Cama de Gato escrita por calivillas


Capítulo 30
Uma visitinha surpresa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761651/chapter/30

 — Onde você estava? — Ícaro me pergunta, quando volta ao nosso reservado e me sento ao lado dele.

— Estava me divertido um pouco — respondo, ele me encara com um jeito malicioso. Será que dá para notar o que acabei de fazer no escritório de Elias? Solto o ar com força. — Ícaro, você acredita que podemos amar duas pessoas ao mesmo tempo?

Por que eu perguntei isso? Deve ser a bebida ou estou ficando louca.

— Eu não sei, mas acho que sim. Digo isso por experiência própria, estou com Beto, mas tenho que admitir, que ainda não me esqueci do Fabio.

— Isso é complicado!

— Bastante!

— Principalmente, quando os dois se completam, um pode dar o que o outro não tem, assim fica difícil escolher — Como se tivesse escolha, não posso ter quem eu quero.

— A vida é assim. Seria perfeito se nos contentássemos com menos ou pudéssemos ter tudo que desejamos.

— Sim, seria — Juntos, soltamos um longo suspiro. Tomo mais um gole da minha bebida.

Fico agradecida por Ícaro, não dar opinião ou perguntar mais nada.

Por que não consigo calar essa minha boca grande?

Na tarde seguinte, considero que, realmente, não havia nenhuma razão para não poder voltar as boas com George, pois, enfim, estou muito bem com Elias, mais uma vez, sendo assim, quem sabe, poderíamos voltar a nossa velha rotina de jantares e conversas como era antes, como apenas bons amigos, sinto falta disso. Doce ilusão!

 — Que tal uma visitinha surpresa ao George? — digo a Sabbath, que me fita com indiferença.

 Quero parecer casual, mesmo assim, dou uma arrumadinha no cabelo, troquei de roupa, quem sabe, um batonzinho.

Sabrina! O que você acha que está fazendo? Você vai lá somente para conversar, reatar a amizade e só isso.

Pego Sabbath no colo, vou levar ele comigo, para me dar apoio. Estou tão confiante que tudo dará certo, que nem telefono, vou direto ao apartamento dele, fazer uma surpresa, se conheço bem George, ele deve estar em casa a essa hora.

 Parei diante da porta, tento parecer descontrair, fazer uma cara natural.

É só uma conversa!

Quando a porta se abre, minha cara natural e substituída por uma de puro espanto.

— Letícia! — Minha voz sai esganiçada.

— Sim. Oi! Você deve ser Sabrina — ela me dá um sorriso simpático, sacudo a cabeça em afirmação. — E aí está você, meu fofinho? Finalmente! Venha aqui!

Nesse instante, a situação fica bem estranha, pois ela estende os braços para receber o gato, enquanto eu o estreito ainda mais contra mim, ficamos assim por alguns instantes. Letícia me olha sem entender, erguendo as sobrancelhas, eu caio em mim e lhe entrego o gato, um tanto relutante. Ela o acaricia, passa o rosto no pelo macio dele, aquela cena vai me deixando cada vez mais irritada.

— Eu senti tantas saudades, fofinho — diz para Sabbath, de forma carinhosa, e minha raiva só aumenta.

Como ela pode aparecer assim, depois de tanto tempo, e tirar o gato de mim, dessa maneira. Bem, na verdade, o gato é dela, mas o que importa? Ela foi embora e deixou ele para trás. E para piorar as coisas, ela é muito mais bonita pessoalmente do que nas fotos, os cabelos castanhos claros estão cheios de luzes pelo sol da Austrália, a pele dourada e parece mais magra.

— George, não está, foi comprar algo especial para o jantar. Você sabe como ele é?

— Sim, eu sei. Então, volto depois.

— Não quer entrar? Assim poderemos conversar um pouco.

Não, eu não quero entrar, quero sair daqui, correndo.

— Não quero atrapalhar, afinal, vocês estão um tempão sem se ver.

Ela sorri, amistosa.

— Você não atrapalha nada. Além disso, estou muito curiosa. George me falou muito sobre você.

Como assim? Ele fica conversando com a namorada sobre a vizinha? Agora, eu quero saber.

— Tudo bem, só um pouquinho.

— Sente-se um pouco. Quer beber alguma coisa?

— Só água.

Letícia coloca Sabbath no chão e vai para a cozinha, com maior intimidade. Lógico! Ela é a namorada de George e essa é a casa dele. Eu me sento no sofá, um tanto constrangida, e espero. Logo em seguida, volta, com um copo d’água para mim e uma pequena garrafa de cerveja para ela, que toma direto do gargalo.

— Um hábito que adquiri morando fora — explicou, sentando-se ao meu lado de um modo relaxado. — Quer dizer que você é a nova namorada de Elias — disse de um jeito casual, mas será que estou percebendo uma pontinha de ciúmes?

— Não tão nova assim — rebato.

— E vocês estão bem? — Ela toma um longo gole, sem tirar os olhos de mim.

— Ah! Muito bem. Sabe como Elias é?

— Sim, eu sei. Empolgante e intenso.

— Com certeza.

 Ficamos em um constrangedor silêncio, mas, felizmente, a porta se abre e George entra através dela, com as mãos carregadas de sacolas.

— Sabrina! — Ele fica surpreso ao me ver.

— Oi, George! Só passei aqui para dar um oi, já estou indo, não quero atrapalhar o reencontro de vocês.

— Não, por favor, fique — ele pede.

— É melhor, não — Não quero ver os dois juntos.

— Por que não vem mais tarde, jantar conosco? Podemos continuar nossa conversa, a não ser, quem tenha algum compromisso com Elias — Letícia interveio, pressinto um leve tom ácido.

— Não temos nada marcado – respondo.

— Então, venha jantar conosco — George reitera, sem saída, eu aceito.

  Ok! Será só um jantar, como tantos que tive antes com George, apesar da namorada dele, que é ex-namorada do meu atual namorado, estar lá, apenas conversaremos como pessoas civilizadas que somos. Ninguém precisa saber que eu e George nos beijamos. Nossa! Aquele beijo foi demais, mas, também, foi um erro, e já passou, eu acho.

Eu não tinha mesmo, nada marcado com Elias, naquela noite. No entanto, não menti quando ele perguntou, por mensagem, o que ia fazer, respondi que iria jantar com George, só omiti o fato que Letícia estaria lá. Tenho certeza que Elias não gostou nada da ideia, mesmo que tenha me desejado um bom jantar.

Já não fui mais pega de surpresa, dessa vez, quando Letícia abriu a porta para mim.

— Oi, Sabrina! George está na cozinha terminando o jantar — avisou e nós duas seguimos para lá.

Agora, percebo como sentia falta disso, George concentrado na frente do fogão, as mangas da camisa arregaçadas, mostrando aqueles antebraços incríveis, pano de prato sobre o ombro.

— Você bebe alguma coisa? Temos cerveja— Letícia me traz de volta a realidade.

— Eu prefiro vinho, se tiver.

— Na geladeira — George fala, faço um gesto para abri-la, mas Letícia se adianta e a alcança primeiro, pega a garrafa e me serve.

— O cheiro está bom — falei, quebrando o silêncio.

— George cozinha muito bem — Letícia completa.

— Eu sei disso.

— Vou pôr a mesa — Letícia anuncia e nos deixa sozinhos.

— Você deve estar bem feliz com a volta dela.

— Sim, estou.

Por que acho que não está sendo sincero? Será só a minha imaginação?

Sentados à mesa, começamos a nos servir.

— Sentia falta dessa comida — Letícia fala, animada, se servido de uma grande porção de espaguete a matriciana e passando a travessa para mim.

Nesse momento, a campainha toca.

— Não sei quem possa ser — George levanta para atender.

— Talvez, outro vizinho que tenha sentido o cheiro da comida — Letícia brinca, eu não gostei disso.

— Oi, George. Sabrina está aí? Estive no apartamento dela, então me lembrei que vinha aqui, jantar com você — Ouvíamos a voz que veio de fora, Elias. Olhei de relance para Letícia, que está paralisada e pálida.

Ao mesmo tempo, que Elias olhou sobre o ombro de George e enxergou a mesa, onde nós duas estávamos, os olhos dele se arregalam.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cama de Gato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.