À Procura de Adeline Legrand escrita por Biax


Capítulo 33
Professora de Assuntos Gerais


Notas iniciais do capítulo

Olhaaa quem está aqui em plena quarta-feira!

Estamos quase chegando no dia em que voltaremos ao passado, hein? Logo, logo estamos lá!

Mas por enquanto, vamos continuar nos agraciando com Lolo e suas conversas sem sentido.

Boa leitura!



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Depois de me trocar, recolhi as roupas da máquina, que estavam secas. Nathaniel veio me ajudar. Separei as roupas dele e as minhas e fomos dobrando.

— Estava pensando, acho que eu vou retribuir sua gentileza de ter me pago um almoço, quando eu cheguei — falei, dobrando uma camiseta.

— Não precisa se preocupar com isso.

— Não estou preocupada, só achei que seria legal, sabe... reviver aquele dia que nos conhecemos. E também porque não tenho nada para fazer o almoço aqui.

— Então tudo bem — comentou, divertido.

— Sabe, eu não entendo como vocês conseguem usar essas coisas. — Indiquei a roupa de baixo que ele dobrava, que mais parecia um macacão. — No frio tudo bem, mas no calor...

— Existem versões para o verão, sem mangas e que vão até acima do joelho. Eu peguei essa pois não sabia como estaria o tempo aqui.

— Entendi... Ainda assim, acho que prefiro as roupas íntimas daqui.

— Sabe que... — Começou a dobrar sua calça. — Eu até que me acostumei? Não achei que o faria, não tão cedo pelo menos.

— Tudo é questão de adaptação. — E ele concordou.

Assim que terminei, peguei a pilha de roupas e as guardei em seus devidos lugares no guarda-roupas. Deixei as do loiro em cima da cama, para não as esquecer, e peguei as que ele vestiria hoje. Ele foi se trocar no banheiro, e enquanto isso, dei uma limpeza rápida pelo apartamento.

Dessa vez eu me lembraria de deixar as chaves com a Íris, assim não precisaria me preocupar de novo com meus bebês.

Peguei minha bolsa, colocando a carteira, celular e chaves para ir ao supermercado, e quando Nathaniel saiu, já trocado, o observei do começo do corredor. Ele tinha ficado muito bem com a camisa azul.

— O que foi? — Ele questionou, olhando rapidamente para o próprio corpo, como se tivesse esquecido de vestir alguma peça.

— Nada. — Sorri. — Você fica bem de azul.

— Ah... — Ficou levemente corado. — Você também — comentou, me indicando.

— Agradeço. Agora vamos às compras. — Deixamos o apartamento e fomos a rua.

— Será que posso perguntar uma coisa...? — Nathaniel indagou, inocentemente, enquanto andávamos.

— Claro.

— Ontem... enquanto eu a colocava na cama, você falou algo sobre... ser responsável por mim.

— Falei? — Senti as bochechas ardendo.

O ouvi rindo. — Sim. E chamou alguém de “atirada”... Estava sonhando com a garota da balada?

— Eu… acho que sim, apesar de não lembrar.

— Você realmente se sente responsável por mim?

Percebi que ele me encarava ao olhá-lo. — Bom... claro. Eu sou a responsável por trazê-lo aqui. É como se eu fosse sua guia de viagem... Se acontecesse algo com você eu me sentiria muito mal, por ter te tirado do lugar onde você devia estar.

— Mas eu que quis vir com você. Se acontecesse algo comigo, seria culpa minha.

— Não concordo com você dessa vez. — Desviei o olhar para a rua. Ele ficou em silêncio, percebendo que seria perda de tempo continuar insistindo.

— Sabe o que estava lembrando, mais cedo? — Retomou o assunto.

— O quê?

— Que o seu desenho está a sua espera para ser terminado.

— É mesmo... Engraçado, parece que faz semanas que você o começou.

— Realmente... Então? O que acha de terminá-lo essa semana?

O olhei. — Sério? Você ainda não se cansou de ficar comigo? — Abri um sorriso brincalhão.

— Por que eu me cansaria de sua companhia? — Sorriu também, soando confuso.

Ele... — Ah, não sei. — Dei de ombros. — Depois de tantos dias andando só comigo, achei que gostaria de tirar, pelo menos, uma semana de férias de mim.

Nathaniel riu. — De forma alguma. Mas, por quê? Você se cansou de mim?

— Claro que não — respondi rápido. — É tão fácil conviver com você, não tenho do que reclamar.

— Fico feliz, então.

Finalmente, chegamos ao supermercado. E claro que Nathaniel ficou chocado em como o lugar era imenso, com tantas pessoas e produtos. Peguei um carrinho pequeno de compras e lá fomos nós, pegando os alimentos entre um corredor e outro. Felizmente eu tinha uma lista de compras no celular, então a usei como base.

Enchemos o carrinho e fomos para o caixa. Nathaniel me ajudou levando metade das sacolas e fizemos o mesmo caminho de volta para casa. Deixamos tudo no apartamento e já saímos de novo para almoçar. Fomos em direção contrária, para um restaurante italiano que eu sempre comia. Nos sentamos em uma mesa na varanda aberta. Nathaniel pegou o cardápio e começou a olhar.

— Eu já sei o que vou pedir — comentei. — Uma entrada de brusquetas, espaguete ao sugo, e de sobremesa, bolo de chocolate com sorvete.

— Então pode ser o mesmo para mim. — Colocou seu cardápio de volta. — Você sempre vem aqui?

— Sempre que posso e tenho tempo. Na maioria das vezes acabo almoçando na escola onde trabalho.

— Entendo...

— Heloise! — Alguém conhecido me chamou, e procurei, vendo Alice vindo em nossa direção. — Olha quem resolveu aparecer!

Abri um sorriso. — Quem é vivo sempre aparece, não é?

— Com certeza! — Deu risada. — Olá, boa tarde — cumprimentou Nathaniel, que acenou com a cabeça. — Então, o que vão querer? — Preparou seu bloquinho de notas e caneta.

— O de sempre, para nós dois.

Ela começou a anotar. — E o que deu aquele dia, Helô? Com o Michel.

— Ai, não me lembra o nome desse saco de lixo. — Coloquei a mão na testa.

— Ih, terminaram de vez? — Me encarou ao terminar.

— Com certeza. É que você não está sabendo da pior.

— E qual a pior? — questionou, arregalando os olhos de curiosidade.

— Você não está no seu horário de trabalho, mocinha?

— Poxa, você joga a bomba e depois apaga o fogo? — Fez um bico.

— Ok, eu deixo a bomba explodir... — Fiz um suspense, só para ela fazer cara de brava. — Ele me traiu, eu terminei e sábado ele foi na minha casa de madrugada, pedindo para voltar.

— Gente...! — Tapou a boca com o bloquinho de papel.

— Pois é. Bom, ele fez um barraco e ainda me xingou, então ele se vingou por mim. — Indiquei Nathaniel com um gesto de cabeça.

— Como assim? — Deu uma olhada rápida para ele.

— Ele deu um belo soco no Michel, que até ecoou no corredor.

— Uau...

— Depois eu fechei a porta e esqueci dele completamente.

— Caramba... Ele precisou levar um soco para sacar que a fila andou? — Negou com a cabeça. — Que vergonha.

— Ah... — Acho que daria mais trabalho dizer que a fila não andou nesse sentido. — Enfim, não quero nunca mais ouvir o nome daquele traste. A partir de hoje, se for falar dele, tem que dizer “aquele-que-não-deve-ser-nomeado”.

Alice caiu na gargalhada. — É uma boa tática. Fico feliz que você esteja melhor agora, antes você estava tão caidinha. É bom te ver toda iluminada de novo. Agora me deixe ir, ou descontarão do meu salário.

— Vai lá. Quero minhas brusquetas quentes, viu?

— Pode deixar! — Se afastou, entrando no restaurante.

Assim que me virei, vi Nathaniel me observando. — Que foi?

— Como assim você ficou “caidinha”?

— Hm... Caidinha no sentido de estar para baixo, sabe? Desanimada.

— E por quê?

Um garçom veio encher nossas taças com água e vinho, e logo saiu.

— Bom... um relacionamento onde só tem brigas acaba te desgastando.

— Vocês brigavam? Não tinha me contado sobre isso.

— Ah... São coisas da vida. Um relacionamento começa a acabar quando surgem discussões, principalmente quando elas se tornam banais e sem sentido. — Tomei um gole de vinho. — Nossas brigas se tornaram diárias umas semanas antes de terminarmos.

— E quais os motivos das brigas?

— Besteira. Começa com uma discussão sobre ciúme, depois por causa de alguma outra pessoa, por proximidade. Depois por roupas que você usa, por jeitos que você tem, por coisas que fala... Quando se vê, até o simples fato de ter cabelo no chão é motivo de briga. O final do nosso relacionamento não era mais um, era um cárcere privado, onde não podíamos conversar com pessoas do sexo oposto, não podíamos sair sem o outro, ou tomar decisões próprias.

— Mas... você é tão segura de si, independente... Como o deixava dizer o que podia fazer ou não? Ou como você mandava nele de tal forma...

— Nós vamos mudando sem perceber, Nath. Não nos damos conta de que estamos nos afastando, mudando nossa personalidade, esquecendo de quem somos. Você só se dá conta depois que sai disso. Eu costumo dizer que é como um viciado em álcool age. Enquanto ele bebe, se sente bem, sente suas vontades serem saciadas pela bebida... A partir do momento em que ele consegue parar completamente, vê o quanto aquilo foi desgastante para seu organismo, mesmo que todos a sua volta já tentassem mostrar.

— E você se arrepende de tudo o que fez?

— Sim e não. Sim por ter deixado chegar até aquele nível, e não justamente por eu ser quem sou agora. Se não fosse por tudo o que aconteceu, eu não veria nada da forma que eu vejo hoje. Nós aprendemos com os nossos erros. — Dei um pequeno sorriso. — E uma das coisas que aprendi, foi que não devemos nos deixar levar pelos outros. Eu posso dizer que Michel era inseguro, coisa que eu nunca fui, mas graça ao convívio com ele, eu comecei a ficar também.

— Por que acha que ele era inseguro?

— Não sei, talvez porque já fazia coisa errada? E tinha medo de que eu fizesse o mesmo... E por isso ficava possessivo, enciumado com qualquer homem que se aproximasse de mim. Bom, isso é o que chamamos de relacionamento abusivo, hoje em dia, e graças a tudo isso, eu sei reconhecer um.

— Então... se torna um relacionamento abusivo quando ambas as partes se tornam possessivas?

— Não só isso, e não necessariamente as duas partes. O que mais acontece é quando o homem se torna possessivo, mas existem mulheres que se tornam. E também as duas partes. Mas, a partir do momento que um ou os dois, começam a intervir no seu jeito, a te proibir de fazer coisas, falar com outras pessoas ou de qualquer outra coisa, se torna um relacionamento abusivo.

Ele ficou pensativo. — Isso... Por que me parece tão comum? Parando para pensar, todas as mulheres que eu conheço vivem um relacionamento abusivo com seus parceiros...

— Sim, e acredite, demorou muito para lutarmos contra isso. Ainda existe muito, mas as pessoas estão tomando cada vez mais consciência de que é errado. Na sua época não era somente isso, o machismo fazia parte dessa questão.

— Sim...

— E sabe... Eu acredito que, quando há confiança, sinceridade e liberdade, qualquer relacionamento pode durar para sempre.

Nathaniel analisou meu rosto e deu um pequeno sorriso. — Concordo com você.

Caramba... nunca pensei que seria professora de assuntos gerais para ele. Até que está sendo divertido.

— Prontinho! — Alice retornou com nossas entradas e as colocou na mesa. — Bom apetite!

— Obrigada, Alice — agradeci, já pegando uma e mordendo.

— Por nada. — Saiu de novo.

Peguei minha taça de vinho e a ergui em direção a Nathaniel, que logo pegou a dele, e fizemos um brinde.

— A liberdade, sinceridade e confiança — falei, sorrindo. Ele concordou e tomamos um gole ao mesmo tempo.

Nosso almoço continuou com diversos assuntos e demoramos mais do que eu planejava. O clima estava tão bom que não percebemos o tempo passando, as pessoas entrando e saindo...

Finalizamos com um café e entramos para pagar a conta. Nos despedimos de Alice, que estava ocupada atendendo outras pessoas, e caminhamos preguiçosamente de volta para o apartamento. Assim que chegamos, tirei um cochilo no sofá e quando acordei, decidi terminar de arrumar tudo, para não nos atrasarmos na hora de ir embora.

Deixei as coisas no jeito, coloquei ração e água nos potes eletrônicos, e desliguei os eletrodomésticos, menos a geladeira, claro. Antes de sairmos, Nathaniel se despediu dos gatinhos, parecendo relutante em ir.

Também me despedi deles, informando que Íris viria para vê-los. Tranquei a casa e saímos para o corredor do prédio. Passei a chave na porta e encarei Nathaniel, que parecia um tanto angustiado.

— Preparado para voltar? — perguntei, me virando para ele.

Ele suspirou. — Não, mas vamos.

Senti um nervoso no estômago. Um sentimento estranho, que eu sabia que aquele momento não se repetiria.

Com o coração apertado, saímos rumo para o passado.


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Notas finais do capítulo

Aaai meu coração /3

Em partes, estou feliz por voltarmos, mas também estou triste pelo mesmo motivo do Nathaniel :T

Mas bom, vamos nos concentrar nas coisas boas! Estão ansiosos para voltar? Rever nossos queridinhos :3

Espero que tenham gostado! Nos vemos no sábado o/

Ps: Comentários incentivam o autor, quanto mais interação, mais capítulos xD



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