Como sempre fazia, Bernardo chegou da escola, tomou banho, almoçou, deu comida para o peixe, limpou a gaiola do hamster e tirou o cocô de gato da caixa de areira. Depois de cuidar de seus bichinhos de estimação deitou na cama e ligou seu videogame. Seu quarto era um misto de zoológico com loja de brinquedo. Pôsteres de temas nerds estavam colados por toda a parede, nas prateleiras action figures faziam diversas poses. E um grande mural com colagens sobre a Austrália estava preso na parede a cima da cabeceira da cama. A vida era boa para Bernardo ou pelo menos tão boa quanto podia, pois não passava um dia que seus colegas na escola o sacaneassem por ser o esteriótipo do nerd: gordo e bem… nerd. Ele não se achava tão gordo assim, mas se alguém fosse se basear pela opinião dos buller parecia que ele estava para morrer com as artérias entupidas de tanto hamburguer, o que era um absurdo, ele não comia tanto hamburguer assim, tinha também pizza e cachorro quente. Outro motivo para que outros implicassem tanto com ele era sua paixão pelos animais e Austrália, onde tinha o maior número de animais estranhos do mundo. Os exóticos eram seus preferidos o que era uma pena, pois sua mãe nunca deixou que tivesse uma aranha e uma cobra de estimação. Boba Fet saltou na sua frente, na hora que ele ia pulverizar um inimigo, o fazendo ser morto. 

— Sai gato burro!

Disse afastando o bichano. Depois pensou melhor e o abraçou. 

— Já botei sua comida seu esfomeado.

Colocou o gato no chão e ia voltar para o jogo quando o interfone tocou. Bernardo morava em apartamento então provavelmente era o porteiro dizendo que tinha alguém querendo falar com sua mãe, talvez fosse sua tia de Minas, ela estava para chegar esses dias. Bernardo pouco se importava, ela vivia reclamando do peso de Bernardo.

— Bernardo! Venha aqui, agora!!

Disse sua mãe lá da sala. Bernardo estacou preocupado. “O que houve?” Foi até a sala onde encontrou sua mãe com cara de poucos amigos.

— O que foi Dona Amelia! Onde é o incêndio?

Disse dando um sorrisinho pra disfarçar o nervosismo. Sua mãe era solteira e criou o filho sozinha depois que se mudou para o Rio de Janeiro, era veterinária o que explicava a afeição do filho por animais e Bernardo só não a considerava a mãe perfeita se não fosse o medo atroz dela de aranhas e cobras. Bernardo a amava, mesmo que em muitos momentos ela fosse dura demais com ele, mas ele nunca ligou pois eram sempre os dois, um contando com o outro.

— Sua professora está subindo agora mesmo tratar “assuntos da sua escola”. O que você fez menino?

Disse encarando o filho com olhos de água.

— Ahm? Professora? Como assim?

Respondeu assustado.

Nesse momento a campainha tocou. Bernardo olhou pra porta preocupado. Ele não tinha feito nada e nunca antes um professor sequer o visitou e pelo que sabia nem a nenhum colega dele. A mãe abriu a porta e olhou espantada, uma moça bonita de uns 30 anos vestido de forma elegante e extravagante estava parada diante de sua porta.

— Boa Tarde me chamo Vanessa Pereira e vim discutir o futuro escolar de seu filho.