilo era muito bom.

— Você é quem fez? Porque está muito bom! — quis saber, entre uma garfada e outra.

— Sim — respondeu, todo orgulhoso.

— Estou realmente impressionada. Você será um ótimo marido para uma garota de sorte.

Percebi uma nuvem passar pelo rosto dele, aí, eu me lembrei da história da Letícia. Eu e minha boca grande! Comi o resto da refeição, calada, já havia falado demais, depois agradeci, desejando que tivesse uma noite divertida e fui embora. De volta ao meu apartamento fedorento.

Definitivamente, não posso ficar ali, trancada naquele lugar a noite toda, por isso, ligo para umas amigas para fazer algo legal, um barzinho, dançar, qualquer coisa que me tire dali de dentro. Mas, todas estão ocupadas ou tem algum plano, um encontro, um compromisso, vão sair com alguém. Uma delas me convida para o aniversário da tia que, com certeza, eu recusei, seria demais para mim, assim percebo que preciso planejar melhor minha vida social, para não acabar sozinha, na noite de sábado.

Sendo assim, resignada, resolvi que dormirei cedo para colocar o meu sono em dia. Talvez, essa não fosse uma má ideia. Então, eu ouvi algo surpreendente, corri para o banheiro e vejo, extasiada, que a água estava caindo do chuveiro, que esqueci ligado. Um verdadeiro milagre. Os operários devem ter acelerado o conserto. Meu mau humor desaparece, estou tão feliz, que dou uma boa limpeza no banheiro, expirando-me em George, deixei tudo cheiroso, arrumado e brilhando, ficando orgulhosa do meu trabalho, quando termino.

Tomei mais um banho no meu ultra limpo banheiro, me apronto para dormir, pensando que amanhã não precisarei pedir mais favor a ninguém, mesmo assim ficou um tantinho chateada, pois não terei desculpa de ir ao apartamento de George, para conversar.

No meio da noite, sonhei que estava em um lugar idílico diante de uma maravilhosa e imponente cachoeira, que despencava em um lago azul, no meio da mata virgem, fiquei ainda mais encantada quando um lindo arco-íris surgiu, bem na minha frente, originado das águas, suspirei, enlevada com a visão. Nesse momento, sinto algo roçar em mim, olho para o lado e vejo Sabbath.

— Sabbath! O que você está fazendo no meu sonho? — O gato insiste em chamar minha atenção, miando. — Agora, não, Sabbath, estou sonhando — protesto, mas já é tarde, acordei.

Quero voltar a dormir e sonhar com a minha linda queda d’água e aquele som reconfortante. Mas espera aí! Som reconfortante? Ouço o barulho de água caindo, porém estou bem acordada, nesse momento. Apuro os ouvidos, o som parece bem próximo, será que deixei alguma torneira aberta? Tonta de sono, eu me levantei, meus pés tocaram em algo frio. Água! Tirei os pés do chão e acendi o abajur, para observar a trilha de água que vinha por baixo da minha porta. Com muito cuidado, para não pisar no molhado, acendi a luz e abri a porta, o corredor estava inundado pela torrente de água que saía do meu banheiro, corri até lá e parei, estupefata diante da cena. Havia um buraco no meu teto de onde jorrava uma verdadeira cascata. Corri até o interfone e liguei para o porteiro.

— Vou desligar a água, imediatamente, dona Sabrina.

— Depressa, antes que eu me afogue!

Passaram-se uns bons minutos, antes de água parar de jorrar. Olhei em volta do meu apartamento alagado, soltando o ar com força, desanimada, teria muito trabalho pela frente. Seria uma longa noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cama de Gato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.