Estrutura escrita por FCKINGbitch


Capítulo 2
1. Cheongdam, Seul




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ㅤ ㅤSentada atrás de sua mesa de trabalho, ela me olha fixamente. Algumas peças finas de roupa cobrem o corpo feminino a essa altura. Não demonstro nenhum desconforto, ou, ao menos, assim espero. Sei bem que essa recepção é apenas uma de suas muitas singularidades, uma forma de intimidar quem for mais propenso a sucumbir facilmente. Alice me conhece de dentro para fora, sabe que sou uma das poucas pessoas, senão a única, em quem pode confiar plenamente. Se está fazendo isso agora, no mínimo, algo de muito incoveniente deve ter acontecido.

A arma ainda não foi descartada e repousa temporariamente no estojo aberto; acessível, fácil de ser usada quando convier. Longe da ansiedade que sinto, abro os braços nos encostos acolchoados, ajeito os quadris, me acomodo. Esperar por sua iniciativa é difícil, mas nada que eu já não tenha feito. 

Ela pisca e, desta vez, mantém os olhos fechados. Ambos formam fendas curvadas perfeitas, acentuadas pelos traços mestiços orientais. Uma, duas, três inalações profundas depois e:

─  Quero que vá buscar uma pessoa.

Onde e quando são minhas especificações imediatas, não por que ou quem. Nunca houve um só momento em que eu tenha questionado, não começarei agora.

─ Claro, senhora, ─ respondo ─ só preciso das informações.

Sua cabeça tomba para trás sem aviso prévio. O estalo é alto quando sua nuca encontra a parte dura do topo de madeira. Me adianto para socorrê-la por instinto, contudo sou rejeitado com um único aceno de mão.

─ Estou cansada de uma forma quase insana, Hans. ─ declara.

Minha surpresa é inevitável. Em quase uma década de serviço, ouvi-la expressar qualquer tipo de vulnerabilidade era mais que impossível, era surreal. Engulo a falta de palavras como um prego enferrujado. Cogito tocar a mesma mão que me descartara dez segundos antes, a mesma mão apoiada numa superfície cara e lisa, pronta para se fechar sobre a coronha emborrachada da Glock. Engulo novamente, sinto o gosto de minha impotência recém-chegada. Preciso me estabelecer na cadeira para não tomar nenhuma atitude.

Alice abre os olhos, encara um ponto distante. Nada em seu rosto denuncia que é a mesma pessoa da frase derrotada. Os dedos longos vasculham a pilha mais próxima de papéis, não demora para que um seja destacado e repassado. Analiso os dados escritos numa letra firme, repito algumas vezes por segurança e rasgo a folha sem cerimônia.

─ Quatro dias.

É mais uma promessa que uma certeza, mas posso cumprir. "Muito bem" é toda resposta que recebo. Não "tem certeza?", apenas "muito bem".


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