Bem Vindo a Castelo Bruxo escrita por Leo Fi


Capítulo 19
Letícia




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Letícia mal podia esperar para deixar sua família e seus problemas pra trás. Apesar de seu pai estar morando em outra casa as discussões entre ele e sua mãe não acabaram. Se por um lado a questão da pensão estava resolvida, até onde Letícia sabia pelo menos, o que seus pais mais discutiam era com quem ficaria a guarda dela. Gilberto deixou essa questão pendente até conseguir se estabelecer em algum lugar, mas assim que conseguiu comprar seu apartamento novo e terminar a mudança, começou a insinuar para Letícia e sua mãe que queria ficar com a guarda da filha. Por outro lado Ana foi terminantemente contra e o que começou como insinuação se tornou uma nova guerra entre eles. Gilberto argumentou que Letícia estaria melhor morando com ele pois o bairro onde morava era mais seguro e tinha mais opções de lazer para a filha. Ana argumentou que a filha precisava da mãe dela por perto pois estava na idade de precisar do tipo de apoio que só uma mãe poderia dar. No final para surpresa de Letícia ambos concordaram que ela já tinha idade suficiente para decidir com quem ficar, mesmo por que ela iria para uma escola de magia nos confins do país e teria que aprender a se virar sozinha. A verdade é que Letícia não se importava muito com quem ficar, pois não importava se estava com a mãe ou visitando o pai, os dois sempre davam um jeito de botar a menina um contra o outro, sempre falando mal e destacando os defeitos do outro e Letícia já estava farta disso. Ela simplesmente queria ir o mais longe possível dos pais e seus problemas conjugais. Ante essa situação em casa Letícia já teria perdido a cabeça se não tivesse se distraído lendo os livros da escola. Eram fascinantes e a deixavam com mais vontade ainda de chegar o dia em que iria para a escola nova. Sabendo da proibição de fazer magia fora da escola testava os movimentos de varinha descritos nos livros com o lápis e tentava pronunciar os encantamentos corretamente. O livro de poção a deixava desconfortável, parecia tudo muito complicado e ela era péssima na cozinha, já tendo queimado o miojo várias vezes. Folheando o livro de História ela ficou sabendo que por pouco não poderia ter ido para Castelobruxo por conta do regime bruxo que proibia nascidos trouxas ingressar no mundo bruxo. Lendo no capítulo sobre a resistência não pôde deixar de ficar agradecida pelos bruxos que lutaram para que ela pudesse estar ali folheando aqueles livros, ansiando por aprender mais sobre aquele mundo.

O dia finalmente havia chegado e sua mãe ficou encarregada de levá-la para o embarque, meio a contra gosto, pois Ana estava nervosa com o fato da filha entrar num barco, coisa que morria de medo e por que também pela primeira vez se afastaria da filha. Letícia sabia muito bem como sua mãe era superprotetora. Sabia também que a forma de acalmar a mãe era distraí-la e assim o fez quando chegaram no Armazém e se depararam com aquele lugar incrível. Empurrou a mãe para as diversas lojas que tinha ali e a fez comprar e provar várias coisas. Sua mãe ficou um longo tempo alugando a moça do balcão de informações até ficar satisfeita que tudo ali era feito pela segurança dos alunos. Letícia ficou contentíssima quando encontrou os colegas. Sabia que conheceria muitas outras pessoas na escola, mas tinha um carinho por aqueles moleques estranhos, já que foi com eles que ela desvendou parte daquele mundo no dia que foram comprar os materiais. E até que eram legais, Bernardo tinha aquele jeito de nerd e achou fofo a forma com que ele segurava o gato no colo. Felipe também era fofo de seu jeito tímido, parecendo tão perdido quanto ela naquele mundo novo.

Depois que ajudou os garotos a se acomodarem foi para sua cabine onde não havia ninguém, mas achou um malão e bolsas juntas num canto próximos á uma das redes. Provavelmente sua colega de cabine tinha saído por algum motivo. Não podia ser banheiro já que reparou que tinha uma porta que dava para um ali na cabine. Deu de ombros e juntou seu malão e mochila no canto próximo à outra rede. Olhou pela janela circular que mostrava o lado oposto do navio. A água verde da Baía de Guanabara era iluminada pela luz do sol. Ao longe navios carregando contêineres passavam ao longe. Se perguntou se iriam direto dali pra escola ou teria alguma parada antes. Por fim deitou na rede, virada para a janela, sentindo-a balançar levemente. Olhava para o brilho do sol na poeira que flutuava à frente da janela, se sentindo relaxada. Estava quase fechando os olhos quando a porta atrás de si se abriu.

— Ah! Minha colega de cabine! Disse uma garota loira de olhos azuis. Era bonita e Letícia reparou que estava levemente maquiada, como se tivesse indo pra uma festa. Seus cabelos curtos encaracolados eram decorados com um laço azul de presilha.

Letícia se levantou e estendeu a mão em cumprimento.

— Ah! Tudo bom? Me chamo Letícia!

A menina loira retribuiu o cumprimento, segurando de leve nas mão de Letícia e sorriu educadamente. Letícia gostava de apertos de mãos firmes, como seu pai lhe havia ensinado, mas não ligou muito.

— Flor-de-Maio… É meus pais tem um péssimo gosto pra nomes. Mas me pode me chamar de Flor. Explicou ante a expressão de surpresa de Letícia.

— Aliás Flor-de-Maio Montes-Verdes, sério eu devia mandar eles para aqueles médicos trouxas que cuidam da cabeça, psic..psiquotapas.

— Não seriam psiquiatras? Ah! E é Letícia Tavares, já que você me disse seu nome completo.. eu acho.

— Psiquiatras, isso! Eu nunca sei esses nomes complicados da cultura trouxa, aliás como você sabia? Ah, claro, que estúpida, eu! Você é uma nascida trouxa? Disse subitamente mais animada do que parecia até então.

— Ahn? S..Sim, sim! Acho.. e você?

— Ah! Claro que sou bruxa, décima geração da família etc etc. Disse fazendo um gesto afetado de desdém com a mão.

— Então me conta, como é o mundo trouxa? Disse se sentando na rede de frente pra Letícia.

Letícia sentou em sua rede se sentindo um tanto aturdida. Ela várias vezes se pegou imaginando como seriam as crianças nascidas em famílias bruxas, mas nunca imaginou alguém como Flor-de-Maio. Como assim a menina não sabe pronunciar “psiquiatra”? Cultura trouxa? Seria tão diferente assim os dois mundos? Flor-de-Maio parecia ser uma boa garota. A julgar pela forma um tanto pomposa e os adereços de ouro que usava no pulso e no pescoço ela deveria ser alguém de família rica, talvez aristocrática e mesmo assim não parecia nada com as patricinhas metidas das festas de fim de ano do trabalho do pai. Pelo menos, pensou, Flor-de-Maio era simpática e parecia genuinamente interessada em conhecer Letícia e de onde vinha.

— Ah sabe, nada de mais, bem comum acho. Mas interessante deve ser o seu lado, fazer magias e tal, você conhece alguma magia?

Realmente falar do seu mundo não era nem um pouco legal por conta de tudo que passava em casa e na antiga escola, para Leticia, bem diferente do lugar de onde Flor-de-Maio vinha.

— Ah! Eu poderia dizer a mesma coisa do “meu lado”. Sabe como é, “o caldeirão do vizinho…”. Mas eu sou fascinada pelo mundo trouxa, as coisas que vocês inventaram, formas alternativas à magia! Eu fiz meu pai dar um jeito de tirar meu passaporte só pra eu experimentar andar de avião. Sabe lá como ele conseguiu os documentos, mas foi um experiência incrível, mas claro que você sabe como é.

— Ahn, claro… Respondeu, Letícia, sem graça, que nunca tinha entrado sequer num avião.

— Ah! Respondendo sua pergunta… Disse Flor-de-Maio mudando de assunto, talvez percebendo o desconforto de Letícia.

— Eu conheço várias magias, mas claro que não posso usar nenhuma, é só no campo da teoria. Meu pai segue a risca a lei apesar de isso ter sido seu defeito no passado. Respondeu pensativa.

Letícia ia indagar Flor sobre esse comentário quando um som de buzina ecoou e a caravela começou a se mover. Animada, Letícia correu até a janela.

— Quanto tempo será de viagem? Perguntou olhando a paisagem passar cada vez mais rápida.

— 12 horas, contando de agora. A Caravela de Castelobruxo sai meio-dia e chega à meia noite.

Letícia se vira surpresa para Flor-de-Maio a encarando de boca aberta.

— 12 horas pra cruzar o Brasil inteiro?

— Ah mas não é o Brasil inteiro e também não é só essa caravela que leva os alunos. Respondeu Flor, sorrindo, parecendo se divertir com a confusão de Letícia.

— Na verdade é tudo meio complicado, sabe… existe uma estrutura enorme por trás do transporte dos alunos, principalmente que não são apenas alunos do Brasil mas da América do Sul inteira. Pelo que eu sei no Brasil são 14 caravelas ao todos que pegam alunos de várias partes do Brasil. Essa Caravela veio da Região Sul, minha prima já estava aqui quando embarquei eu fui visitar ela hoje mais cedo e ainda faremos mais duas paradas breves uma no nordeste e outra no centro oeste acho para pegar mais alunos e depois direto para o Rio Amazonas.

Letícia ainda estava boquiaberta com aquela informação.

— Mas mesmo assim 12 horas? Iremos pelo Atlântico então?

— Ah não, iremos “por dentro”. Todos os rios da América do Sul se interconectam magicamente, é como os bruxos costumam viajar.

Flor percebeu que Letícia ainda estava sem entender por isso respondeu sem graça.

— Eu disse que era complicado.

Letícia se sentou em sua rede um tanto atordoada com aquelas informações. Se na escola as coisas fossem complicadas daquele jeito não sabia como se sairia. Magia era mais complicada do que imaginava. Precisava se distrair.

— Olha meus.. amigos estão na cabine aí em frente. Eu prometi ir lá ver eles depois que eu me acomodasse, quer ir lá comigo?

— Mais nascidos trouxas? Claro!! Disse Flor, como se tivesse ganhado um presente de natal.

As duas meninas saíram da cabine e foram até a porta logo em frente. Vozes de riso eram ouvidas lá de dentro. Letícia bateu.

— Entra!

— Se não for um bicho papão, hahaha!

Letícia abriu a porta e Boba ia passando por debaixo de suas pernas quando Bernardo o agarrou e o levou para dentro.

— Letícia! Olha essas cartas de bruxos famosos!!! Disse Bernardo reparando na garota que vinha com a amiga.


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