Destiny escrita por oicarool


Capítulo 10
Capítulo 10




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A relação de Darcy e Elisabeta ficou diferente nos dias que se seguiram à volta dos Williamson. Trocavam poucas palavras e muitas gentilezas. Era quase como se tentassem recuperar o tempo perdido, mesmo sem dizer um ao outro o quanto precisavam daquilo.

Darcy e Lizzie planejavam passeios quase diários, sempre contando com a presença de Elisabeta, que os acompanhava sem pensar duas vezes. Foram à casa de chá, Lizzie finalmente pôde montar em Tornado e passearam diversas vezes pelos jardins da mansão de Julieta.

Mas com Lizzie entre eles não havia espaço para muitas conversas, ainda que nenhum deles fizesse questão de conversar. Sentavam lado a lado enquanto Lizzie corria e brincava, sempre com palavras tranquilas e sem discussões. Elisabeta não tirara mais seu colar do pescoço, uma lembrança da dupla que tanto amava.

Nessa tarde, Lizzie planejara um piquenique ao ar livre. Elisabeta trouxera diversos quitutes e Darcy agora arrumava uma toalha no chão. Lizzie procurava flores pelo campo, afim de decorar a refeição.

— Lizzie, não vá para longe. – Elisabeta disse, roubando as palavras de Darcy.

— Ela ouve você. – Darcy comentou, distraído. – Comigo é sempre uma discussão.

— É porque Lizzie é como você, cabeça dura. – Elisa riu, distribuindo seus lanches.

— Eu? E o que dizer de você?

— Eu sou afirmativa. É diferente. – ela cruzou os braços, sorrindo. – Pensando bem, Lizzie é mais como eu do que como você.

— Então eu sou o único cabeça dura? – ele também cruzou os braços, um sorriso travesso nos lábios.

— Isso é você quem está dizendo. – ela deu de ombros.

— Pois você, Elisabeta Benedito, não deveria ter dito isso. – ele se aproximou rapidamente.

— Não? – ela disse com desdém. – Uma pena eu já ter dito.

— Agora eu terei que puni-la.

Darcy a puxou rapidamente pela mão, sem que Elisabeta pudesse impedir. O corpo dela se chocou com o dele, e os dois sentiram a mudança de ar.

— E o que pretende fazer? – ela disse, com a voz falhada.

— Eu pretendia fazer cócegas. – disse sério. – Mas você me deu outras ideias.

Darcy deu uma olhada rápida para trás, garantindo-se de que Lizzie continuava distraída, sem sequer perceber a presença deles. Então roubou um beijo rápido, o suficiente para deixar os dois sem ar pelo poder do contato de seus lábios e ansiando por mais.

— Darcy! – Elisa ralhou, com um sorriso no rosto. – Não podemos, você sabe.

— Continuamos não podendo? – ele fingiu surpresa. – Me desculpe.

— Está perdoado.

Mas Elisabeta não fez força para se afastar dele, e nem Darcy fez menção de soltá-la. Dessa vez foi a vez dela aproximar-se e roubar um beijo, um pouco mais demorado, mas ainda só um encostar de lábios. E então sorriu travessa, se afastando de Darcy.

E o resto da tarde transcorreu tranquila, com Lizzie dominando todos os assuntos. Darcy e Elisabeta sentaram-se novamente lado a lado, e volta e meia ele acariciava levemente a mão dela. Era uma rotina tranquila, e os dois pareciam ter medo de modificar aquela convivência.

Voltaram tranquilamente para casa. Darcy ainda não havia contado para Charlotte, Lizzie ou Elisabeta a respeito da fazenda que adquirira. Parecia não ser o momento, e parte dele achava que era o lugar perfeito para iniciar sua vida com Elisabeta, quando estivessem prontos para isso.

Por muita insistência de Darcy, Elisa os acompanhou até a casa de Julieta, sendo convencida que ele poderia leva-la mais tarde de carro. E embora soubesse que não devia, Elisabeta ansiava por estar sozinha com Darcy, coisa que havia acontecido apenas nos breves momento em que Lizzie se distraia, nunca por tempo demais.

Mas tão logo abriram a porta, uma moça ruiva jogou-se nos braços de Darcy, fazendo Elisabeta surpreender-se. Não podia ver totalmente o rosto dela, mas era uma jovem bonita, seus cabelos de cor de fogo, os olhos claros. E pela forma como abraçava Darcy e era abraçada por ele, via-se que tinham intimidade.

Elisabeta tentou controlar suas emoções, em vão. Primeiro ficou surpresa, e então um sentimento muito próximo de raiva a atingiu. Quem seria a moça? Com certeza era alguém que Darcy conhecia muito bem, e claramente não era uma moradora do Vale do Café.

— Ludmila! – ele disse sorrindo, soltando-a. – O que a traz aqui?

— Saudades dos seus olhos, o que mais poderia ser? – ela piscou, ajoelhando-se em frente à Lizzie. – E como vai minha garotinha?

— Tia Lud! – Lizzie jogou-se nos braços da mais velha.

E foi então que Elisabeta sentiu-se sobrando. Não só Darcy a conhecia, mas Lizzie também a adorava. Talvez tivesse interpretado tudo errado, e Darcy já tivesse alguém. Podia ver pela expressão dele o quanto o alegrara rever Ludmila.

— Senti sua falta, pequena. – Ludmila sorriu. – E esta é quem? – perguntou apontando para Elisabeta.

— Elisabeta. Elisabeta Benedito. – Elisa tomou a frente, estendendo sua mão.

— A famosa Elisa. – Ludmila sorriu. – Ouvi falar de você.

Elisabeta a encarou com desconfiança, desconfortável por estar naquele lugar. Deu-se conta então do abismo que existia entre ela e Darcy. Sempre considerara seus gênios pouco compatíveis, mas vendo Ludmila, com suas roupas caras e trajes finos, percebia que seu mundo era completamente diferente. Iludia-se ao achar que poderia fazer parte do mundo dos Williamson.

— Tia Lud, você vai morar aqui? – Lizzie perguntou feliz, e o coração de Elisabeta afundou um pouco.

— Minha pequena, você sabe que a tia Lud nunca fica muito tempo no mesmo lugar. – ela fez a menina rir.

— Mal posso esperar pra saber o que te traz até o Vale do Café. – Darcy também sorriu, apontando em direção ao sofá.

— Bem, eu vou pra casa. – Elisabeta disse, discretamente.

— Fique, eu a levo em casa mais tarde. – ele disse, tranquilo.

— Melhor não. – Elisa disse um pouco mais defensivamente do que deveria. – Dê um beijo em Lizzie, ela está distraída.

E então Elisa virou as costas, sem pensar duas vezes. Talvez estivesse sendo infantil, talvez estivesse interpretando tudo errado. Mas pela primeira vez percebeu que não era um elemento tão especial na vida de Darcy e Lizzie. A presença de Ludmila deixava claro que, como ela, eles tinham outras amigas. E provavelmente no dia seguinte seria com Ludmila que passariam o dia.

Sentia-se feliz por eles, e triste por ela. Iludira-se a respeito de sua presença na vida daquela família. Chegara a pensar que poderia resolver sua situação com Darcy, que um dia talvez pudesse ser a esposa dele, a mãe de Lizzie. Mas não havia esse espaço, Darcy nunca se interessaria verdadeiramente por uma caipira do Vale do Café.

Darcy a observou partir, confuso. Voltou seus olhos para Ludmila, que o encarava com interesse, enquanto Lizzie tagarelava sobre o Vale do Café e seu assunto preferido, os animais das redondezas.

— Não sei o que ocorreu. – ele disse, apreensivo.

— Meu caro Darcy, você tem muito a aprender sobre as mulheres. – Ludmila riu, o puxando para outro abraço. – O que você acaba de ver é sua doce Elisabeta incomodada com a minha presença em sua vida.

— Mas... – ele tentou argumentar, fazendo Ludmila rir.

— Mas você não fez qualquer menção a esclarecer a natureza de nossa relação. Prepare-se, meu amigo. Você tinha razão sobre ela. É um furacão, e acho que nos daremos muito bem.

Darcy encarou a porta, atordoado. Não havia pensado nessa possibilidade. Ludmila era uma grande amiga dele e de Mary, uma mulher a frente de seu tempo, independente e expansiva. Mas jamais se envolveria com Darcy, e nem ele com ela. Ludmila era bastante feliz com seu namorado Januário. Mas seria possível que Elisabeta estivesse com ciúme?

Enquanto isso, Elisabeta pisava duro a caminho de casa. A tristeza agora dividia espaço com uma irritação que ela não sabia de onde tinha saído. Se Darcy tinha uma namorada, porque pela forma como se abraçaram, só poderia ser uma namorada, por que a beijar nesta tarde?

Seria possível ter se enganado tanto com Darcy? Acreditara realmente que ele era um homem diferente. Sempre tão correto, tão centrado. Mas era mesmo um arrogante, se achava que poderia usá-la dessa forma. Sequer tivera a decência de apresentar Ludmila como sua namorada, ou o que quer que ela fosse.

Bateu a porta do quarto atrás de si, jogando-se na cama.

— Que bicho te mordeu? – Jane perguntou, tirando os olhos de seu livro.

— Darcy. – a mais velha bufou.

— Darcy mordeu você? – Jane riu, em tom malicioso.

— Fique quieta, Jane. Darcy tem uma namorada.

— O que? Uma namorada?

— Sim, uma moça ruiva de olhos claros, muito bonita por sinal. Acabo de vê-la na mansão de Julieta, com uma grande intimidade com Williamson pai e filha. – cruzou os braços.

— E ele disse a você que era uma namorada? Tenho certeza que Camilo mencionaria este fato.

— Jane, tem coisas que não precisam ser ditas. Darcy recebe a visita de uma mulher com quem tem intimidade, e que conhece a filha dele. Me parece óbvio.

— Será que toda essa teoria não está sendo motivada por um monstrinho verde, Elisa? – Jane pulou na cama da irmã.

— Monstrinho... do que você está falando, Jane?

— Você está agindo da mesma forma que agia quando éramos mais novas e por algum motivo eu e Mariana resolvíamos brincar sozinhas. Quando voltávamos, você tinha toda uma teoria para o motivo de não querermos você por perto.

— Jane, pare de falar besteiras. – Elisabeta irritou-se.

— Quanto mau humor! – Jane reclamou. – Pois eu acho que está com ciúmes, Elisabeta. Está corroendo você a ideia de Darcy ter uma amiga.

— Ciúmes? Eu? – era óbvio que estava, e sabia disso.

— Você. Mas ainda que agora seja só uma amiga, você não deveria deixar sua situação com Darcy tão atrapalhada. Cedo ou tarde ele realmente encontrará outra pessoa.

Elisabeta suspirou, colocando o travesseiro no rosto. Era só o que faltava ter ciúmes de Darcy Williamson, um homem que não era nada seu. Nada além do pai de Lizzie, uma criança maravilhosa a quem se afeiçoara. Mas talvez apenas estivesse impondo sua presença e eles a estivessem convidando para seus passeios por obrigação.

E foi com esse pensamento que Elisabeta adormeceu horas mais tarde, ciente de que o ciúme a estava fazendo reduzir sua importância na vida de Lizzie. Mas recordava-se do abraço de Darcy e Ludmila, e não havia apenas amizade naquela troca. Nenhuma mulher abraçaria daquela forma um homem por quem não tivesse interesse.

A manhã seguinte veio mais rápido do que Elisabeta gostaria, e seu humor não havia melhorado. Negou o convite de Jane para ir até a casa dos Williamson, e ignorou o bilhete que chegou algumas horas depois, com um convite de Darcy para o jantar. Optou por fazer o que sempre fazia quando sentia-se assim, e foi na velocidade de Tornado que Elisabeta buscou a paz.

Precisava mais uma vez definir sua vida. Não podia ser refém de um sentimento por um homem que não iria ser seu. Talvez fosse a hora de juntar sua coragem e ir embora do Vale do Café, deixar pra trás suas ilusões. Doeria, mas sempre poderia manter contato com Lizzie. Talvez fosse inclusive melhor para a menina, pois como Jane alertara, cedo ou tarde Darcy encontraria alguém.

E não seria ela. Uma Benedito nunca seria uma Williamson. Não possuía a classe ou educação para ser parte daquela família. Não como Ludmila, ou tantas outras mulheres de Londres ou São Paulo. Ela era a novidade de Darcy no Vale do Café, e nunca seria mais do que uma conquista.

Tornado correu pelas paisagens do Vale do Café naquela tarde, e Elisabeta avançou a escuridão com seu companheiro. Retornou quando as luzes já estavam apagadas e Jane adormecida. Amanhã seria um novo dia. E seria o dia de tomar sua decisão.


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