WSU's Raiju escrita por Lex Luthor, WSU


Capítulo 2
Cansado




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Os ventos eram cortados pelas ruas da pacata Primavera. Aquela cidadezinha mineira, mas de costumes cariocas. Por estar na fronteira entre os dois estados, assimilava elementos de ambas às culturas. Uma coisa era certa, os habitantes não eram tão acostumados com aquela velocidade. Tanto, que mal podiam perceber ali a presença do jovem rapaz, além do mais, seria impossível para os olhos humanos.

Arthur caminhou lentamente, enquanto observava o trânsito parado no sinal verde de uma avenida lotada de carros. Para ele, estavam todos congelados.

Andando mais alguns metros, percebeu uma menina olhando para o alto de uma árvore, como se clamasse por seu gato, de braços estendidos para a volta do animal. O imperceptível rapaz escalou o tronco e segurou o felino. Desceu e levou-o ao colo da dona.

Ele admirou o seu feito, um simples e solidário feito. Parou olhando em volta de si mesmo, percebeu a ultrapassagem errada de um motoboy. Certamente haveria uma colisão com o caminhão mais à frente, mas, como se fosse alguém da família, Arthur atrasou por centímetros a motocicleta do infrator, evitando a colisão.

A todo instante ele estava em muitos lugares, fazendo muitas coisas, sua velocidade era uma benção.

Não, talvez não.

Mais à frente, uma discussão entre dois homens. Um deles apontou uma pistola para o outro, que tinha suas mãos erguidas ao alto. O rápido rapaz observou-os, viu a faísca brotando lentamente do cano da arma e o projétil seguindo em direção ao alvo.

Ele segurou a bala, admirando-a, soltou-a no ar fazendo-a refletir os raios solares. Observando o atirador, pensou no quão fútil foi a discussão de ambos, ao ponto de chegar perto de uma vida ser tirada. Puxou a arma das mãos do homem e saiu como um trem bala, a ventania fez com que os brigões se olhassem sem entenderem realmente o que aconteceu.

Olhou em volta de si por mais uma vez e viu as pessoas estáticas. Como alguém poderia perceber os seus feitos? Arthur vivia num mundo de um cara só, onde apenas ele poderia decidir e contemplar o que fazer. Por mais bons que fossem, só ele enxergaria os seus atos.

Correu a todo gás e, paralelamente ao velocista, a força elétrica produzida do atrito de seus pés ao chão formava faíscas azuis, que o acompanhavam até ele parar. O ponto era a entrada do túnel da estação subterrânea de metrô superfaturada e abandonada de Primavera. Uma placa de “trecho em obras”, envolvida pelas ervas daninhas, bloqueava a passagem.

Ele fechou seus olhos, inspirou profundamente e relaxou.

À medida que o ar saía de seus pulmões, as faíscas de eletricidade sumiam aos poucos, tudo ficava mais lento e era tão aborrecedor para ele, tão árduo e dificultoso até mesmo contemplar os raios de solares em seu rosto, que um rosnado de ódio bradou de sua garganta.

Com a arma em punho, ele olhou aos céus e contemplou a estrela maior do sistema solar. Ofegante, apontou a pistola ao Sol e disparou, disparou, disparou, até o pente de munição se esgotar. Inútil.

Se esgueirando pelas brechas da passagem, ele adentra nas escuras do túnel e caminha, para nós, uma caminhada normal de alguns metros e para ele, uma eternidade. Ao chegar na primeira das plataformas de embarque, os velhos alto-falantes soam alto.

Qual é senha? — indagaram os alto-falantes, numa voz masculina e jovial.

Arthur tirou seu capacete azul, muito semelhante ao de um gladiador romano. A viseira transparente e dourada protegia seus olhos dos atritos causados pelas altas velocidades enquanto corria.

— E tem uma, porra?! — esbravejou, pondo o capacete na cintura.

O som de microfonia ecoou pelo ambiente pouco arejado, iluminado por fracas lâmpadas de led da estação.

Tem razão — respondeu a voz.

A porta eletrônica da bilheteria se abriu e, dela, um jovem rapaz de óculos fundo de garrafa e blusa preta do Led Zeppelin saiu.

— Depressa, Aarseth — disse Arthur, ao sentar-se num dos acentos de espera da estação.

O jovem moço coçou seus negros cabelos encaracolados, quando tirou de seu bolso uma seringa. Estendendo o braço, o garoto loiro ouviu de seu parceiro:

— Calma, Raiju.

A breve fala arrombou os cadeados mentais da mente do velocista e lhe remeteu às doces memórias recentes de uma moça ruiva, segurando em seu braço assim como acontecia ali.

Vai ficar bem melhor a cada dia — disse a garota, dando-lhe um beijo na testa.

Mas agora não era a ternura daqueles doces lábios que tocavam o seu rosto, era uma agulha afiada errando sua veia.

— Puta merda, errei a veia — lamentou Aarseth.

— Nem reparei — murmurou o paciente.

O incômodo da dor o fez ranger os dentes. Observou o braço cheio de hematomas e furos ao redor do que seria o correto local da aplicação.

— Você deveria no meio dessas marcas, acho que é o alvo certo — comentou ironizando o erro do irmão. — Saudade da Serena.

— Sim — rebateu sorrindo irônico —, ela ainda estaria aplicando suas doses de tranquilizante para mamíferos de grande porte, caso tivesse contado a verdade sobre seu tumor cerebral e não dito que era insulina.

A veia foi acertada. O conteúdo da injeção adentrou na corrente sanguínea de Arthur, fazendo com que suas pupilas se dilatassem.

Ele fechou os olhos, relaxando, sentiu seu coração pulsar mais lento e suspirou.

— Como foi o dia hoje? — perguntou, Aarseth.

— Uma merda — respondeu o velocista, de olhos fechados.

— Tudo normal, então — desdenhou.

O rapaz alvo, observando a dificuldade de seu irmão concentrar-se devido à forte droga, pegou a seringa e decidiu, dando as costas, voltar para sua bilheteria. Melhor dizendo, seu quarto lotado de computadores de ponta.

— Aí, Aars — chamou o velocista, já não mais tão velocista.

Arrumando os óculos no rosto com o indicador, o fã da banda londrina franziu a testa.

— Qual foi? — perguntou, preocupado.

Olhando para cima e pensando, Arthur indagou:

— Não está cansado? — perguntou, com uma voz sonolenta.

Aarseth sorriu.

— Tenta cochilar, isso é efeito.

— Não — disse, olhando para o irmão. — Tenho a sensação de que eu corro sempre na direção errada. Heróis podem ser admirados, mas os corrompidos ainda são odiados.

— Cara, isso não é problema nosso. Você mesmo me fez entrar nessa e até servi sopão em favela, somos corrompidos e fazemos o bem gostem ou não. Ponto.

Arthur bocejou e sorriu.

— É, ligado — riu, lembrando-se de seu irmão vestido num avental, servindo um caldeirão de caldo verde. — Parece uma corrida sem fim — desabafou, suspirando.

— Tá legal, término de namoro é assim mesmo — ironizou. — Daqui a um tempo vamo tá rindo de tudo isso e você levando beijo de namorada, Romeu.

A piada não fez o jovem rapaz esboçar alegria alguma.

— O futuro é nublado, Aars — Arthur coçou seu nariz. — Eu sou só um cara, um com a cabeça pra estourar a cada dia.

Aquelas palavras fizeram Aarseth baixar sua cabeça. Sabia mais do que seu irmão, que ele estava certo. As drogas davam apenas mais alguns dias de sobrevida.

— Mas enquanto eu tiver você — disse Arthur, cerrando os olhos —, os dados ainda estão rolando.

O velocista adormeceu sentado.

Seu irmão, aproximando-se, o contemplou. Repousou sua mão sobre o peito no uniforme azul e sentiu a profunda respiração.

— Descansa um pouco, Raiju — despediu-se, com um beijo na testa do irmão.

 

 

 

Banco Federal da Cidade de Primavera

 

— Minha senhora, eu sou gerente concursado do banco. Não quer dizer que me confiaram a senha de um cofre do governo federal — disse o senhor, grisalho com mãos trêmulas.

A mulher com máscara de Dilma Rousseff apontou sua escopeta para a cabeça do senhor e disparou, espalhando sangue e miolos pela grande porta circular do cofre.

— Mentirosos tem poucas probabilidades de sobreviver comigo — disse a mulher, abaixando-se para apanhar a capsula do projétil.

Em seu ouvido, uma voz feminina e jovem, preocupa-se através do comunicador:

Jesus, Azar! — ela assustou-se. — Você matou o gerente? Como vamos abrir o cofre?

— Calma, Farol — a mascarada, respondeu tranquila.

A mulher armada direcionou-se ao painel de dígitos do cofre e inseriu uma senha de composta por dez números. As catracas giraram-se automaticamente, a porta do cofre foi aberta.

— Quem disse que precisávamos daquele concursadinho federal do banquinho?  — atirou seu escárnio. — Parece que vocês esquecem que eu consigo enxergar milhares de possibilidades por segundo — Azar sorriu, ao dizer. — Avisa ao Lula, que eu já saio com a bagagem.

Na sala de espera do banco, um homem também armado de escopeta e máscara do ex-presidente Lula, mantinha uma dúzia de reféns. Logo, recebeu um recado em seu comunicador.

Aí, Zero-K! — chamou Farol. — É melhor colocar os reféns dentro da sala do caixa, a Azar já tá pronta.

— Tranquilo — respondeu o ex-presidente, cortando a comunicação. — Todo mundo para a sala do caixa, abram as bolsas que deixamos lá! — exigiu, gritando imperativo. — Sem dar um piu!

Os reféns fizeram o que foi mandado, até o mascarado também o faria.

Se não fosse pela ventania, quase arrancando o seu macacão.

Se não fosse pela azul corrente elétrica a assustá-lo.

— Sou um grande fã seu, companheiro — falou a voz deformada.

O bandido virou-se e contemplou o herói, o veloz Gladiador secreto de Primavera.

— Mas roubando assim na cara dura, não rola. Eu desacredito da sua hombridade — disse, ao correr na direção do mascarado.


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