À Procura de Adeline Legrand escrita por Biax


Capítulo 77
Adeus


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas.

Preparem-se: Hoje é o dia do chororô master. Dessa vez nem eu aguentei, meus olhos se lavaram.

Boa leitura!



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Nathaniel puxou uma corrente do bolso do colete cinza. Pegou minha mão, a deixando aberta para cima e depositou o colar ali.

— Eu fiquei procurando por ele assim que Lysandre foi embora. Demorei para achá-lo e preferi demorar um pouco para vir, do que vir sem ele.

Aproximei a mão do rosto, tocando a corrente e o pingente, que era um brasão feito de ouro.

— Por quê...?

— Porque eu queria que você levasse algo que a fizesse se lembrar de mim. Esse é o brasão da minha família. Era do meu pai e ele me deu quando fiz dezoito anos. Confesso que, depois que me mudei, o guardei e nunca mais usei. Mas... enfim. Eu quero que fique com ele.

Olhei para Nathaniel, sorrindo levemente. — Eu não preciso de nada para me lembrar de você, porém, eu fico muito agradecida por isso. Vai me fazer acreditar que tudo isso foi real, que realmente aconteceu.

Passei a corrente pela cabeça. O pingente descansou acima do busto e eu sorri.

— Eu não tenho nada para te dar...

— Não precisa. Já tenho os desenhos como lembrança.

— Os desenhos...?

— Um dos meus passa tempo é desenhar tudo o que eu consigo lembrar, e isso inclui você.

— Que pena, gostaria muito de ver todos seus rabiscos.

— Quem sabe na próxima.

É claro que sabíamos que não teria uma próxima.

Me aproximei para beijá-lo singelamente. — Estão todos no salão.

— Então vamos.

Voltamos e Nathaniel já se enturmou em alguns grupos. O jantar foi servido e não só nós comemos, como também os hóspedes da pensão, provavelmente não entendendo o porquê tinha tanta gente ali.

Tentei aproveitar cada momento, cada risada e conversa, sentindo, no fundo, que a hora de ir embora se aproximava cada vez mais. Sentada à mesa com todos, observei, com um nó na garganta, cada uma daquelas pessoas que fizeram diferença. Com toda certeza do mundo sentiria falta delas.

Olhei para Remy, que tinha deixado um pouco o piano, depois que eu e sua esposa quase tivemos que tirá-lo dali a força, para ir comer. Só havia o som das conversas no ambiente e em um estalo, pensei em uma música que seria perfeita para fechar a noite.

Levantei, fazendo com que todos parassem de falar para me olhar.

— Eu... quero tocar uma música para vocês, que eu aprendi quando era mais nova. Eu não sou a melhor cantora do mundo, mas acho que posso arriscar minha voz de violino esganiçado. — E eles deram risada. — Acho que combina com o momento.

— Vá em frente, o piano é todo seu! — Remy sorriu, erguendo sua taça.

Afirmei e fui até o instrumento. Me sentei no banco, sentindo nas costas todos os olhares sobre mim. Coloquei minhas mãos nas teclas que começariam a melodia e suspirei. Comecei a tocar, sentindo as primeiras notas arrepiarem minha pele. Tomei fôlego para quando o canto chegasse.

Every night in my dreams, I see you, I feel you… That is how I know you go on… Far across the distance and space between us. You have come to show you go on…

Eu não era nenhuma Céline Dion, mas conseguia dar as entonações que a música necessitava. Enquanto cantava, tentava imaginar as reações de cada um presente ali.

Near, far, wherever you are, I believe that the heats does go on… Once more, you open the door, and you’re here in my heart, and my heart will go on and on…

Apesar da garganta apertada, respirei fundo para começar a elevar o tom da voz, sentindo uma pequena lágrima saindo do canto de um dos meus olhos.

Love can touch us one time and last for a lifetime, and never let go till we’re gone — cantei com emoção, demonstrando que aquelas palavras eram para eles. — Love was when I loved you, one true time I hold to. In my life we’ll always go on.

É principalmente para você, Nathaniel.

Near, far, wherever you are. I believe that the heart does go on. Once more, you open the door, and you’re here in my heart, and my heart will go on and on…

Tomei mais um fôlego, me concentrando para não deixar minha voz falhar pelo choro. Esperei o tempo das notas e abri a boca.

You’re here, there’s nothing I fear! And I know that my heart will go on! We’ll stay forever the way. You are safe in my heart and my heart will go on and on…!

Não consegui sustentar a nota o suficiente. Minha voz falhou, mas permaneci firme nas últimas teclas do piano. Enquanto as últimas vibrações cessavam, ouvi algumas fungadas e suspiros. Antes que me virasse, senti braços ao meu redor e, pelo perfume, notei que era Clarisse.

Sorri em meio as lágrimas, a abraçando de volta. Assim que se afastou, sentada no banco ao meu lado, me virei para ver como os outros estavam.

Acabei rindo, já que até Castiel estava secando as lágrimas rapidamente, não querendo que ninguém visse sua emoção. Ele sorriu para mim e balançou a cabeça, querendo dizer que minha apresentação foi boa. Acenei de volta.

Os outros também estavam emocionados, mas Oliver, Denise e Adeline superaram a todos. Aparentemente não conseguiam parar de chorar. Me levantei e eles fizeram o mesmo, me encontrando no meio do caminho para um abraço em conjunto. Era engraçado como eu me sentia. Feliz e triste, como nunca tinha me acontecido antes.

— Vamos sentir muito sua falta, Heloise — disse Oliver, choroso. — Muito mesmo.

— Eu também vou sentir muita falta de vocês, de cada pedacinho de vocês — afirmei, tentando parar de chorar, em vão. De relance vi o relógio que ficava no cômodo, vendo que eram quinze para a dez. — Eu ficaria aqui a noite toda com vocês... mas preciso ir.

Muitas cabeças se viraram em direção ao relógio de uma vez, para ter certeza de que chegara o horário.

— Eu vou pegar minhas coisas, está bem? — E eles afirmaram, pesarosos.

Rapidamente subi. Recolhi o restante das coisas que ficaram na cama e peguei um pedaço de papel para escrever um bilhete que deixaria junto do dinheiro da hospedagem.

“Façam bom proveito. E não se preocupem, eu não uso esse dinheiro ondo moro, por isso será melhor aproveitado se ficar aqui, com vocês.

Sentirei falta de todos a cada segundo que eu estiver longe. Espero que vocês sejam felizes para sempre.

Heloise.”

Coloquei a mochila nas costas e, quando abri a porta do quarto, dei uma última olhada para dentro, precisando passar as mangas nos olhos, já que minha visão estava turva. Fechei a porta, me despedindo mentalmente e desci. Entretanto, em vez de voltar ao salão, passei rapidamente pelo corredor indo direto para a recepção.

Abri a gaveta onde Oliver costumava guardar o dinheiro que a pensão recebia. Estava vazia, então despejei todo o conteúdo da minha bolsinha de economias e deixei o bilhete ali, em cima de tudo. Guardei a bolsinha na mochila e fui para o salão.

Todos estavam de pé, conversando baixinho. Parei na entrada e eles me olharam.

— Acho que... está na minha hora, pessoal... Eu agradeço por cada momento que tive e por vocês me acolherem tão bem, como uma velha amiga.

As lágrimas não pararam enquanto eu abraçava apertado cada um. Nathaniel ficou por último, porém, não nos abraçamos. Ele apenas segurou minha mão, com um semblante sério e desanimado ao mesmo tempo.

— Você não vai sozinha, vai? — Castiel perguntou, hesitante.

— Não, eu vou levá-la — respondeu Nathaniel, o tranquilizando.

Olhei mais uma vez para todo mundo e sorri.

— Até mais.

Alguns acenaram, outros sorriram, mas todos se despediram do seu jeito. Denise e Oliver me esperavam no corredor e dei um último abraço em ambos. Eles nos acompanharam até a rua. Nathaniel deu a volta no carro estacionado, para o lugar do motorista. Acenei para os dois e entrei também. O motor foi ligado e logo saímos.

Suspirei, sentindo o pesar de ir embora. Nathaniel apenas segurou minha mão enquanto dirigia devagar. Claro que o carro era apenas para não ficar estranho. Precisávamos apenas seguir a rua até a floresta, que foi onde ele estacionou. Descemos e caminhamos por dentre as árvores, sem precisar de lanterna daquela vez, já que a lua brilhava forte e iluminava bem o caminho.

Paramos na frente da máquina do tempo, que estava suja de folhas e terra. Olhei para o psicólogo, que me observava o tempo todo, quase melancólico. Segurei suas mãos e o beijei, tentando transmitir tudo o que eu sentia por ele.

De repente, ouvimos um rosnado. O mesmo daquela outra vez. Me afastei para procurar de onde vinha e pela primeira vi o cachorro. Ou melhor, a cadela e seus dois filhotes que ela tanto defendia. Me aproximei, mesmo que Nathaniel tenha segurado meu pulso para me impedir. A cadela rosnou novamente, mas não agressiva, apenas sendo firme, tentando proteger suas crias. Me agachei quando estava perto o suficiente e estiquei a mão. Desconfiada, ela se aproximou devagar e me cheirou. Permaneci parada enquanto ela continuava sentindo os cheiros do meu braço, ombro e rosto. Então, abanou o rabo e eu pude fazer um carinho atrás das orelhas.

— Será que você consegue tirá-los daqui? — perguntei, baixinho, para não a assustar.

— Consigo. — Nathaniel também agachou ao meu lado, fazendo o mesmo que eu, para que a cadela pudesse cheirá-lo também. — Com certeza... — sussurrou.

Fiz um último carinho e me levantei, sendo seguida por ele.

— Obrigada. Por tudo.

Pela primeira vez, vi as gotas d’água escorrem por sua bochecha. — Eu que agradeço.

Nos abraçamos e eu suspirei várias vezes, tentando memorizar seu cheiro, suas texturas. Exatamente tudo. Quando nos afastamos, puxei o anel do meu dedo e coloquei em sua palma.

— Por favor... dê esse anel para a pessoa que você mais amar nesse mundo. Alguém que esteja com você e que possa ficar ao seu lado para o resto da vida.

— Mas...

— Não, Nathaniel, eu não posso ficar com ele. Ou, na verdade, você pode ver como um presente. Você me deu o anel, ele virou meu. Você me deu a corrente e agora eu te dou o anel, para que você se lembre de mim sempre que o olhar. Por favor.

Nathaniel analisou o anel em sua mão, suspirou e me olhou. — Tudo bem.

— Eu te amo. Quero que você siga sua vida e seja feliz.

— Eu... Eu digo o mesmo para você... Eu queria muito que tivesse um jeito para continuarmos nos comunicando.

— Me escreva cartas. — Sorri, brincando. — Escreva sobre sua vida, sobre as pessoas que conhecer, sobre nossos amigos...

— Elas nunca chegarão até você.

— Eu sei. Mas... acho que é um jeito de aliviar um pouco a saudade.

— A única coisa que aliviaria a saudade é estar ao seu lado... Terei que conviver com isso. — Deu de ombros, com um sorriso mínimo.

Concordei, com pesar e fiquei perto da máquina. Abri a porta e a luz se acendeu. Consegui ver os olhos vermelhos do loiro e engoli seco, sentindo uma necessidade enorme de confortá-lo, porém, eu sabia que seria inútil.

O puxei para um último beijo demorado e me apertei contra ele.

— Te amo. — Ele sussurrou quando ficamos a centímetros de distância.

— Também te amo. Muito.

Nathaniel segurou minha mão direita e deu um beijo no dorso. — Foi um grande prazer conhecê-la, senhorita Dumas.

Mais uma vez, meus olhos se encheram de água e eu sorri. — Igualmente, senhor Berger.

Nos olhamos por mais alguns segundos, até que eu resolvi entrar na cabine. Segurei a maçaneta e acenei. Ele acenou de volta e eu fechei a porta, antes que pulasse de volta para fora. Funguei e comecei a digitar a senha na tela.

“Deseja voltar para seu destino programado?”

Sim.

Coloquei a máscara de oxigênio e a cabine tremeu. Logo, a luz branca piscou e várias luzes coloridas apareceram na pequena janela de vidro. Senti um baque contra o chão e tudo ficou escuro. Abri a porta, notando que daquela vez a luz da garagem estava acesa, e Castiel estava a minha espera, de braços cruzados.

Saí da cabine e corri, me jogando nele enquanto chorava ainda mais, sentindo seus braços ao meu redor em um gesto de conforto.


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Notas finais do capítulo

Para quem não conhece a música que a Lolo tocou e cantou (acho estranho, mas vai que) é a My Heart Will Go On, da Celine Dion. Eu usei de inspiração, além da música, um cover de piano.

https://www.youtube.com/watch?v=am1_JLFDFMw&t=35s
Preciso dedicar essa aqui para a @EsterNW, ela que me lembrou dessa obra prima sahsuash

Agora que vocês riram um pouco, vejam o cover (muito lindo)

https://www.youtube.com/watch?v=HSgN5EWKi9Y

Pois é, queridos, nossa viagem ao tempo chegou ao fim. Mas obviamente a história não vai acabar por aqui, ainda temos muitas coisas para saber e fazer, e tenho certeza que vocês vão gostar :)

Até mais o/



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