Castle escrita por Romanoff Rogers


Capítulo 2
II - Sua vida não é sua




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"Os reis deixaram aqui suas coroas e cetros; os heróis, suas armas. Mas os grandes espíritos, cuja glória estava neles e não em coisas externas, levaram com eles sua grandeza." - Arthur Schopenhauer 


Meu reino vai ser o maior. Todo mundo sabe, e quando o meu for infinitamente melhor que o de vocês hei de esfregá-lo na cara de taxo de todo mundo aqui! - o pequeno Tony grita, erguendo um pedacinho de madeira acima de sua cabeça.

— Você fala demais, garoto de ferro. - Bucky diz, antes de derrubá-lo com um graveto da pedra na qual se encontrava antes. Todos riem, vendo o garotinho se levantando do chão irritado.

Ele e Steve eram os mais velhos. E então Natasha, Bucky e Wanda havia feito sete anos de idade agora. E ali, no inverno do Palácio Stark, todos brincavam juntos.

— Insolente! - ele gritou, e Natasha se colocou entre ele e Bucky. 

— Isso tem que ser resolvido em um duelo. - Natasha os fez afastar um do outro, pegando um gravetinho no chão. - Sir Stark, Sir Barnes, se enfrentem num duelo justo. O vencedor leva Wanda, e o perdedor não leva nada.

— Você tinha que me oferecer de prêmio? Esses meninos são bobocas e ninguém me merece. - ela cruzou os braços, sentando-se na pedra onde Tony fora derrubado com o nariz empinado e os braços cruzados.

— Você é muito fofa. - Bucky piscou pra garota, que corou e revira os olhos.

— Você só quer ver o mundo pegar fogo, não é, Romanoff? - Steve cruzou os braços encarando Natasha, e ela sorriu.

— Que comece o duelo!

Os dois começaram a travar uma batalha "sangrenta" com as "espadas". Os dois tinham aulas de esgrima, mas não tinham ideia do que estavam fazendo.

Terminaram com Bucky no chão e Tony ajoelhado perante Wanda.

— Aceite-me, nobre rainha.

— Talvez não seja tão ruim. - Wanda oferece a mão a ele, que a beija com um sorrisinho.

Steve foi até Bucky e oferecendo a mão a ele, deixando seu livro de lado.

— Você tem sempre que se meter em brigas por mulheres? 

— Te explico quando for mais velho. - ele ajudou o amigo a levantar.

— Sou mais velho que você, seu imbecil. - ele riu, dando um tapinha nas costas de Steve.

(...)

Roger era uma planície gigantesca, com árvores mais verdes que uma esmeralda. Com o verão que chovia o dia todo, as praias de Roger são lindas e o Rio Vermelho desaguava no mar perto de Buchanan.

E descendo o curso do rio, as minas de diamante eram abundantes. E subindo, havia uma gigantesca reserva de prata. Nós três dependemos uns dos outros.

Romanoff é fria demais, os grãos sempre falham e Volo compra os grãos das enormes terras férteis e inundadas de Roger. Já todo nosso ouro vinha de Stark. E todo o ferro das montanhas de Romanoff. E assim, protegidos pela cordilheira de montanhas chamada Pontas do Inferno, em Romanoff, ficávamos protegidos dos reinos do norte.

Dentro de cada reino havia uma vasta linhagem de nobres, Stark tem os Potts, os Hammer, Romanoff tem os Banners e os Foster, e Roger tem os Carter e Buchanan era um deles.

— Ele está muito mal. - continuei encarando o jardim. Era da minha mãe, foi cuidado por ela durante anos e anos. E quando morreu, o jardim começou a morrer também. Não deixei, mandei contratar dez jardineiros apenas para mantê-lo vivo.

— Ele é forte, você sabe. - Bucky disse, e eu assenti, encarando-o.

— Eu ainda tenho esperanças. - respirei fundo. - Mas tenho que me preparar pro pior, garantir que o parlamento me apoia até eu poder mudá-lo e... Encontrar uma rainha. Sei que muitas vão se aproveitar da minha frágil situação.

— Melhor eu dizer isso a Catrinna. - Bucky cuspiu, rindo. - Sei por que ela veio, e você também.

— Catrinna é uma bela mulher. Ter os Buchanan mais perto é uma oportunidade também. Ela está na jogada, sinto dizer isso a você. - sorri.

— Bela merda. - ele ri. - Ela é uma mimada, mas uma mimada bonitinha, então quero o melhor para você.

— Sim. - comentei, pressionando os lábios e cocei a nuca.

— Sim, mas? - Ele pergunta, me encarando. Respiro fundo.

— Convidei Natasha para vir.

Um sorriso enorme se abriu em seu rosto, mas ele tentou disfarçar.

— Natasha é uma candidata fantástica. - ele comentou, se fingindo de desentendido. Ele sabia. - Ela é linda, forte, tem minas de ferro inabaláveis, é interessante, é sua amiga e é uma dama bem avantajada...

— Bucky! Não fala assim dela.

— E você a ama. - completei, o encarando, com a sobrancelha erguida.

— Isso foi a quinze anos, James. - revirei os olhos.

E Natasha começou a ocupar meus pensamentos enquanto Bucky tagarelava sobre seu pai. Eu amei Natasha minha infância toda e ela nunca ligou para mim. Isso nunca importou, nós crescemos e não falo com ela tem alguns meses.

Quando ela vem, é incrível. Eu não gosto dessas festas que meu pai vivia dando, e ela sabia, então fugia comigo para o jardim e conversávamos a noite toda. Foi assim até as coisas ficarem mais sérias pra nós dois. Dizer que Natasha não significa muito pra mim é mentira.

— Imagino que não tenha concordado em fazer esse jantar. - Bucky disse, se referindo ao jantar/baile que meu pai mandou fazer essa noite.

— Não mesmo. Mas ele disse que o reino não pode parar, que eu preciso de uma situação social para escolher uma esposa. - respirei fundo. - Dançar e conversar com todo mundo é minha vida agora.

— E... Eu estou me segurando com todas as minhas forças pra não perguntar... - o bastardo apaixonado ao meu lado sorriu.

— Não, não sei se ela vem. Mandei convidar todos os milhares de filhos do Volo, mas sabe que ele é um inferno quando se trata de estrangeiros.

— Eu estou apaixonado. - ele começou, encarando as nuvens, e eu sorri. - Eu a amo como nunca amei ninguém. A falta que ela faz é avassaladora, sou fraco sem Wanda.

— Infelizmente é muito mais complicado. - comentei, e ele suspirou.

Uma princesa e um bastardo não era lá algo muito aceitável.

— E eu não sei? Mas decidi que vou lutar por ela, não me importo.

— Se Volo decidir colocar assassinos atrás de você pra te matar... Sabe que é bem vindo aqui. - ele riu, e eu respirei fundo. - Não estou brincando.

(...)

Narrador

Ela fez uma reverência que Tony devolveu. Ele adorava Pepper. Achava a mulher extremamente fantástica, e tinha necessidade de ressaltar isso toda hora.

— Duquesa Virgínia Potts. - seu lacaio anunciou, e ela segurou a mão do Rei, depositando um beijo. 

— Meu rei. - seu sorriso era divertido, assim que saíssem da vista de todos ela provavelmente contaria uma história engraçada e ele fingiria não estar olhando para partes que não devia olhar.

— Duque Heliot Potts e Duquesa Morgan Potts. - o lacaio anuncia de novo, e Anthony se dirige a eles, que fazem uma enorme reverência.

— Meu rei. - disseram em uníssono e abre um sorriso forçado. Tony os achava os seres mais chatos da face da terra, mas sabia que não pode deixar sua futura noiva descobrir isso.

— Duque e Duquesa, é uma honra enorme tê-los aqui.

— A honra é nossa. - Heliot disse, tomando o braço da esposa.

Ele encarou os olhos de Pepper novamente. Aquele azul imenso que o trazia calmaria. Seus cabelos loiros arruivados estavam presos em um coque atrás da nuca, e uma tiara de pedras preciosas cortava sua testa, destacando seus olhos e seu belo vestido laranja.

— Vou direcioná-los a seus devidos quartos, imagino que a viagem tenha sido cansativa. - disse Tony, tentando puxar assunto e eles o seguiram firmes.

— Foi cansativa, mas interessante. O reino mudou muito.

— Uhum. - ele concordou, e eles começam a contar coisas para vangloriar das próprias riquezas, mas Tony se divertia mais vendo Pepper segurar o riso e ficar vermelha como um pimentão.

Pepper já estava ansiosa para os pais os deixarem a sós, e quando aconteceu, seus braços envolveram Tony. Ninguém pode tocar nele, isso é óbvio. Menos Pepper. 

— Se disser que isso aconteceu a alguém eu vou negar, tem que saber disso. - ele disse, com um sorrisinho e Pepper riu.

— Acho que a última carta que eu mandei não chegou a tempo, porque eu disse que iria fazer isso quando o visse, majestade. - ele abre um sorriso malicioso, pronto para fazer piada com isso quando um criado faz uma reverência de cabeça baixa.

— Senhor... Carta da Duquesa... - os olhos dele pousam sobre Pepper. - Potts...

— Olha! Maravilha, vamos ler juntos graças a esse péssimo serviço postal! - Pepper ri, já acompanhando Tony para o sofá mais próximo. - Mas que droga, eu tenho os carteiros mais tontos do reino.

— Não seja malvado, eles o pouparam da minha carta sem graça, agradeça a eles.

— Suas cartas não são sem graças. - ele diz, sem largar o sorrisinho irônico dos lábios, já abrindo o lacre do envelope. - Por exemplo... "Querida Majestade" só esse começo já é hilário.

Ela revira os olhos, arrumando a postura no sofá.

— "Eu temo no fundo do coração que assim que eu o vir, afundarei meu rosto em seu abraço." Bem, é justificável.

— Com certeza, eu estava alterada quando escrevi isso.

— Realmente. - Tony continua lendo as palavras de forma embolada, analisando tudo. - Baboseira, baboseira... Espera, esse farsante Gallinton ainda não saiu do seu pé? E vejamos... Mais baboseiras "Meu irmão não obteve melhoras..."

Pepper abaixa os olhos, e Tony a encara, tentando ver seu rosto.

— Nenhuma melhora?

— Não. 

— Aquele médico que ia ir de Romanoff...?

— Não ajudou. - ela dá um sorriso triste, e Tony segura sua mão, pronto para dizer algo quando o som de ferro batendo no chão os chama atenção. Um guarda corria na direção deles, e ambos se levantam, sem largar a mão um do outro.

— Majestade. A caixa do seu pai foi arrombada. Não sabemos o que foi levado. - pronto. Tony acompanhou o guarda com passos largos, arrastando Pepper. Eles descem as escadas numa velocidade impressionante, o maxilar de Tony estava travado.

Em pouco tempo eles já estavam do lado de fora, indo até o chafariz principal. Uma enorme escultura de um homem de armadura ficava no centro, em cima de um círculo de mármore onde buracos desejavam água, e nos pés da escultura, onde ficava a placa de ouro escrita "Rei Howard Stark" que se encontrava na água, arrancada e revelando um buraco retangular e escuro.

Tony solta a mão de Pepper, e entra sem dificuldade e delicadeza dentro da fonte, analisando o interior do esconderijo. Tira de lá um baú de madeira com as letras "H.S." com a fechadura arrombada e os materiais revirados.

Um buraco se abre no peito de Tony. Aquilo era sagrado. O tabuleiro de xadrez de ouro favorito de seu pai. Fotos de seu avô, sua famigerada coleção de anéis. Nada disso fora levado. Era ouro que tinha apenas um valor sentimental imenso. Mas Tony deu falta de uma coisa.

— O que sumiu, Tony? - Pepper pergunta, se virando pra ele.

— O amuleto da minha mãe.

(...)

Natasha

A venda em meus olhos deixava tudo mais difícil, mas meus sentidos estavam com força total. Sentia absolutamente tudo ao meu redor. A espada estava erguida, meu corpo em posição de ataque. Sentia cada molécula do meu cabelo atenta.

E foi quando o primeiro boneco de areia veio voando na minha direção. O senti raspando nas minhas costas e dei um pulo, o rasgando no meio. A areia preencheu meus pés, e logo outra coisa veio em minha direção, uma tora de madeira tentou me acertar.

Bati com a espada nela, a fazendo pegar impulso e continuar se mexendo mais devagar, enquanto já cortava outro boneco de areia. Muitos deles começaram a cair, e começou a ficar mais difícil.

Mas eu tinha a sala toda na minha mente, a tora de madeira balançando de um lado ao outro indicava que eu não podia me mexer para a esquerda, os mil e um bonecos que despencavam do teto eram cortados em dois instantaneamente.

Dei uma cambalhota para frente para impedir que um me acertasse, e quando ele voltou, o cortei no meio assim como os outros.

Subi três degraus da plataforma no centro da sala, sinal que os soldados podiam entrar. Dois deles vieram correndo e tentaram me atacar pelas costas.

Me virei e defendi, chutando a barriga de armadura de um, e o outro se esquivou e me atacou bruscamente, me fazendo recuar e demonstrando um nível superior que estranhei. Conhecia seu jeito de lutar de algum lugar.

Senti sua espada raspar no ferro da minha armadura, e num reflexo saltei da plataforma em direção ao chão.

Pela esquerda. Justamente onde eu não podia ir. Mal pude raciocinar quando a enorme tora me jogou no chão, e uma dor absurda veio.

Gemi, com raiva e tirando a venda, procurando quem me venceu de maneira tão ridícula.

Eu deveria ter imaginado.

— Podia ter sido pior, princesa.

— Clint. - disse, vendo-o apoiado na espada em cima da plataforma de marfim.

Coloquei a testa no chão gelado, sem mexer um músculo. Que droga. Comecei a levantar, ignorando a dor na perna onde a tora me atingiu. Aproveitei para analisar a sala de treinamento.

A tora era empurrada por alguns criados para voltar a seu lugar, presa por ganchos que caem quando puxamos uma alavanca embaixo. Havia outra tora presa no lado direito, e o chão estava cheio de areia dos bonecos que eu massacrei.

Ele chegou mais perto, fazendo uma reverência, e eu sorri.

— Te machuquei, princesa

— Para de me chamar assim.

— Fiquei sabendo que você vai casar. - ele quase cuspiu as palavras, com um sorrisinho. - Steve Rogers é um sortudo, mesmo. Que não te merece.

Eu queria muito saber como ele descobriu, já que ninguém sabia que Volo queria me casar com Steve Rogers, mas lembrei que ele é um espião e apenas suspirei.

— Eu sei. - disse, dando um passo para trás. - Vamos andar. - sai andando, e guardei minha espada na cintura.

Meus enormes cabelos ruivos estavam soltos por cima da armadura preta, que agora tinha um arranhão por cima do brasão no meu peito, e minhas botas de ferro iam até o joelho.

Já ele estava vestido com uma túnica vinho escuro e uma calça preta. Ele é general, espião do meu pai, e não age o mínimo como um, mas sim como uma criança de três anos. Principalmente quando está com ciúmes.

— Por que está aqui?

— Acabei de voltar de Stark, protegendo o diplomata idiota do seu pai.

Fomos para uma das sacadas, e me apoiei na murada preta. Ele estava mentindo, eu sei.

— Perguntei por que estava aqui, não onde estava antes. - ele abriu um sorriso, prevendo que eu iria ficar irritada com a real resposta.

— Você vai ficar irritada. - assenti, cruzando os braços, e ele resolve prosseguir. - Mas é confidencial.

Soltei uma risada irônica, antes de bater sem força na sacada.

— Proteger e informar. No mínimo. Vai me espionar, Barton?

— Não vou dizer nada que não queira. - ele ergueu a mão. - Palavra de espião.

— Hã.

— Você já foi boa nisso.

— Eu sou uma rainha, não posso voltar a isso nem se quisesse. - cruzei os braços novamente, e ele continuou me encarando.

Passados alguns segundos ele desmanchou o sorriso.

— Doeria demais admitir em voz alta sua relação com Steve Rogers.

— Clint. - respirei fundo, me virando para a paisagem para não ter que encará-lo. - Não faça isso.

— Isso, o que? - Ele tira uma das mechas do meu cabelo do meu rosto, e abaixei a cabeça.

— Você sabia que isso ia acontecer.

— Nosso plano era ficarmos juntos. Não vou dizer que quero que me escolha pra ser rei, isso é uma coisa que nem Tony Stark faria. Só... Nostalgia. De quando sonhávamos alto, você dizia que ia se casar com seu melhor amigo para não ser submissa a nenhum homem. 

— Disse certo. Não passam de sonhos.

— O que mudou? - ele acusou, e eu olhei pra cima, bufando como uma criança.

— Eu não quero me casar com o Steve.

— Claro que sei disso, não sou burro. Você tem tanta influência aqui quanto seu pai. Você é a única coisa que ele teme. Depois dos Starks, claro.

— Eu tenho que pensar no que é melhor pro meu reino. - minha voz quase não sai. - Eu preferiria me casar com você. Mas você não... tem um reino. - ele deu um sorriso decepcionado.

— Sua vida não é sua. - ele disse, e fechei os olhos umedecendo os lábios.

— Sim. Eu troquei minha liberdade pela de Wanda. 

— Você fez o que, Natasha?

— Ela ama um bastardo.

— Ela o que? Por quanto tempo fiquei fora? Dois dias?

— Ela é minha irmã. Eu tenho que cuidar dela.

Clint Barton cruzou os braços. Os olhos firmes no horizonte, os lábios trincados. Eu sei o que isso significa.

— Clint. - pedi, mas suas mãos apenas começam a tremer. - Você é meu melhor amigo.

Num impulso, ele se virou pra mim, agarrou meu rosto e me beijou. Um beijo ardente e desesperado. Uma despedida. Ele me soltou, descendo a mão devagar pelo meu braço, e sai.

Respirei fundo e uma brisa esvoaçou meu cabelo. Soquei com toda minha força a sacada de pedra, e me arrependo instantaneamente, gemendo de dor, e vejo uma marca de sangue.

Que droga.

 

 

 

O que estão achando?

 

 


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