Cama de Gato escrita por calivillas


Capítulo 3
Apenas bons amigos




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Enfim, a comida chegou e eu arrumei a mesa para nós dois, o que é muito estranho para meus hábitos, pois, estou acostumada a comer sentada no sofá ou na frente do meu computador ou os dois juntos, contudo, é bom ter companhia, ando meio cansada de ficar sozinha em casa. Assim, durante o jantar, conversamos sobre nossos trabalhos, ele me conta sobre o gato e da sua verdadeira dona, percebo um certo tom de nostalgia nas suas palavras, quando fala sobre ela, sinto um pouquinho de pena dele.

— Você mora nesse prédio há muito tempo? — perguntei, enquanto pesco um rosado sushi de salmão, com o meu hashi, e coloco direto na boca.

— Há uns três anos. Foi quando conheci Letícia. Ela já morava aqui — revelou, escolhendo um sashimi de atum e mergulhando na vasilha repleta de molho soyu, bem na sua frente.

— Ela morava aqui, nesse prédio?

— Sim, bem nesse apartamento.

— Aqui! Será por isso que Sabbath está sempre aqui, achando que essa é sua verdadeira casa? — Olhei direto para o gato dormindo tranquilo na minha poltrona, como se estivesse na própria casa, mas, era exatamente isso que ele devia achar.

— Pode ser — George deu de ombros, ele parece não querer falar muito da tal mulher, deve ser uma história bem complicada, melhor mudar de assunto.

Assim, somos educados, falamos sobre assuntos triviais, como nossos empregos. Descobri que ele trabalha em uma empresa de tecnologia avançada, seja lá o que isso significa, contamos coisas engraçadas e rimos juntos. Considerei que seria bom ter um amigo nesse prédio, já que me mudei há pouco tempo e não conheço, praticamente, ninguém ali. Além de já saber que ele gosta de outra mulher, sendo assim, eu me sinto segura, pois, não quero nenhum tipo de envolvimento tão cedo, ainda estou muito ressentida com que aconteceu comigo, há pouco, por isso, chega de me meter com canalhas!

Depois do jantar, George se oferece para me ajudar a arrumar a cozinha, já dobrando as mangas da camisa, fico agradecida, porque odeio tarefas domésticas.

— Devo admitir que você é muito hábil com a louça — disse, e tem belos antebraços, pensei.

— Prática de anos vivendo sozinho.

— Eu moro sozinha, há bastante tempo, e não tenho essa prática toda.

Louça lavada e guardada, cozinha arrumada, voltamos para sala.

— O que faremos com o gato? — perguntei, parados lado a lado, enquanto o contemplávamos dormir, tais quais pais zelosos.

— Eu não sei — Ele dá de ombros. — Creio que ele vai continuar fugindo da minha casa para a sua casa.

— Sendo assim, podemos ter uma espécie de guarda compartilhada, deixarei comida, água e uma caixa de areia para ele aqui.

— Tem certeza que ele não irá incomodá-la? Porque assim, ele nunca mais vai querer sair daqui.

— Não, eu até vou gostar de um pouco de companhia.

— Mas, hoje, ele vai para a minha casa — ele segurou o gato, com cuidado, que tem as pupilas dilatadas e o rabo em riste, demonstrando que não está gostando da interrupção do seu sono.

Ao me despedir e fechar a porta, sinto um grande vazio, será melhor dormir, pois, amanhã terei muito trabalho pela frente.

Sonhei, um sonho bem real, ele me beija intensamente, tirando minhas roupas, me acariciando, descendo pelo meu corpo me beijando, então, começa a lamber meu pé com sua língua áspera, me fazendo cócegas, eu começo a rir

— Pare, George! — peço, quase sem folego, entre risos.

Espera aí! George lambendo o meu pé? Abro os olhos de repente, puxando a minha perna.

— Sabbath! O que você está fazendo aqui?!

 O gato me ignora continua deitado, como se nada tivesse acontecendo, procuro o meu telefone.

— Ai! Seis e meia! Ainda é muito cedo! — gemi, desolada.

Tento, mas não consigo voltar a dormir.

Aproveitei e cheguei bem cedo ao trabalho, começo a separar as roupas para a devolução. As pessoas vão chegando e se assustam ao me encontrar ali.

— O que houve, Sabrina? — Ícaro pergunta, impressionado.

— Por quê?

— Você chegou tão cedo.

— O trânsito estava bom hoje.

— E aquele gato?

— Como você soube do gato? — Meus olhos arregalaram.

— Porque você contou para todo mundo, que está saindo com um homem maravilhoso e tudo mais, deixou todos se mordendo de inveja — ele respondeu, com um ar entediado.

—Ah! Esse gato! Não deu em nada. Terminamos — respondo, dando de ombros com falsa indiferença.

— E você vai contar quem era, afinal? — Ícaro se aproximou, ansioso para a revelação.

— Não vale a pena, descobri que o cara é casado, não quero mais confusão na minha vida.

— Casado? E não vai rolar nenhuma vingançazinha por conta disso.

— Vingança? Tipo o quê?

— Sei lá! Contar para esposa dele ou algo parecido — Ele deu de ombros.

— Não vou ganhar nada com isso, só aborrecimento, deixa estar, porque tenho fé que um dia ele vai pagar bem caro pelo que fez comigo — respondi, sacudindo as mãos na minha frente, querendo bancar a magnânima, além disso, já era hora de acabar com essa conversa. — E agora, tenho muito trabalho a fazer.

De volta do trabalho, passei em um pet shop e comprei tudo que preciso para o gato: pratinhos, caixa de areia, ração, brinquedos. Ao abrir a porta do meu apartamento, já não me espanto ao encontrar Sabbath no sofá, ele olha para mim com se me esperasse, é uma sensação boa.

— Olhe que eu trouxe para você — Levanto as sacolas, vou para a cozinha, enquanto ele me observa, atentamente.

Coloco a ração e água nos potes e a caixa de areia em um canto, logo em seguida, ele aparece atrás de mim, roça nas minhas pernas e devora sua comida.

— Agora é minha vez.

Abro a geladeira, não há nada ali. No freezer, a comida congelada acabou. Eu me recrimino por ter me esquecido de mim, penso que só assim vou emagrecer, ficar igualzinha aquelas modelos das produções, só que teria que crescer uns 15 centímetros.

— É melhor ligar para o George e avisar que você está aqui — falei, para o gato que acabou de comer e está usando a caixa de areia, enruguei a cara imaginando que terei que limpar aquilo.

Vou até o interfone e digitei o número do apartamento dele, depois de algum tempo, ele atendeu.

— Sabrina, imaginei que fosse você, pois não achei Sabbath por aqui.

— Você está certo, ele está mesmo aqui.

— Imaginei. Você já jantou? Porque eu comprei uma lasanha em restaurante perto do meu trabalho, mas é muito para mim, sozinho.

Diga que sim, que já jantou!

— Não, ainda não jantei — respondi, não dava para recusar uma lasanha.

— Que ótimo, então venha para o meu apartamento, porque ela já está no micro-ondas, aquecendo.

— Estou indo.

Achei que deveria levar alguma coisa, talvez, um vinho ou uma sobremesa, assim abri os armários e procurei, concluindo que precisava fazer compras. Então, sem jeito, cheguei no apartamento dele.

George abriu a porta, olhando direto para as minhas mãos, reparando nelas vazias.

— Cadê Sabbath? —indagou, franzido a testa.

— Deixei ele lá em casa, dormindo — Dei de ombros.

— Então, seremos só nós dois. Vamos, entre! — Ele saiu da frente, para me dar passagem.

O apartamento dele tinha um delicioso aroma de massa fresca e molho de tomate com manjericão, atiçando minha fome que julgava domada. A mesa está posta com cuidado e o lugar era muito bem arrumado, bem diferente da minha casa.

— Sente-se. Quer uma taça de vinho, eu já estava bebendo — apontou em direção à mesa, onde havia uma taça meio cheia de vinho tinto.

— Eu aceito. Obrigada.

— Não tenho hábito de beber durante a semana, se bem que estamos quase no fim de semana — ele disse, enchendo uma taça e me entregando. — Pode se sentar, que eu pego a lasanha.

— Precisa de ajuda?

— Não, está tudo sobre controle.

Assim, fiz o que me disse, esperei que retornasse com uma travessa de lasanha quentinha e cheirosa e uma salada verde, realmente, ele pensa em tudo.

— Estou impressionada, com seus dotes como dono de casa — digo, enquanto jantávamos.

— Obrigado.

— Você e Letícia namoraram por muito tempo? — perguntei à queima-roupa, durante o jantar.

 George parou com o garfo no ar e piscou duas vezes, espantado com minha maneira direta.

— Não, nós nos conhecemos desde que eu me mudei para aqui, ficamos amigos, ela achava que era gay — George riu, achando o fato engraçado —, por isso, ela me contava todos detalhes do seu namoro, chorava no meu ombro quando se dava mal.

— Por que ela achou isso de você?

— Ela me confessou que era por causa do meu apartamento — Eu olhei em volta, realmente era um apartamento muito bem decorado e arrumado. — Até que um dia, ela descobriu eu não era gay e ficou surpresa.

— Como ela descobriu? — Estava realmente interessada naquela história.

— Estávamos bem aqui, naquele sofá, e ela chorando e reclamando como os homens eram babacas, como não dava sorte e todas aquelas baboseiras, que as mulheres costumam dizer no fim de relacionamento — disse, com desdém, eu devo ter feito uma cara feia, porque ele parou de falar.

— Continue — pedi.

— Toda aquela história e ladainha já estavam me irritando, então eu a segurei e a beijei na boca.

— Você a beijou assim de surpresa?! — Fiquei espantada com toda aquela determinação. Ele assentiu com a cabeça. — Ela se espantou, a princípio, mas, depois retribuiu o beijo, assim começamos a ficar, por um tempo até de ela ir embora.

— Então, vocês terminaram? — quis saber, em tom casual, trazendo uma garfada a boca, nesse momento, me dei conta que ele poderia levar minha curiosidade para um outro lado, imaginando que pudesse estar interessada nele. — Desculpe, estou sendo intrometida.

— Não se preocupe, eu não ligo. Nós não terminamos por assim dizer — ele me deu um sorriso triste.

— Mas, ela está lá e você aqui.

— Eu sei — falou, desanimado.

George não precisava dizer mais nada, estava na cara que ainda era caidinho pela tal Letícia.


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