No meio de tudo escrita por lissaff


Capítulo 2
Capítulo 1 - Por Ele




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Toda a minha vida passava pelos meus olhos.

Minha carreira na polícia, minha família longe de mim, tudo. Eu sempre achava que isso era bobeira de filme, mas os flashbacks eram tão reais quanto esse tiro no meu peito. O que aconteceu com o colete? Por quê não funcionou? Só pode ter sido um tiro de uma arma ponto 40 para cima.

Pressionei a ferida, tentava não entrar em desespero com o sangue escorrendo pelos meus dedos. Comecei a orar, quando você é um policial nos dias atuais, sua fé é  importante para manter sua sanidade.

— Ei Deus, não sei se você está aí, mas eu tô precisando de uma ajuda sua. Não quero morrer, eu vivi tão pouco. Não estou pedindo sua salvação divina, mas me mande um socorro, um sinal se viverei ou morrerei. Amém.

 

Deitei a cabeça na terra, lembrei do Lúcio, meu companheiro, se eu morrer agora, por tudo seja mais sagrado, que ele tenha pegado o Rosa Branca, ou ao menos achado uma pista relevante até ele.  “Emergência! Tem alguém aqui? Emergência!”.....Espera, isso é uma voz? ...Esperei um segundo grito para ter certeza que não estava delirando. “Emergência!” A voz feminina soou como canto angelical no meu ouvido, enchi o peito para gritar.

— Aqui! Pelo amor de Deus! Aqui! - Minha voz saiu fraca, gemi de dor a cada palavra, o sangue subiu pela minha garganta, eu estava piorando e Deus tinha mandado a minha salvação.

Esforcei minha cabeça ao máximo para conseguir ver se viria alguém, prendi o ar, recuperando as forças para  caso precisasse gritar de novo, vi botas pretas fazendo um círculo, como se a dona daquele pés estivesse procurando ao seu redor, colhi cada força que ainda tinha em meus músculos e gritei.

— AQUI!

Assim que a voz acabou minha visão escureceu, fechei os olhos tentando não desmaiar. Com os olhos ainda fechados, escutei uma bolsa caindo no chão e senti pernas no meu lado, só consegui agradecer pela salvação quando mãos entrelaçaram nas minhas pressionando a ferida.

— Médica para USA Tango, Ronaldo, ta ai? Médica para USA Tango. - Sua voz era doce mesmo ela tentando ser firme. ela passou uma mão coberta por luva no meu rosto, - Oi, meu nome é Helena, sou médica da emergência, consegue me dizer seu nome?  

Helena, minha salvação tinha nome, não sei porque ainda não conseguia abrir os olhos,

— Bernardo. - Respondi baixo, uma bolsa de sangue veio com força e saiu pela minha boca. – Bernardo, vou cuidar de você tá bom? Fica comigo, fala comigo. - Ela tirou sua mãos do meu peito, assenti ainda de olhos fechados. – Você lembra o que aconteceu? - Ela perguntou enquanto rasgava meu colete e minha blusa com uma tesoura, em outras ocasiões eu me sentiria ofendido ou até atraído por uma mulher que rasgava minhas roupas, mas agora eu não conseguia nem pensar direito, imagina flertar. – Alguém atirou em mim enquanto atirava nele. - Respondi a primeira coisa que veio em minha mente. Sentia que ela jogava água em mim e falava consigo mesmo frases como “preciso levar pra ambulância.”; “essa bolsa não tem nada que preciso.”; “cadê a Bárbara?”– Quem é Bárbara? - Perguntei curioso, não estava mais em minhas sanidades mentais.  Eu daria tudo para ver o sorriso que ela deu antes de me responder, mas os meus olhos continuavam sem querer abrir.– É a minha colega de equipe. - Ela fechou minha ferida com esparadrapo, mas já? tão rápido. - Bernardo, me escuta, eu preciso te levar para ambulância, mas ninguém me respondeu. Eu vou te carregar, tudo bem?

Ri ironicamente, eu pesava uns 90 quilos de músculo, e pelo que senti de suas mãos, minha salvação era magra demais para me carregar. Porém, culpe o desespero para sobreviver ou a vontade de ver a dona daquela voz totalmente sã, acabei assentindo.

— Tudo bem. - Ela respirou aliviada. - Eu vou fazer assim, vou te arrastar um pouco, tento contato pelo rádio e se não conseguir continuo. - Ela não deixou eu responder e já estava entrelaçando meus braços nos delas

Ela tinha técnica, não parecia estar desengonçada como imaginei que seria. Para ser sincero, eu conhecia aquela técnica, era uma técnica de resgate usada no exército quando seu companheiro está ferido. O modo como o braço do ferido e do que está levando se encaixa faz com que o ferido não se agrave e aquele e está levando não se machuque.

Sussurrei um “obrigado” para qualquer que fosse a Santidade que tivesse levado aquela mulher até mim, enquanto nos locomovemos, percebi que os tiros estavam calados. Se o tiroteio tinha cessado, por quê ninguém tinha ido me buscar? Talvez eles estavam em busca por meliantes, ou o tiroteio só tinha mudado de lugar, de qualquer maneira algo tinha acontecido, Lúcio não me deixaria para trás.

Helena parou de me arrastar, ficou de joelhos perto de minha cabeça e finalmente consegui abrir os olhos. Enquanto ela checava meu tiro, a visão que eu tinha era de seu corpo por cima do meu, o macacão azul escuro da emergência marcava a cintura e mostrava um corpo curvilíneo,  a forma dos seios acabou me deixando sem graça quando vi a etiqueta “médica” no macacão; Seus cabelos castanhos claro estavam presos em um rabo de cavalo e o comprimento caído sobre seu ombro, ela voltou a falar com o rádio, que pareceu responder pelo seu sorriso de alívio.

— Boa notícia Bernardo, não vou precisar mais te carregar.– Graças a Deus. - Consegui rir, ela também riu. Ficamos esperando o resto da equipe chegar.

Não demorou muito e um homem e uma mulher chegaram com prancha e mais bolsas, colocaram colar cervical em mim, me moveram para cima da prancha, me imobilizaram e os três me levavam para ambulância.

Helena sorriu para mim e disse.

— Agora vou conseguir salvar você.

 


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