Deus Salve A Todos escrita por GeminianaSensata


Capítulo 14
O Acordo


Notas iniciais do capítulo

Mais capitulo!!! Acho que esse é mais longo até agora, espero que gostem!!!



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Lucíola entra ofegante no quarto. Catarina que já estava a sua espera, caminha até ela.

— Então, o que você descobriu?

Lucíola leva uma das mãos ao coração, buscando um pouco de fôlego.

— Vosso pai mandou cortar a água que vai para Montemor. No castelo não se fala de outra coisa, alteza.

— Não demorará muito e todos estarão comentando sobre o cancelamento do casamento também. — Não que Catarina fosse de se importar com mexericos, mas seu orgulho estava ferido pela audácia do Monferrato. - Afonso é um tolo, sua decisão poderá desencadear uma guerra.

— Se vossa alteza me permitir uma observação... – Catarina faz um sinal positivo com a cabeça para que ela continue. Lucíola alegre com a afirmativa da princesa se aproxima, falando baixo, seu coração palpitava, não que aquilo fosse uma fofoca, mas nesse caso era necessário abrir os olhos de Catarina. – E se o príncipe estiver apaixonado por outra princesa? Se o motivo para o término for outra mulher?

Catarina havia pensado nessa possibilidade, mas a achava pouco provável. Afonso assim como ela, havia sido criado para reinar, e não é esperado de um futuro rei que ele abandone um acordo por algo tão bobo como o amor.

— Ele me disse que as questões que o levaram a tal decisão não tinham motivações pessoais, apenas políticas.

Lucíola insiste.

 Mas vossa alteza não acha estranho um monarca abrir mão do poder? Eu não vejo sentido, somente um homem muito apaixonado perderia o bom senso desse modo.

Catarina caminha pelo quarto, dando de ombros as palavras de Lucíola.

— Nada faz sentido em Afonso. Mas também acho que ele não disse tudo, há mais por de trás dessa decisão.

∆∆∆

O rei está em seu quarto terminando de se arrumar para o desjejum. Catarina entra, Augusto ordena que os criados se retirem.

— Suponho que você já sabe das novidades e que esteja aqui para falar sobre isso.

— Sim meu pai. Todos no castelo estão comentando vossa ordem de cortar o fornecimento de água para Montemor.

— Afonso deveria ter pensado bem antes de romper o vosso compromisso. – Catarina o ajuda a vestir um casaco de cor vermelho vinho.

— Achei que o senhor declararia Guerra. – Diz ela em tom provocador.

Ele sorri.

— Bem que eu gostaria, mas agora Montemor tem um acordo com Lastrilha, e seus exércitos juntos derrotariam Artena. – Ele se vira para a filha e diz em um tom, um tanto irônico. – E cortar a água de um reino que está vivendo a pior crise hidráulica de sua história, não seria quase o mesmo que declarar guerra?

Catarina retribui o sorriso.

— Sim, e é exatamente sobre isso que quero lhe falar.... O senhor não acha a atitude de Afonso um tanto suspeita.

Augusto se senta em uma cadeira e se serve um pouco de água.

— Eu não diria que é apenas suspeita, chega a ser burrice, irresponsabilidade..., mas não sabemos ao certo do que se trata o acordo com Lastrilha...

— É por isso que nós não podemos cortar os laços com Montemor definitivamente, não ainda.

— Não entendo, onde você pretende chegar Catarina? Não espera que eu simplesmente esqueça a vergonha que Afonso nos fará passar. Eu passei anos planejando esse momento, sonhando com o dia que Artena e Montemor juntos se tornassem invencíveis.

— Eu entendo vossa frustração meu pai. Não pense que será fácil para mim. Pois terei que enfrentar os bochichos por toda a corte.

— Com isso não se preocupe. Afonso me garantiu que poderemos dizer que a decisão de cancelar o casamento partiu de você.

Catarina respira um tanto aliviada. Pelo menos não teria que passar por essa vergonha diante de todos. Ela respira fundo e revira os olhos, enquanto, fala com deboche.

 É o mínimo... E digamos que bem conveniente para ele, já que ninguém saberá que ele desonrou a palavra de sua avó.

— Sim. Mas ninguém em toda a Cália reclamaria da decisão de Afonso, visto que não era de interesse de nenhum rei a junção de nossos reinos.

— Por isso precisamos manter as relações com Montemor. Primeiro porque precisamos descobrir os verdadeiros planos de Afonso, segundo porque ainda precisamos do minério. Não é o senhor que sempre me diz que devemos manter os inimigos por perto?

— Vejo que você aprendeu tudo o que lhe ensinei... — Ele se levanta. – Mas minha decisão já está tomada, não voltarei atrás.

Augusto já está saindo do quarto quando Catarina segura em seu braço, em uma última tentativa de convencer o pai.

— Não precisa voltar atrás. Apenas peça um tempo, até que possamos descobrir mais sobre o acordo de Lastrilha. Não me parece justo que Artena depois de tantos anos fornecendo água para Montemor saia agora de mãos vazias.

Augusto olha para as mãos dela pousadas sobre seu braço, o impedindo de prosseguir. Catarina retira as mãos e ele sai sem dizer ao menos uma palavra.

∆∆∆

Afonso acordou com a péssima notícia de que dentro de alguns dias Montemor não teria sequer um pingo de água. Então, a primeira coisa a se fazer era ir conversar com o rei Augusto e assim ele o fez.

O rei estava na sala de reuniões à espera do príncipe.

— Por visto, vossa alteza já sabe de minha decisão.

Afonso entra na sala tentando controlar sua raiva. Teria que escolher cuidadosamente cada palavra, pois naquele momento se encontrava nas mãos de Augusto.

— Sim majestade. E confesso que vossa decisão de cortar a água me surpreendeu. Jamais passou por minha cabeça que Artena cortaria a aliança com Montemor.

— Assim como jamais passou pela minha que você desistiria do casamento. — Augusto faz um sinal com as mãos para que ele se sente na cadeira em frente à mesa na qual ele está.

Afonso permanece em pé.

— Eu entendo que vossa Majestade esteja se sentindo ofendido. Mas cortar a água de Montemor é quase o mesmo que declarar guerra ao meu reino.

— Você deveria ter pensado em todas as possibilidades. Você sabe que a vida de seu povo está em minhas mãos... - Afonso lhe lança um olhar de ódio, Augusto sorri satisfeito, enquanto continua. – Mas fique tranquilo. Esse corte será temporário, dentro de alguns dias irei pessoalmente até Montemor para lhe propor um novo acordo que seja justo para ambas as partes.

Afonso respira fundo novamente, procurando paciência para lidar com aquela situação, era incrível como sua vida ultimamente se resumia em ter que respirar fundo e engolir desaforos da parte de outros reis, antes havia sido de Otávio e agora de Augusto.

— E de quantos dias estamos falando majestade?

Augusto dá um largo sorriso, demonstrando estar amando aquela situação.

— Ainda não sei... (Em tom irônico).

— Dentro de três ou mais tardar quatro dias, Montemor não terá uma gota de água se quer. — Os olhos de Afonso se encheram de água.

— Então, isso significa que vossa alteza, precisa voltar imediatamente para seu reino. Talvez, se usarem conscientemente o restante de água que tiverem, possam aguentar mais uns dias, até a minha visita.

Naquele momento Afonso gostaria de enfrentar Augusto, porém não estava em posição de exigir alguma coisa. Então, apenas se silenciou e saiu da sala.

∆∆∆

Catarina e Afonso se encontram em um dos corredores do castelo.

— Alteza!! – Ele faz a reverência.

— Imagino que já esteja se preparando para voltar a Montemor.

— Sim, precisamos voltar imediatamente. Então, com vossa licença, eu preciso ir. — Ele faz uma leve reverência com a cabeça e volta a caminhar, mas para ao escutar a voz de Catarina.

— Lhe desejo uma viagem tranquila e veloz. — Ele respira fundo. – Afonso? — Ela o chama pelo nome. Por mais raiva que ele estivesse sentindo naquele momento, ouvir a voz de Catarina o chamando pelo nome estranhamente o acalmava. Ele se vira e a encara. — Estive pensando.... Será que não existe outra princesa ou um outro casamento que justifique vossa decisão?

Afonso sorriu por um momento. Estaria a princesa de Artena com ciúmes? Ele sabia que não, era mais provável ser o orgulho dos Lurton pulsando em suas veias.

— Pode ficar tranquila Alteza, não há outro casamento e nenhuma outra princesa.

Nesse momento ele se lembrou de Amália e do beijo que deram quando ainda estava noivo de Catarina. Afonso abaixou a cabeça, não podia encarar aquele par de olhos negros naquele momento, se sentia o pior dos homens por isso.

— Para o bem de todos é melhor que não haja, não por enquanto, até que meu pai possa esquecer de nosso casamento.

Afonso consentiu com a cabeça, se curvou em reverência novamente e saiu apressadamente.

∆∆∆

Afonso e seus homens saíram às pressas do castelo. E ao passar pela feira da cidade, ele viu Thiago e Constância, esperava ver Amália, mas infelizmente ela não se encontrava ali.

Chegando na saída do povoado, Afonso para bruscamente seu cavalo, fazendo com que Cássio fizesse o mesmo logo em seguida, e assim sucessivamente fizeram todos os soldados.

— Alteza!! Aconteceu algo?

— Não Cássio. Mas preciso que você e o outros homens prossigam o caminho e me esperem na estrada principal que vai para Montemor. — Ele vira seu cavalo em direção ao centro do povoado. 

— Não entendo, para onde vossa alteza pretende ir?

— Preciso vê-la. Preciso ver Amália.

— Amália? — Cássio pensa por alguns segundos, buscando na memória tal nome. — Não me diga. — Ele se aproxima e fala baixo para que apenas Afonso possa escutar. — Não me diga que irá ver a moça que lhe salvou a vida?

Afonso dá um sorriso travesso.

— Ela mesma!!

— Mas alteza, considera prudente ir visitá-la? Se alguém o ver poderá levantar suspeitas...

— Eu serei cuidadoso, não se preocupe.

Afonso dispara em seu cavalo não dando a chance de Cássio se quer argumentar.

∆∆∆

Amália está em casa, ela pega um balde com água suja. Quando ela abre a porta e joga a água fora, acaba molhando Afonso que estava chegando.

— POR DEUS!!! AFONSO!!! — Ela sente seu coração bater mais forte, de todas as pessoas que ela esperava ver em sua porta, definitivamente Afonso não era uma delas.

Afonso estava completamente molhado, com algumas cascas de verduras sobre a vestimenta. Amália pegou um pano e começou a tentar seca-lo, as mãos dela tremiam.

— Então quer dizer que é assim que você me recebe... A hospitalidade dessa casa já foi bem melhor. — Ele não consegue segurar o riso.

— Meu deus, o que foi que eu fiz? — Ela retira as cascas da roupa dele e ao perceber ele rindo o repreende. — Posso saber qual o motivo da graça, alteza?

Afonso a olhava. Como era bom estar ali, depois da tensão dos últimos dias, Amália era a única capaz de devolver-lhe o sorriso.

 Não é todo dia que um príncipe toma banho de balde...

Amália se aproxima dele, fica na ponta dos pés e o cheira.

— E provavelmente é a primeira vez que um fede tanto. — Ambos sorriem.

Mas logo Afonso torna a ficar sério, pois é possível sentir a respiração de Amália tão próxima a sua. Mas ela se afasta e se recompõe.

— O príncipe não me parece ferido, o que te traz aqui?

— Eu vim para tranquilizar a todos, eu não falei e nem pretendo falar sobre meus dias em vossa casa, sob vossos cuidados.

Amália sorri timidamente.

— Fico eternamente grata, alteza.

— Afonso, Amália. Para você e sua família, apenas Afonso.

— Minha mãe estava certa. Ela disse que você provavelmente estava em Artena para tratar de vosso casamento com a princesa.

— Sim, foi exatamente isso que me trouxe aqui. – Amália vira o rosto. — Vim para cancelar meu casamento.

Amália o olha surpresa e logo um sorriso lhe estampa o rosto. Um sorriso que se quer ela fez questão de esconder, na verdade, foi tão natural que ela não poderia nem se o quisesse.

— Graças a Deus!!!

Era a primeira vez que alguém escutava aquilo e sorria, ao contrário de todos os outros, Amália o entendia e o apoiava, mesmo sendo apenas uma plebeia, era importante para ele naquele momento falar com alguém como ela.

— Depois de tudo que vi e escutei aqui, refleti o bastante para decidir não me aliar a alguém como o rei Augusto.

— Mas e a questão da água? — Pergunta ela preocupada.

— Darei um jeito. — Ele sorri tentando afastar a preocupação que aquela questão lhe trazia.

Diana chega e logo reconhece o príncipe de Montemor todo molhado falando com sua amiga.

— Amália? – Afonso e Amália olham para ela assustados. — Alteza!!! – Diana se ajoelha.

— Não, isso não é necessário. – Ele olha para Amália. — Eu preciso ir. – Ele se aproxima dela e lhe fala ao ouvido. — Ninguém pode saber que estive aqui.

Amália o olha e consenti com a cabeça. Ele vai embora, deixando Diana sem entender o que estava acontecendo.

— Amiga, o que o príncipe de Montemor fazia aqui?

Amália respira fundo, pois tinha muito a explicar para Diana.

∆∆∆

Alguns dias depois em Montemor.

Afonso estava no trono conversando com Cássio.

— Alguma novidade sobre a questão da água?

— Nada ainda Alteza, diversos reinos enviaram mensagens em solidariedade ao término de vosso casamento com a princesa Catarina, mas ao que parece nenhum tem condições de fornecer a água que precisamos em troca de minério.

— Artena é o único reino com essas condições, mas deve haver alguma saída, não podemos ficar na mão do rei Augusto.

— A reserva de água do castelo está quase chegando ao fim, alteza.

Antes que Afonso pudesse responder, Rodolfo chega um tanto agitado.

— Meu irmão, eu estava planejando fazer uma festa para comemorar vossa coroação e fui notificado de que estamos economizando água?

Afonso olha para Cássio que se retira, ele precisava falar a sós com seu irmão.

— Rodolfo, minha coroação foi adiada. Até resolvemos essa questão com Artena, não poderemos desperdiçar nenhuma gota de água. O reservatório do castelo está quase seco.

— Seria tão mais fácil se tivesse mantido o compromisso.... Não entendo porque decidiu percorrer pelo caminho mais difícil.

— Fique tranquilo meu irmão.... Eu sei o que estou fazendo. – Ele coloca sua mão sobre o ombro de Rodolfo. Naquele momento nem mesmo ele tinha mais essa certeza, mas não podia deixar que seu irmão caçula se preocupasse.

— Para o bem de todos nós.... Eu espero que sim Afonso. – Rodolfo segura no braço do irmão e sorri.

Cássio retorna.

— Alteza, desculpe interromper, mas acaba de chegar ao castelo o Rei Augusto de Lurton e sua filha, a princesa Catarina de Lurton.

∆∆∆

Rodolfo e Afonso vão até a entrada do castelo receber os monarcas de Artena. Augusto é o primeiro a descer da carruagem, Cássio ajuda Catarina a descer. Rodolfo fica surpreso ao ver a linda mulher que ela se tornou.

— Majestade, alteza!!! É um prazer recebe-los em Montemor. — Afonso se sente aliviado. Finalmente poderia resolver a questão da água, de uma vez por todas. Ele olhou para Catarina que o ignorou.

Augusto olha para os lados e diz.

— Fazia tanto tempo que não visitava Montemor que havia me esquecido o quanto o clima aqui é quente e seco. — Ele e Catarina pareciam exaustos da viagem, de fato o caminho até Montemor, não era dos melhores.

— Imagino que completamente diferente do clima de Artena, do qual eu tenho recordações de ser muito agradável. — Diz Rodolfo se fazendo notar.

Ele não tira os olhos de Catarina, a olhando da cabeça aos pés. Bastou alguns segundos na presença de Rodolfo para Catarina ter a certeza de que ele não havia mudado nada da infância até lá. Ela evitava o contato visual com os irmãos Monferrato.

— Imagino que você seja o Rodolfo. — Diz Augusto um tanto curioso para com a figura do rapaz alto e magro a sua frente.

— Sim Majestade. E eu suponho que essa belíssima senhorita seja a princesa Catarina.

Catarina sorriu sem mostrar os dentes, mas logo virou o rosto, fingindo olhar para os arredores.

— Sim, essa é minha querida filha. — Augusto pega na mão da filha.

Afonso percebe o olhar de Rodolfo para a princesa.

— Bom, imagino que vossa majestade esteja exausto e queira descansar. — Diz Afonso abrindo caminho para que Catarina e Augusto pudessem passar.

— Na minha idade, eu já necessitava descansar assim que tirei os pés de Artena. – Augusto e Catarina caminham para dentro do castelo.

Afonso olha para Catarina que se quer lançou um olhar para ele até aquele momento. Rodolfo fica boque aberto olhando ela passar por eles, o perfume suave de jasmim que vinha dela, o fez puxar todo o ar possível.

— Meu irmão, eu retiro tudo o que já disse sobre a princesa. Catarina é a mulher mais linda que eu já vi em toda a minha vida.

Afonso ri da cara de bobo de seu irmão. Mas no fundo ele concordava com Rodolfo, Catarina era realmente deslumbrante.

∆∆∆

Durante a refeição Rodolfo falava sem parar, tentando chamar a atenção de Catarina. Ela por sua vez, com pouquíssimas palavras, apenas respondia o que era de fato necessário. Augusto falava sobre Artena e dava corda para Rodolfo continuar seu show. Afonso apenas observava, já estava exausto, o que ele realmente queria era escutar a proposta do rei imediatamente.

∆∆∆

Após a refeição, Rodolfo levou Catarina até o jardim, onde começou a contar sobre seus feitos nas batalhas. Não precisava conhecer o Monferrato caçula para saber que tudo o que ele dizia era apenas histórias de um homem que se quer pegou em uma espada. Mas como era muito educada, Catarina sorria e fingia se divertir durante a conversa. Afonso chega e olha para o irmão e a princesa conversando, o sorriso dela enquanto estava com Rodolfo, ele nunca tinha a visto tão à vontade.

— Princesa!! (Faz uma leve reverência com a cabeça). Vosso pai e eu iremos até a mina de Montemor. Gostaria de nos acompanhar? — Nem Afonso sabia porque estava fazendo aquele convite. A mina definitivamente não era lugar para uma princesa.

Catarina sem ter outra opção, finalmente o encara.

— Obrigada pelo convite. Mas prefiro ficar no castelo. — Ela coloca seu braço por volta do braço de Rodolfo que fica surpreso. – Vosso irmão ficou de me mostrar o restante do castelo.

Rodolfo não tinha dito nada sobre isso, mas achando que Catarina estava querendo permanecer em sua companhia, ele rapidamente concordou.

— Sim, será um prazer.

Afonso não gosta da ideia. Ele melhor do que ninguém conhecia bem seu irmão, e se Rodolfo se atrevesse a se comportar mal com Catarina, o rei Augusto além de esquecer o acordo, provavelmente mataria Rodolfo com suas próprias mãos.

— Como vossa alteza desejar.

Afonso saiu e Catarina continuou a caminhar com Rodolfo.

∆∆∆

Após a visita a mina, Augusto e Afonso foram até a sala de reuniões. Ambos estão sentados, tomando uma taça de vinho, enquanto conversam.

— Eu pensei muito e cheguei à conclusão de que quero manter nosso acordo de água em troca de minério.

— Eu fico muito feliz Majestade. Nosso acordo é bom para ambos os reinos. – Afonso senti um alivio percorrer seu corpo.

— Sim, mas não será o mesmo acordo. Eu proponho continuar mandando água para Montemor em troca de um terço de todo minério produzido pela mina.

A felicidade de Afonso passou em um piscar de olhos, o valor era exatamente o mesmo do acordo com Lastrilha. Isso deixaria Montemor com apenas um terço de todo minério.

— Mas majestade esse valor está fora das possibilidades de Montemor.

— Engraçado.... Não é esse o valor acordado com o rei Otávio em troca da construção do aqueduto?

— Sim, e é exatamente por isso que não posso pagar o mesmo valor pela água de Artena.

— Está dizendo que a construção do aqueduto é mais importante do que matar a sede de vossos súditos? Afonso.... Você precisa escolher entre o futuro do seu povo ou o presente dele.

— Majestade, eu lhe peço para refletir melhor, eu posso averiguar com meus conselheiros uma quantidade maior que o pago no acordo anterior, mas que seja cabível para nossos cofres.

Augusto respira fundo e se levanta.

— Eu não ia propor acordo nenhum. Só estou aqui porque minha filha Catarina me pediu. Esse é o meu preço, basta a você dizer que sim ou que não.

Augusto sai, deixando Afonso extremamente irritado. Ele bate com punho cerrado sobre a mesinha a sua frente.

∆∆∆

Afonso e seus conselheiros conversam sobre a proposta do rei Augusto.

— Vossa alteza sabe que essa quantidade de minério junto com a que teremos que pagar a Lastrilha, deixaria Montemor muito instável. Nossa maior renda vem do minério, isso causaria um rombo nos cofres do castelo. Será necessária uma administração impecável pelos próximos anos, se não iremos a falência. – Diz Cássio muito preocupado.

— Eu sei disso Cássio. Mas não me sobra outra alternativa, o rei Augusto deixou bem claro que não aceitará uma contraproposta, por ele nem acordo teríamos, só está aqui porque Catarina o pediu.

— E se vossa Majestade falar com a princesa? Talvez, ela possa convencer o pai. – Sugere um dos conselheiros.

Afonso respira fundo.

— Não senhores, não acho que a princesa possa ter tal poder sobre o pai.

Cássio se aproxima de Afonso.

— Mas alteza, talvez, essa seja a nossa única chance.

Afonso não queria ter que se humilhar, mas de certa forma, tudo aquilo estava acontecendo por culpa dele, então, se tivesse que pedir a Catarina, ele pediria.

∆∆∆

Catarina está em uma das varandas do castelo, sentada em um lindo banco de madeira. A tarde está linda em Montemor, um tom alaranjado sobre as montanhas, e um vento suave amenizando a temperatura alta. Catarina para de ler por alguns segundos, respira fundo, se levanta e vai até a sacada, admirar o pôr do sol. Afonso se aproxima.

— Já estive em diversos lugares da Cália, e posso dizer que não há outro pôr do sol mais belo que o de Montemor.

Catarina sente seu corpo tremer ao escutar a voz de Afonso.

— Não seria vossa alteza, a pessoa menos apropriada para opinar sobre o assunto? Visto que esse é vosso reino...

Ele se aproxima da sacada, ficando ao lado dela.

— A princesa está insinuando que estou sendo parcial?

— Eu não estou insinuando, estou afirmando. — Ela o olha. — Mas não encare isso como uma crítica, é natural, Artena para mim é o lugar mais lindo do mundo.

Afonso sorri, pois era possível notar a paixão nas palavras de Catarina.

— Nós fomos criados para amar nossos reinos. — As palavras de Afonso carregam um tom pesado, como se a coroa e a obrigação de usa-la começasse a pesar sobre ele.

— Criados para amar e para defender com a mesma intensidade.

— Mas, no entanto, a princesa defendeu Montemor também... — Catarina vira o corpo em sua direção, franziu as sobrancelhas sem entender o que ele queria dizer com aquilo. — Vosso pai me contou que só está aqui devido a um pedido seu. Eu gostaria de lhe agradecer por isso...

— Não, não agradeça. Não fiz por você, fiz por Artena e Montemor, não é justo que o povo pague pelas vossas decisões ou as de meu pai. — Catarina jamais poderia contar a verdadeira intenção por detrás de suas ações, mas começava a achar divertido tripudiar sobre a aparente culpa que o Monferrato estava começando a sentir. Afonso já não tinha a mesma postura do dia em que foi até Artena cancelar o casamento, muito pelo contrário, parecia um garotinho encurralado, aprendendo na prática a ser um rei.

Afonso abaixa a cabeça ao terminar de escutar as palavras dela. Catarina sabia como ninguém ser doce e ao mesmo tempo agressiva.

— É uma pena que vosso esforço não tenha dado certo. — Ele olha para a paisagem de Montemor a sua frente.

— Não entendo, vossa alteza não aceitou a proposta de meu pai?

Ele volta seu olhar para ela.

— A quantidade de minério pedida por vosso pai é absurda. Talvez, se a princesa falar com ele, possamos chegar....

Ela estende sua pequena mão, a parando no ar, em um pedido para que ele parasse de falar.

— Artena tem fornecido água para Montemor durante anos pela mesma quantidade de minério. Nós nunca revisamos o acordo, pois meu pai acreditava que um dia nossos reinos seriam um só. E agora que isso não irá mais acontecer, vossa alteza, não acha justa a quantidade pedida por meu pai?

— Não se trata de achar justo princesa, acontece que Montemor não tem condições de fornecer essa quantidade no momento.

— Mas não é essa a mesma quantidade que será paga a Lastrilha? — Catarina rir balançando a cabeça negativamente. – Mas suponho que Montemor tenha outras opções fora a Artena, não? — Afonso abaixa a cabeça, pois não consegue encara-la e muito menos responder aquela pergunta, Catarina sem conseguir acreditar, abaixa a sua cabeça procurando o contato visual com ele. – Não, não me diga que... — Ela se afasta, leva uma das mãos a testa, massageando delicadamente o espaço entra as sobrancelhas. Ela, então, se volta para ele que encontra forças para encara-la. — O príncipe desfez o acordo que resolveria o problema de água de seu povo, sem ter um segundo plano? Sem ao mesmo ter se dado ao trabalho de procurar ou saber se existiriam outros reinos com condições de fornecer a água que Montemor necessita no momento?

 

Afonso escutava aquelas palavras com os olhos lacrimejando. Catarina sabia usar as palavras como ninguém, na boca da princesa, as palavras tinham o mesmo efeito que uma espada atravessando o coração de um soldado. 

— Eu acreditei que vosso pai poderia ter bom senso para resolvemos essa situação da melhor forma possível.

— Vossa alteza, ofende Artena com o cancelamento de nosso casamento e ainda contava com o bom senso de meu pai? – Ela ri. – Me perdoe, mas isso soa tão inocente, que começo a duvidar se a rainha Crisélia o educou mesmo para ser um rei...

— A princesa está ofendendo a mim e a minha família.

— Me perdoe novamente, não tinha a intenção de me exceder nas palavras. — Ela se aproxima dele e fala baixo próximo ao seu ouvido. – Eu sinto muito, mas não irei falar com meu pai, mas quero deixar claro que não é porque não posso e sim porque não quero!!!!

Catarina sai e deixa Afonso com lágrimas nos olhos.

∆∆∆

Em Artena.

Um homem misterioso, montado em um cavalo observa a cidade ao longe, enquanto, diz:

— Finalmente!!!  


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Notas finais do capítulo

Quem será o homem misterioso no final??
Me contem o que estão achando da história!!!

Obrigado a todos que estão lendo e comentando!!!



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