Words of Love escrita por LanesMoon


Capítulo 2
Segundo




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Remus Lupin.

A chaleira chiando ao meu lado e o som baixo do rádio ligado em uma estação trouxa qualquer me trazia um pouco de conforto nas noites turbulentas de insônia e mal-estar.

Aquele era o terceiro chá que eu preparava desde que Milo, meu gato, havia voltado de seu passeio noturno e me acordado com seu miado exigindo o leito que eu havia me esquecido de colocar em seu pote.

Mas não era como se eu realmente descansasse enquanto dormia, pois constantes pesadelos se mostravam presentes com a intenção de me perturbar com terríveis lembranças e acontecimentos todos os dias.

Suspirei pesadamente e tentei espantar qualquer resquício que me levasse há três anos e resolvi preparar o último chá da noite, uma vez que o sol já começava a querer aparecer em seu lugar no céu.

Não me importei com as diferentes ervas que coloquei na erva borbulhante, pois já fazia algum tempo que elas não faziam mais qualquer efeito, e apenas aguardei pacientemente até que eu pudesse aproveitar a bebida.

Encostei-me na pia e, com a xícara quente em mãos, observei como Milo dormia tranquilamente enrolado no pequeno cobertor que Dorcas havia preparado da última vez que viera me visitar. Inclusive, havia sido ela que me presenteara com Milo no começo do verão, com a desculpa de que eu ficava sozinho demais. Talvez ela tivesse razão.

Pelo menos, Milo era o pouco de felicidade e acolhimento que eu tinha nos momentos em que não precisava estar em Hogwarts para resolver os problemas de ser professor.

Por fim, permaneci na cozinha escutando a estação que anunciava as notícias dos trouxas e intercalava com algumas músicas do momento e já sentindo minhas bochechas e pescoço esquentarem pela bebida quente.

Quando o relógio marcou 6h15min e o radialista gritou um animado: “bom dia”, um barulho característico soou da janela, me assustando e fazendo Milo despertar de seu sono tranquilo.

Porém não me surpreendi ao encontrar uma grande coruja aguardando impaciente no batente da janela com sua entrega para fazer.

Sem demora abri os vidros e deixei que a coruja dos Potter tomasse seu lugar em cima da mesa. Retirei a carta que ela carregava e me vi na obrigação de acariciar suas penas quando seu pio impaciente chamou a atenção.

— Tudo bem, muito obrigado — murmurei enquanto ainda passava a mão em sua cabeça felpuda. — Infelizmente não tenho nada para você hoje, pode ir se quiser.

E sem demora e sem esperar que eu terminasse o carinho, ela levantou voo e sumiu por onde havia entrado.

Observei a carta por alguns segundos, tentando imaginar sobre o que se tratava, até que por fim a abri.

“Querido Aluado,

Recentemente recebi uma cara de Dumbledore pedindo minha ajuda para encontrar alguém para assumir o cargo de Runas Antigas em Hogwarts. Ele também comentou que mandou uma carta sobre este mesmo assunto para você, mas que não recebeu resposta alguma.

Estranhei você não ter respondido. Aconteceu alguma coisa? Sabe que Lily e eu estamos aqui se precisar de algo.

Se quiser conversar sobre isso, estarei no Ministério a sua espera com Sirius.

Atenciosamente,

Pontas”.

Franzi o cenho assim que terminei de ler a caligrafia tremida de meu amigo. Nenhuma carta escrita por Dumbledore havia chegado desde o início do verão. E o diretor sequer havia comentado sobre a sugestão de alguém para Runas Antigas. A própria Strought havia deixado bem claro que só deixaria o cargo quando ficasse muito velha para poder falar.

As coisas pareciam não fazer mais sentido em minha cabeça e o pensamento de mudar a grade dos professores mais uma vez por outro ano consecutivo fez com que meu estômago embrulhasse. Esse tipo de adaptação não era algo fácil para mim e Strought e eu fazíamos algumas aulas juntos.

Respirei profundamente e larguei a carta em cima da mesa, bebi o resto de meu chá e saí à procura de algum casaco e sapatos decentes, arrumei os cabelos sem nem ao menos me olhar ao espelho e coloquei minha pasta embaixo dos braços.

Não me despedi de Milo antes de apartar para Londres.

Florence Culbert.

Senti meu estômago embrulhar assim que meu umbigo foi fortemente puxado quando aparatei em Londres. A sensação se tornou realmente incômoda e seguiu acompanhada de uma terrível tontura. Aquela era a primeira vez em alguns anos que eu voltava a aparatar.

Uma leve sensação de nostalgia se fez presente em meu peito e não pude deixar de sorrir assim que parei para observar a rua que havia sido minha morada por muitos anos.

As casas continuavam as mesmas, tal como a maioria dos moradores idosos e surdos. Mas não deixei meu olhar observar por muito tempo e logo tratei de seguir em direção à luxuosa casa que tomava o seu lugar no final da sua e que se escondia atrás de grandes árvores para não chamar a atenção e sustentar a ideia de que os Culbert estavam de volta.

Apressei o passo enquanto procurava a chave perdida dentro de meus bolsos, resolvendo então entrar pelos fundos, já que havia menos trancas.

Uma grossa camada de musgo e plantas em geral já tomavam conta do grande quintal e trepadeiras começavam a cobrir parte da porta, me fazendo puxar com força para que eu pudesse entrar. Girei a chave sentindo minha mão trêmula e minha respiração ofegante.

Quando passei pelo vão da porta, pude notar que tudo permanecia exatamente como antes, apenas exalando um cheiro característico de mofo pelo local ter ficado tanto tempo fechado e sem nenhum tipo de movimentação. Desde que eu havia dispensado Loyal, nosso elfo doméstico, ninguém mais havia estado ali.

Porém, tentei não me apegar aos detalhes para não deixar a tristeza tomar conta de mim. Havia sido realmente difícil tomar a decisão de voltar para pegar o resto de minhas coisas e os materiais de vovó, que um dia já havia sido apaixonada pelo estudo das Runas Antigas.

Se Caius estivesse aqui provavelmente diria que eu tinha enlouquecido por ter aceitado a proposta de ser professora, principalmente em Hogwarts, mas desde que ele havia sido preso as suas ideias e seus comentários não me influenciavam mais.

Não me a atentei em mais pensamentos e continuei meu caminho até o último quarto do corredor. O quarto onde vovó Ody viveu por quase dez anos antes de uma grave doença tomar conta de seu corpo enrugado e a levar para a terra dos mortos em poucos meses.

Aquele era o cômodo que mais fazia tempo que eu não entrava, por esse motivo não fazia ideia do que esperar. Nem sabia se encontraria o que estava procurando, uma vez que papai, na dor de perder sua mãe, havia jogado quase todos os pertences de vovó em uma grande fogueira. “É para afastar as lembranças ruins”, ele respondeu com a voz embargada e com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto quando questionado sobre o motivo de tudo aquilo.

Assim que adentrei o quarto pude avistar a pilha de livros que Ody utilizava em seus estudos no criado-mudo ao lado da cama arrumada e uma sensação de alivio e satisfação percorreu pelo meu corpo.

Abri a bolsa que carregava comigo e, sem demora, fui colocando cada livro ali dentro, não sem antes apreciar as capas forradas em couro.

Eis que então algo voou em direção ao chão quando guardei mais um livro. Era um papel, algo que se assemelhava a uma carta e que se encontrava perdido por dentre as páginas.

Peguei o artefato com muita curiosidade e logo descobri que não se tratava de uma carta, mas sim de uma antiga foto que fez meu coração palpitar ao reconhecer todos que posavam ali.

Nela estava meus pais, vovó e Caius, todos extremamente sorridentes e junto de nós se encontrava o casal Potter com seu único filho, James, que tinha o seu lugar ao meu lado com o seu braço entrelaçado com o meu e a cabeça tombada para trás, à boca aberta numa gargalhada contagiante e eu virada para rir de suas palhaçadas.

Por saber do costume de vovó em escrever em todas as fotos, virei-a e encontrei sua bela letra desenhada que dizia: “Família Culbert e Potter, amigos pela eternidade!”.

Mas a eternidade era muito tempo e vovó não podia prever o futuro e nem pode presenciá-lo após a sua morte. De fato éramos amigos, James e eu os melhores, mas as nossas relações afetivas foram veementes quebradas dias antes de a Sra. Potter falecer, quando papai e mamãe resolveram traí-los e se juntaram a magia das trevas, arrastando meu irmão e eu para o mesmo caminho e, consequentemente, me afastando de todos que importavam para mim.

Funguei e sequei as lágrimas que escorriam pelas minhas bochechas, guardei a foto junto dos outros livros e me apressei em pegar tudo o que precisava.

Ainda com lágrimas nos olhos, saí do quarto de vovó sem me preocupar em fechar a porta. Passei as mãos pelos cabelos e suspirei pesadamente, pensando por alguns segundos no que faria a seguir.

Eu precisava estudar se quisesse assumir a matéria de Runas Antigas, mas também precisava avisar a Dumbledore que aceitava o cargo antes de ele encontrar alguém para colocar em meu lugar.

Então estava decidido, segurei minha bolsa com força e sem pensar muito, aparatei em direção a Hogwarts.


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