Eu estava em um campo florido. O vento soprava cantando uma melodia única. Seu cabelo ruivo esvoaçava pela cantiga. Por trás, passei meus braços em sua cintura, fazendo-a virar o rosto e beijar-me. Retribui o afeto, mas logo tudo se desvencilhou de meus pensamentos. Acabara de acordar.

         Repeti toda a mesma monótona rotina do dia anterior, que era igual a do anterior, que era a mesma do anterior... A vida perderia o sentido se eu não tivesse conhecido ela...

         A noite, liguei meu computador e entrei no MSN novamente. Ela não estava lá... Fiz a mesma coisa no dia seguinte, e ela não entrou. Os dias passaram-se assim por quase uma semana, até ela entrar e eu, sem notar, descarreguei toda minha saudade em cima dela.

         -Por que não entrou nos outros dias? O que aconteceu? Sabia que senti sua falta? –mandei parando para ver o que havia escrito. Foi uma frase sem volta.

         -Sentiu minha falta?- perguntou.

         Eu estava nervoso. Não respondi por medo, ou apenas por que não tinha coragem de admitir a ela. Ela continuou presenciando a ausência da resposta.

-Eu havia quebrado minha perna, por isso não pude entrar.

-Ah. Fiquei preocupado. - ao ler isso, algo me disse que eu precisava ver ela. Após conversar mais um pouco, sai e liguei aos meus pais, depois de insistir muito para o coordenador. Eu estudava em um colégio interno, e as ligações eram apenas feitas nos finais de semana. Liguei para minha mãe pedindo para que fosse para New Jersey, e ela deixou, após eu insistir mais um pouco.

O despertador deu o trinado metálico matinal e diário. Troquei-me com pressa enquanto pegava minha mala que havia arrumado no dia anterior. Sai correndo do colégio, praticamente fugindo, torcendo para não deparar-me com ninguém no corredor amplo, e frio. Chamei um taxi e afobado, pedi ao motorista que me levasse ao aeroporto mais próximo. Este obedeceu prontamente, levando-me ao local em menos de meia hora. Uma hora depois

eu já encontrava-me na cidade da America anglo-saxônica.

O tempo frio pegou-me de surpresa, afinal, não estava acostumado. Andei pelas ruas cinzas com os carros ao lado, nas ruas. O vento soprava constantemente sem pausa, mas de um jeito leve, como uma mão suave que acaricia o rosto e brinca com meu cabelo. Olhei novamente ao papel com um endereço com a caligrafia corrida. Uma, duas, três... Foi necessário uma quarta tentativa para que um taxi parasse e me levasse ao endereço do pequeno pedaço de papel, que minha mão fria segurava com força, temendo que o vento levasse.

Senti uma brusca parada e ouvi um “desculpe” do motorista. Deparei-me com uma casa amarela com um telhado rubro. Havia algumas trepadeiras do lado de fora na parede da casa, dando um ar de tradicionalidade. Bati na porta de madeira toda desenhada. Uma jovem ruiva atendeu a porta. Usava um vestido amarelo, quase da mesma cor da casa, e tornou-se rubra. Parecia a própria casa.

-Victor?

-Emily?

E um abraço foi o bastante para finalizar a breve saudação. Ela começou a me fazer perguntas e mais perguntas.

-O que você faz aqui em New Jersey?

-Eu... Eu... –tartamudeei tentando continuar - eu vim te ver...

Simplesmente me preparei para um tapa ou algo assim. Mas ela tocou minha face tão rubra quanta a dela, com sua delicada mão. Encarei-a de frente e a beijei. Passei meus dedos em seu cabelo com a cor viva do fogo.

-Victor, não podemos... É complicado...  Você mora tão longe e... – e silenciei-a com um movimento de dedos.

-Então vamos aproveitar o tempo que nos resta.- respondi sorrindo.

Ela, riu com aquele sorriso cativante, e, ainda rindo, pegou meu braço suavemente me levando para algum lugar.

-Eu poderia saber para onde esta me levando? –inquiri

-Surpresa!- e ela me levou até uma colina verde, cheia de flores. Ela deitou-se na relva, esparramando seus cabelos, e eu repeti sua ação ao seu lado. Observamos o sol se por em belos tons alaranjados e dei um ultimo suspiro.