Requiem Aeternam escrita por AnaBonagamba


Capítulo 25
Libidine


Notas iniciais do capítulo

Cenas +16, atenção, temas sensíveis.



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Tom Riddle era inteligente, sádico e bonito. Sua beleza, o seu maior destaque, complementada certamente pela postura aristocrática que o acompanhava mesmo em trajes de tamanho menor. Quando Tom falava, sua voz ecoava pelo ambiente, calando a todos, que se dispunham a ouvir. Seus gestos, sempre muito bem pensados, e uma amostra do desgaste energético era notada em seu corpo magro e branco no limite do que seria uma boa saúde – a aparência, mesmo que lhe favorecesse tanto, não era sua maior preocupação.

Nós não nos entregaríamos ali, seria muito animalesco. Contudo, não me impediu de brincar com sua luxúria, explorando-o de uma forma que eu não havia feito antes. O ciúme tinha despertado Tom, e eu conseguia sentir sua rigidez ao tomar meu corpo com mais pressa do que de costume. Suas mãos passeavam por minhas costas, pescoço, e cabelos enquanto seus lábios e os meus articulavam-se numa espécie de dança, eu indo além. Afastei-o o suficiente para abrir com as duas mãos suas vestes superiores, que lhes caíram aos pés enquanto trocava os afagos para as pernas e quadril. A camisa branca, provavelmente de Abraxas, ficava folgada no corpo mais magro de Tom, e puxei-a para fora da calça com casualidade.

Ele suspirou pesadamente.

Continuei meu trabalho com maestria. Minhas mãos geladas adentraram por dentro de suas costas arrepiando-o imediatamente. Tom empurrou a língua com força, e retribuí. Estava quente. Arranhei levemente as costas macias dele e outro suspiro escapou-lhe os lábios. Dessa vez, ele abriu os olhos.

— Se estiver tentando provar-me alguma coisa, é bom parar.

— Não seja tímido. Achei que tivesse gostado da minha resposta.

— Quão bom amante você é?

— Quer ser a primeira a descobrir?

Eu seria a primeira, mas certamente não seria a última. Quando a missão estivesse próxima do fim, meu corpo começaria a definhar, o efeito da magia negra que me sustentava no passado cobrando seu preço. Antes disso, o afastamento. A ruptura que Dumbledore tanto temia.

Tom, num sobressalto, ergueu-me da mesa para seu colo. Achei que não fosse conseguir me segurar, sendo eu uma garota mediana, mas ele mal notou o peso. Estava concentrado em saborear minha boca toda e, daquele modo, também o meu corpo. Suas mãos foram ágeis a buscarem um pouco de pele, e eu perdi meu contato com a dele, apoiando-me em seu pescoço. Relutante pelo desconforto da posição, fui descendo as pernas até que tocassem o chão. Ele gemeu.

— Você não vai cair.

— Tive uma ideia melhor.

Puxei a cadeira que estava sentada para o lado da mesa e o empurrei até que estivesse devidamente posicionado. Assegurada de que estávamos mesmo sozinhos, encarei a biblioteca silenciosa e sentei-me de frente para ele.

— Minha vez.

Puxei seus cabelos com menos delicadeza, exposto o pescoço pálido. Ao contrário das mãos e dos lábios, o restante do corpo de Tom era frio, e ele tinha um aroma suavemente amadeirado. Beijei seu pescoço da orelha à clavícula, o colarinho aberto para que eu pudesse desfrutar dos pequenos pontos negros que lhe pintavam a pele intensamente branca. Seus cabelos macios ainda estavam sob domínio de minhas mãos, e tudo que ele podia fazer era respirar com dificuldade entre os lábios abertos.

— Valery...

Troquei o lado das carícias enquanto ele perdia-se com meus membros inferiores, sentindo minhas pernas expostas sem pudor, da panturrilha ao interior das coxas. A saia do uniforme, usada geralmente com meia-calça, estava erguida em minha cintura. Apertei meus dedos em seus fios macios, provocando-o mais.

— Isso é o que podemos fazer agora, Riddle. – beijei-o, abrindo os botões de sua camisa um por um lentamente, exibindo seu tórax e parte dos braços. Magro, como eu já havia imaginado, porém belo, perfeitamente desenhado, a pele clara com pouquíssimos pêlos senão aqueles que me levariam além. Passei meus dedos de cima a abaixo, excitando-o quase ao limite, mantendo a boca presa a sua. Tom infiltrou-se pelo meu casaco, e suas mãos quentes passaram então a vagar pelas minhas costas.

— Valery... – chamou-me novamente, inebriado. Tão entregue! O que eu poderia fazer com você...

Movi meu quadril de modo a encaixá-lo, mesmo que nossa roupa ainda estivesse ali para impedir um contato íntimo. Não foi preciso mais que dois minutos para que Tom se derrubasse sobre mim, exausto de tanto prazer. Aquilo tinha sido uma experiência interessante: eu, na juventude, nunca tinha me envolvido com um rapaz de mesma idade. Tudo que adquiri com sexo foi durante a fase adulta, por diversão e prazer momentâneo. Jamais afeto. Jamais.

— Sim, você me pertence. – eu disse com seriedade, cerrando os olhos ao encará-lo. – É tão meu que chega a doer. Eu queria esmagá-lo por ser tão divinamente irresistível.

Tom aos poucos recuperava consciência.

— Eu vou terminar isso apropriadamente em breve e você terá que engolir essa audácia. – replicou, apertando meu corpo ao seu. – Isso foi muito além do que eu tenha provado com outra pessoa, Valery. Espero que se lembre disso.

— Não pense que minha luxúria demonstra experiência, Sr. Riddle. Nós meninas conversamos. Mas não faço ideia do que vem depois.

— Ah! – Tom sorriu, passando uma das mãos para trás no meu pescoço. – O que vem antes é muito melhor. Não consegui me aguentar hoje, fui pego desprevenido. – ele refletiu, encarando-me maliciosamente. -  Mas não se preocupe, terá sua vez muito em breve. Não serei intimidado. Quando o tiver, ficará tão deslumbrada que dificilmente buscará consolo em outro homem senão eu. Posso não ter experiência prática, mas sou um excelente estudioso que muito aprende com os erros dos outros.

— Então é isso? – sorri para ele. – Sabe que Malfoy é um péssimo amante por aprender com seus erros?

Tom gargalhou.

— Malfoy é apenas mais um. E eu sou legilimente, não tomo suas experiencias como verdadeiras, eu as escuto por meio de outras fontes.

— Você lê a mente das meninas?

— Não posso evitar. É muito interessante, e não por vias de sexualização, de fato, mas pela mudança que causa. Tem um significado que para os homens é indiferente. E a maneira como eles pensam nisso é nojento.

— Como animais. – completei.

— Existem exceções. – Tom ajeitou-se como pode, tentando encobrir os resquícios da nossa brincadeira com a parte de cima das vestes. – Algumas coisas são importantes para mim. O meu corpo é o que dá forma a tudo isso aqui. – ele gesticulou para a própria cabeça. – Eu não o deixaria exposto para qualquer uma.

Pertencimento. — repeti o que disse anteriormente, antes daquilo tudo começar. – O que isso significa pra você?

— Como assim?

— O que é pertencer? – questionei-o com seriedade. – Amar é diferente de pertencer.

— Você me ama? – rebateu, retribuindo o olhar sério.

— E você?

— Desculpe não poder respondê-la como faria um cavalheiro tradicional, especialmente depois disso. Não sei o que é o amor. As referências que tenho são péssimas.

— Sobre o amor carnal?

— Não apenas. Mais o amor romântico, e não necessariamente o amor de um homem por uma mulher. – explicou. – O que se diz sobre o amor para um órfão criado no abandono paterno, e um jovem rapaz cercado por famílias que se casaram por contrato e ambas as partes vivem abusos constantes envolvendo, inclusive, os filhos, que perpetuam esse comportamento, bem...

Tom estava certo. O amor romântico era uma farsa criada para encorajar – quase sempre mulheres – à devoção cega das expectativas jamais correspondidas de que partes se completam. Uma falácia tão absurda que nem pude julgá-lo de pensar assim, uma vez que sua vivência resistia demais em entender o amor como uma fraqueza.

E era.

Eu mesma só conseguia reconhecer o amor por estar cercada de pessoas relativamente saudáveis – com elas mesmas, principalmente. Assim, ficava mais simples reproduzir esse comportamento de pertencimento ao outro sem ferir a si mesmo e, no fundo, eu imaginava que era isso o que ele gostaria de expressar.        

Mais uma vez, o menino falou mais alto que o monstro.

Havia uma suposição – na verdade, várias – que Tom Riddle não tinha sentimentos, como um obscurial, ou uma criatura etérea. Isso devia-se à questão de seu nascimento, desde a concepção forçada, através de um abuso sofrido pelo pai obrigado a se relacionar com a mãe enebriado por uma solução mágica que deu a ela poder sobre ele.

Assim, a criança seria magicamente afetada pela substância, causando um entorpecimento da região do cérebro que lida com as emoções. Martha, a moça do orfanato, teria comprovado parte da teoria ao dizer para Dumbledore que Tom fora uma criança calma, um bebê que dificilmente chorava.

Por outro lado, minha análise empírica mostrava que Tom não entendia sobre o amor, afeto, ou mesmo sobre empatia porque não havia vivido nada disso em suas próprias experiências, como qualquer ser humano comum. Em meio a uma infância marcada pelos traumas, e uma juventude dificultosa e com certeza bastante insegurança, Tom Riddle fez o que pode para sobreviver.

Isso justificaria toda a maldade que viria depois?

— Por favor, não se cale. – pediu ele, com as mãos nos meus ombros. – Me sinto miserável temendo partir seu coração. – ele sorriu. – Ou talvez esteja pensando na melhor forma de me dar uma bofetada?

Eu ri. Não era nada disso, afinal.

— Tom, estou pensando. – confessei. – Jamais cobraria de você amor. De fato, o amor que eu conheci foi a ruína de muitos, mesmo que seja simbólico o sacrifício, a vida vale muito mais do que símbolos. – refleti, pensando no meu próprio sacrifício por amor à minha irmã.

— O pertencer é muito mais interessante do que o amar. – ele passou uma mecha do meu cabeço para trás, oferecendo-me a mão em seguida. – Se você é minha e eu sou seu, isso exige muito mais responsabilidade de manutenção.

Novamente, a lógica sobre o sentimento. Pertencer, sim, faria muito mais sentido num relacionamento que não olha o outro como um indivíduo independente. Ao me pertencer, eu me responsabilizaria por aquilo que ele faria, seria, sentiria, tudo o que vem depois.

Certo, eu estava pronta.

— Acho que vou vomitar. – lamentou Dorea, a caminho do corredor da enfermaria. Seríamos rápidas em pedir apenas um exame geral de sangue que supostamente revelaria sua gravidez, ou a ausência dela, sem alardes, três dias após nossa conversa. – Precisamos mesmo fazer isso?

— Se houver um bebê, vamos precisar mudar um pouco daqui por diante. Poupá-la dos riscos e exposições, melhorar a sua alimentação. – enumerei. – E claro, contar a Charlus Potter que o mesmo terá um herdeiro.

Dorea esbranquiçou.

— Eu... não sei se sou tão corajosa.

— Estou com você, as coisas se acertam, lembra? O mais importante é tentarmos ser discretas. Haveria um falatório desnecessário que com certeza queremos evitar.

O exame foi mais rápido do que o esperado. Em poucos minutos estávamos conferindo os resultados em papiro mágico e, para alegria da jovem, não havia sinais hormonais em seu sangue que seriam característicos de uma gestação. Ainda assim, sugeri que ela fizesse um teste trouxa.

O alívio em sua fase transformou-a em uma nova pessoa, e eu podia entender suas razões. Criar um filho tão jovem, sem segurança financeira, e também em um grave período de guerra não era o sonho de consumo de ninguém, por mais apaixonada que fosse, ela sabia que uma criança traria mudanças muito maiores do que suportaria sozinha. Tal dependência também a amedrontava, pois mesmo que estivessem juntos e pretendessem se casar, Charlus não oficializara sua relação para os Potter.

Muito menos para os Black, obviamente.

— Se você não quer ser mãe, - orientei-a sabidamente. – precisa investir em poções contraceptivas. Posso fazer algumas pra você mas, mesmo assim, não sei qual percentual de falha. As medicações trouxas são bastante comuns, porém, com eficácia questionável.

— Meu método a partir de hoje será celibato, Valery. – ela sorriu enquanto andava, quase saltitando, tamanha alegria. – Para Charlus deve ter sido divertido, e ele provavelmente já se deitou com outras. Sabia o que fazer. Eu estava insegura, e nunca senti tanto medo em toda minha vida. Relações, agora, somente casada.

Eu podia argumentar centenas de opções para não a privar da comunhão carnal consentida e também aproveitável para ambos os lados, porém, calei-me. Aquela época era muito distante da minha em costumes e eu, apenas um distúrbio no tempo, não deveria inferir mais.             

Já no instante seguinte, ao cruzarmos o Salão Comunal, notei que grande parte dos alunos debatiam, com animação aparente, as novidades do Ministério da Magia. Grindelwald estava descaradamente exposto, cumprindo seu mandato principal, que era de assumir o posto majoritário do grupo. Nesse cenário, os sonserinos podiam apostar todos os dentes que o bruxo das trevas sairia vitorioso e, de fato, isso parecia mais próximo da verdade.

Tom revirou os olhos.

— Existe algo muito intrigante nisso tudo. – comentou num sussurro, puxando-me para longe ate a saída das masmorras. – Eu realmente não sabia que as aulas estavam suspensas porque alguém deveria ter convocado os monitores para uma reunião geral e esse alguém simplesmente sumiu.

Dumbledore estava no meio de toda a bagunça, tendo se ausentado de Hogwarts dias antes. Ele sim era o grande antagonista desse evento, onde toda a comunidade mágica vibraria de emoção – e desgosto – pela queda de um império que tecnicamente nunca existiu. À par do confronto, das vidas perdidas e de tudo o que a geração trouxa enfrentou pela sua loucura, Grindelwald não era, nem de longe, tão feroz quanto Voldemort. Sob minha ótica, era um completo lunático cujo golpe mal planejado só durou tanto tempo por causa da inércia, vergonha e receio de Dumbledore. Palavras do mesmo.

— É, aparentemente há um algo a mais que nos deixa em paralelo.

— Vamos entender como uma crise de relacionamento. – Tom confirmou minha suspeita mesmo que toda a análise, comportamental e psíquica, de Dumbledore chegasse a isso. – Passou da hora de Dumbledore colocar a face amostra. Grindelwald só nos provocou para isso e, felizmente, deu-nos uma abertura a mais para circular com liberdade os corredores da escola.

Tom estivera agitado desde nosso último encontro e, por mais que a promessa de dar continuidade às nossas brincadeiras estivesse viva em seus olhos, consumindo-me ao me encarar diretamente, ele concentrara suas energias em explorar melhor a Câmara. Esboçava rascunhos do monstro, estimando sua estatura, explorava as sonoridades da língua parsel durante a longa noite em que permanecia vigiando os corredores, decorando os tubos e encanamentos pelos quais a criatura deveria passar.

Seu empenho lhe daria a confiança necessária para, em cerca de uma semana, liberar o basilisco num passeio despretensioso – sem óbitos. Não havia registros de petrificação à época, o que me fez concluir, novamente, que a morte de Myrtle fora puramente acidental.

Fomos juntos até os jardins num dia atípico para o clima junino. O céu encoberto ameaçava chover, e mesmo que as cores de verão despontassem no horizonte verde e florido, tudo conduzia para uma atmosfera cinza e mórbida.

Senti uma energia estranha, arrepiando-me.

— Está tudo bem? – perguntou Tom, notando meu incômodo.

— Não é nada. – assegurei. – Estou à procura do sol. O que houve com ele, resolveu partir junto dos outros?

Tom observou os arredores, constatando algo que pra mim surgira com naturalidade: a saída frenética de alunos que se sentiam inseguros. Muitos anteciparam as férias após os NOM’s e NIEM’s, alguns, a depender do resultado, não voltariam. Para Tom Riddle, a evasão escolar era uma oportunidade de aproveitar a própria reclusão.

— Não voltarei ao orfanato, nunca mais. – disse ele, sentando-se próximo ao lago e indicando meu lugar ao seu lado com a mão. – Pensei em passar as férias todas aqui, porém, você parece conhecer uma passagem segura até Londres.

— Quer dar um passeio?

— Sim, seria bom irmos num pub. – sorriu. – Você tem que me levar em algum, afinal, é mais experiente nisso.

Senti suas palavras queimarem como fogo e lhe garanti uma resposta condizente:

— Já fiz o meu melhor, Tom. Agora é com você.

Ele gargalhou alto, caindo com as costas na grama verde e fresca da margem, seus cabelos impecáveis agora despenteados. Em seu colo, um exemplar raríssimo de Criaturas do Submundo - Completo, obtido através de Slughorn, que jamais deixara sua confortável sala de Poções, a poltrona e um pouco do bom e velho whisky. O copo parecia esvaziar nunca.

Peguei a câmera fotográfica e me permiti fazer outro registro de algo que jamais esqueceria – mesmo sem o polaroide. Tom fechou os olhos inspirando profundamente, o corpo longevo relaxado sob a relva com alguns raios de luz iluminando sua face pálida, perfeitamente simétrica e bela. Ele espreguiçou e então se reestabeleceu como antes.

— Vou confiscar esse equipamento se fizer isso de novo.

— Faz tempo que não duelamos. – comentei, desviando o assunto. – Pode tentar me enfrentar e, se vencer, te dou o que você quiser.

— Eu posso pegar o que eu quiser sem ter que enfrenta-la, Valery. – gabou-se. – Mas não farei isso. Por algum motivo, não quero brigar com você.

— Que pena. Eu estava louca pra te mostrar uns truques novos.

— Você vai me velar com um feitiço e me beijar? – ele sorriu. Sorri de volta com a lembrança. – Viu só? Não precisa brigar. Não temos necessidade nenhuma de...

Calei-o de repente com o beijo que havia desdenhado. Por sorte, o dia chuvoso afastara outros alunos de aproveitarem o tempo livre fora do castelo e, assim, Tom aprofundou nosso beijo, caindo novamente de costas e me levando consigo.

O peso do meu corpo mantinha nosso contato desconfortável e, por isso, interrompi-o de prontidão. Nossos olhos se encontraram, e pude ver um resquício, um filamento levemente azulado, em sua íris negra e profunda. Ajeitei-me em seu colo, enquanto ele passava os braços por trás da cabeça, dando-me um pouco de espaço. Posicionei meus cotovelos na abertura dos seus e me inclinei para um novo beijo.

A suavidade que conduzíamos tal contato era impressionante, mesmo que tudo indicasse que as coisas esquentariam em breve, Tom não tinha pressa. Fascinante, pensei, como ele se controla, mesmo que eu tenha a tendência premeditada de atentar contra sua sanidade, e o rapaz de 16 anos parecia se conter com muita educação.

Claro, estávamos em público.

Tom revezou o abraço, tomando-me por baixo. Agora eu o via claramente: os olhos negros eram, sim, na verdade, um tanto azuis.

— Quero ir para Londres, Valery. – disse ele, encarando-me. – Você pode me levar?

— Hum. – pisquei, como se analisasse seu pedido. – O que eu ganho se disser que sim?

— Você é mesmo uma mulher da Sonserina. – resmungou. – Não deveria lhe dar nada, afinal, eu sou superior a você. Herdeiro de Salazar.           

— Então faça seu caminho até Londres, herdeiro, e tente sobreviver à Blitz enquanto o faz. Se der sorte, será levado até o comando de Hitler e incorporado ao exército alemão.

Tom bufou, soltando o ar sobre meu rosto.

— Audaciosa.

— Eu levo você se me der algo em troca.

— E o que você quer?

— Nada demais. Talvez um segredo? 

Ele sorriu, aproximando-se de mim.

— Você é a pessoa mais secreta entre nós dois, Valery. Não há nada que eu não tenha contado ou nada que não seja acessível. Se tem alguma questão comigo, é bom me dizer. Eu não consigo ler a sua mente.

Ótimo.

— Você já beijou a Grisha? – perguntei, fingindo ciúmes. Logo chegaria no meu objetivo, que seria inferir sobre seu pai.

Tom pareceu engasgar.

— Isso não é um segredo. Todos sabem que eu poderia, se quisesse, mas não. Eu nunca me interessei por ela.

— Nem por outra garota daqui?

— Está buscando concorrentes? – ele se sentou. – E você? Já se apaixonou antes?

Eu não tinha perguntado isso.

— Não, eu nunca me apaixonei. – respondi, sentando-me junto a ele.

— Pode perguntar outra coisa. Essa foi ridícula.

— Eu queria um segredo. Algo que você não possa ser confessado por aí.

Tom pensou um momento e deu de ombros, desistindo. Antes que eu voltasse a abrir a boca, falou um tanto malicioso:

— Já sei. Tenho um segredo para você. – aproximei meu ouvido de sua boca. – Dorea Back não está grávida, mas sua irmã, Cassiopeia, estava, e o pai era Charlus Potter. Ela abortou o feto dias antes de Dorea se mudar para o seu dormitório. 

Calei-me um segundo, lembrando da habilidade de Tom em ler a mente das pessoas.

— Como você sabe disso? Viu na mente dela?

Ele sorriu, quase doentio, e sussurrou.

— Não. Eu mesmo fiz o aborto, Valery.


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