À Procura de Adeline Legrand escrita por Biax


Capítulo 90
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas!

Chegamos ao último capítulo, minha gente. Parecia que ele nunca chegaria, mas chegou. Aproveitem esse HIPER epílogo. Espero que gostem.

Boa leitura!



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Quando despertei, a primeira coisa que senti foi o braço de Natanael em mim. Sua cabeça estava encostada nas minhas costas e nuca, como se tivesse dormido naquela posição. Abri um sorriso sem perceber, me recordando da noite que tivemos. Não poderia ter sido melhor, Natanael sabia o que estava fazendo e não foi difícil me deixar mole em seus braços. Não que eu também não tenha feito a minha parte, eu também consegui deixá-lo exausto, por isso dormimos igual duas pedras.

Junto com aquelas lembranças, me veio a pergunta que eu tinha feito antes de retornarmos aos amassos. Eu realmente perguntei se ele acreditava em viagem no tempo.

Heloise, Heloise… você quer ouvir todas do Castiel e companhia, não é? Sabe que ele vai falar um monte, que ninguém pode ficar sabendo, que é um segredo nosso, que já não bastasse eu contar ao Nathaniel, contei a reencarnação dele também. Eu sei, eu sei, mas como eu poderia conviver com ele sem contar o que aconteceu?

Foi a experiência mais louca da minha vida!

Eu poderia mandar uma mensagem ao Castiel, só comentando que eu gostaria de contar… Obviamente ele vai dizer para eu não contar. Ou seria melhor não dizer nada?

Natanael resmungou baixinho e beijou minha nuca. Achei que ele tinha acordado, mas não, continuava respirando tranquilamente. Tirei seu braço cuidadosamente e me virei, devagar, para observá-lo. Puxei os cabelos que estavam em seu rosto e passei a ponta dos dedos, contornando alguns pontos, como a sobrancelha, o nariz, maçã do rosto, boca.

Eu não sei se é tão bom ou tão ruim, mas… como eu te amo. Tenho vontade de te amassar, morder, beijar e fazer qualquer coisa com você.

Me contentei em dar um beijo singelo em seus lábios entreabertos e me levantei, tentando não mexer a cama. Fui até o guarda-roupa e peguei uma calcinha e uma camiseta, e fui para o banheiro. Depois de sair, coloquei algumas fatias de pão no forninho elétrico e liguei a cafeteira, colocando o pó e a água.

Eu vou acabar contando, não vou? Eu sei que vou, eu não aguento.

Tom e Jerry vieram me dar bom dia e eu os peguei no colo, esfregando o rosto neles, adquirindo pelos na cara toda. Depois de soltá-los e me limpar, coloquei pratos, tigelas e xícaras na mesa, junto da manteiga, geleias, leite e uma caixa fechada de cereal.

Olhei o horário no relógio do fogão, vendo que ainda nem eram dez horas da manhã. Ouvi o zumbido da cafeteira começando a funcionar e cruzei os braços, olhando para ela como se pudesse me ajudar a pensar. Esperei até que terminasse, e depois coloquei a jarra em cima da mesa. Abri as portas da varanda, sentindo o ar fresco da manhã e respirei fundo, admirando a paisagem que eu tinha dali. De repente, braços me cercaram e sorri, me sentindo acolhida naquele abraço.

— Bom dia — sussurrou Natanael em meu ouvido, dando um beijo debaixo da orelha.

— Bom dia, dorminhoco.

— Você madrugou para preparar o café?

— Sim, acordei ao raiar do sol — brinquei e ele riu, me soltando. Me virei e lhe dei um beijo rápido. — Não faz nem quinze minutos que eu levantei.

— Ah, tudo bem. Eu me sentiria culpado se você tivesse levantado tão cedo para colher trigo enquanto eu dormia.

Dei risada, indo me sentar na mesa. Nate se sentou no lugar da frente e começamos a comer pelo cereal. Ele também gostava de começar pelo doce. Acabamos sorrindo um para o outro na primeira colherada. Comemos em silêncio, apenas ouvindo o som dos pássaros lá fora e a pouca brisa que entrava na cozinha. Quando acabamos, Nate levou as louças para a pia e começou a lavá-las.

— Então... Acho que agora podemos falar sobre como você tem uma corrente com o brasão da minha família, não? — Ele comentou, divertido, ensaboando as tigelas.

Encostei no balcão da pia, de frente para ele. — Eu... tinha perguntado se... você acredita em viagem no tempo e... você não respondeu ainda.

— Continuo não entendendo a relação de uma coisa com a outra.

— Só responde. Sim ou não?

— Não — falou de forma óbvia. — Não existem provas de que é possível, não que eu saiba. — Me observou, curioso. — Por quê?

— E se... existissem provas? E se... alguém tivesse ido para o passado e voltado com... alguma coisa?

Nate sorriu, parecendo achar engraçado o rumo da conversa, enxaguando as xícaras. — O que você está querendo dizer? Que você foi para o passado e conseguiu a corrente?

— Hm... Sim.

Ele me olhou rapidamente, achando que eu estava brincando. — Ah, sei.

É, Heloise, você não pensou nessa parte, a principal. Como convencer Natanael de que você está falando a verdade, porque assim só parece que você fumou alguma coisa e ficou doidona.

Suspirei, desistindo de ser indireta. — Meus amigos são cientistas e eles criaram uma máquina capaz de voltar no tempo. Eu fui a segunda cobaia. Na primeira vez, Gustave foi sozinho para mil novecentos e dez, apenas para saber se tudo funcionaria. Claro que eles fizeram testes antes, com frutas e com um passarinho. Eu fui contra, mas não tínhamos muitas opções... O importante é que deu certo, o passarinho voltou e está vivo, as frutas nem tanto porque foram comidas, mas voltaram intactas.

— Hm. — Nate murmurou, terminando de colocar as louças no escorredor e enxugou as mãos em um pano de prato, me olhando.

— Gustave foi em uma noite de sábado. Ficou três horas lá e voltou. Anotamos tudo o que ele nos disse, as roupas das pessoas, onde a máquina estava, no meio de uma floresta, se havia muito movimento aos arredores da floresta... Anotamos coisas suficientes e, graças a essa invenção, ficamos pensando se pequenas mudanças fariam grandes diferenças no futuro e... — Comecei a contar sobre a família da Íris e em como fizemos um plano para tentar modificar alguns acontecimentos. Natanael pareceu entretido na minha história, mas aparentemente duvidoso sobre acreditar ou não.

“Então, eu fiquei responsável por tentar mudar as coisas. Eu precisava fazer com que Adeline não se casasse com Armand, sem saber quem ele era, nome, aparência, qualquer coisa. A minha missão era fazer com que Adeline não conhecesse Armand e se aproximasse o quanto antes de Jean, o marido que deu certo. Assim que eu cheguei em mil novecentos e doze, tracei meu trajeto até a loja, mas esqueci de trocar minhas roupas por um vestido e acabei sendo perseguida por policiais. E nisso, eu esbarrei no seu tataravô, Nathaniel, porque ele estava parado no meio da calçada lendo um jornal, e no momento em que eu ia desviar, ele deu um passo para frente e nós dois caímos no chão. Os policiais iam me levar, mas ele os convenceu de que eu era uma paciente dele, e partir disso começou a me ajudar.”

Contei quando Nathaniel me levou até seu escritório, o tanto que conversamos e como eu fui completamente enrolada, depois sobre quando fomos até a loja e Adeline não estava, o almoço que tivemos, depois sobre a pensão e todas as pessoas que eu conheci. Falei sobre como o psicólogo se interessou em saber mais sobre mim, como anotava minhas respostas em seu livrinho e como ele devia me achar um pouco maluca. Citei tudo o que eu me lembrava, mas estava enrolando um pouco para chegar na parte dos sentimentos.

— ... e eu, na loucura do momento, resolvi trazê-lo comigo para o presente. — A essa altura, já estávamos sentados de volta à mesa, com Nate me olhando incrédulo, apesar de todos os detalhes que eu havia dado. Para tentar dar mais credibilidade ao que eu dizia, pausei o falatório e fui até meu quarto. Procurei as roupas de Nathaniel e as levei para a mesa. — Ele esqueceu as roupas dele aqui.

Natanael desdobrou as peças, as analisando, sem dizer nada e com cara de quem ainda não estava convencido.

— Foi mais fácil convencer Nathaniel do que você — comentei ao ver sua expressão.

Ele coçou a testa. — Heloise... Eu... eu nem sei o que dizer. É tudo muito interessante, parece um roteiro de filme de ficção científica, mas... — Deu de ombros, como se não pudesse fazer nada para acreditar.

— Nate... Depois que voltamos para o passado, eu me dei conta de que estava apaixonada por Nathaniel, e ele por mim. Nós tivemos um romance, nós nos beijamos, nos abraçamos e dividimos centenas de conversas... Ele não mandou as cartas para a minha tataravó. Eram para mim. Eu precisei voltar de deixá-lo para trás. Nós dois sabíamos que uma hora eu teria que voltar... Agora me veio a mente um trecho de uma das cartas que ele escreveu. Ele disse: “Às vezes imagino o que você está fazendo. É engraçado pensar que... bem, você sabe, em como estamos tão “distantes”. Estaria você brincando com seus gatos? Vendo programas de culinária? Ou enchendo preservativos e os jogando para cima e resmungando sobre o gosto que ficou na boca...”

Assim que a última palavra saiu da minha boca, Nate mudou sua expressão. Com certeza ele se lembrou.

— Ou você acha que existia programas de culinária naquela época? Camisinhas de látex que esticavam? “Me pergunto se... algum dia, algum filho, neto ou tataraneto te encontrará. Será que é loucura minha imaginar algo assim? Quem sabe”, disse ele em uma das últimas cartas. Ele queria que as cartas chegassem até mim, Nate. Ele tinha esperanças de que elas chegassem até mim. — Puxei a corrente para fora da blusa e a mostrei. — Ele queria que eu levasse algo dele, para que nunca esquecesse do que vivemos, e ele me deu essa corrente. Sabe o que ele ficou para se lembrar de mim? Os desenhos. Aquele desenho que estava em um porta-retrato e você o comparou comigo, lembra? Sou eu. Aquele desenho de uma moça tocando piano? — Eu não sabia o porquê, mas meus olhos começaram a se encher de água. — Sou eu, na festa de despedida que fizeram para mim no dia em que eu fui embora. Sabe o que eu toquei? My heart will go on, música tema do Titanic. Sabe por que você se emociona quanto escuta essa música? Porque foi a música que você ouviu, vidas atrás, no momento em que a pessoa que você mais amava foi embora.

Parei de falar para soltar o ar pela boca e olhei para cima, tentando não chorar.

— Eu nunca... achei que te encontraria de novo. Eu... encontrei Castiel, encontrei Lysandre, que agora é Raphael, encontrei Denise que é a Íris e Adeline que é a Maria... Eu não achava que te encontraria também. — Então, voltei a encará-lo. Ele estava tocado pela minha emoção. — Talvez você consiga entender por que eu fiquei daquele jeito quando o vi na escola.

Natanael estava atônito. Devia estar ligando todos os pontinhos.

— A Priya... viu que eu fui muito importante para a vida anterior da Maria, quando ela era Adeline, porque eu participei, não foi minha vida anterior, por isso ela não conseguiu ver em mim esse momento, porque ela estava procurando em outras vidas, não nessa.

Ele passou a mão no cabelo, o jogando para trás, olhando para vários cantos do cômodo. De repente, me lembrei da imagem que eu tinha no celular e eu me perguntei como havia conseguido esquecer dela. Peguei o aparelho e procurei na galeria, encontrando a foto que eu tirara de Nathaniel no quarto da pensão e virei a tela para Natanael, que arregalou os olhos no mesmo segundo.

— Como...

— Com certeza você está vendo a semelhança...

— Nós somos...

— Muito parecidos? Sim. Seu pai também é muito parecido com ele. Até achei que era ele quando o vi... mas tive certeza que era você assim que o olhei. Eu tirei essa foto no quarto da pensão dos Pierre, onde eu fiquei praticamente um mês. A viagem que eu fiz foi para lá.

 — Tudo bem, agora você está me assustando. — Ele recostou na cadeira.

— Já era hora.

— Você… viajou no tempo, conheceu Nathaniel, mudou várias coisas, se apaixonou por ele e ele por você… Ele te deu a corrente dele…

— Ele também me deu o anel da avó dele, mas eu o devolvi. Queria que ele desse aquele anel a alguém que ele amasse do fundo do coração e…

— Espera. anel?

— É, um com uma pedra no centro e várias pequenininhas em volta. Ele disse que era da avó dele e que ela queria muito que ele continuasse passando pelas gerações, e como só teve filhas, você foi... quer dizer, Nathaniel foi o primeiro homem a nascer, então ela deu para ele, para que ele entregasse o anel para a mulher da vida dele.

— Ele… te deu o anel porque você era a mulher da vida dele...?

Pela primeira vez, senti as bochechas queimarem. — Bom… é um jeito de se ver.

Nate tamborilou os dedos na mesa, pensativo. — Ele… devia te amar muito. E-eu estou tentando ver isso como… Como se ele fosse seu ex, mas… era meu tataravô. Isso é muito… Nem sei que palavra usar.

— Acredite, não estava nos planos acontecer uma coisa dessa. Eu me xinguei muito quando descobri o que estava acontecendo e até me sentia culpada quando ficávamos juntos… Por que você acha que eu chorei igual uma condenada quando li as cartas? Eu sabia de exatamente tudo o que ele estava falando. Quer dizer, não tudo, mas boa parte. Eu ajudei Clarisse e Oliver, incentivei os dois a ficarem juntos logo. Ajudei Denise e Castiel, porque Denise se casaria com um homem horrível por estar “velha” demais e eu tive que falar um monte ao Castiel para que ele tomasse alguma atitude. Ajudei Adeline e Jean, afastei alguns homens que estavam interessados nela… Ajudei uma garota chamada Melody a fugir porque ela e suas irmãs eram obrigadas a se prostituir pelo próprio pai… Eu… fiz tantas coisas, eu mudei tantas coisas… Eu conheci Alexander. Eu o incentivei a viajar mais, porque só assim ele teria experiências para escrever livros incríveis. Eu o autorizei a usar o meu nome em sua personagem, que ele se baseou em mim para escrever, e em Nathaniel também… Não dá para ter noção apenas falando.

— Ok, as coisas fazem completo sentido, mas… Como é possível? Como… você conseguiu convencê-lo de que era do futuro?

— Na lábia, usando um livro de história, falando dos acontecimentos futuros… Mostrando algumas coisas que eu levei, tirando a foto que você viu… E depois o trazendo para cá.

— Você só contou para ele?

— Sim. Ele ficou tão empenhado em me ajudar a encontrar Adeline que eu precisei ser sincera com ele, assim como eu estou sendo com você. Eu contei tudo, exatamente tudo. Castiel ficou uma fera comigo, mas não tinha o que fazer.

— Castiel? Mas ele não era daquela época?

— Não, eu digo o Castiel daqui. Ele é meu melhor amigo desde a escola e é um dos cientistas por trás da máquina… Eu fiquei pensando, desde que te conheci, se te contava logo toda a verdade, mas o que mais me fazia pensar era a bronca que eu levaria tanto dele quanto dos outros… Você deve imaginar o porquê precisamos manter isso em segredo.

Natanael afirmou levemente. — E no fim, você acabou me contando.

— Sim, porque eu não conseguiria conviver com você escondendo esse grande acontecimento da minha vida. Eu não queria começar a nossa história escondendo algo tão importante.

— Uau… Eu… agradeço por ter sido sincera. Não deve ter sido fácil.

— Não, não foi… Mas você ainda não me parece completamente convencido.

— Não, eu acredito em você, só que é algo tão… surreal.

Acabei pensando em uma coisa. Eu sabia que as chances de Castiel deixar seriam mínimas, mas não custava tentar. Peguei meu celular e procurei seu contato, colocando para discar o número. Alguns segundos depois, a ligação foi atendida.

— Íris…? Sim, está tudo bem. Castiel está dormindo ainda...? Você sabe o que os meninos fizeram com a máquina? É, se desmontaram, tacaram fogo… Sério? Hm… Eu preciso falar com o seu namorado, então vou dar um pulo aí com… alguém. Sim, tem problema...? Tudo bem… Até daqui a pouco. — E desliguei o celular.

— Vamos em algum lugar?

— Sim. Vamos viajar. — Me levantei. — Vai se trocar, saímos em dez minutos.

Sem esperar uma resposta, segui para o meu quarto, diretamente ao guarda roupa. Procurei por um dos vestidos de época e o coloquei dentro da mochila, junto com a roupa de Nathaniel. Se iríamos voltar, precisávamos nos misturar. Eu não me deixaria cometer o mesmo erro daquela vez.

Também não poderia deixar que alguém me visse. Por mais que sentisse saudades dos meus amigos, não poderia bobear... E muito menos Natanael. Ele tem mais chances de ser reconhecido, principalmente por seus pacientes... Preciso pensar em algo que o disfarce muito bem.

Lembrei de uma peruca louro mel que estava guardada em uma caixa e lá fui eu procurar por ela no guarda roupa. Peguei uma cadeira para conseguir olhar na última prateleira e comecei a tirar as coisas da frente, as deixando em cima da cômoda, jogando na cama e no chão...

— Não íamos sair em dez minutos...? — Natanael apareceu, já com roupas diferentes.

— Eu preciso achar minha peruca, estou quase lá... Achei! — Puxei a caixa e desci da cadeira, a abrindo em cima do colchão e tirando a peruca da redinha.

— Para quê?

— Disfarce, meu bem! Acha que caso alguém me veja de longe não vai me reconhecer? — Peguei minha caixinha de grampos e comecei a prender os cabelos. — Eu estava pensando em como vou fazer para te disfarçar também...

— Realmente precisa?

— Você viu como você e Nathaniel são praticamente iguais? Pois é. Apesar do cabelo ser grande, você seria confundido com ele a quilômetros de distância, acredite, ainda mais pelos pacientes dele, que devem ser muitos... Talvez um pouco de maquiagem dê conta, posso mudar alguns traços do seu rosto só com base e sombra marrom. — Ele fez uma cara de quem pensou “onde foi que eu me meti?”.

Ajeitei a peruca na minha cabeça e olhei no espelho, ficando satisfeita. A cor dos fios já mudava bastante minha feição, e com a maquiagem ficaria ainda melhor. Ninguém me reconheceria, pelo menos.

— Até que você fica bem com o cabelo claro — comentou Nate, me observando.

— Eu fico bem com qualquer cor de cabelo — brinquei, lhe dando uma piscadela. — Pega as roupas que estão em cima da mesa, por favor. Você terá que usá-las.

Rapidamente ele foi buscar as roupas e eu as coloquei na mochila, junto com algumas maquiagens. Não levaria nada. Vamos nos trocar na casa do Castiel, fazer a viagem, ficar por pouco tempo, apenas para Natanael acreditar de verdade, e vamos voltar, sem que nenhum conhecido nos veja.

— Pronto. Vamos.

Tranquei a casa, verifiquei a comida e água dos bichanos e saímos para a rua, caminhando rapidamente para o nosso destino. Assim que chegamos, toquei a campainha e logo Íris nos atendeu, olhando surpresa para Natanael.

— Uau, você disse que eles eram parecidos, mas não imaginei que fosse tanto. — Ela riu, o cumprimentando depois e me dar um abraço.

— Pois é. — Entramos na casa silenciosa. — Ele acordou?

— Sim, agora há pouco. Eu falei que você queria conversar com ele...

— Ótimo. — Tomei a dianteira e fui diretamente para a garagem, acendendo a luz e encontrando a máquina tampada por uma lona gigante. A puxei de uma vez, fazendo um pouco de pó pairar no ar.

— Heloise, você realmente está pensando em... — começou Íris, já percebendo as minhas intenções.

— Eu preciso mostrar a ele, Íris, é caso de vida ou morte.

— Você sabe que isso não é uma boa ideia. O Castiel vai...

— O que você pensa que está fazendo? — E naquele instante, Castiel entrou no cômodo, me encarando como se eu fosse louca, e então viu Natanael, tendo a mesma reação de Íris, porém, rapidamente voltou a me olhar, também sacando meu plano. — Você só pode estar brincando. Qual parte de “não vamos mais mexer com a máquina” você não entendeu?

— Eu juro que não vamos mudar nada — falei, dando uns passos até ele. — Eu preciso mostrar, Castiel, você deve imaginar como eu estou. Eu preciso mostrar que é verdade.

Castiel abriu a boca para protestar, mas a fechou e suspirou. — Você falou algo do tipo antes de ir para lá e mesmo assim mudou muito mais coisa do que devia... — Ele deu dois passos em direção à máquina, a olhando com as mãos na cintura. — Vocês não podem ser vistos por ninguém que já os conheça, não vão falar com ninguém, não vão mexer em nada, não vão comprar nada e nem comer nada. Vão apenas olhar, entenderam? — E nos encarou seriamente.

Nós dois afirmamos rapidamente e ele se demorou em mim, apontando o dedo.

— Eu juro, prometo de dedinho, se você quiser.

Ele ignorou meu juramento e foi até a máquina, ligando o painel, fazendo tudo se acender. — Você contou tudo para ele?

Dei uma olhada rápida para Natanael. — Sim.

— E você acreditou nessa maluca? — indagou ao Nate, com um sorriso de lado. Natanael me encarou, talvez pensando que eu realmente poderia ser maluca.

— Ela conseguiu me convencer.

— Ela sempre consegue convencer todo mundo... — Ele começou a digitar no painel. — A máquina estava desligada, a bateria não vai durar tanto quanto das outras vezes. Vocês têm, no máximo, duas horas.

— É o suficiente. Deixe carregando enquanto nos trocamos. — Peguei Nate pela mão e saímos da garagem, e fomos para a sala de música. Fechei a porta, abri a mochila e entreguei as roupas para ele. — Se troca, rápido.

Nos trocamos ao mesmo tempo e eu não pude deixar de me encantar com Natanael vestido daquele jeito. Se não fosse o cabelo maior e mais escuro, seria o Nathaniel em pessoa. Quer dizer, já era, mas... Enfim, esquece.

Peguei as maquiagens e nos sentamos no sofá. Passei base em alguns pontos do seu rosto, iluminando alguns lugares e escurecendo outros com a sombra marrom. Quem olhasse de longe não o reconheceria, apenas se chegasse perto. Fiz o mesmo comigo e ainda me dei ao luxo de fazer sardas falsas.

— Você acha que alguém vai nos reconhecer? — Nate perguntou, já de pé.

— Acho que não. Estamos bem diferentes... — Peguei um elástico da mochila e prendi o cabelo dele em um rabo de cavalo na nuca. — Espero que não.

Deixei nossas coisas em cima do estofado e voltamos à garagem. A porta da máquina já estava aberta, apenas nos aguardando.

— Não esqueçam. Duas horas no máximo. — Castiel ajustou algo no painel.

Afirmei com um aceno de cabeça e indiquei para que Natanael entrasse primeiro. Antes de segui-lo para dentro, me virei para Castiel.

— Por que você foi tão fácil? Esperava uns xingamentos, sabe.

Ele riu. — E ia adiantar alguma coisa? Você iria de qualquer jeito, então o que eu posso fazer é ditar as regras e esperar que você as siga.

Sorri e lhe dei um soquinho no ombro. — Pode deixar, capitão. — Entrei, me espremendo com Nate. — Até daqui a pouco.

— Sejam discretos — disse Íris, acenando.

Castiel fechou a porta e a luz apagou por alguns segundos, voltando a acender. A máquina indicou a data e o horário, e eu confirmei o trajeto. A cabine tremeu e eu senti o mesmo frio no estômago da primeira vez. As luzes coloridas entraram pela pequena janela de vidro e, poucos segundos depois, tudo ficou escuro e sentimos o impacto no chão. Abri a porta, vendo a floresta ao nosso redor e sorri, saindo.

Natanael me seguiu para fora, olhando ao redor, surpreso.

— Ainda acha que eu sou maluca?

— Um pouco, eu acho.

Fechei a porta e arrastei alguns galhos, não que fosse fazer tanta diferença. Se ninguém viu a máquina no tempo quando fiquei aqui, ninguém veria agora.

Segurei a mão de Natanael e segui em frente, animada para lhe mostrar a Paris de mil novecentos e doze. Alguns minutos depois, chegamos à rua e atravessamos para a calçada do outro lado. Aos poucos, o movimento de pessoas surgiu e, felizmente, nenhum parecia ver algo de diferente em nós. Observei a reação do homem ao meu lado, feliz por ele estar completamente chocado.

— Se você ainda não acreditar, merece levar um sacode.

— Você ainda tem alguma dúvida de que eu acredito? Olha onde estamos — exclamou baixo, olhando tudo com muito interesse.

— É muito legal, não é?

— É incrível... Me sinto dentro de um filme de época...

Continuamos caminhando até que chegamos na rua principal. Mostrei a padaria dos Riviere, de longe, assim como a pensão e a loja dos Legrand, sem chegar muito perto. Infelizmente não vi ninguém conhecido, mas talvez fosse melhor assim. Seguimos e eu mostrei onde o irmão ourives de Jean morava, chegamos no parque e eu mostrei a casa de Alexander e Armin e fomos até o parque Luxemburgo, onde vi Louise pela primeira vez. Eu estava me sentindo a maior guia turística do século. Talvez fosse.

De relance, bati os olhos em um dos relógios no centro do parque e percebi que nosso tempo estava acabando. Levamos tempo demais no passeio.

— Nós precisamos correr, Nate, daqui a pouco dará duas horas que chegamos aqui — falei, começando a puxá-lo para a saída.

— Já? Mas passou tão rápido.

— Eu sei, por isso temos que correr agora.

Aceleramos o passo. Nem poderíamos correr, ou chamaríamos muita atenção, então tentamos andar o mais rápido que conseguimos. Eu já estava sem fôlego quando chegamos na floresta, e a partir dali saímos correndo. Acabei indo mais rápido, para ligar logo a máquina, mas travei abruptamente quando notei alguém parado ao lado da cabine, que virou ao ouvir nossos passos. Ouvi latidos e vi que havia uma cadela junto, abanando o rabo para mim.

— Heloise... — Nathaniel me encarou, surpreso e confuso. — E-eu... O que... — E então, olhou para o meu lado assim que Natanael parou. Eles se encararam, assustados.

Eu não sabia se ficava feliz ou alarmada. — Nath... — Soltei um riso, realmente contente por vê-lo. — Eu recebi suas cartas, eu descobri tudo o que aconteceu... — Heloise, não fale demais, lembre-se de não mudar mais do que já mudou.

— Ele é... — Ele deu alguns passos em nossa direção.

— Sim, seu tataraneto. Por favor, não se aproximem demais, eu não sei se pode acontecer algo. — Dei um passo à frente, colocando a mão em seu ombro. — Nós viemos porque eu precisava mostrar. Eu contei a ele tudo o que aconteceu... Eu sinto muito, mas nós temos que ir. A bateria da máquina vai acabar daqui a pouco. — Fui até a cabine e a liguei pelo painel, abrindo a porta.

— Eu tenho tantas perguntas...

— Eu sei, eu também, mas não posso responder e nem perguntar nada. Não posso modificar absolutamente mais nada no tempo. Não era nem para nos encontrarmos aqui, mesmo que tenha sido bom. — Sorri, sinceramente.

— Eu estava passeando com a Lolo quando vi a máquina. — Ele sorriu, fazendo a cadela abanar o rabo ao ouvir seu nome e eu dei risada.

— Bom saber que você a adotou... Nós precisamos ir.

Ele balançou a cabeça, concordando. Não resisti e me joguei contra ele, o abraçando apertado, e ele retribuiu. Sussurrei um “obrigada pelas cartas. Finja que não nos viu aqui, por favor”, e ele afirmou. Suspirei e me soltei, indo para dentro da máquina, que estava começando a juntar energia.

Nathaniel e Natanael se olharam, e o primeiro disse algo que eu não consegui ouvir, e o outro apenas concordou brevemente, entrando na cabine. Antes de fechar a porta, acenamos um para o outro e eu confirmei a partida. A máquina tremeu, fazendo as mesmas coisas de antes, e rápido demais, voltamos à garagem de Castiel.

Assim que saímos, coloquei as mãos na cintura, sem saber o que pensar. Natanael parou na minha frente, como se esperasse algo, e eu o abracei.

— Obrigado.

— Tudo bem. — Sorri contra seu peito, feliz por ele estar ali comigo. — O que ele te disse...?

Ouvimos a porta da garagem abrir e o casal entrou. — Eu estava contando os minutos. Vocês quase se atrasaram — disse Castiel.

— Estamos aqui, deu tudo certo, relaxa. Agora vocês podem desmontar a máquina, eu deixo.

— Ah, muito obrigado, madame do tempo — ironizou ele.

— Por nada.

Depois de tomarmos um café e falarmos sobre as descobertas de Natanael, voltamos para casa. Ele foi para a dele, e eu para a minha. Me larguei no sofá, arrancando a peruca e soltando os cabelos, pensando que queria ter tido mais tempo para conversar com Nathaniel, mas sabia que foi melhor daquele jeito. Eu não poderia contar o que já sabia, ou poderia mudar o rumo das coisas, se é que já não mudei com esse encontro...

A campainha tocou e eu me forcei a levantar, indo para a porta. Assim que a abri, vi Nate parado ali, com um pequeno sorriso.

— Diga, vizinho, quer uma xícara de açúcar? — brinquei e seu sorriso alargou.

— Não, eu quero te dar uma coisa. — Ele puxou minha mão, rapidamente colocando um anel em meu dedo médio ao mesmo tempo que eu arregalava os olhos. — Ele me disse para te dar o anel, porque você é a mulher da minha vida. Era e sempre será.

— Nate... — sussurrei, sem querer, completamente surpresa. — Você estava com ele...

— Sim. Minha mãe me deu depois do divórcio com meu pai e ela me disse para entrega-lo à mulher que eu me apaixonasse. Esse... encontro inesperado com Nathaniel me fez ter ainda mais certeza do que eu sinto por você.

Sorri, sentindo os olhos ficando úmidos. — Ainda bem que você é daqui.

— Digo o mesmo.

Fiquei na ponta dos pés e o beijei, cercando seu pescoço com os braços, assim como ele, cercando minha cintura em um abraço apertado. Ali, com ele, eu me sentia completa, sabendo que poderíamos, finalmente, ficar juntos.

E eu esperava que aquilo durasse todas as vidas possíveis.


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Notas finais do capítulo

:')

Vocês têm ideia do por que eu não postei ontem? Não foi porque eu esqueci ou qualquer motivo do tipo, mas por uma razão que eu acho válida. Vocês não vão poder tentar adivinhar porque eu já vou falar kkk Hoje a história completa UM ANO! Não é incrível? O primeiro capítulo foi postado em 16.05.18 e hoje saiu o último. Por isso resolvi deixar pra postar hoje, pra ter esse gostinho com vocês :')

Algumas coisinhas que não couberam na história, mas que eu gostaria que vocês soubessem:

1. O Raphael (Lysandre) se tornou amigo da Heloise e consequentemente do Natanael. Eles se encontraram em algum lugar que eu não imaginei, e ficaram amigos, e dessa vez, ele vai com a cara da Lolo shaush

2. Sobre as reencarnações: O filho da Íris e Castiel é a reencarnação do Oliver (own) e a futura filha da Lolo e do Nate é a Clarisse (ownnn) e os outros também farão parte da família (não necessariamente de sangue), então a turma toda se reuniu novamente :)

Se tiverem mais alguma dúvida, é só dizer.

Bom, eu espero que vocês tenham gostado da jornada da Lolo e companhia. Foi uma experiência maravilhosa criar todo esse universo e eu sou muito grata pela criatividade que tenho. Eu sentirei muitas saudades desses personagens incríveis, e sei que vocês também vão, então quando a saudade bater, vocês podem voltar e ler quantas vezes quiserem. Ou vai que um dia eu consiga publicar como original? Alguém aí compraria o livro? Levanta aí a mão o/

Pessoal, muito obrigada por todo o apoio e incentivo. Eu sempre agradeço o apoio de vocês nos comentários, mas não custa agradecer novamente. Então, MUITO OBRIGADA, por tudo, por cada comentário, por cada coraçãozinho. Foi muito bom dividir tantos sentimentos com vocês.

E os que acompanharam essa história e que gostaram da minha escrita, espero poder vê-los nas minhas futuras fics/originais. Posso dar um spoiler? Daqui um tempo vou começar a postar uma fic sobre vampiros na era medieval (sim, de AD) e tenho esperanças de ver vocês por lá, então me adicionem, me sigam ou qualquer coisa, pra vocês ficarem espertos pra quando eu postar, ok?

Mais uma vez, obrigada por tudo, e nos vemos por aí ♥



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