Vanessa já esperava comoção, irritação, incredulidade. Esperava até que tentassem jogar ela escada a baixo. Mas nunca esperava uma história como aquela. Claro era a família do melhor amigo de seu pai, por isso decidiu ir alí primeiro em sua tarefa de explicar que magia e bruxos existem e virar de cabeça pra baixo a vida daqueles trouxas. Mas mesmo assim aquela surpresa que Baltazar havia deixado... um ultimo ato de rebeldia. Felipe girou a caixa de cabeça pra baixo deixando cair uma enxurrada de moedas de ouro, prata e bronze. Mas até do que parecia ser capaz para a pequena caixa de madeira.

Não se espantou com a surpresa e incredulidade de Teresa, mas foi recompensador ver o rostinho feliz de Felipe.

— Ta ai a herança, Teresa.

Mas ela é do seu filho e apenas do seu filho. Se era possível Teresa parecia mais nervosa, quase com raiva.

— Esse ouro todo dentro de casa e a senhora nunca nos contou!

— Minha filha sinceramente eu não sabia o que tinha nessa caixa. Eu mesmo nunca consegui abrir.

— Mas..

Continuou a filha, mas foi interrompida pelo filho.

— Mas por que meu avô deixou isso para ser aberto por mim? Por que? Você disse que ele tinha deixado a senhora. Eu nunca gostei tanto do vovô por conta disso, mesmo respeitando as lembranças da senhora que nunca tinha nada de errado pra falar dele.

— Verdade, você sempre me recriminou por namorar o pai de Felipe, mas ele nunca me abandonou, antes de..

— Então acho melhor contar o que eu nunca tive coragem de dizer, por que sabia que ninguém iria acreditar. Eu conheci seu pai quando tinha 15 anos e ele 19 em uma festa e começamos a namorar logo depois, quando nos casamos ele se revelou pra mim e eu passei a entender muitas das coisas que ele fazia. Quando eu estava grávida de você ele trabalhava como Aur.. Auro.. Enfim mas parece que as coisas estavam mudando naquela época e os bruxos acho entraram, em Guerra. Um dia seu pai chegou para mim transtornado dizendo que ele teria que se afastar um tempo. Ele me entregou essa caixa e disse que consultou uma vidente… Disse que o dia que essa caixa se abrir tudo seria explicado… Então ele partiu e eu nunca mais o vi. Nunca tive notícias dele e dos amigos bruxos. Tudo de estranho que acontecia país a fora eu achava que tinha a ver com o outro lado, mas…

Lagrimas caiam dos olhos de Dona Odete e Lipe lhe trouxe um lenço do quarto dela. Vanessa olhou para aquela história mas ali só ela tinha as respostas para as dúvidas da velha senhora. Soltou um pigarrinho. Os três olharam para ela, como se a vissem pela primeira vez, esquecidos de sua presença ante á incrível história familiar.

— Quanto ao outro lado eu posso dizer o que houve. Não sei, talvez a senhora tenha conhecido um dos amigos de seu marido. Antônio Pereira. Meu pai.

— Sim! Seu pai? Era um galanteador, ele que me apresentou ao meu marido, Baltazar era muito tímido. Disse a senhora sorrindo ao lembrar do passado.

— Então eles eram Aurores, uma espécie de policiais, mas que capturam bruxos maus. E sim houve uma Guerra. Entre os bruxos existe um governo e na época alguns bruxos eram contra os bruxos casarem com troux.. Não bruxos. O governo se dividiu e houve um golpe de estado onde foi instituído praticamente uma ditadura. Leis severas foram postas em prática e entre elas não só bruxos era proibidos de casarem com trouxas, como não poderiam deixar seus bens de herança e qualquer transação monetária entre bruxos e não bruxos era proibida. Foi uma reclusão total, qualquer contato com trouxas era punido severamente. Mas faz alguns anos que o governo totalitário se diluiu e houve a abertura. Existe ainda alguma resistência por parte dos Anti-Não-Mágicos, mas cada dia o movimento pró abertura fica mais forte e recentemente foi aprovada a lei que permite nascidos não mágicos a entrar na escola de Magia, coisa que até então era vetada.

— Entendo, e o que houve com Baltazar? Ele.. Ele morreu nessa guerra?

Disse Dona Odete séria. Vanessa não sabia o que poderia estar passando pela cabeça da senhora naquele momento, provavelmente revendo sua vida inteira, como foi e como poderia ter sido.

— Eu conheci seu marido. Ele e meu pai morreram juntos, defendendo o que acreditavam. Eu era muito nova, mas ainda me lembro. Era um bom homem e um herói.