O espaço regulado de um sedã nunca foi tão desconfortável. Espremido entre dois seguranças, sendo um deles mais podre que transporte coletivo, sinto que pago algum tipo de penitência. O mais limpo da dupla sorri e conversa, mas se tem algo que não quero fazer é justamente perder tempo numa troca rasa de palavras. E alguém encarregado da vida de outra pessoa não deveria ser tão forçadamente simpático, suponho. Forçadamente taciturno seria mais apropriado.

São quarenta longos minutos de trajeto, vinte deles só adentrando os inúmeros portões de acesso da mansão e, uma vez fora do carro, longe suficiente do peixe morto que chamam de segurança, consigo respirar de maneira correta. Inalo tão forte que perguntam às minhas costas se estou enjoado da viagem. Não me dou ao trabalho de responder.

Os quatro homens armados passam pelas portas principais de madeira, sou deixado aqui, apenas na companhia do sedã que custa mais dinheiro do que jamais terei. Encosto no capô e espero, imaginando que cedo ou tarde me buscarão.

Não buscam, nem precisam.

É uma questão de segundos até que eu examine o nível superior da casa e me depare com toda permissão que necessito para entrar.

Alice está de pé lá, protegida pela parede de vidro blindado. Ela não veste nada além de calcinha e os seios pressionam o material transparente. Uma melancolia estranha domina seu rosto conforme segura a Glock na destra.

Estou chocado com a visão desta mulher, porém mantenho meu equilíbrio, ao menos físico, e inclino a cabeça numa saudação formal. Ela não retribui, não pisca, não dá sinal algum de sequer estar viva. Me despeço mentalmente de sua seminudez gloriosa e dou os primeiros passos para cortar os metros que nos separam, agradecendo a todo instante por conhecê-la e servi-la.