Aqua, o filhote de humano escrita por Mar la


Capítulo 4
Portões de Arborea


Notas iniciais do capítulo

Significados:

Destino - Trem



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Vozes de incerteza perturbavam o jovem dragão enquanto ele esperava pelo destino. Não deixava de estar nervoso apesar de não demonstrar nem um pouco.

“O que eu estou fazendo? Onde eu estava com a cabeça? Ellian, maldito...”

Um pequeno bocejo e a criaturinha que ele segurava se mexeu dentro da manta e cobertor, se aconchegando e voltando a dormir com serenidade.  Aya suspirou em alívio, não queria que o humano acordasse tão cedo. Na verdade, talvez nunca. Ele riu ao perceber o tipo de pensamento que tinha e do quão cruel foi desejar isto para o filhote.

Seres vinham, iam. Passavam ao seu lado, paravam, o ignoravam. Um movimento alto e indesejado, mas nada podia fazer pois é aqui na estação dos destinos onde há a locomoção rápida principalmente para caminhos longos.

 Concentrado no aguardo do seu destino, não percebeu a aproximação de uma criatura encurvada, alta e velha. Só foi notar quando esta colocou a mão no canguru frontal.

— Deixe me ver você filhotinho. — A mão velha e cheia de anéis remexeu nos cobertores afim de descobrir o filhote. Por reflexo Aya quase afastou-se ou retirou a mão alheia. Mas foi são em interpretar seus movimentos futuros. Que seriam bastante estranhos tornando-o suspeito ou algo parecido. Deixou que a outra com delicadeza fosse mexendo no pano, revelando o rostinho adormecido. Olhou bem para ela, que estava encantada. Uma velha girafa, já com seus cabelos brancos e rugas no rosto, carregava na cintura pequenos sacos cheios com algo que ele não sabia, usava diversas bijuterias, anéis, colares, brincos, todos com lindas pedras, cores e pinturas simbólicas.

— Uma gracinha, estas bochechinhas... hehehe, parece com Fhal quando era um filhotinho. — Ela acariciou a bochecha do humano, emocionada. — Qual é o nome e ser que esta fofura é? — Indagou. Por um momento Aya ficou confuso e perdido com a resposta. Mas com as orelhas evidentes que Ellian teria posto, era meio complicado dar outra resposta além do que elas proporcionavam.

— Aqua. Um filhote de gato. — Ele observou a reação da girafa. Ela não pareceu desconfiar, continuou acariciando a pequena criaturinha.

                                                   [...]

A velha continuou ao seu lado, as vezes ela acariciava o Aqua, outras contava histórias, em outras observava o filhote ou conversava com mais velho sobre coisas aleatórias. Aya soltou um suspirou de alivio assim que o destino que ele espera por tanto tempo finalmente chegou.

— Este é o nosso destino. — Disse a ela, arrumando os panos que antes deixavam o humano mais coberto. A senhora olhou-o com afeto e tristeza por sua partida. Antes que Aya fosse para o vagão, ela rapidamente pegou um dos seus vários colares que usava. Roxo, com uma pequena pedra que continha alguns desenhos pontilhados. Com cuidado ela pôs o colar em Aqua.

— Um presente por terem dado um pouco de atenção a esta velha invisível e por me trazerem boas memórias. — Disse ela, rindo e começando a acenar em despedida. O jovem apenas aceitou o agrado, acenando positivamente com a cabeça e partindo para dentro do vagão, sentando-se ao fundo onde não havia passageiros.

Após ajeitar-se, ele pegou no colar que havia sido dado. Seus olhos azulados brilharam com contraste e trocaram de cor para um branco realçado enquanto ele tocava o colar buscando por alguma evidencia. Utilizando de sua magia ele analisa se poderia haver alguma maldade ou energia negativa sobre o colar dado. Felizmente não obteve nenhum traço de algum mal.

Voltando ao seu normal, e indo largar o colar de volta. Ao olhar para baixo um par de olhos castanhos o fitavam com curiosidade. Aqua estava acordado. Aya não fez nada além de também olhá-lo, esperando por alguma reação, como chorar ou coisa parecida. Mas não foi isto o que aconteceu. Após o tempo em que ambos ficaram se olhando, o humano deu um enorme sorriso. Os dentes estavam ainda no começo de seu crescimento, o que davam uma certa fofura ao seu sorriso desdentado. O filhote começou a se remexer querendo sair de dentro do casulo de cobertores que foi feito para ele. Sem experiência alguma, Aya não fez nada, só pôde olhar cada movimento que o filhote fazia em vez de ajuda-lo.

Após muito esforço, Aqua conseguiu se desdobrar e ao menos retirar ambos os braços do aperto. Sentindo-se mais livre, ele começou a dar pequenos tapas em Aya, como se explorasse o lugar e quem o carregava. Tentou alcançar o pescoço, tocou a clavícula, estapeou os braços e quando chegou ao peito, ele bateu novamente e esfregava as mãos sobre, com felicidade.

— Hey eu não... hahahaha. — Aya não se conteve e riu, ao ver que todos estes toques e exploração era a tentativa de encontrar um peito para mamar. Aqua após reconhecer que ali teoricamente deveria ser o lugar em que ele acharia alimento, tentou explorar com a boca, abrindo-a e buscando algo que se assemelhasse a um bico, apesar de achar, ele obviamente não conseguia sugar, então apenas ficava babando sobre a camisa do outro.

— Aqua, eu não sou sua mãe. Eu não tenho leite... — O filhote certamente não entende o significado de tudo o que Aya dizia. Ele continuava babando a camisa do maior sem desistir de tentar mamar. O jovem dragão deixou de observar a cena e acha-la engraçada. A criatura estava com fome, ele deveria alimentá-la. Olhou dentro da mochila, procurando entre as coisas que Ellian teria preparado. Achou a mamadeira cheia e riu ao ver que havia uma anotação colada na base do objeto.

“ Ohoho, é a sua primeira vez dando mamadeira Aya! Estou orgulhoso. Mas, sei que você não entende de nada sobre o assunto e simplesmente viraria a mamadeira goela abaixo. Então leia o bloco de notas que lhe dei. Se cuidem.  Ellian ♥.“

— Se isto é o recado... imagino o bloco de notas. — Não tendo muita opção de onde apoiar a mamadeira, Aya apenas a colocou dentro da camiseta de Aqua na parte das costas, que sem entender nada tentava alcança-la ou retirá-la, contorcendo o corpo e começando a fazer grunhidos de descontentamento. Enquanto isto, o outro aproveitou para pegar o bloco de notas que estava todo detalhado e enfeitado.

— Deixe-me ver... Alimentação. Tópico 1, fazendo a fórmula do leite... Tópico 2, dando de mamar... Isso soa estranho, francamente Ellian, só você mesmo. — E então ele começou a ler as anotações, mas foi interrompido com Aqua iniciando um choro. O que o fez guardar o bloco, ao menos Aya já teria lido o principal para o momento. Ele pegou a mamadeira que incomodava o garoto, e sem opções de onde segurá-la, Aya mordeu a ponta (parte em que prende a tampa e não o bico), segurando-a com a boca. Rapidamente retirou Aqua de dentro do canguru, e o deitou em seu colo. O filhote inicialmente não aceitou tão bem os movimentos bruscos que o dragão tinha com ele. Ele se remexia e tentava levantar, até que Aya sem muita paciência o segurou com mais força com a mão esquerda e rapidamente com a direita pegou a mamadeira e com cuidado a colocou na boca do filhote, que ao reconhecer o bico e sentir o gosto do leite se entregou, ficando calmo e ocupado sugando o líquido. Mas quando Aya via que ele começava a sugar com rapidez e muita força logo ele retirava da boca do outro. Para que não houvesse a chance de se engasgar, conforme as anotações. Tempo depois, Aqua estava alimentado. Aya já havia guardado a mamadeira, feito o humano arrotar e agora enquanto ele continuava lendo o bloco o filhote estava no chão em sua frente, se divertindo com o nada. Aqua ria de cada movimento mais brusco que o destino dava que o fizesse chacoalhar. As vezes ele ia para outro canto, e quando decidia ir para lugar contrário que Aya estava logo o maior o impedia pondo a perna na frente e o empurrava de novo para onde ele deveria ficar.

                                              [...]   

“Portões de Aborea, Portões de Arborea.”

O anuncio se repetia, informando que logo o destino pararia, e este era sua última parada, afinal não teria mais para onde ir, pois teria percorrido todo o caminho possível. Os portões são conhecidos como o começo ou o fim da capital, após eles há apenas a floresta sem regra.

Aya guardou o bloco, e pegou Aqua no colo, colocando-o novamente no canguru mesmo que o menor tenha relutado um pouco para que isto acontecesse. Em seguida, as portas se abriram e ele tomou rumo aos portões. Quando chegou lá, haviam filas. Muitos queriam entrar, poucos queriam sair. Os guardas enormes revistavam cada traço de magia e bens. Apenas os mercantes podiam trazer coisas de fora, e este tinham de ter um papel de contrato. Era evidente que 73% dos que estavam na fila eram considerados presas. Nenhuma surpresa.

Aqua observava todo aquele movimento, parecia gostar. Mas não era apenas ele quem observava, ambos ele e Aya eram encarados com curiosidade. O que um jovem fazia com um filhote? Ainda mais querendo sair da segurança da capital. Provavelmente eram estes os pensamentos que todos aqueles que os olhavam faziam. 

Prestes a passar pelo portão de saída. Aya foi puxado pelo braço, por um enorme guarda. Um urso.

— De quem é este filhote? — Indagou, se aproximando e chamando mais alguns guardas. Aqua encantado com a cara peluda do outro, esticou os braços o máximo que pôde, tentando tocar na bola de pelos e dentes afiados que decidiu chamar por colegas.

— É meu. Eu tenho permissão para estar com ele. — O urso manteve-se sério, e possuía suspeita. Ele olhava bem para as características completamente diferentes que os alvos tinham. Os colegas que ele havia chamado, logo chegaram, um sapo com um caderno de registros e o outro um cachorro que trazia algemas.

— Recentemente houveram muitos roubos de filhotes. Qual é a sua raça? Por qual motivo está saindo da segurança da capital? Precisamos averiguar a identidade deste filhote. — A abordagem logo começou a criar um tumulto, o guarda com os registros começou a folhar, chegando na ala dos desaparecidos felinos e o outro preparava as contenções. Sem paciência, Aya retirou seu cabelo das laterais do rosto, onde sua característica era escondida pelos fios além do controle mágico que ele usava para que ela ficasse menos evidente. Com o ato ele deixou de camufla-la, fazendo com que mais partes de seu rosto, assim como de seu corpo começassem a mostrar as escamas que apenas um dragão como ele poderiam ter.

Os guardas não conseguiram não esboçar surpresa, choque, e alguns até mesmo medo. Simplesmente o topo da hierarquia brotou em sua frente. Por instinto é compreensível o medo e a submissão.

Ao notar que o recado estava compreendido, Aya logo voltou ao que estava antes, pouquíssimas escamas nas laterais do rosto, em que voltavam a serem escondidas por seu cabelo. O guarda, ficou ereto em posição de sentido, porém não olhava mais para Aya diretamente em seus olhos, sua cabeça estava mais baixa em total submissão.

— Perdão, excelência. Deixe-nos curvar diante a ti. — O urso começou a tomar a iniciativa, os outros dois iriam repeti-lo mas Aya os interrompeu com um riso abafado.

— Pffft, Eu detesto estas formalidades. Apenas esqueçam o que viram e aconteceu aqui. — Disto isto, o dragão se virou e deu as costas, passando pelo portão, deixando a segurança da capital. E agora tendo um filhote para cuidar, ele dá o primeiro passo rumo a Yama, a terra dos humanos para devolver Aqua ao lugar em que ele pertence e deveria estar.


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Notas finais do capítulo

A idade dos personagens no capítulo:
Aya - Aparenta ter 19 anos. Porém tem 512 anos.
Aqua - 8 meses. (Mas seu crescimento é muito rápido.)



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