Os dois estavam sentados no sofá da sala da U.A., apenas aproveitando o silêncio e a calmaria do dia. Kirishima mexia no celular despretensiosamente, enquanto Bakugo lia um livro sentado ao lado dele.

Aparentemente, Kirishima era o único que tinha conhecimento sobre esse hobby do Katsuki. Por alguma razão, ele preferia não mencionar isso para os outros, então só lia quando tinha certeza que ninguém apareceria.

Num primeiro momento, pensou que fosse para não o incomodar, porém, vez ou outra, o ruivo comentava algo com Bakugo, que não parecia se importar. Geralmente, o loiro apenas assentia, parecendo estar em outro universo, ou então soltava um ou outro xingamento, acompanhado de um cala a boca, voltando a se concentrar na leitura quase que de imediato.

Essa segunda reação fazia o Kirishima rir, bem como pensar que esse era o Bakugo que ele conhecia. No entanto, a primeira era incrivelmente atraente. Até mesmo surpreendente, diga-se de passagem.

Quer dizer, parecia que ele adquiria uma aura angelical, de tão sereno e tranquilo o semblante dele. Ficava completamente absorto e entretido pela leitura, era realmente impressionante a facilidade e o prazer que ele parecia sentir ao estar acompanhado de alguma obra literária.

Além disso, algumas vezes, Kirishima observava- o discretamente, e sempre havia uma expressão diferente no rosto do Bakugo. Elas não eram muito exageradas, mas tinham a capacidade de demonstrar o que o mesmo sentia. Insatisfação, urgência, espanto, desprezo, curiosidade. Nessas horas, o ruivo podia desfrutar de diversos Bakugos, e parecia se encantar com todos eles.

Enquanto olhava distraidamente para as novas publicações do Instangram, também passou pela cabeça do ruivo que aqueles momentos, em que os dois se juntavam e ficavam cada um na deles, ou em que falavam diversas bobagens e até mesmo frustrações, pertenciam somente a eles. O mais incrível era que ambos se sentiam confortáveis para as conversas, independente do assunto. Tudo parecia fluir e combinar naturalmente.

Durante suas divagações, Kirishima sentiu um peso sobre seu ombro direito, de modo que imediatamente olhou nessa direção. Não pode evitar que um sorriso escapasse... Bakugo havia caído no sono, deixando sua cabeça pender para o lado do ruivo. Este simplesmente passou a admirar a cena em questão. Ficou assim por um tempo.

Não queria incomodar nem acordar o loiro, que transmitia uma paz enorme no momento – a respiração estava tranquila e suave, o corpo um pouco desajeitado, porém desarmado, como se indicasse confiança, segurança para se colocar naquela posição. A boca um pouco aberta, mas não a ponto de deixar uma baba escapar (embora Kirishima tivesse interesse em presenciar essa situação).

Antes de se mexer para tirar o livro que estava no colo do Bakugo, praticamente prestes a cair, Kirishima fitou o celular dele, notando que ainda estava com o aplicativo do Instagram aberto. E a primeira coisa que surgiu na mente dele foi o desejo de registrar aquele instante.

Assim, ajeitou-se no sofá, olhano para a frente, com um enorme sorriso no rosto, fazendo com que seus olhos ficassem fechados e seus dentes afiados ficassem a mostra. Com a mão livre (a outra segurava o celular), fez um sinal de V, cuidadosamente, afinal, ao mexer a mão, mesmo que um pouco, também mexia no Bakugo – era o braço em que ele estava apoiado. E então, apertou o botão.

Averiguou a selfie que havia acabado de tirar. Resultado: extremamente positivo. A foto havia ficado ótima. Incrível. E assim, teve uma ideia. Na verdade, um sentimento de que não deveria apenas guardá-la, mas também postá-la no Instagram. Provavelmente ouviria inúmeras reclamações por parte do loiro, talvez até recebesse algumas explosões como resposta, mas... seria por uma boa razão.

Evitou pensar muito sobre o assunto, caso contrário, perderia a coragem e também a chance de ter uma foto dos dois juntos no próprio feed. Sim, ele não tinha nenhuma foto deles juntos que fosse decente. Por isso, acabou postando, com a seguinte legenda: depois de um dia de treino intenso, finalmente o merecido descanso.

Quando postava alguma imagem era somente no stories e o Bakugo sempre saía mostrando o dedo do meio na frente do rosto, ou gritando “morra”, com uma aparência recheada de fúria (nesses casos, a foto sempre saía borrada, por causa do medo que ele causava).

Contemplou mais uma vez o cenário atual, desligando-se de seu celular.

“Oh... incrivelmente tranquilo...”, e então, repousou sua cabeça sobre a dele, delicada e gentilmente.

Kirishima poderia ficar assim para sempre...

Nesse tempo, sem hora para acabar ou para começar algo...

Nesse lugar, tão pacato e acolhedor, tão vazio e preenchido...

Ao lado dele. Ao lado de Katsuki Bakugo...

E então, como num sonho, adormeceu.

***

Para a surpresa de Kirishima, no fim do dia, quando já estava em seu quarto, deitado e pronto para descansar, recebeu um comentário do Bakugo na foto que postou com ele: eu vou acabar com você. Espero que morra.

No entanto, o ruivo só conseguia focar no emoji que o loiro usou no final da frase. Um coraçãozinho preto. Por alguma razão, isso fez com que Eijiro sorrisse de orelha a orelha, como um verdadeiro bobo apaixonado.

Assim, nessa noite, decidiu que dormiria agarrado ao celular, só para evitar que esse momento, esses sentimentos e esse dia escapassem de suas mãos.

“Ao lado dele...”, recordou-se, uma última vez.

E então, como num sonho, adormeceu.