Rede Obscura escrita por Heringer II


Capítulo 5
Relatório de Susie Byron, 8 de maio de 2018


Notas iniciais do capítulo

E estamos de volta! Imagino que estejam curiosos após os eventos do capítulo anterior. Bom, vamos lá!

Espero que gostem. ^^



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Eu e Michaelson Wright chegamos em Marysville na noite do dia 7 de maio, por volta das 18h00min. Nos hospedamos em um hotel. Ainda me lembro do momento em que entramos lá.

— Boa noite. — cumprimentei a recepcionista.

— Boa noite. — ela me respondeu gentilmente. — Em que posso ajudar?

— Gostaríamos de dois quartos, por favor.

Michaelson me cutucou. Quando olhei ele estava apontando para mim um dedo. Olhei para ele e me sussurrou: "estou sem dinheiro".

— Um quarto de casal, por favor.

— Estão em lua de mel?

Eu fiquei vermelha com a pergunta da recepcionista.

— Não! Somos amigos.

— Está mais para... Colegas de trabalho. — Mike me corrigiu.

— Ah, acho que entendi. Vão ficar aqui por quanto tempo?

— Só por esta noite.

— Ok. Me dê só um minuto para fazer o seu cadastro.

Enquanto aguardávamos, eu e Mike ficamos conversando.

— Não sabe nem sequer o endereço do Sr. Scott?

— Edward só me disse que ele morava em uma pequena casa em Marysville.

— Então, precisamos ir para outra região da cidade, já que estamos em uma área nobre.

— Eu estou exausto. Cuidaremos disso amanhã, pode ser?

— Como quiser. Eu também estou cansada.

A recepcionista voltou, trazendo a chave do nosso quarto.

— Só preciso agora que vocês assinem aqui.

Assinamos e fomos para o quarto. Dormimos nos lados extremos opostos da cama. As costas de um viradas para as costas do outro. Dormimos.

O dia seguinte seria longo.

*

Quando acordamos, era madrugada ainda. Devia ser umas quatro da manhã. Vi que tinha algumas mensagens não lidas e chamadas não atendidas no meu celular. Como estava com pressa, não as li. Imaginei que deviam ser apenas mensagens da CIA me perguntando como estava operação.

Descemos as escadas e devolvemos a chave para a recepcionista, que já era outra.

— Vão sair agora? — ela nos perguntou.

— Precisamos. — respondi.

— Não vão querer nem mesmo esperar o café da manhã? É gratuito.

— Não, obrigada. Estamos com pressa. Mas o atendimento e o quarto foram ótimos!

— Posso ajudá-los em uma última coisa?

— Na verdade... Sim...

— Em quê?

— Você sabe o endereço de um tal Sebastian Scott?

— Susie! Vamos logo! — Mike me chamou, do lado de fora.

— Já vou! Só um minuto. — o respondi, depois me dirigi à recepcionista. — É aí, sabe?

— Sebastian Scott? Está mesmo atrás daquele maluco?

— Estou sim. Tem algo de errado com ele?

— Acho que a pergunta correta seria "tem algo nele que não esteja errado?"

— Por quê? Você o conhece?

— Conheço sim.

— Sabe onde ele mora?

— Sim. Ele vive há poucos quarteirões daqui, próximo ao Providence Regional Medical Center.

— Ah, ok. Obrigada.

Me dirigi até Mike, que já me esperava dentro do carro.

— Entra logo, temos que procurar pistas sobre onde está Sebastian Scott. — Ele me disse.

— Eu já tenho uma.

— Sério? Qual?

— Providence Regional Medical Center. Já ouviu falar?

— Sim. É um dos melhores hospitais da cidade.

— A recepcionista disse que Sebastian Scott está morando próximo a ele.

— Hum... Ok. Então vamos para lá.

Deixei Mike dirigir e ele nos levou até as redondezas do hospital em questão. No meio do caminho, surgiu-me uma dúvida.

— Mike...

— O que foi?

— Afinal, quem é esse Sebastian Scott?

— Eu já disse. É um cara que poderá nos ajudar.

— Sim, mas eu quero saber quem ele é. Como ele é.

— E por que isso agora?

— Quando disse à recepcionista que estava procurando Sebastian Scott ela me olhou assustada. Ficou surpresa por eu estar procurando justamente ele.

Mike deu uma risadinha.

— Vamos, Mike! Diga logo!

— O Dr. Scott foi meu professor na universidade. Ele foi quem ensinou o básico e incentivou-me a me especializar em computação quântica. Martin McField tinha sido aluno dele também, mas não fomos da mesma turma. Sebastian sempre teve contato com a CIA. Quando dois agentes peritos em computação quântica se aposentaram, ele indicou eu e Martin, pois segundo ele, éramos os melhores alunos que ele havia tido até então.

— E por que você acha que ele pode nos ajudar?

 

— O Dr. Scott não é só perito em computação quântica, ele também sabe muito sobre mecanismos de espionagem. Quando eu e Martin tínhamos alguma dificuldade para rastrear um assassino, sempre contávamos com a ajuda dele.

— Então quer dizer que...

— Ele pode rastrear a localização dos S0V3R3IGNS. E aí, pronto. Poderemos acabar com isso.

— Então quando descobrirmos onde os S0V3R3IGNS estão, vamos atrás deles.

— Não.

— O quê?

— Não. Você vai atrás deles. Eu disse, só iria te ajudar com o básico. Essa missão é sua, Susie Byron, não minha.

— Tudo bem. Como quiser. Não acha que está cedo demais para fazermos uma visita ao seu ex-professor?

— Se eu bem conheço Sebastian Scott, não é.

Chegamos na rua do Providence Regional Medical Center, procuramos alguma pista sobre qual era a casa de Sebastian.

— São muitas casas. Qual delas deve ser? — perguntei.

— Continue procurando até encontrar algo incomum.

— Como assim?

— Apenas continue procurando.

Ficamos alguns minutos prestando atenção em cada casa daquela rua. O sol começou a nascer, parei um pouco para admirar aquele belo espetáculo da natureza, até que uma coisa me chamou a atenção. Em cima do telhado de uma casa lá no final da rua, vi a silhueta de um homem. Ele olhava pensativo para o horizonte, enquanto ficava parado em cima da casa. Imaginei logo que se tratava de um suicida. Chamei Mike para perto de mim e apontei para a pessoa em questão.

— Olha, Mike! Aquele homem vai se matar!

— Hum... Tem razão. Acho melhor ir ajudá-lo. — Mike falou com uma calma e frieza que me assustaram.

— Vamos logo!

Eu corria desesperadamente em direção ao estranho homem, enquanto Michaelson, atrás de mim, seguia-me a passos lentos. Parei em frente à casa do homem, e comecei a gritar.

— Senhor! O que está fazendo? Por que está aí em cima?

O homem me encarou por alguns segundos, me deu um leve sorriso e voltou a olhar para o horizonte. Era um senhorzinho de estatura baixa, cabelos grisalhos, barba rala e branca, magrinho, aparentava ter uns 60 anos.

— O que está fazendo aí em cima?

— Você é nova por aqui, não é? — me perguntou, sem olhar para mim, continuou encarando o horizonte.

— Na verdade, eu estou aqui a trabalho.

— Hum... Interessante...

— E o senhor, o que faz aí?

— Estou olhando o nascer do sol.

— Olhando o nascer do sol?

— Sim. Veja... Não é uma cena bonita?

Olhei para o horizonte.

— É muito bonito mesmo. Mas por que está vendo aí de cima? Não acha perigoso?

— Pode até ser, mas vale a pena.

Mike chega. O velho senhor o vê.

— Michaelson Wright. Há quanto tempo...

— Como está, Dr. Scott?

Eu fiquei impressionada. Aquele era Sebastian Scott?

— Apesar da idade, eu estou ótimo.

— Então você é Sebastian Scott? — eu perguntei.

— Sou sim.

— Eu disse para procurar algo incomum. — Mike sussurrou no meu ouvido.

O Dr. Sebastian Scott desceu uma escada lentamente e veio até nós.

— Então você tem o costume de subir no telhado para ver o nascer do sol?

— O nascer e o pôr do sol. Todos os dias, desde a minha adolescência. Afinal, a que devo suas visitas a essa hora?

— Precisamos de sua ajuda, Dr. Scott. — Mike falou.

— Se você veio me procurar, então imagino que a situação seja séria. Tem algo a ver com a CIA?

— Sim.

— Achei que você tinha deixado de ser agente de lá após a morte de Martin.

— E deixei. Sua ajuda vai servir para a minha amiga.

— Ah, onde estão meus modos. Quem é a bela dama?

— Susie Byron. Agente da CIA. — me apresentei.

— Muito prazer.

Ele me cumprimentou e beijou minha mão. Parecia ser maluco, mas era um cavalheiro.

— Entrem. Vamos conversar.

Para um doutor em Computação Quântica, Sebastian Scott tinha uma casa bem simples. Sofás já bastante desgastados, um televisor bem antigo e uns quatro ou cinco gatos de estimação. Mas quando entrei no quarto dele, fiquei impressionada. Parecia uma lan house. Vários computadores enfileirados, todos eles operando algoritmos.

— Qual é o caso? — Sebastian nos perguntou.

— Imagino que esteja a par das informações vazadas sobre a CIA. — eu disse.

— Sim, eu soube. Aliás, não só sobre a CIA. Hoje pela madrugada foram vazadas informações sobre projetos secretos de armas que o exército americano estava desenvolvendo, além de informações sobre futuros testes nucleares.

— Os S0V3R3IGNS já vazaram novas informações?

— S0V3R3IGNS?

— É uma organização secreta de hackers. São eles que estão vazando essas informações.

— Já entendi. Querem que eu os ajude a descobrir quem são os membros da organização.

— Isso mesmo. — Mike falou.

— Como sabem quem esses S0V3R3IGNS estão por trás dessas revelações?

— Eu descobri. Existe uma página na Deep Web onde eles enviam relatórios de seus ataques já feitos, além de planejarem os próximos.

— Você me dá orgulho, Mike.

— Mas não consegui detectar por onde eles estão conseguindo essas informações. Acredito que elas estejam sendo enviadas por alguma das camadas mais profundas da internet.

— Como a Charter's Web?

— Talvez mais fundo...

— Então esses hackers devem ser muito inteligentes. — Sebastian olhou para mim. — Em qual departamento da CIA você trabalha?

— Diretoria Operacional. — respondi.

— Ah, meus pêsames.

— Por quê?

— Pela perda do seu chefe.

— Perda?

— Você não soube?

— Não soube do quê?

Sebastian foi para um de seus computadores, abriu um site de notícias e me mostrou a matéria:

"Christopher Hermes, chefe do Departamento Operacional da CIA é assassinado em seu escritório."

Meu sangue gelou. Fiquei aterrorizada com aquela notícia. Christopher Hermes estava morto?

— Assassinado? — Mike perguntou. — Quem o matou?

— Leia o resto da notícia.

— O chefe do Departamento Operacional da CIA — Mike lia em voz alta. — foi encontrado morto em seu escritório por volta das 19h30min. O responsável pelo assassinato, segundo a pesquisa foi... — Mike parou instantaneamente e fez uma expressão de assombro. — Não pode ser...

— O quê? — perguntei. — Quem matou Christopher Hermes?

— Joseph Hall, da Diretoria de Ciência e Tecnologia.

Senti uma forte vertigem. Me sentei. Não podia acreditar que aquilo era verdade. Peguei meu celular e vi todas aquelas chamadas e mensagens não visualizadas... Com certeza queriam me informar sobre a morte de Christopher... Mas eu não podia crer! Joseph Hall tinha matado ele? Por que o Jos? O que o levou a fazer isso?

Fui ler as mensagens. Todas elas se tratavam justamente do assunto.

— Susie, você está bem?

Li a última mensagem. Reconheci o email, era de Christopher. Ele gastou seus últimos segundos de vida para me mandar uma mensagem? Devia ser algo importante. Abri o conteúdo.

"T3LM4H =

TELMAH =

HAMLET.

O verdadeiro: MM"

"Isso não faz o menor sentido", pensei em voz alta.

— Deixa eu ver. — disse Mike, pedindo para ver a mensagem. Entreguei meu celular a ele.

— Só consegui entender o "Hamlet". O que significa o resto?

Mike leu a primeira linha: "T3LM4H".

— T3LM4H? Não é possível.

— Por quê? O que significa?

— É o líder dos S0V3R3IGNS. Quando li os resumos dos ataques deles, vi que existia uma pessoa que tinha as informações em mãos e ordenava aos outros integrantes que as espalhassem. O nickname dele era "T3LM4H". Obviamente, trata-se da linguagem da informática que se consiste em mudar as letras por algarismos semelhantes. Se trocarmos o "3" pelo "E" e o "4" pelo "A", teremos "Telmah", que é apenas a palavra invertida para "Hamlet"...

— A obra literária favorita de Joseph. Então é ele que está por trás disso?

— Provavelmente... Mas eu ainda não entendi a última linha.

— O que ela diz? — o Dr. Scott perguntou.

— "O verdadeiro: MM".

— MM? O que significa? — perguntei.

— Não faço ideia. Também não entendi "o verdadeiro"... O verdadeiro o quê?

— Essa foi a última mensagem que Christopher enviou.

— Então, ele deve conter alguma informação importante sobre os S0V3R3IGNS.

Mike ficou algum tempo olhando a mensagem de Christopher. De repente, ouvia-se um disparo do outro lado da rua. A bala entrou no quarto quebrando a janela de Sebastian e por muito pouco não acertou a cabeça de Mike.

A bala atingiu um dos computadores do Dr. Scott, quebrando seu monitor.

— Droga! — Sebastian disse. — Adorava esse computador.

Olhei pela janela e vi um encapuzado mascarado com o revólver. Quando ele viu que eu o estava observando e que os vizinhos estavam se aglomerando para ver o que tinha sido aquele tiro, ele saiu correndo. Rápida e instintivamente, saí correndo para alcançá-lo. Corremos por toda a rua, mas ele estava a metros da minha frente. De repente, ele parou. Imaginei que estivesse cansado. "É minha chance de pegá-lo", pensei. De repente, ele tira do bolso um estranho objeto que parecia ser um controle remoto. Apertou um botão e voltou a correr. Não havia entendido o que ele tinha feito. Quando olhei para trás, no meio daquele monte de gente, vi uma explosão. Era o meu carro. O encapuzado tinha implantado um explosivo no meu carro. Que miserável!

Não consegui alcançar ele, mas tive a sorte de pegar o controle do explosivo que ele havia largado no chão.

Meu celular começou a tocar de novo... O mesmo número, apenas zeros. Atendi.

— Entendeu o porquê de eu não querer você se envolvendo nisso, Susie? — disse a voz.

— Joseph? É você?

— Eu mesmo.

— Seu canalha! Nunca vou te perdoar pelo que fez.

Ele deu uma risada alta no outro lado da linha.

— Susie, Susie! Tão ingênua...

— Cale a boca. Espero que dê essa mesma risada na cadeia.

— Acha mesmo que a polícia tem poder sobre mim? Minha querida, eu provoquei o exército e até agora eles estão com raiva de mim.

— Você matou o Christopher.

— Ele era um estorvo. Uma pedra no meu caminho. Quando disse para você não aceitar essa missão, era para que não se tornasse um estorvo também, Susie.

— Não tem nenhum receio do que fez?

— "É a consciência que faz de todos nós covardes".

— Eu não sei o que está planejando. Mas anote o que eu vou dizer agora. Você não vai se safar dessa. Eu vou encontrar vocês, não importa o que custe.

— Vai ser difícil sem carro.

— Como você...

— Eu mandei um dos nossos para matar você e seu companheiro Michaelson. É questão de tempo, pode esperar.

Desligou.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. ^^
Até a próxima. O/



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