Aqua, o filhote de humano escrita por Mar la


Capítulo 17
Escamas




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Aqua correu o mais rápido que pôde. Enquanto corria para o bosque ele podia ouvir apenas os seus passos e a comoção que estava se formando na feira de trás dele. Mas, de repente, a única presença que ele sentia, que era a sua própria, não estava mais solitária. O encapuzado que teria conseguido burlar Sydra, estava a cada passo mais próximo de Aqua. O humano olhou para trás, percebeu que era seguido. Tentou correr ainda mais rápido. Talvez pelo perigo e desespero ele conseguiu apurar mesmo que pouco, sendo capaz de chegar no bosque. Passando seu corpo entre a grama alta, procurando algum abrigo ou disfarce que pudessem ajudá-lo a se esconder ou ao menos atrapalhar a visão daquele que o perseguia. O bosque podia ajuda-lo a escapar, mas a natureza, com seus galhos, troncos, pedras as vezes acabam atrapalhando. Principalmente quando você está correndo motivado ao desespero. Qualquer tropeço, torna-se um tombo. E foi justo isto que aconteceu ao pequeno humano. Aqua pisou em falso em uma pequena pedra. Atrapalhando no seu equilíbrio e com a força do corpo ele caiu com tudo numa barrigada ao chão. Chegando a se arrastar por quase 1 metro devido ao impacto da velocidade e colisão.

Apesar de se machucar com a caída, Aqua tentou se levantar como se nada tivesse acontecido. Mas logo seu ombro foi puxado por trás, com força, para o lado. Virando o corpo do filhote de barriga para cima. Ele se assustou ao ver o sorriso naquele que agora mostrava seu rosto. Era um adulto, de cabelos vermelhos e olhos âmbar. As mãos do estranho foram de encontro ao pescoço fino de Aqua que começou a se debater tentando se soltar. Pouco a pouco Aqua começou a ser asfixiado. As lágrimas já estavam começando a escorrer. E ele sentia pouco a pouco a sua visão ficar turva. Seus pensamentos já não eram nem mais em tentar escapar. Aqua teria aceito que ele não tinha mais chances. Ele só se sentia culpado por tudo isto. Lembrava da última imagem que teve de Aya. Do seu sorriso e sua preocupação que ele escondia dos outros, mas não dele. Só que, ele sabe que se comentasse sobre isto acabaria deixando Aya irritado então ele apenas guardava para si.

Aqua deu um longo suspiro. Este seria o seu último.

O encapuzado ruivo, mantinha o foco em Aqua, mas de repente olhou assustado para a esquerda. Menos que segundos, aquele que asfixiava o humano teve seu rosto atingido num soco. E não era um soco qualquer. Com seu punho concentrado em grande quantia de magia aerocinese Aya conseguiu atingi-lo com tudo. O impacto da esfera de ar que havia sido criada e carregada pela mão fechada ao atingir o alvo, fez uma explosão sem igual. Uma rajada de vento tão forte como uma tempestade. Era como se, os mais fortes ventos estivessem presos em um balão e ele fosse estourado. Fazendo com que a natureza em volta se curvasse em direções opostas, arvores e arbustos de raízes mais fracas até mesmo se desprenderam do chão e voaram. Tão qual ao encapuzado, que sem ter tido tempo de resposta apenas voou para longe, como se um caminhão tivesse o atropelado em alta velocidade.

Aya estava ofegante. Havia corrido o mais rápido que podia, e controlado seus sentimentos da melhor forma que podia. Isto era esgotante. Ele olhou para Aqua que ainda estava um pouco anestesiado.

— Aqua... — O maior se aproximou, e verificou o corpo do pequeno, esfolado pelo tombo e recuperando sua cor natural após que conseguiu voltar a respirar normalmente.

— Ay... a... você... — Aqua tentava falar. Mas ainda não conseguia. Aya percebeu que apesar do choque estaria tudo bem. Sua atenção então foi voltada para aquele que a pouco ele havia atingido. O adulto ao longe, estava se recompondo e se levantando. Aya deu um passo para ir atrás mas olhou novamente para Aqua que havia encontrado forças para se sentar. Desistiu do ataque, ficando apenas como protetor. O estranho assim que conseguiu se levantar, olhou para o alto e transformou-se. Revelando ser da mesma espécie que Aya. Um dragão. De cor avermelhada. Que iniciou seu voou. Ao ar, subindo cada vez mais, Aya apenas ficou em observação, vendo-o partir. Até então o dragão estava solo em sua ida, mas segundos depois um grupo apareceu através de runas mágicas de teleporte montados no dragão que partia. Provavelmente eram os mesmos que haviam atacado a feira. Não demorou muito, até que todos saíssem dos limites de vista.

Aqua já bem melhor, ainda estava sentado. Ele olhou para cima, observando Aya que se mantinha de pé em sua frente. Talvez num choque de realidade, Aqua começou a chorar, muito. Aya o olhou surpreso, sem entender muito.

— A-Aqua? O que foi? Está machucado? — O dragão abaixou-se passando a mão no corpo de Aqua freneticamente, tentando verificar se estava tudo okay além dos esfolados da caída. Aqua por outro lado não parava de chorar, muito alto e sem pausa. Deixando Aya ainda mais preocupado, esta talvez era a primeira vez que Aqua chorasse tanto. Até mais do que quando Krull teria o pego pelo pescoço, já que até meses atrás ele era apenas um bebê e só poderia fazer isto. Agora era diferente, ele chorava não por necessidade, mas sim por emoções. — Aqua? O que houve? Eu... eu... eu não consigo te ajudar se você não me falar? Onde dói? Me mostra.

Aqua continuava chorando, mas desta vez ele teve a atitude de abraçar Aya como se Aya fosse a coisa mais preciosa de seu mundo. O seu porto seguro. Aqua chorava e abraçava Aya com tanta força, que deixou o maior sem reação de início. Mas logo ele entendeu, que isto era questão de medo, afeto, saudade. Então não teve outra alternativa senão retribuir o carinho bruto até que Aqua se acalmasse.

Sydra logo chegou próximo dos dois, os encontrando, mas quando viu a cena de ambos abraçados ela decidiu deixá-los a sós e impediu que outros fossem até lá.

[...]

Com este ataque, a feira acabou encerrando. Umi ao receber a notícia logo iniciou uma investigação a respeito, mandando guardas e redobrando a segurança de Atl’an.

Quando voltaram para a mansão real, Aqua tornou-se tímido novamente, e igual quando bebê, ele se torna um grude em Aya. Aqua estava agarrado na blusa de Aya, sem soltá-lo. A cada passo que Aya dava, o filhote mesmo que sem intenção o atrapalhava. Se Aya se sentasse em algum lugar, Aqua logo se aconchegava no corpo do outro, segurando seu braço ou encostando a cabeça. Era como se Aya fosse uma nhagaliri e Aqua o seu galirinho.

Só que desta vez Aya não tem a mesma paciência que tinha quando Aya era um bebê e não podia fazer outra coisa além de receber colo, ou ainda não entendia e era consciente de suas ações num geral.  O dragão tentou sentar e deitar mais uma vez na cama do quarto em que ambos estavam, mas Aqua o acompanhou e quase jogado sobre o corpo do outro ele se confortou.

— Aqua, chega disso. — Aya deu um longo suspiro e então empurrou o filhote com cuidado desgrudando-o de si.

— Eu... Quero ficar com você. — Suplicou o filhote, com aquele olhar expressivo e manhoso. Aya quase se abalou por isto mas manteve pulso firme com sua atitude.

— Você quis ir para a feira. Foi sua decisão. Sua escolha. Aconteceu o que aconteceu? Sim. Mas isto aconteceu por tua escolha. E indiferente se ter dado certo ou errado, você tem de arcar com suas escolhas. Consegue entender? — Aya olhava nos olhos do humano, falando sério e ao mesmo tempo sendo delicado. Pensando no que falar sem ter que ser tão bruto como na maioria das vezes é. Aqua por outro lado, ainda cabisbaixo apenas retornava o olhar direto para Aya.

— Eu não devia ter ido. Você me falou pra não ir... Se eu tivesse ficado aqui e- — Antes que Aqua terminasse sua fala, Aya tapou sua boca.

— Sem mais “E se, e se, e se, se”. Já deu. Você tem que entender que a vida é assim. Escolhas. Se deu errado, paciência. Tire isto como experiência.

— Como assim? — Aqua indagou.

— Se um dia acontecer algo parecido de novo, você ao menos já vai estar mais preparado. É isto o que eu quero dizer. Aqua, as coisas são assim. E você não será um filhote pra sempre, tem que aprender a se superar com o que você escolhe e faz. — Aya se aproximou e então pegou na orelha de Aqua, a puxando de leve.

— Ai, por que tá fazendo isso? — Aqua olhou sem entender o motivo de tal ação.

— Por que eu quis. E isso também... — Tentando melhorar um pouco o ânimo do pequeno. Aya começou a fazer cócegas nas partes mais sensíveis de Aqua, que involuntariamente começou a rir.

— Hahaha, para... — O menor se contorcia no sofá, tentando se defender das cóceguinhas.

— Vai melhorar essa cara? Parar de se lamentar e aprender com os erros? — Aya continuava a brincar. Mas falava sério em sua pergunta quando se tratava de querer de fato que Aqua parasse de se sentir culpado.

— Siiiim, sim, sim eu vou! Hahaha. — Aqua ria tanto que já estava começando a chorar, não de tristeza, mas de tanto rir.

— Então está bom. — E com a resposta positiva dele, Aya parou e se levantou, afim de ir conversar com Umi a respeito da identidade que chegaria hoje. Aqua assim que Aya deu as costas se levantou e tentou fazer silêncio se aproximando de Aya pelas costas, segurando uma das almofadas na mão, pronto para atacar.

— Vin-gan-çaaaaa! — E o pequeno brincalhão tentou atingir Aya com uma almofadada. Mas Aya apenas moveu o corpo para o lado e deu uma rasteira em Aqua que caiu de bunda.

— Você vai precisar de mais alguns séculos pra tentar me atacar pelas costas. Ainda mais respirando tão alto. — Ao cair, Aqua teria derrubado a almofada, Aya agora a juntou e deu uma leve almofadada na cabeça do filhote que ainda estava sentado por causa da rasteira. — Eu já volto. Vou ir falar com o Umi.

— Está bem! Eu... vou procurar a Mari Vossa Alteza e ajudar ela no que der.

E então Aya saiu do quarto. E foi até o lugar em que Umi estava, ocupado resolvendo todas as questões do dia. Ao entrar Umi não o recebeu com um sorriso, na verdade ele estava até mesmo preocupado com o acontecimento. Isto era inadmissível em seu entendimento. Um ataque de baixo de seu nariz. E pelo visto não eram por meros ladrões.

— Aya, sobre a identificação ela chegou nesta tarde. Um tempinho depois que você saiu daqui. — O tritão largou de seus papéis e pegou um envelope selado magicamente. E o entregou para Aya, que o aceitou.

— Qual o seu palpite? — Aya indagou. Querendo entender o que se passava na cabeça do amigo.

— Eu realmente não sei. Se um dragão atacou Atl’an... desta maneira com certeza é alguma ordem. Mas de quem?

— Você não suspeita que seja daqui mesmo? De Atl’an me refiro.

— Não, isto seria quase impossível. Nós não temos nenhum dragão de fogo aqui. Para falar a verdade, seria o último lugar em que viriam não é? — Umi começou a organizar a papelada que antes lia. Agora ele procurou focar na conversa e nos detalhes do acontecido.

— De fato. Um país de magia hidro. — Aya suspirou. E olhou para Umi que retornou o olhar.

— Eu esqueci de agradecer. — Disse Umi.

— Hum? Pelo o que? — Aya não conseguiu entender o motivo do agradecimento. Afinal, era ele quem estava recebendo ajuda.

— Por ter indiretamente ajudado minha irmã.

— Eu não a ajudei em nada. Pra falar a verdade, a ignorei completamente. Eu saí daqui preocupado. Algo me dizia que mesmo que era errado eu devia ir junto. Sem contar que eu queria ver como Aqua se comportaria mas...  

 — Oh, mamãe Aya é? — Umi deu uma risadinha, olhando para Aqua com uma cara provocativa, tirando sarro da preocupação e ato super protetor do amigo. Coisa que até então não é comum. Aya percebeu a direta indireta, mas decidiu se conter e apenas continuar sua grande fala.

— Enfim. Acabei ficando aleatoriamente na feira, cuidando para não me encontrar com eles. Depois vi que Sydra e Aqua foram para a bando dos pós, eu fiquei avulso, longe de onde estavam, olhando algumas coisas. Então, deu aquele barulho, fui em direção e quando a vi ela estava tentando capturar alguns caras que também estavam encapuzados. Eu a ignorei totalmente e fui atrás do Aqua. E lá encontrei este dragão. Em resumo foi isso. Foi tudo tão rápido que nem parei pra analisar muito bem.

— Entendi... Bom, no fim este seu lado que até então eu não conhecia de super mamãe acabou dando certo. — Umi riu novamente. E Aya arqueou uma das sobrancelhas, rindo de volta.

— É mesmo é? É interessante ouvir isto pra quem é um siscon. Não é U-mi? — Aya deu um sorriso debochado e depois as costas, pronto para sair dali pois sabia que se continuasse ali a conversa nunca acabaria e ambos iriam ficar respondendo um ao outro.

— HEY! Espera! Eu não sou um... siscon! — Umi tentou se defender. Mas já era tarde demais. Aya teria fechado a porta e saído do escritório.

[...]

Durante a madrugada, enquanto todos estavam dormindo. Aya acorda e vê Aqua grudado em si, como de costume. Ele com cuidado tirou o humano de perto e então levantou da cama. Indo até a janela e olhando para o exterior. Ainda estava escuro, e nesta noite a lua estava sendo escondida pelas nuvens.

Em seguida, ele aprontou a sua mochila e a mochila de Aqua. Colocando os seus pertences e coisas necessárias nas mesmas. Depois ele foi para o banheiro, lavando o rosto e começando a se ajeitar. De repente, ele parou em frente ao grande espelho e ficou observando a si mesmo. O cabelo que estava mais comprido do que quando iniciou sua história com Aqua. E suas cores brancas. Ele abriu o armário, que não tinha exatamente o que ele queria mas servia. Uma gilete.

“ Isto serve...” — Pensou ele. Pegando a gilete e pouco a pouco diminuído o tamanho de seu cabelo aparando as pontas. Para falar a verdade, não houveram tantas mudanças, quase nada além do comprimento. Isto o deixou frustrado. Ele arrumou a bagunça e guardou a gilete que usou. Voltando a se observar frente ao espelho.

“ Acho que não tenho outra opção.” — Após pensar isto, ele fechou os olhos. Concentrando em si mesmo. Meditando. Pouco a pouco, o seu cabelo de fios esbranquiçados foram tomando cor. De brancos eles se tornam negros. Ao misturar todos os seus 4 elementos de forma baixa, Aya ficava com seus cabelos negros mas isto só era possível enquanto ele não utilizasse de magia. Era como se ele misturasse várias cores de uma paleta em uma só, criando o preto. Só que, se precisasse utilizar uma cor em questão, o preto se desfazia. Na verdade, o preto era apenas... um disfarce constantemente controlado para não revelar as outras cores. Mas isto era um segredo que ele gostava de guardar para si, pois assim ele conseguia sempre manter uma nova identidade despercebida quando precisasse. Ao menos era um segredo, até agora.

Pronto, ele se olhou melhor no espelho. Seus olhos da cor azul claro se contrastaram ainda mais na sua pele pálida, o que não era exatamente um problema. Mas, suas escamas acabavam ficando um pouquinho mais a mostra, ainda mais depois que ele cortou o próprio cabelo. Ele ficou observando a si mesmo por um tempo, tocando o próprio o rosto, as próprias escamas que agora eram mais visíveis, característica que ele sempre tem o costume de buscar esconder. 

 

“Dane-se. Isto é o menos importante agora”. — Com este pensamento. Ele deixou o banheiro. Foi até Aqua e começou a arrumá-lo. Colocando uma nova roupa e retirando as orelhas e cauda de gato que fingiam sua característica. Feito isto, ele deu um jeito de equipar as duas mochilas, e pegar Aqua no colo, ainda adormecido.

E assim, ele silenciosamente saiu da mansão. E em vez de pegar uma canoa, ele administrou sua magia de hidrocinese e aerocinese. Sendo capaz de que a própria água e o ar os levassem de forma silenciosa até o centro sem a necessidade de uma canoa real ou algo parecido.

Felizmente ninguém os viram partir, ou até mesmo a cor de seus cabelos enquanto ele utilizava sua mágia. Já que enquanto utilizava estes dois elementos seus cabelos ficavam em um tom de branco azulado. Assim que chegaram ao centro, Aya caminho com Aqua no colo até um porto, e lá ele foi capaz de pegar um pequeno barco que os levaria para It’ri. Agora com a identificação de Aqua disponível, ele conseguiria entrar tranquilamente no Norte. E depois disto, só faltaria apenas mais uma viagem de barco até Yama.

 

 


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Notas finais do capítulo

Sim, este é o Aya. Eu inicialmente não tinha a intenção de revelar a aparência que eu idealizo e utilizo para inspiração dos personagens. Mas, pensei, por que não?
A arte em si não é minha, apenas fiz pequenas modificações (coloquei as escamas) para que ficasse fiel ao personagem.


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O que é um siscon? ´
Significa Sister complex. Em resumo quer dizer que é uma pessoa apaixonada pela a irmã. Lembrando que paixão não é só envolvendo o sexual. Pode ser paixão apenas no sentido de amar muito, ao ponto de ser super protetor, se dedicar ao extremo... coisas do tipo.



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