WSU's Raiju escrita por Lex Luthor, WSU


Capítulo 4
Ela




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Os punhos imponentes batiam ligeiramente com breves pausas, como se não ligasse para a espuma de ódio carregado em sua boca e a suave voz feminina gritando ao fundo:

— Para! — O desespero no grito fino era notável. — Vai matar ele, esse não é você!

Os finos dedos agarraram o braço, vestido de seu traje especial, puxando-o. Em uma fração de segundos o punho agarrado acertou a sobrancelha da garota ruiva que, fechando os olhos, foi ao chão.

Sua queda foi instantânea, mas o seu agressor a viu lentamente, como se tivesse uma supercâmera lenta usada em transmissões de eventos esportivos. Seus olhos sobressaltaram-se ao ver o corte aberto fazendo escorrer o plasma sanguíneo verde da garota. Observou tudo boquiaberto, até tomar a atitude de aparar a queda. Porém, nem a sua velocidade impediu o bater da cabeça vermelha da moça no chão.

A risada prazerosa foi ouvida atrás do Gladiador Azul, que, sem seu capacete, virou-se e viu o homem sorrindo, coçando seu cavanhaque negro, que se unia ao cabelo longo e preso como um rabo de cavalo. 

— Parece que sim — disse, limpando o sangue dos lábios. — Você é assim, não é, Arthur?

Revoltado, o velocista aponta o dedo, rangendo os dentes.

— É tudo culpa sua, Jacobo! — berrou, com lágrimas nos olhos. — Já passou da hora de você sair da minha vida. — Apertou o punho firmemente. — De sair da vida de cada corrompido que você explora!

— Você é um criminoso! — esbravejou Jacobo. — Como todo o resto!

Arthur avançou veloz e furioso.

Deitado em seu colchão, no quarto improvisado, levantou o tronco de vez, ficando sentado. Ofegante e suado, correu para fora da bilheteria vestindo apenas uma cueca branca e foi até o banheiro do terminal.

Lavou o rosto e olhou para o espelho.

O que via?

Apenas mais um cara; mais um perseguido pelos pesadelos reais de um passado negro. Machucar quem ama e ser um criminoso era algo que doía muito em si.

Ele, a culpa e um copo de café novamente na poltrona de espera do terminal.

Na outra bilheteria, seu irmão lia as notícias do dia no notebook:

 

“Presidente Michel Rodrigues se reúne com a cúpula da ONU para discutir a questão dos corrompido. Será que saberemos se são apenas rumores de um Estatuto dos Corrompidos do governo nacional para regular as condições dos de sangue verde na sociedade?”

 

Ao arrastar o cursor para a próxima notícia, se espantou arregalando os olhos.

Na plataforma de espera, Arthur olhou para a tela em branco apoiada por um tripé. Imaginou o que pintar, buscando a inspiração que não vinha para poder exercer seu ofício. O pesadelo ainda era vivo em sua mente:

— Você é um criminoso!

Seus pensamentos foram interrompidos pelo brusco abrir da porta da bilheteria 15B.

— Você é um herói! — gritou Aarseth, segurando um notebook com a tela virada para o irmão. — Parabéns, rapaz!

Ao atentar para o visor, viu um vídeo curto e sem áudio do Raiju em uma das salas do banco. Desaparecia, devido às altas velocidades e reaparecia, certamente quando decidia falar ao comunicador.

Velocista evita roubo no Banco Federal de Primavera e bandidos saem sem um centavo” — era a legenda do vídeo, que tinha milhões de visualizações em poucas horas.

— Que merda é essa, Aars? — questionou, indignado. — Você deveria me dar cobertura com isso! — esbravejou. — Você me expôs!

hacker fechou o notebook.

— Olha aqui, seu bosta — Apontou o dedo em direção a Arthur, pondo o computador debaixo do braço.

Encarou o irmão mais velho de cenho franzido e continuou:

— Eu te falei que tinha mais alguém no servidor do banco — explicou calmamente. — Esses caras planejaram isso contra você, não levaram um tostão e te expuseram, não eu! Eu tentei ajudar, porra!

— Tá — disse Arthur, num tom de desabafo e olhou para baixo —, mas o que eu vou fazer agora?

Aarseth coçou seus cabelos encaracolados.

— Aproveitar os quinze segundos de fama, até eu descobrir quem fez isso? — sugeriu.

Conseguiu apenas arrancar uma risada forçada de seu irmão.

— Mas antes tenho algo para te mostrar — disse o hacker, tirando uma seringa do bolso.

— Ah, não! — disse Arthur, choroso. — Combinamos que era só na hora de dormir, filha da puta.

— Relaxa — pediu Aarseth, dando dois petelecos no tubo. — É uma injeção com milhões de nanobots, eles vão produzir endorfina e te tranquilizar espontaneamente. A vida útil deles é de seis meses!

— Tu fez isso por mim nada, Aars! — gritou sorridente e admirado.

— Na verdade, foi por mim... Não queria ter que ficar te dando injeção todo dia e deixando seu braço pior que o de um viciado, de tanto furar errado. — Sorriu, coçando a barba malfeita. — Vou tentar acertar essa veia agora.

Arthur estendeu seu braço, para que seu irmão não errasse dessa vez e lhe oferecesse aquele milagre da ciência, que havia feito. Tateando o braço cheio de hematomas azuis do paciente, achou veia sem um calombo.

— Perfeita — admirou, ao furar com a agulha.

 

 

 

Centro da Cidade de Primavera

 

A verde praça ensolarada e movimentada estava lotada. As pessoas, como formigas, moviam-se de lá pra cá, de cá pra lá. Hippies vendiam sua arte, comerciantes as suas mercadorias e as bancas mostravam o novo herói da cidade, o misterioso velocista azul e até mesmo as tevês nas lojas de eletrodomésticos vizinhas só tinham olhos para o assunto.

Com um sorriso no rosto e a satisfação de ser reconhecido, Arthur montou sua tela com o aviso.

Seu retrato realista rápido!

Logo, chamou atenção de um bem vestido e robusto senhor de bigodes e chapéu.

— É rápido como o velocista? — perguntou o homem.

— Posso tentar — respondeu Arthur, sorrindo.

Poderia ser mais rápido que uma foto impressa na hora, mas ele demorou alguns minutos. Aproveitou a inspiração daquele dia ensolarado, em que viu até o primeiro garoto com um capacete de motociclista azul, claramente improvisando o visual do herói da cidade.

Em alguns minutos o retrato estava pronto e o cliente satisfeito com o resultado. Observando o pequeno Raiju, fez sinal de positivo com o polegar, que o garoto reproduziu timidamente.

— Prefiro o Aracnídeo — comentou outro garoto, que o acompanhava.

Arthur sorriu com o comentário.

— Ei, Arac! — chamou o garoto, que atendeu. — Se eu te pintar um desenho do velocista, você vira casaca?

O garoto respondeu com um contente aceno positivo de cabeça.

— Vou fazer um pra você e outro pro seu amigo ligeirinho.

Foi uma pintura caricata, mas que chamou atenção de muitas pessoas na praça, que se interessavam cada vez mais pelo novo herói local e com isso, mais clientes foram ganhos naquela manhã.

O sorriso de cada um ali o inspirava, até ela chegar.

A garota ruiva.

— Pode me fazer um retrato? — indagou, sorrindo e sobressaltando as maçãs sardentas de seu rosto.

Arthur estava admirado com os cachos rubros da garota e sua pela rosada.

— Eu-eu... eu pode — respondeu desajeitado, derrubando os pincéis. — Porcaria — abaixou-se para pegar os objetos do chão. — Quer dizer, posso... só vou apanhar ess-essa... essas merda aqui.

A timidez estabanada dele a fazia gargalhar e isso a contagiava de felicidade.

— É que você me lembra muito uma pessoa — falou, apanhando suas ferramentas de trabalho. — Só tem um problema, moça. As telas acabaram, posso buscar umas em casa e volto num flash.

— Tudo bem, eu vou almoçar ali no Wesley Salgadão Burguer e volto para a pra...

— Fechou — interrompeu Arthur, extasiado pela proposta.

Colocou seus pincéis e tintas dentro de uma bolsa preta, pegou seu tripé de madeira e deu as costas para a garota, vendo o gesto pouco cortês, virou-se e sorriu.

— Wesley, certo? — perguntou, confirmando.

— É sim — respondeu sorrindo. — Ou praça.

Despediram-se com acenos.

Ele caminhou feliz, até passar por uma florista e admirar suas rosas.

Tudo ali o fazia pensar nela e para ele parecia uma mensagem do destino, o sentimento de culpa brotava em seu peito. Em milésimos ele não estava mais na praça, dois reais surgiram na mão da comerciante de flores e menos uma rosa estava nos seus buquês.

 

 

 

Recife, Pernambuco

 

Minutos atrás numa praça no centro de Primavera, em Minas Gerais e, agora, de frente ao colégio Gêneses. Ali ela estuda e o velocista sabia disso, pois não passava um minuto sem pensar se garota estava bem. Aproveitava-se de seus poderes para ir até lá e reviver o passado sem que a moça percebesse, admirando-a.

O sinal tocou e era hora dela sair, mas não dele fazer o de costume: olhar para a garota ruiva até ela partir, por não ter coragem alguma de dizer um “oi”. Não depois do que fez, foi imperdoável. Principalmente quando a via de longe. 

            Lá estava ela, com seus cabelos levemente ondulados e ruivos. Seus olhos castanhos e aquele sorriso ao falar com os amigos, segurando os cadernos no colo.

Já eram quatro meses sem que ela o mostrasse aquele sorriso branco, junto com os olhos se apertando, que acompanhavam o movimento harmônico da boca rosada.

Tirou seu uniforme azul, que o protegia das altas velocidades e escondeu próximo a um carvalho. Por baixo vestia seu velho jeans azul com uma camisa do Michael Jackson, Beat It.

Tudo está dando certo para você hoje, Arthur” — pensou, consigo. — “Vamo dar uma ensaiada, sem gagueira e com confiança”.

Segurou a rosa sem espinhos, correu e parou de frente a garota ruiva sorrindo. Ela era como uma estátua naquele momento, não poderia vê-lo ou ouvi-lo e só assim começou a falar como se declamasse um poema.

— Oi, Serena — disse, arqueando as sobrancelhas. — Não, meio merda.

Suas mãos suadas, a garganta seca engasgando suas palavras. Estava muito nervoso.

— Eu abri mão de você, joguei tudo fora e agora eu vejo que fiz tudo errado — falou para ela frente a frente. — Ainda te amo.

Moveu-se para alguns metros dali e tentou acalmar-se, pois não sabia como fazê-lo perto dela. Esfregou as mãos no rosto, respirou profundamente e devagar e deu três tapinhas na bochecha direita. 

Olhou com obstinação para a direção da garota.

Foi uma obstinação jogada ralo abaixo.

Viu a linda ruiva sorrindo para outro garoto, aconchegar-se nos braços dele, sua cintura ser contornada pelo braço dele e os lábios de ambos se tocarem.

Hoje não é o seu dia Arthur, de novo” — Correu em torno dos dois, admirando a cumplicidade da cena. — “Talvez ela tenha outros planos, agora tem um novo namorado”.

Arthur parecia ter uma britadeira em seu peito, achava que sabia o que fazer, mas com aquilo, viu que não tinha novas perspectivas. A todo o momento, pensava em como teria sido se ele não tivesse levantado a mão para Serena.

Era hora de vestir o seu traje e tentar se reorganizar.

 

 

 

Centro da Cidade de Primavera

 

Desolado e sentado no banco da praça, contemplava a tela branca no vazio de seus pensamentos. Era final de tarde e o local já não era tão movimentado, apenas frequentado pelos pombos e bustos de estátuas cheios de fezes das aves.

Arthur espalhava milho pelo chão.

Por que será que a gente compra um saquinho de milho só pra jogar no chão e alimentar os pombos?” — ele pensou, com raiva. — “Eles estão cagando pra gente e cagando na gente. Eles comem e devolvem em forma de merda, que mutualismo bonito”.

As lojas já estavam fechando, até mesmo o Wesley Salgadão Burguer, que não tinha mais cliente algum.

Arthur já estava pronto para recolher seu material de trabalho naquele triste pôr do sol, quando ouviu a voz familiar.

— Oi, pintor.

Ao virar-se para trás e ver quem o chamava, deu de cara com os cachos ruivos de mais cedo segurando uma bolsa de notebook.

— Ah, oi. — Sorriu desconsertado.

Coçou os olhos e suspirou.

— Tava chorando, pintor? — perguntou a garota.

— Não — disse ao rir, tentando menosprezar a hipótese, que era real —, que é isso?  Eu só fico assim quando estou sem meus óculos — que ele não usava. — A claridade me irrita.

A exceção eram os óculos de seu traje, talvez Arthur só se sentisse melhor como o Raiju.

— Ah, sei — respondeu a ruiva. — Você ainda tá fazendo retratos rápidos?

—  sim — disse, fingido estar animado —, eu sou o mais rápido da cidade!

Pegou seus pincéis em cima da mesinha, ao lado da rosa que comprara antes e limpou-os numa garrafa pet com o gargalo serrado cheia d’água e por um instante admirou a beleza da garota.

— Qual é o seu nome? — Arthur perguntou.

— É Catarina — respondeu ela.

O vermelho dos cachos da garota contrastava com os raios solares do sol poente.

— Você se importa seu eu... — disse o pintor, levantando-se de seu banco e indo até o dela.

Colocando uma mexa atrás da orelha da garota, prendeu-a com a rosa vermelha e sem espinhos.

— Agora sim, Catarina — falou animado. — Pura e casta, como o nome.

— Pode acreditar que não, pintor — rebateu a garota, sorrindo. — Melhor me chamar de Cacá mesmo.

— Beleza, craque da seleção pentacampeã. — Procurou o melhor ângulo para retratá-la. — Só fica paradinha aí. — A primeira pincelada foi dada. — Não que você tenha perguntado, mas o meu nome é Arthur.

A garota olhou ao seu redor, percebeu que uma picape preta circulava pela praça e isso a deixou apreensiva.

— Que nome legal, cara — falou, sem dar muito crédito.

— Não acho muito não, simplão — desdenhou a própria graça. — Arthur... “o bosta” — destacou.

O veículo parou pouco atrás do pintor, o vidro fumê desceu e o carona, um homem de óculos e cabelo lambido olhou para a garota.

— Olha, Arhur — disse a garota levantando-se. — Depois a gente termina o retrato.

Catarina levantou-se, andando ligeiramente em direção ao principal cruzamento do centro da cidade, no instante em que a picape arrancou.

— Catarina! — gritou o pintor. — Eu nem comecei direito!

Ao tentar atravessar a faixa de pedestres, a moça foi bloqueada pelo carro e o carona desceu com uma arma de choque empunhada.

— Entra sem chamar atenção, vagabunda — disse, ameaçador.

Catarina ficou assustada e sem atitudes, até que o homem avançou e desferiu uma coronhada na moça, abrindo um corte em sua testa e fazendo-a perder o equilíbrio.

Porém a ruiva não caiu, parou desequilibrada no ar. Parou como tudo ao seu redor, assim como o agressor, que ficou estático.

Arthur tirou a arma das mãos do meliante, recarregou-a e disparou contra o pescoço do homem,  soltando-a no ar em seguida. Entrou pela porta aberta do carona, bateu a cabeça do motorista violentamente contra o volante e olhou em seu crachá.

— Phoenix Labs — leu em voz alta. — Jacobo — disse entredentes.

Olhou para a garota e viu líquido verde descer de sua testa. Estava claro, era uma corrompida e aqueles eram mercenários de seu rival.

Arrumou a postura da menina ruiva para que ela não caísse, colocou novamente nas mãos da moça a bolsa de notebook que caía, parou e respirou profunda e lentamente. Já podia sentir o coração bater desacelerado, quando ouviu a brusca buzinada da picape, o homem de cabelo lambido cair com a tensão do choque e a moça ficar parada sem entender nada.

Catarina olhou à sua volta e assustou-se com Arthur atrás dela.

— Você... — disse, passando os dedos no sangue verde na testa. — Você é rápido.

— O mais rápido da cidade — falou desconfiado e, ao mesmo tempo, irritado —, eu falei. E você, quem é?

Não obteve resposta alguma, apenas a ignorância de uma correria inútil dela.

— Que garota sem noção — admirou Arthur, vendo o sangue verde no chão.

Pensou logo que ela daria muito na cara, sangrando daquela forma, numa cidade em que os corrompidos não eram vistos com bons olhos. Porém, a gota de seu nariz caindo lentamente o fez concluir: não era o sangue dela apenas.

   Olhou para frente e quanto mais a garota se distanciava, mais a sua visão tornava-se turva, mais parecia ofegante. Tentou um último fôlego para alcançá-la, entrando numa estreita rua comercial.

Congelada, Catarina estava ainda com os olhos arregalados de pânico, pouco mais a frente haviam dois policiais a observando. Arthur sabia o problema que seria, caso os homens vissem uma corrompida a sangrar na rua.

Ele tratou de ir até ela, respirou profundamente e lento.

— Catarina, para — pediu, ofegante.

 Ele apoiou-se na vitrine de vidro de uma loja e a garota olhou para o lado, vendo os homens da lei se aproximando. Cansado, o velocista enxugou as gotas de sangue verde escorrendo de seu nariz, pegou uma mecha de cabelo da moça e cobriu sua testa. Mas ainda não havia funcionado, eles continuavam vindo na direção dos dois, até Catarina puxar o garoto loiro pela gola de sua camisa e beijá-lo na boca.

O policial de óculos escuros Ray Ban parou, impressionado.

 — Ei! — gritou o oficial, com seu grosso e imponente bigode, parando o beijo. — Aí, não! — advertiu, reprovando o ato afetivo público.

 O rapaz assentiu ao policial com a cabeça e o casal deixou a vitrine de mãos dadas.

— Esses adolescentes pervertidos de hoje em dia, bicho — falou o bigodudo para si.

Eles andaram lentamente com o pescoço ereto e olhos assustados.

— O que foi isso? — indagou Arthur, cochichando.

— Eu quem pergunto! — devolveu Catarina, falando baixo, mas sua vontade era de gritar. — Não é rápido? Deveria ter tirado a gente dali.

— Você beija muito bem — elogiou o garoto, sorrindo.

— Obrigada, mas é uma boa hora pra você correr antes que apareça alguém — disse a ruiva, preocupada.

— Relaxa, lírios do vale.

— Ah, você também gera afeto tão rápido assim? — questionou a moça.

Arthur parou em frente a uma escada de corrimão que descia para um portão fechado.

— Ainda não acreditou que eu sou rápido em tudo? — Mostrou um molho de chaves, que tirou do bolso. — Vamos dar uma volta nas entranhas da doce Primavera.

 

 

 

Subestação de metrô de Primavera, terminal B

 

— Cacá, Aars — disse Arthur, mediando a apresentação dos dois. — Aars, Cacá.

De um lado, a ruiva. No meio, o artista. Do outro lado, o nerd. Na plataforma do terminal, um silêncio constrangedor pairou entre os três.

— Arthur, vem cá — chamou o irmão mais novo, sorrindo cinicamente.

— Ah, vão ter uma reuniãozinha? — perguntou a garota. — Vou precisar da senha da wifi por enquanto — disse a moça, tirando seu computador da bolsa.

Os dois afastaram-se um pouco da garota e conforme mais distantes, as feições de Aarseth mudavam.

— Qual é o seu problema com ruivas? — perguntou o hacker, sério. — Não dá pra deixar a porra do passado na casa do caralho e não dar pinta que aqui é a porra da base do Raiju?

— Ela deve saber que eu sou o Raiju — disse o irmão mais velho, esperando apenas pela reprovação do outro.

— Cuzão — revoltou-se. — Tu é um cuzão, é isso que tu é.

— Eu não tava com meu uniforme na hora e ela tava em perigo, é uma corrompida, uma de nós. — O rapaz louro franziu o cenho, preocupado. — Eu tinha que ajudá-la.

Os cachos negros foram coçados com força, Aars arrumou os seus óculos.

— Essa garota é incrível, cara.

— Pegou, não foi? — indagou o irmão mais novo.

— Não, tecnicamente não. — Arthur tentou explicar, desajeitadamente. — Mas o que eu quero dizer é que os homens do Jacobo estavam atrás dela.

O sorriso cínico brotou no rosto de Aarseth novamente.

— Ruiva, corrompida, mercenários do Jacobo. — Riu forçado. — História velha essa, hein?

— É, verdade — disse o mais velho, ao suspirar. — Cara, escondi o meu material na praça. Você pode fazer companhia a ela até eu...

— Vai rápido, trouxa — respondeu, sentindo apenas o vento da velocidade do rapaz ao deixar a plataforma.

Aarseth, desconfiado, olhou para a Catarina, que sorriu timidamente.

— Beijou ele? — indagou o hacker, aproximando-se.

— Ele tava dando um treco, eu tinha que arrumar um jeito de disfarçar pros canas correndo atrás da gente — respondeu Catarina, com um sorriso sádico no rosto. — Eram pra ele os nanobots?

O rapaz consentiu com a cabeça.

— Ele se apaixona fácil, é um bobão — disse Aarseth, impaciente. — Não devia ter feito isso.

— Ciúmes? — questionou a moça, indagando de sobrancelhas arqueadas. — Sabe que eu só tenho olhos pra você.

Ele segurou-a pela cintura, passou a mão em seus cabelos cacheados, acariciou a bochecha da ruiva com o polegar e aproximou-se, até os lábios de ambos se encontrarem.


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