Templo escrita por Chiisana Hana


Capítulo 2
Família




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Capítulo II – Família

 

 

Shina perdeu a conta de quantas vezes olhou para o relógio na parede da sala. Passava das sete da noite e Aldebaran ainda não tinha voltado da aula de japonês que fazia em uma escola de idiomas local. Mesmo tendo ficado encarregado de trazer um bolo para o aniversário de Yoshino, a amazona achava que quase duas horas de atraso era tempo demais.

— Onde diabos ele está? — Shina se perguntou, andando de um lado para o outro na sala.

Queria ter algo para ocupar o tempo, mas a sala já estava limpa e arrumada, os balões já estavam cheios e pendurados nas paredes, e ela até colocou uma toalha bonita na mesinha de centro, tudo porque queria tirar boas fotos no primeiro aniversário da filha.

O antigo templo impessoal onde os três passaram a viver agora era uma verdadeira casa de família. Estava cheio de brinquedos, de vasos de plantas selecionadas com cuidado para não serem tóxicas e um tapete de boas-vindas foi posto na entrada, bem em frente ao genkan, o espaço onde se deixam os sapatos antes de entrar.

O local também estava cheio de fotos, incluindo as que Aldebaran pediu para Shina pegar na casa de Touro e que ela descobriu serem dele na infância, do cotidiano do Santuário e das viagens que ele fez ao longo dos anos.

A italiana lamentou não ter nada para colocar, nenhuma foto de infância ou adolescência, por isso, desde os primeiros dias com Yoshino, começou a fazer um álbum. Queira que ela tivesse essas lembranças quando crescesse e acabou descobrindo um hobby. Agora vivia com uma de suas várias câmeras na mão, atrás do melhor clique da menina.

Shina achava que virar dona de casa a faria morrer de tédio, mas a realidade era que sempre havia muito o que fazer, mesmo com Aldebaran dividindo as tarefas. Cuidavam juntos da menina, da limpeza da casa, das roupas, da horta que plantaram no quintal e, apesar de no começo não querer nem saber de cozinha, ela começou a aprender com ele e já conseguia fazer pratos simples.

Apesar da nova rotina de pais e donos de casa, eles não podiam esquecer que eram santos de Athena em missão e precisavam se manter em forma, fisicamente prontos para qualquer eventualidade. Pensando nisso, Aldebaran se exercitava diariamente, sem folga, a princípio em equipamentos improvisados. Depois, acabou montando uma pequena academia no quintal.

Depois das primeiras semanas de adaptação à maternidade, Shina também retomou seus treinos. Não era muito fã de levantar pesos, por isso começou a correr pelos bosques ao redor da casa e fazer abdominais e flexões ao ar livre.

Conviver com um homem fisiculturista não era novidade para ela, passou seis anos treinando Cassius, apesar de ser uma relação diferente, onde ela era a professora e ele o aluno submisso e apaixonado, como ela descobriu depois da morte do rapaz. Lembrava com carinho de seu aluno que, apesar de tudo foi quem esteve ao seu lado nos momentos mais difíceis.

Com Aldebaran, ela imaginou que a relação seria bem diferente já que ele era o superior na hierarquia, mas acabou descobrindo que a convivência com o brasileiro era mais fácil do que pensava, em grande parte por causa da personalidade dele. Shina conhecia a fama de bondoso, amigável e paciente, mas conviver com o gigante a fez perceber que ele era muito mais que isso.

Desde o começou, ele deixou claro que estavam ali como iguais, como santos de Athena em missão. Mantinha uma distância profissional, era sempre discreto e respeitoso, não circulava pela casa sem camisa, não dirigia a ela olhares inapropriados, respeitava o espaço dela, aturava bravamente o gênio difícil que Shina sabia possuir e ainda era um excelente pai para Yoshino.

No começo, a amazona apreciou toda essa cautela, mas em pouco tempo passou a desejar que ele fosse menos profissional… Achava que poderiam pelo menos unir o útil ao agradável já que estavam morando juntos e ela praticamente não saía de casa. Sentia tanta falta de contato físico, de um abraço, de calor, de estar nos braços de um homem... E não entendia o pudor de andar sem camisa, afinal ela o tinha visto completamente nu na noite em que ele apareceu com Yoshino.

— Eu estou com ciúmes dele, não tô? — Shina perguntou, pegando Yoshino no colo e fazendo um carinho na menina. Ela mesma respondeu, imitando voz de bebê: — Não seja idiota, mamãe.

Cansada de olhar o maldito relógio na parede, Shina saiu e sentou-se no chão da varanda com a filha. Yoshino engatinhou até a caixa de brinquedos e pegou seu favorito, um porquinho de pelúcia que tocava uma música ao ser apertado, que também era o que a mãe mais odiava.

— Logo esse, Yoshino? — ela se perguntou rolando os olhos, depois voltou a pensar naquela noite em que Aldebaran ressurgiu sabe-se lá de onde, todo ferido e com a menina nos braços.

Na hora ela não pensou muito, só queria tirar os dois dali, cuidar dos ferimentos dele, limpar o bebê. Depois, quando já estavam seguros em Iwate, havia tanto o que fazer, tantas perguntas a serem respondidas, que ela sequer lembrou. No entanto, nos últimos meses, o corpo despido do brasileiro era presença constante em seus pensamentos e ela não conseguia parar de desejá-lo.

— São só esses malditos hormônios — Shina disse a si mesma. — E a carência, muita carência. Não vejo ninguém do sexo masculino além dele… Será que ele se sente assim também? Talvez sinta mais que eu. Provavelmente mais. Com certeza absoluta, ele sente mais. Homens são assim.

De repente, ocorreu-lhe que era possível que Aldebaran estivesse dando um jeito no problema nesse exato momento… Não sabia o que ele fazia na cidade depois da aula. Algumas vezes, como hoje, ele demorava a voltar. Chegava com compras, mas quem garantia que estava o tempo todo no mercado? Podia estar se divertindo por aí...

— Com certeza ele está com alguma puta! — Shina gritou, assustando Yoshino que largou o brinquedo e começou a chorar. A mãe prontamente a pegou no colo. — Desculpa, meu docinho. Eu não quis te assustar. É que arranjaram pra você uma mamãe doida… E quem sou eu pra julgar seu pai, né? Ele que está certo. Enquanto isso eu tô aqui surtando e ardendo de desejo… Yoshino, não ouve isso que eu tô falando! Ainda bem que você ainda não entende nada. Mas cadê ele, hein? Dá uma bronca nele quando ele chegar!

— Eu já cheguei – ele anunciou rindo.

— Dá pra não chegar assim sorrateiro? – Shina gritou. – Quase meti a mão na tua cara!

— Desculpa – ele pediu rindo. – Vou começar a vir assoviando para você saber que tô chegando.

Shina bufou irritada, imaginando se ele já estaria perto o suficiente para ouvir seu pequeno surto de ciúme. Deixou os pensamentos temporariamente de lado quando Yoshino deu um gritinho e esticou os bracinhos para o pai, que a pegou com o braço que estava livre.

— Trouxe o bolo — disse o cavaleiro mostrando a ela a caixa da confeitaria. — Por isso que demorei. A confeitaria estava cheia e eu tive que esperar.

— Uhum… – Shina grunhiu, procurando sinais de mentira nele. – Vamos lá para dentro, a mesa já está arrumada há horas.

Aldebaran achou melhor obedecer e entrou. Colocou sobre a mesinha de centro o bolo de creme e morangos onde mandou escrever o número um e o nome da filha em glacê rosa.

Enquanto ele fazia isso, Shina pegou a câmera e tirou uma foto dos dois.

— Shina! Me pegou de surpresa!

— Queria que fosse um clique espontâneo. Agora faça pose.

Ele segurou Yoshino na direção da câmera e Shina fez mais algumas fotos. Depois, ela se juntou aos dois, esticou o braço e fez mais algumas fotos. Aproveitou para fazer alguns cliques da filha sentada na mesa com o bolo, mas a menina se empolgou e enfiou as mãozinhas no glacê, o que arrancou risadas dos pais e rendeu mais alguns ótimos cliques.

Aldebaran empolgou-se com a brincadeira, pegou um pedaço de bolo com as mãos e comeu. Com a boca e as mãos sujas de glacê, ele fez grunhidos de monstro para divertir Yoshino.

— Meu Deus, você é uma criança gigante! – Shina riu enquanto tirava mais fotos. – Por isso que ela te adora! É igualzinho a ela.

Aldebaran passou a mão suja de glacê no rosto de Shina.

— Para, seu bobalhão! Crianção gigante...

— Vem, mamãe! – ele chamou, imitando voz de bebê. – Brinca com a gente, mamãe!

Shina não resistiu e juntou-se a eles. Logo os três estavam estourando balões e rolando de rir pelo chão, sujos de glacê e envoltos em uma felicidade pura, simples e totalmente inédita para a amazona.

— Vou dar um banho nela – Aldebaran anunciou quando a brincadeira acabou. – Tem glacê até no cabelo da pobrezinha.

— Vai. Eu vou limpar essa bagunça.

Quando ele voltou à sala, trazia a filha já de banho tomado, de pijamas e embrulhada em uma manta. Sentou-se no sofá para niná-la e pouco depois Shina trouxe a mamadeira, deu a ele e sentou-se ao lado.

— Ela cresceu rápido – comentou o cavaleiro dando a mamadeira à filha. — Sabe, Shina, eu sinto como se ela fosse mesmo minha. Eu a amo tanto. Cuidar dela deu um significado à minha vida que nem eu mesmo esperava.

— Eu sinto o mesmo. Nunca tinha pensado em filhos, mas sou totalmente mãe dela agora.

Não é mais só uma missão, não é só um papel que estou desempenhando.

— Exatamente. Eu a amo muito e justamente por isso estive pensando em uma coisa… Ela precisa socializar. Temos lutado para dar a ela uma vida normal, mas estamos esquecendo dessa parte. Não é normal só ter contato com os pais. Ela precisa ver outras pessoas. E você também. Você nunca sai de casa.

— Eu não me sinto bem lá fora… Não sei falar a língua deles, não sei nem ir ao mercado sozinha e gosto de ficar em casa com ela.

— Você devia pelo menos tentar… Tô falando isso porque na sexta vai ter uma festinha com o pessoal do curso. Vamos fazer um piquenique no parque, todos vão levar a família e eu queria levar você e a Yoshi. Vamos? Vai ser bom.

— Eu vou pensar, mas não fique irritado se na hora eu não quiser ir.

— Pelo menos tente. Teremos que repassar a história para não cometer falhas, já que será seu primeiro contato com muitas pessoas de uma vez só.

Shina deu uma revirada de olho e começou a recitar a ladainha mecanicamente:

— Você é um consultor de segurança da renomada e prestigiada Fundação Graad, eu sou sua amada esposa, dona de casa, e Yoshi é nossa filha adotiva. Eu era sua colega de profissão, seja lá que droga você faz como consultor, mas larguei a carreira para cuidar da família porque sou uma boa mulher submissa e você é um marido capaz de manter sua família. Já decorei nossos papeis, Aldebaran.

— Tem mais uma coisa: todo mundo vai de kimono.

— É o quê? Aí já é demais.

— Temos que comprar uns também.

— Daqui a pouco você vai aparecer usando aquelas tangas japonesas ridículas enfiadas na bunda.

Apesar do comentário ácido, Shina pensou que seria uma bela visão ver aquele corpo coberto somente por uma tanguinha. E que seria um prazer tirá-la.

— O nome é fundoshi— ele respondeu sorrindo. — É um traje muito antigo e tradicional, e em algum momento usarei, já que nós vamos nos integrar e viver como a nossa comunidade de Iwate.

— Isso, seja um bom homem japonês...

— Por que o deboche? Me dê mais alguns anos e você vai ver… Vamos comprar os kimonos amanhã?

— É, né…

— Então está combinado. Vou colocar Yoshino no berço e depois vou dormir.

— Me dá ela, eu coloco. Ela dorme no meu quarto mesmo…

— Sobre isso — ele começou enquanto entregava a menina a Shina —, eu estava pensando… O terreno é grande, acho que devemos fazer um quarto para ela.

— É, vamos ver — ela respondeu vagamente. Desejou boa noite a ele e foi dormir pensando que melhor mesmo seria que eles dividissem o outro quarto.

 

No dia seguinte, os dois desceram para a cidade a fim de comprar os kimonos.

Shina observou com admiração a desenvoltura de Aldebaran ao conversar com a vendedora. Prontamente, a garota trouxe os trajes e eles foram prová-los.

— Que tal? Pareço uma boa mulher japonesa? — Shina perguntou, vestindo um traje branco com estampa de folhagens.

— Você está incrivelmente bonita.

Aldebaran percebeu o exagero no elogio, mas não se importou pois era a verdade, Shina estava linda como nunca antes naquele kimono com folhas da mesma cor com que ela costumava tingir o cabelo antes de se mudarem. E não era só isso, havia algo diferente nela, algo que ele não tinha notado antes, talvez uma luminosidade diferente no olhar.

— Esse até que não tem tanto pano quanto eu imaginava.

— É porque é um modelo de verão, um yukata— ele explicou.

Ele também experimentava um modelo masculino azul-escuro com listras brancas, o único da loja que era do seu tamanho. Parecia exótico demais com sua pele morena escura e cabelos loiros, mas estava se sentindo bem, e a pequena Yoshino também ganhou um kimono rosa.

Vestidos a caráter, os três olharam-se no espelho.

— Até que enganamos bem… — Shina comentou. — Parecemos uma família de verdade. Fala para a moça que vamos levar.

 

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No dia da confraternização, os três saíram de casa usando os kimonos e foram para o parque onde encontrariam os colegas e professores da escola de Aldebaran, a quem ele apresentou com orgulho sua exótica família: ele, um hafu, meio brasileiro, meio japonês, como diziam seus documentos adulterados pela Fundação, sua bela esposa italiana e a filha adotiva japonesa.

Shina estava tensa e pensou que se sentiria deslocada, mas relaxou quando se deu conta do óbvio: só os professores eram japoneses, os alunos eram estrangeiros como ela e Aldebaran. A maioria era oriunda de diversos países da Ásia, especialmente da China, mas havia alguns ingleses, alguns americanos, um casal de brasileiros e até um italiano. Todo mundo se esforçava para se comunicar e em pouco tempo ela já estava enturmada, divertindo-se e bebendo com eles.

Yoshino não se assustou como eles pensavam, pelo contrário, adorou a agitação. Foi passando de braço em braço, tentou puxar alguns óculos, e se divertiu com as outras crianças, embora fossem todas maiores que ela.

Durante a confraternização, os dois acabaram descobrindo que um dos professores da turma da manhã morava um pouco abaixo da casa deles, e saíram de lá com convites para jantar com o italiano e para um passeio com os brasileiros.

— Não foi tão ruim, foi? — ele perguntou a Shina quando subiam de volta para casa.

— Na verdade, foi bom. Eu me diverti muito. Como poucas vezes na vida. Mas acho que bebi demais. Estou me sentindo meio tonta.

Aldebaran segurava Yoshino, mas colocou o braço livre ao redor da amazona para apoiá-la.

— Você podia fazer aulas comigo no próximo semestre enquanto Yoshino fica na creche. Você aprender japonês mais rápido e ela vai conviver com crianças. Solução perfeita, não acha?

A italiana não respondeu, apenas deixou–se ficar no abraço dele enquanto caminhavam de volta para casa. Estar tão perto dele a fez ter certeza dos sentimentos que tentava negar e isso a entristeceu.

Quando chegaram em casa, Yoshino já dormia e Aldebaran foi colocá-la no berço. Ao voltar para a sala, encontrou Shina sentada no sofá, com uma lata de cerveja na mão e outra sobre a mesa de centro.

— Você disse que já tinha bebido demais — ele comentou.

— Agora já estou em casa, posso beber mais um pouco. Um ano juntos aqui em Iwate, né? Um ano e pouco falamos sobre nós… Notou que só falamos sobre ela?

— É, eu notei… — Ele pegou a cerveja sobre a mesa, abriu e deu um longo gole. Depois sentou-se no chão. — Mas achei que você não queria falar… Sei lá…

— Eu não queria mesmo, mas agora eu quero. Hoje, naquela festinha, me dei conta de que não preciso me isolar da nossa “valorosa comunidade de Iwate” e nem de você. Podemos conversar mais. Você não sente falta disso?

— Sinto falta de muitas coisas. Tudo mudou tão rápido.

— É, mas você se adaptou muito bem, já fala japonês perfeitamente, cozinha comida japonesa.

— Não tá perfeito ainda, mas eu me viro. E se você se esforçasse mais, também já estaria melhor.

— Odeio admitir que tem razão — ela bufou e deu mais um gole na cerveja. — Sempre tem razão sobre tudo… Eu mal consigo cumprimentar as pessoas, por isso que sim, eu vou para a aula com você e a Yoshi vai para a creche.

— Vai ser bom para as duas!

— É, eu sei… Eu preciso pensar e fazer outras coisas porque me sinto tão sozinha aqui… — ela confessou sem querer e logo se arrependeu. — Não quis dizer isso, foi essa cerveja, somada às que eu tomei na festa, que soltou minha língua. Eu quis dizer “isolada”. Moramos em um templo em cima do monte, escondido num bosque, e o vizinho mais próximo fica a quinhentos metros. Demorou um ano para sabermos que ele é professor na sua escola. Vai ser bom ver outras pessoas. Até a hora que elas me irritarem.

— Talvez você acabe gostando delas…Eu te irrito? Sou uma das pessoas que você detesta?

— Eu nunca detestei você… e agora… agora você é meu marido. — Shina deu uma gargalhada. Sim, ele era seu marido mas nunca tinham se tocado e ela queria tanto, desejava tanto.

Encorajada pelo álcool, ela saltou do sofá para o colo dele e o beijou.

O cavaleiro arregalou os olhos com o susto, mas correspondeu, ainda que timidamente e sem saber se devia pôr as mãos nela.

— Shina… você… — ele murmurou quando se separaram um pouco para tomar fôlego.

— Cala essa boca e faz sexo comigo. Não está vendo que eu quero?

O cavaleiro levantou-se carregando-a no colo como se ela não pesasse nada e levou-a para o quarto. Gentilmente, deitou-a no futon e debruçou-se sobre ela, olhando fixamente os grandes olhos verdes.

Não falaram mais nada, quando perceberam já estavam com os kimonos abertos, completamente entregues à paixão.

 

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— Isso foi só sexo, não foi? — ela perguntou, ainda ofegando e sentindo as pernas trêmulas depois do orgasmo mais intenso de sua vida.

Queria que ele respondesse que sim, que foi só uma ótima transa, que continuaria sendo assim, porque tinha tanto medo de ele dizer a outra coisa. Se ele dissesse, ela não teria alternativa a não ser admitir o que estava negando há meses, tentando justificar com desejo e carência, porque sempre que admitia que amava alguém, tudo desandava…

Tinha que ser só sexo, porque o amor… o amor era doloroso e perigoso, abria feridas muito difíceis de reparar. Sexo era simples, só dois corpos se movendo ritmicamente, buscando alívio.

— É isso que você quer? — ele perguntou. — Que seja só sexo?

Ela ia dizer que sim, que era o que queria porque o amor podia estragar para sempre a convivência harmoniosa e transformar a missão de tempo indeterminado em algo terrivelmente insuportável. Abriu a boca para começar a falar, mas hesitou.

De repente, ocorreu–lhe que podia haver uma pequena chance de dar certo. E se fossem felizes? Pela primeira vez na vida, Shina sentia que havia essa possibilidade. Então resolveu arriscar tudo e mudou o discurso:

— Eu vi você sem roupas naquela noite e é óbvio que o desejei. Não sou cega e nem surda. Porém, durante esse ano juntos, eu pude ver você por dentro. O homem que você é, o pai sensível e amoroso, e eu o admirei. Então o desejo e a admiração se tornaram outra coisa, mas eu tenho medo de admitir e estragar tudo… Sempre estrago… Tudo desmorona ao redor, eu fico lá enfiada nos escombros até o pescoço e dessa vez não vou ter para onde fugir depois, não posso nem me esconder atrás da máscara.

— Não vai acontecer. — Ele puxou-a gentilmente para seu colo e fez um carinho nos cabelos. — Não vou deixar. Não vai desmoronar porque eu estou aqui.

— Ah, vai… Eu sei que em algum momento você vai acabar se enchendo de mim, dos meus surtos, do meu ciúme…

Aldebaran deu uma gargalhada que a deixou confusa.

— O que foi? – ela perguntou com irritação. – Estou falando alguma coisa engraçada?

— No dia do aniversário da Yoshi, eu já estava perto quando você gritou…

— Você ouviu?

— “Com certeza ele está com alguma puta!” — ele repetiu rindo e imitando a voz dela.

— Que droga…

— Eu não estava com uma… Estava só comprando o bolo da nossa filha. E eu não vou me encher porque eu amo você, Shina. Amo você e esses seus olhões verdes, me divirto com seus surtos e seu ciúme. Eu amo tudo em você.

— Debs… — ela murmurou com os olhos cheios de lágrimas. Era a primeira vez que ouvia essas palavras e finalmente sentiu-se pronta para verbalizar o que tentava esconder.— Eu também te amo, Debs. E eu vou dormir aqui, porque agora esse quarto é nosso.

— Sim, senhora — ele respondeu sorrindo. — Somos casados. Devemos dormir juntos.

— Espera! De repente lembrei que você ronca… Não sei mais se quero dormir aqui.

— Se eu roncar muito alto, me cutuca que eu viro para o lado.

 

Shina concordou e os dois dormiram juntos pela primeira vez, com alguns cutucões durante a noite, mas imensamente felizes por estarem juntos.

Quando acordaram, depararam-se com uma grande caixa deixada na varanda. Em cima dela, um daqueles envelopes timbrados da Fundação GRAAD.

Shina o rasgou sem cerimônias e leu o conteúdo:

 

Meus caros Aldebaran e Shina, perdoem-me por não fazer uma visita. São muitos os compromissos, intermináveis as providências para a reconstrução do Santuário e eu não tenho me sentido muito bem. Mas lembrei-me que fez um ano que ela chegou então estou enviando alguns presentes.

Espero que esteja tudo bem com vocês, que essa missão não tenha se tornado um fardo pesado demais…Caso seja esse o caso, não hesitem em me falar. Darei um jeito… Só pensei que seria melhor para ela ter uma família, como foi para mim. Ter Mitsumasa Kido como avô fez toda a diferença para que eu tivesse uma infância feliz, mas saibam que posso resolver isso, se for realmente necessário... ”

 

— O que ela quer dizer com “resolver isso”? – Shina perguntou, interrompendo a leitura.

— Acho que quer dizer enviar Yoshino para o orfanato da Fundação...

— O quê? Foda-se ela!

— Shina, ela é a deusa…

— Eu sei, não tô xingando a deusa, tô xingando a riquinha. Você tem que saber separar as coisas...

Indignada, Shina pegou um papel e uma caneta e começou a escrever a resposta:

 

Senhorita Kido, agradecemos a lembrança e os presentes pela passagem do aniversário da nossa filha. Nós fizemos uma pequena comemoração e ela se divertiu muito. Vou mandar umas fotos e, como poderá ver nelas, Yoshino está muito bem, muito saudável e é uma criança muito feliz. Ela não é um fardo, de jeito nenhum. Vivemos em um lar cercado de amor porque nós três nos amamos e nos tornamos uma verdadeira família.

Ass.: Sr. e Sra. Hino”

 

Continua...


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Notas finais do capítulo



Ai, como eu amo esses três! :3

No mangá, Aldebaran fala que não está sozinho desde a metade de sua trajetória, dando a entender que demorou OITO fucking anos para rolar algo… O_O Adiantei um pouco as coisas porque sim… :3



Próxima fic: Sorrisos, Segredos e Enganos. Queria prometer postar em uma semana, que é o tempo que ainda tenho de férias, mas acho pouco provável…



É isso!



Obrigada aos guerreiros que leram o primeiro capítulo! Vamos ver quantos vão retornar! XD



Até mais!!

















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