Trevo de Quatro Folhas escrita por Dixon


Capítulo 1
Lugar Secreto


Notas iniciais do capítulo

Oi galera, tudo bem com vocês? Depois de anos, um casal me conquistou o bastante para me convencer a voltar a escrever (EU AMO UM CASAL). Espero que gostem.
Só tenho alguns avisos para vocês antes:
01 - Assim como vocês querem uma cena Aurieta na cachoeira, eu também quero (hahaha), então eu escrevi essa fanfic, mas essa cachoeira não é aquela que sempre aparece na novela. É um lugar que ninguém vai, para os nossos pombinhos não serem interrompidos (hummmmm)
02 - Eu não sei quando postarei os próximos capítulos, pois faço faculdade a noite e trabalho o dia inteiro, e tá puxado meus amigos.
03 - Eu sou péssima com títulos de histórias e de capítulos, desculpe por isso.
04 - Escolhi esse nome (sim, é aquela música), porque acredito que o Aurélio é o Trevo de Quatro Folhas da Julieta, e vice e versa.
05 - Coloquei essa foto da Gabriela Duarte na capa porque é assim que eu imagino que a Julieta vai deixar o cabelo quando ela se soltar mais na novela (seria fofo a Julietinha com esse cabelinho de princesa, não é mesmo?)
06 - Desculpem os erros de ortografia e qualquer coisa me avisem que eu corrijo.
07 - Aproveitem a leitura. Beijokas e até o próximo capítulo.



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Essa era a primeira vez que Julieta estava naquela cachoeira. Os cidadãos dali sempre comentavam que o pequeno Vale do Café possuía lindas paisagens e ótimos lugares para se refrescar, e agora, vendo com os seus próprios olhos, não poderia dar mais razão para tais pessoas.

Os últimos dias têm sido turbulentos e caóticos. Camilo está tendo uma crise de juventude e resolveu rebelar-se, Xavier tenta a todo custo ceifar com a sua vida, Susana não consegue resolver nenhum problema por conta própria e Aurélio parece ter prazer em confundir e nublar os seus pensamentos com todos os seus beijos, toque e palavras. Ela quase riu ao lembrar-se deste homem petulante que insistia em expor os seus sentimentos para quem quisesse ouvir. Certamente, ela precisava descansar e não poderia ter escolhido lugar melhor do que essa cachoeira silenciosa e pouco frequentada.

Fez questão de que seu motorista pesquisasse um lugar pouco frequentado para que ela pudesse ir e simplesmente relaxar. Assim que ele encontrou, a Rainha do Café agarrou a primeira manta que viu em sua frente e pediu para que a levasse até lá. Após deixá-la no local dispensou o homem e disse para voltar daqui uma hora, e conhecendo-o tinha certeza de que voltaria para buscá-la pontualmente.

Agora ali estava ela sozinha, com os seus olhos brilhantes observando as águas escorrerem forte e abundantemente entre as pedras, enquanto a brisa suave e fresca bate em seu rosto e refresca o seu corpo coberto pelo pesado vestido preto. Esticou a manta na grama rente a borda do rio, deitou-se e fechou os olhos enquanto escutava a natureza interagir e sentia a luz do dia tocar a sua pele.

Ela precisava disso, de um tempo para si. Estava sempre rodeada por pessoas e resolvendo questões, além do mais, é difícil se manter forte e fria em todas as situações, exige muito esforço emocional e até mesmo esforço físico. Nesse raro momento se deu ao luxo de tranquilizar a sua mente, seu corpo e simplesmente não pensar nos problemas, medos ou traumas.

Alguns minutos se passaram e sua mente estava limpa, tranquila e completamente relaxada, seu corpo reagia da mesma maneira. Sentia-se pegando no sono lentamente. Até que seu pequeno momento foi interrompido.

— Ora, ora, parece que Julieta Bittencourt resolveu deixar a sua toca e conhecer um pouco do Vale do Café. — A voz firme de Aurélio fez com que ela abrisse os seus olhos imediatamente. Encontrou-o em pé, olhando diretamente pra ela, e por um momento, não pode evitar perceber como a luz do dia em contraste com o formato do corpo do homem o deixava elegante.

— O que é isso? O que o senhor está fazendo aqui? — Abruptamente a morena sentou-se e com o isso o filho do Barão soltou uma leve risada. — O senhor está me seguindo?! — Toda a tranquilidade e leveza haviam desaparecido, sua voz estava alterada e os seus olhos demonstravam indignação.

— Além de patético e petulante, a senhora agora acha que eu sou um louco que segue mulheres? — Ele ergueu as sobrancelhas e respirou fundo. — Ao contrário do que pensa, eu não estou lhe perseguindo. Eu tenho por hábito vir todas as quartas-feiras até essa cachoeira.

Após a dolorosa perda de sua esposa, Aurélio passou a frequentar este local toda quarta-feira. Era ali que podia deixar as lágrimas correrem livremente pelo rosto e lamentar sem ninguém vê-lo, sem precisar encarar os olhares de dó que cercavam ele e sua filha.

Os anos se passaram, a dor da perda diminuiu, mas o costume de ir observar a cachoeira continuou, pois, neste ambiente ele podia refletir calmamente e reviver bons momentos, ali se sentia livre.

Julieta o olhava com desconfiança, não sabia se realmente podia acreditar nas palavras do homem, afinal de contas, desde que a conheceu insiste em cortejá-la em todas as oportunidades possíveis. Por outro lado, o Vale do Café afirma fielmente que o filho do Barão é um exemplo de boa índole, por isso, ele poderia estar falando a verdade. Mais uma vez, Aurélio a deixara confusa.

— Bom, eu vim até aqui para descansar, mas vejo que isso não será possível. — A Rainha do Café levantou-se e passou as mãos sobre a vestimenta de rendas pretas. — Sendo assim, deixarei o local antes que não possamos mais ser civilizados e manter uma conversa respeitosa.

— Espere Julieta! — Aurélio interrompeu antes que a mulher pudesse fazer qualquer outro movimento. — Você não precisa ir, não precisa sair correndo apenas porque estou aqui. Você precisa descansar, assim como eu também preciso. Podemos ficar ambos aqui e ser civilizados, tenho certeza disso. — Ele exibiu um sorriso de lado, meio desajeitado e nervoso.

— Acredito que não seja uma boa ideia. — Julieta afirmou com a voz cheia de razão.

— Se são os meus cortejos que a preocupam, lhe afirmo que não deve se afligir com isso. Não farei qualquer coisa capaz de constrangê-la. Eu lhe dou a minha palavra. — A voz do homem esbanjava sinceridade e o seus olhos transmitiam a certeza de que estava dizendo a verdade. — Sentarei do outro lado e nem ao mesmo lhe dirigirei a fala.

Julieta o observou enquanto cogitava a ideia. A verdade é que mesmo se quisesse sair correndo dali, ela não teria como voltar para a sua residência imediatamente, pois havia dispensado o motorista.  O caminho era longo e também era perigoso voltar caminhando sozinha para casa com todas as coisas que estavam acontecendo. Resolveu ficar e ao tomar tal decisão o seu coração involuntariamente se encheu de alegria.

— Eu ficarei. — declarou. — Mas ficarei apenas porque não tenho como voltar para casa imediatamente.

Apesar do seu coração estar regozijado ela não se permitiu demonstrar isso para o homem que a fitava. Manteve a sua postura ereta, a cabeça levemente erguida e expressão facial séria por alguns segundos, e em seguida, voltou a sentar-se na manta que anteriormente havia estendido na grama.

Aurélio a observou se acomodar e em seguida começou a se direcionar para o outro extremo do rio, pois, foi isso que havia prometido para Julieta e ele iria cumprir a sua palavra. Os seus passos foram interrompidos pela voz da Rainha do Café.

— Pode sentar-se em minha companhia, caso queira. — A voz firme falou rapidamente e Aurélio virou-se e a encontrou o olhando atentamente. — Afinal, o senhor disse que podemos ser civilizados e eu acredito que esta é uma boa oportunidade para testar a sua teoria, não acha?

A verdade é que Julieta queria estar na companhia de Aurélio Cavalcante. Ela não sabia dizer o porquê e jamais confessaria isso para ele ou até mesmo para ela própria, mas apenas hoje se permitiria esperar ansiosamente pela companhia do homem.

O herdeiro do Barão se surpreendeu com a proposta e cogitou a ideia por alguns segundos, mesmo sabendo que não seria capaz de negar tal convite inesperado.

— Eu acredito que a senhora esteja certa. — Um sorriso sincero nasceu nos lábios dele, e apesar de séria, a Rainha do Café se reajustou na manta, para que Aurélio pudesse se sentar, e assim ele fez.

Ambos estavam lado a lado, sentados, em frente a uma cachoeira. Isso parecia ser inacreditável tanto para Aurélio quanto para a Julieta. Alguns minutos de silêncio se passaram.

Este silêncio era constrangedor, mas ao mesmo tempo reconfortante. Aurélio então, sempre impaciente, resolveu quebrar o momento de quietação.

— Já que a senhora está dividindo a sua manta comigo, nada mais justo do que dividir a minha comida contigo. — Aurélio levantou um pequeno saco marrom em suas mãos, e exibia um sorriso brincalhão. Julieta nem ao menos tinha reparado que ele carregava tal saco. — Eu sempre trago uma maça e uma pera quando venho aqui. Qual que a senhora irá querer?  — Ele falava enquanto remexia no pacote.

Novamente o olhar de desconfiança caiu sobre os olhos da viúva. O homem agora estava com as duas frutas na mão, exibindo para ela enquanto tinha uma feição alegre em seu rosto. Fazia muito tempo que alguém não a oferecia coisas simples como uma fruta e ainda mais de livre espontânea vontade. As coisas oferecidas sempre eram imóveis e dinheiro, de maneira obrigada, e somente nas negociações.

— Julieta, é apenas uma fruta. Eu juro que não está envenenada. — Aurélio soltou uma risada envergonhada, seu objetivo era tentar acalmá-la e mesmo sem saber, ele conseguiu — Então, a maça ou a pera?

— Pera. — De maneira simples e rápida ela respondeu e apontou para a fruta.

— Boa escolha. — Ele entregou o pomo para Julieta que a pegou imediatamente. — Além do ótimo café que nossa pequena cidade possui, nós temos um senhor que produz peras deliciosas. — Ao terminar a frase ele mordeu um pedaço de sua maça.

— Sério? — Julieta observou o fruto em suas mãos. Exibia uma cor verde e saudável, parecia ser realmente saborosa. Isso chamou a sua atenção.

— Sim, o nome deste senhor é Augusto Damião. Vende apenas para as pessoas do Vale do Café e não tem interesse em distribuir em outras cidades. Já escutou falar dele? — Ao questiona-la, esta apenas balançou negativamente a cabeça e mordeu um pedaço da fruta, realmente era deliciosa.

.— Ele mora ao lado da propriedade dos Ferreiras. Garanto que adoraria receber uma cliente como a Rainha do Café. — Aurélio disse educadamente e voltou a observar a paisagem em sua frente.

.— Eu não tinha conhecimento disso. É realmente muito saborosa esta fruta. — Julieta mordeu novamente a fruta, sentindo o doce e suculento sabor em sua boca. — Ele deveria pensar em vender para outras cidades, garanto que teria grandes lucros, claro, se bem administrado.

.— Ele não visa lucro, faz isso porque gosta, e também dinheiro não é problema para os Ferreiras. Além do mais, o Vale do Café tem muitas qualidades que a senhora desconhece. — Tais palavras fizeram com Julieta olhasse atentamente para Aurélio.

Ela estava pronta para que as próximas palavras dele fossem para cortejá-la, na verdade, no fundo esperava que fossem. Alguns segundos se passaram, sem nenhuma palavra, apenas os dois olhares cruzados e a expectativa das próximas palavras.

— Como, por exemplo, o campo do senhor Aguiar. — Continuou Aurélio, quebrando a expectativa que Julieta havia criado. — Lá é um lugar lindo! A grama é verdinha! E tem árvores com frutas e sombra maravilhosa! — O filho do Barão se entusiasmou, fazendo com que um breve sorriso nascesse nos lábios de Julieta, nunca o vira tão animado. — Mas se você for lá deve estar preparada para ver os meninos correndo de um lado para o outro com estilingue nas mãos, pois lá é o ponto favorito dos garotos brincarem. E aqueles garotos! Ah! Aqueles garotos são muito travessos! — Aurélio soltou uma breve risada. — Muito mais travessos do que eu e meus amigos quando crianças.

— Mesmo? O senhor era travesso quando criança? — Julieta ergueu as sobrancelhas. Estava surpresa. Não podia imaginar Aurélio, que sempre era educado, ético e sério, como um menino travesso.

— Sim, eu era! Inacreditável não é? — Aurélio sorriu. E sem ao menos perceber, Julieta sorriu também. — Nós costumávamos brincar no campo do senhor Aguiar também. Uma vez, todos estavam brincando com estilingue, mas estávamos muito próximos da residência, e quando disparei a pedra do meu, eu acertei a janela da casa do homem. — Ele esticou o braço e fez sinais, representando como tinha disparado o estilingue.

— Eu não consigo acreditar que o filho do Barão tenha feito isso! — O tom de voz da Rainha do Café estava contente e incrédulo com o que acabara de ouvir.

— Pois acredite! — Continuou animado — O senhor Aguiar saiu furioso da sua casa, todos os outros meninos fugiram correndo e apenas eu fiquei. Eu estava sem reação! — Aurélio estava rindo entre as suas palavras, enquanto Julieta o ouvia divertidamente. — Ele me levou até a casa do meu pai, e o Barão ficou irado! E então, todos os dias, durante cinco meses, tive que cuidar dos cavalos do senhor Aguiar.

Julieta riu enquanto ouvia a história do homem. Na sua mente imaginava o pequeno Aurélio, brincando com os seus amigos e fazendo travessuras. Também imaginava o Barão irado ao ver o seu menino, sempre tão educado, aprontando por aí. Se bem que não era muito difícil de pensar no Barão de Ouro Verde nervoso, aquele homem vivia a beira de um colapso.

Ao vê-la rir, Aurélio tinha a certeza de que aquela era a visão mais bonita que já havia visto. A risada de Julieta era como uma música doce e lenta para os seus ouvidos. E pela primeira vez tinha a certeza de que tinha visto a verdadeira Julieta em sua frente e não a Rainha do Café.

Ele não podia deixar que ela voltasse a ficar séria depois de ver o lindo sorriso que possuía, então, continuou a contar as suas travessuras e da outros garotos, e até mesmo, das crianças de hoje.

Julieta relaxou, a sua postura já não estava mais ereta, a sua mente estava livre de qualquer problema e o sorriso permanecia em seus lábios, o seu objetivo de relaxar tinha sido atingido. Comeu a sua fruta enquanto ouvia as engraçados história que Aurélio lhe contava. O Vale do Café parecia ser um lugar muito especial, e agora entendia porque as pessoas que ali moravam eram tão felizes.  

Antes que pudesse se dar conta a tarde havia passado e ouviu o carro se aproximar. Esses veículos eram inovadores, mas faziam um baralho que podia ser ouvido de longe.

O coração de Julieta se entristeceu, uma vez que agora teria que ir embora e deixar essa tarde maravilhosa para trás. Era hora de voltar a ser Julieta Bittencourt, a Rainha do Café, fria, calculista e implacável, já que os problemas ainda a estavam esperando para serem resolvidos.

— Bom, eu preciso ir embora agora. — Julieta levantou-se, e Aurélio fez o mesmo.

Ele analisou que a postura dela já estava diferente novamente, ela voltou a ser a Rainha do Café. Exibia em seu o rosto aquele semblante sério e destemido. Já não havia restado mais nada da Julieta sorridente em suas afeições. Observou ela se abaixar e pegar a manta em suas mãos, sacudindo-a e a dobrando de uma forma impecável.

— O senhor estava certo, podemos ser civilizado. — Disse com a voz firme — Obrigada pela fruta e pela conversa. Tenha uma boa tarde. — Assim, sem muito sentimento e cerimônia ela se despediu. O seu coração doía de estar partindo, mas era necessário. Virou-se e começou a caminhar em direção as árvores, que depois de atravessadas dariam ao carro que a esperava.

— Julieta! — Aurélio a chamou, fazendo com que ela se virasse quase que imediatamente para ele. — Na próxima quarta-feira, no mesmo horário, estarei aqui novamente. Está convidada para se juntar, caso queira. — O filho do Barão manteve um olhar esperançoso, e ela pode ver isso.

— E por que eu me juntaria a você? — Julieta o fitou com as sobrancelhas erguidas. Aurélio não sabia por que essa reação, nem ao mesmo ela sabia o porquê reagia dessa maneira com todos a sua volta. Mas Aurélio não deixou se abater por essa reação.

— Depois de uma tarde com uma boa conversa e uma boa vista, a pergunta que fica é: Por que você não se juntaria a mim? — Aurélio exibiu um sorriso torto e travesso em seus lábios, e por um momento, Julieta teve um vislumbre daquele menino que ele lhe falara esta tarde.

Sem que ela pudesse responder ele virou as costas e seguiu o seu rumo. Julieta apenas ficou ali parada com um sorriso plantado em sua face, observando-o ir. Após Aurélio desaparecer completamente em meio as árvores, ela caminhou animadamente até o carro onde o motorista a aguardava e seguiu o seu caminho para casa, muito mais feliz e relaxada. Com certeza, estaria ali novamente na quarta-feira.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Beijokas e até a próxima!