Requiem Aeternam escrita por AnaBonagamba


Capítulo 2
Kyrie




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Valery Westwood. Eu estava no Ministério quando Voldemort retornou. Eu o vi duelando com Dumbledore. Eu presenciei sua força.

Neste dia, ao retornar para casa, recebi uma carta oriunda de Hogwarts, a letra de minha querida Victoria, única irmã. Esteja bem, você é muito importante para mim. Tão jovem e corajosa, seguia os passos de Harry Potter contra as trevas, porém, ao deixar o bilhete na mesa senti-me fraca. Um presságio de que seus esforços eram em vão.

Corro meus olhos pela parede do quarto. Amanheceu. O feixe amarelado ilumina o certificado de Auror ao lado esquerdo da cama, brilhando em linhas de ouro. Estou cansada, mas a voz de Dumbledore ainda ecoa em minha mente como se estivesse plantado ali, relembrando-me. Esteja bem. Você é muito importante. Precisamos de você.

Arrumo minha cama pela última vez. O aposento simples e despojado guarda as memórias mais doces e felizes de uma vida composta por 24 anos vividos sabendo que este dia chegaria. O dia que mudaria a percepção de anos e vida para sempre.

— Sempre impecável, Srta. West. - comentou Filch, ao me ver passar pelo portão do castelo. Hogwarts impedia que eu aparatasse diretamente, o que me obrigou a andar. De Hogsmead, um caminho lamacento e muito conhecido, meus pés tomaram rumos sozinhos sem perceberem meus anseios.

— Tenho uma audiência com o Diretor. - disse suavemente para o zelador, que apenas assentiu.

Fui apresentada ao garoto Potter após o incidente com Cedric Diggory. Em choque, seus olhos verdes ainda refletiam a cor da maldição que matara seu colega, mas não escondia mais do que raiva e indignação. Aceitou minha mão e a balançou no ar. Um menino, da idade de Victoria, enfrentando o mal diretamente, defendendo a si e a todos apenas pela existência. Sorri, mas não obtive resposta.

— Entre, minha cara. - Dumbledore esperava-me, junto de Snape e suas estantes de memórias. Cada uma consistia em momentos pessoais com Tom Riddle, os quais eu já havia decorado e sintetizado cronologicamente. Snape, desta vez, não olhou-me com desdém. Já havíamos passado desta fase.

— Hoje é nosso último encontro. - informei-lhes. - Se há alguma coisa que eu ainda não saiba, eis a hora de dizer.

Silêncio.

O diretor abriu uma das várias gavetas de sua mesa, tomando nas mãos um pergaminho magicamente alterado. Magia negra. Sim, a escuridão pode ser útil. Estendeu-o a mim, e então pronunciou:

— Por favor, querida, leia em voz alta.

"Eu, Valery Elizabeth Westwood, Auror do Ministério, Ex-Aluna da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, estou ciente das condições e dos termos deste contrato, sabendo única e exclusivamente que qualquer fator descrito aqui não será, de modo algum, plausível de alteração ou recusa a partir do momento em que for assinado. Declaro conhecer as razões as quais me motivaram a aceitá-lo e o faço por vontade própria."

— Não precisa fazer isso se não quiser. - repetiu ciclicamente Dumbledore. - Você pode nos ajudar de outras maneiras.

— Teríamos, pois, perdido tempo com todo treinamento. - alertou Snape sabidamente. - Ela está preparada.

— Estou. - garanti a ambos com firmeza. - Quando aceitei essa missão lhes deixei claro que não os abandonaria. Cá estamos, eis a hora.

— Quer se despedir de Victoria? - perguntou Albus, olhando-me através de seus óculos meia lua.

— Não. - estava convicta. - Ela exigirá explicações que não posso dar. É quase uma mulher, inteligente e sagaz, corajosa e prepotente. Eu a eduquei para saber de que lado lutar, e assim como nossos pais, ela nunca desistirá de viver em paz.

Snape observou-me dolosamente, tendo sido colega de toda minha família assassinada na segunda guerra bruxa, pelos próprios amigos sonserinos corrompidos por Voldemort. E então, misturou alguns ingredientes no que imaginei ser uma poção modificadora e a entregou para mim, um tanto relutante.

— A partir daí não haverá mais volta.

— Já não havia. - respondi-lhe, tomando a poção numa golada. Aos poucos, meu corpo foi se deformando e formando novamente, um rosto mais jovem e uma silhueta mais esbelta reformava minha pessoa rejuvenescida para seus 16 anos. Afastei meu cabelo dos olhos, respirando a plenos pulmões, o ar da juventude forçada. O preço a se pagar viria depois.

— Valery. - chamou-me Dumbledore. - Eu sempre confiei em você. - e, com um aceno da varinha, tudo ficou completamente turvo.

"Onde estou indo, eu não sei dizer. Por que importa onde as pessoas vão?"

Levantei-me com dificuldades, o peso da viagem caindo sobre os ombros. Algo, pois, dera muito certo. Eu estava ali. Mordi o lábio, ferindo-me, para desacreditar que o impossível era real. Alguns passos adiante e já se via, um turbilhão de pessoas, automóveis, carroças, coches, trens, fumaça e chuva. Londres em 1942. Apertei meu sobretudo num único laço e segui por entre as ruas, sabendo exatamente a onde ir.

Passo 1, orfanato Wool's.

A memória de Dumbledore conhecendo o jovem Tom Riddle foi uma das mais intensas trabalhadas em nossos treinos. Isso tudo para que eu não me perdesse nas vielas da cidade ou precisasse me comunicar desnecessariamente com alguém do passado. Vencendo as leis mágicas da física que me envolviam naquele instante, considerei ser inútil achar que minha presença, ali, mudaria significativamente alguma coisa. Entretanto, novamente a seguir as regras, prossegui.

Não tive dificuldade alguma em encontrar o que buscava. Naturalmente, o lugar era soturno e empobrecido, com largos portões de ferro e um jardim surrado ainda que fosse verão. Notei, para total desgosto, que o clima desfavorável seguia ligeiramente os padrões da guerra mundial que assolava o território. Até o sol negava-se a aparecer.

Bati três vezes na porta principal antes de ser atendida por uma menina de altura menor que um elfo doméstico. Encarou-me silenciosamente e depois correu para dentro, juntando-se a algazarra no refeitório.

— Perdoe-me a bagunça. - anunciou uma senhora, carregando nos braços uma montanha de roupas puídas mas incrivelmente limpas. - Em que posso ajudá-la Srta...?

— Westwood. - disse para ela, pegando parte da carga que logo desmoronaria. - Eu que deveria desculpar-me pela intromissão. - sorri, conhecendo perfeitamente a personalidade de Srta. Cole pelas referências de Albus. - Estou aqui para encontrar-me com um de seus protegidos, o jovem Tom Riddle. - informei. Cole vacilante deixara cair toda a roupa no chão.

— O Tom? - repetiu incrédula. - Isso é, digamos, inaugural. Ele nunca recebeu uma visita.

— Eu não viria em questão de extremo caso, Sra. - afirmei-lhe. - Tornei-me orfã, sendo recém admitida no instituto o qual Tom toma seus estudos. Ele é um aluno primoroso, o único capaz de me ajudar neste momento tão difícil...

O timbre de voz, em coerência com as vestes surradas e expressão desolada que encenava deixou-a convencida de que minha situação era digna de pena. Tudo fora ensaiado tantas vezes que eu já estava convencida de minha própria história, o que seria evidente, já que Tom Riddle mostrara-se um excelente legilimente e exímio manipulador.

Portanto, eu deveria ser melhor.

— Pobrezinha! - disse pesarosa, esquecendo-se das roupas caídas no chão. - Está tudo tão complicado, se temos fé, ela logo é dizimada pelas sirenes e pelas bombas... - meditou para si, provavelmente contabilizando quantas crianças a mais estavam sob seus cuidados neste período de guerra. - Venha comigo, querida... - guiou-me para dentro, onde as crianças comiam e brincavam sob os cuidados de uma mulher com aspecto tão exausto quanto o meu.

— Deixarei isto aqui... - comentei, colocando o monte de roupa na mesa central. Meus olhos atentos procuraram nos rostos ali um único conhecido, mas não havia nada. Enquanto isso, Cole cochichava com Martha, a cuidadora, sobre minha pobre condição de abandono e a necessidade de uma conversa com Riddle.

Martha se levantou.

— Oh minha cara, é amiga de Tom? Temos muito carinho por aquele menino ingrato. Você sabe, cuidei dele desde que nasceu, aqui mesmo.

Ri internamente, pois sabia absolutamente tudo o que poderia saber sobre o jovem Lord Voldemort, sua descendência Sonserina e o infeliz destino de sua mãe abortada. O infortúnio é que, numa frase singular, contou a uma estranha detalhes íntimos de seu protegido sem ao menos notar.

— Tom Riddle me foi indicado para sanar algumas dúvidas. Seremos colegas de escola. - disse simplesmente. - Ficaria grata se pudesse, por favor, conversar com ele.

— Você é muito bonita. - Martha parecia ler meus traços com seus olhos densos. - É claro que pode falar com ele. Ah, Tom tem permissão de sair para passeios, é muito responsável, e nunca impedi, apenas quando soam o alarme, é claro, mas então, quem estará protegido? - gesticulou. - Pode esperá-lo aqui, se quiser, ou lá encima. Temos uma sala de visitas.

Considerei a oferta, adiantando-me ao passo dois, que era finalmente estarmos frente a frente. Logo, subi os degraus da escada ouvindo os berros das crianças no andar de baixo ecoando por todo o prédio gélido e acinzentado, pouco distinto do ambiente lá fora. Aqueles gritos de entusiasmo me faziam sentir queimar o vívido ardor do tempo dilacerando-me, assim, logo que entrei na sala de visitas, atirei-me sobre a poltrona e relaxei meu espírito.

Era fim de tarde quando um toque suave ecoou pelo cômodo, pedindo licença. A voz, a voz dele, tão aveludada quanto mecânica, tirou-me da tortura de pesadelos entre uma vida e outra. Ajeitei-me como pude, apertando a varinha com força dentro do casaco, quando ele entrou.

Tom Riddle. Em quantas memórias eu o tinha visto, observado, estudado e lido suas expressões perfeitas? Sua face de pérola, olhos e cabelos escuros destacando o porte altivo com o qual dava cada passo. Lá estava o futuro maior bruxo das trevas da nova era. E em nada parecia com seu outro eu.

— Boa noite. - disse ele educadamente. Deixei-me olhá-lo de esguia. Usava uma roupa tão simples quanto os outros protegidos do orfanato, e provavelmente sentia frio. Os lábios arroxeados e face queimada pelo vento mostrava que sua vida era o oposto de confortável. A calça larga presa por um cinto improvisado, ressaltando a magreza do corpo pálido. A carcaça de um infeliz envolvendo o espírito de um demônio. - Sinto em tê-la acordado.

— Está tudo bem. - ajeitei o cabelo como faria uma moça da minha idade. - Eu sou Valery Westwood.

— Eu sou Tom Riddle. - respondeu, sentando-se na minha frente. - Mas você já sabe disso.

— Sim. - disse encabulada, para deixá-lo confiante de seu efeito avassalador. - O professor Dumbledore me deu seu endereço. - revivi a história conforme o combinado. - Serei em breve admitida em Hogwarts, depois de anos privada do ensino comum de magia. Como monitor e aluno exemplar, ele me disse que o senhor seria atencioso em me ajudar com os materiais essenciais.

— É claro. - sorriu, expondo seus dentes brancos e perfeitamente enfileirados. - É meu prazer ajudá-la, Srta. Westwood. A Srta. já possui uma varinha?

Retribuí o sorriso, estendendo-lhe minha varinha. Ele a analisou fascinado, sentindo o poder emanando de seu núcleo.

— É um instrumento de guerra, Srta. - seu sorriso enviesado se tornou maior, devolvendo-me a varinha enquanto eu dispunha da minha mais falsa expressão de admiração.

— Estamos em guerra, não é mesmo?


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal, tudo bem?
Parece que ressuscitei, não foi? Rs. Bom, eis meu novo projeto, uma fanfic bastante original feita com muito carinho para os fãs assumidos de Tom Riddle.
A ideia é inserir uma personagem forte o suficiente para não ser atraída pelos encantos do jovem. Uma leoa em pele de cordeiro.
Sigamos, pois, com os próximos capítulos atualizados semanalmente.

Obrigada pelos que ainda restaram,
Ana.



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