O dia em que decidi morrer escrita por FranHyuuga


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Problematizei o suicídio a partir da minha experiência como psicóloga e, também, com o devido cuidado para não romancear o sofrimento de quem enfrenta a ideação suicida. A proposta é convidar o leitor a melhor entender a si mesmo ou a alguém em depressão.

Por favor, leia as notas finais.

[Conto também publicado em: Amazon, Wattpad e Spirit.]



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O dia em que decidi morrer

 

Acordei cedo naquela sexta-feira. Uma nublada manhã sem grandes atrativos. Outono. Folhas secas sobre as calçadas e ruas. Vento frio agitando os galhos. Meu corpo estava quente pelas cobertas, mas precisava levantar. Despedida. Era meu último dia.

Pode parecer estranho decidir morrer. Quando penso no passado, reconheço que vivi muitas boas experiências. Meus pais são amorosos, não tenho acusações para culpá-los. São apenas um casal idoso vivendo longe. Nem sequer imaginam que o caçula desistiu da vida. Será um golpe para eles e, talvez, esse seja o único fator que me manteve persistindo. Lutando. O motivo não é o meu passado, na verdade. Até amigos tive. Com alguns ainda troco mensagens. Vazias. Acho que não pensam muito em mim. Têm seus problemas para enfrentar. Eu escolhi o que fazer com os meus.

O motivo é essa rotina. Quando acordo e me olho no espelho, não vejo nada do que me orgulhar. Antes, passava minutos observando minhas olheiras e me perguntando quando começaram a se tornar tão acentuadas. Agora, simplesmente perdi a vontade de ver a mim mesmo. Depois que cobri o espelho do banheiro com um papelão, descobri que não me fazia falta. Me ver não fazia falta. E essa realidade me atingiu de um jeito cru, dilacerante e terrivelmente natural. Ninguém me liga há meses. Meus pais estão felizes sem mim. Meus vizinhos educadamente me cumprimentam, mas nunca jogamos conversa fora. Desperdício. Perder tempo com bobagens nunca foi minha melhor habilidade.

Sempre fui reservado. Acho que apenas perdi a tênue distinção entre a privacidade e a solidão. Não sei quando comecei a me sentir assim. Sinceramente, não importa. Eu passei pelos dias, os dias passaram por mim. Fui ao trabalho, sentei-me à minha escrivaninha, conversei ao telefone com os clientes, resolvi problemas, paguei contas, chequei e-mails. Fumava no terraço às vezes. O ato me fazia sentir um pouco menos enfadonho. Preencher meus pulmões com fumaça tóxica era algo que geralmente surpreendia as pessoas. Algo que não esperavam de mim. Melhor assim. Gostava de pensar que podia ser diferente do que imaginavam. Mas nunca consegui ser diferente o suficiente para me tornar interessante.

Queria ser outra pessoa. Não alguém especificamente. Nenhum ator, produtor, cantor ou empresário. Apenas outra pessoa. Se interessa, queria ser o oposto de mim mesmo. Então, por que simplesmente não mudo radicalmente? Você quer me fazer essa pergunta, eu sei. Não é como se não tivesse pensado nisso. Não é como se não tivesse tentado. Eu simplesmente percebi que, se minha vida não parecia importante sendo quem sou, por que pareceria sendo quem não sou? Comprar roupas que jamais usaria ou até mesmo redefinir minha carreira não me tornaria diferente por dentro. Eu continuaria sendo o cara que não sente falta de ver a si mesmo no espelho. Ou talvez fosse o cara que, ao encarar seu próprio reflexo, só o suportasse se ostentasse outra aparência. Não quero ser nenhum deles. Nem o cara que sou nem o cara que poderia ser. Eu não quero ser. Então, não serei.

Lancei as cobertas de lado, finalmente. Pés descalços no piso gelado. Arrepio. Não tenho ar-condicionado ou qualquer outra tecnologia que me permita aquecer o ambiente. Será que o próximo morador providenciará isso? Provavelmente. Sempre disse que limparia aquela mancha de infiltração do andar de cima. Nunca fiz. Eu também nunca pendurei aquele quadro que comprei numa viagem de negócios, há mais de um ano. Não tinha pregos. Ainda não tenho. Talvez alguém goste mais dele, ou talvez ninguém lhe dê o devido valor. Embora nunca o tenha pendurado, sabia que estava ali. Sabia o que representava. A figura de uma mulher numa ponte, tingida com a cor dourada do amanhecer. Lembrava Alice. Nunca mais a vi. 

Já me apaixonei uma vez. Meu coração nem sempre esteve entediado. Foi na faculdade, quando nos corredores cruzei com uma estudante de Artes Plásticas. Ela era colorida. O lenço amarelo em seu cabelo castanho, o vestido azul cheio de pequenas flores brancas, as unhas tingidas de um vermelho-sangue, as bochechas rosadas, os lábios... ah, os lábios. Não quero falar deles. Basta dizer que o sorriso dela era vibrante. Eu, monocromático, parecia até mais alegre perto dela. Na verdade, a vida também era. Fomos juntos a uma cafeteria, conversamos sobre cinema e teatro. Eu não entendia nada sobre pintura. Mas entendia dela. Eu a absorvia. Ela era uma militante, queria lutar pelos direitos de si e dos outros. Eu não conseguia acompanhar seu raciocínio libertário. Eu não conseguia reagir aos seus comentários. Sentia-me cada vez mais superficial com ela. Ao mesmo tempo, sentia-me cada vez mais dependente. Ela se tornou, na convivência, minha melhor parte. Ser seu namorado, seu rolo, seu parceiro de sexo... era minha melhor qualidade. Não havia mais nada em mim que merecesse alguma atenção. Não diziam meu nome. Diziam-me “o cara da Alice”. Sem ela, sem ela... Acho que a pressionei. Depois de Alice, prometi que não me apaixonaria de novo. Posso não ser alguém de destacada personalidade, beleza invejável ou companhia notável, posso não ser necessário, mas definitivamente sou bom em cumprir promessas.

Fiz minha higiene normalmente. Lavei o rosto, escovei os dentes, passei desodorante e vesti um dos meus mais casuais conjuntos. Calça cáqui, camisa xadrez azul, sapatênis e cinto marrom. Deixei meu cabelo arrepiado com gel. Nada pude fazer sobre a barba saliente. Não pretendia tirar o papelão do espelho ainda. Apanhei minha carteira. Decidi não usar o relógio. Tranquei a porta. Vou tomar café onde sempre costumo ir. Nada vai mudar hoje, com exceção de estar faltando ao trabalho. Não pretendo passar meu último dia no escritório. Mesmo para os meus baixos padrões, isso seria muito deprimente.

Na cafeteria, agitação. Fila para pedir, fila para pagar, fila para conseguir um lugar onde se sentar. Observei as pessoas como quem não faz parte da cena. Suas expressões ansiosas, cansadas, raivosas e raramente divertidas. Emoções que geralmente nos passam despercebidas.

— O que vai ser? – pergunta a atendente.

— Cappuccino com creme.

Estou acima do peso, mas não me importo. Não sou gordo, no entanto minha barriga flácida revela que também não sou magro. Ela está um pouco sobressalente ao cinto. Se quisesse, alguns meses de disciplina e exercício a fariam sumir. Se tivesse tempo. Não tenho. Não quero ter. Hoje, vou simplesmente beber meu cappuccino sem nenhuma preocupação. Vou comer o que desejar. Vou aonde quiser. 

Ficar na cafeteria estava sufocante, então fui para a rua. Encontrei um banco para me sentar num parque público. Crianças brincavam na areia, no escorregador e no balanço, sendo observadas pelos pais. Apesar de nublado, o dia para elas era festivo. Talvez crianças fossem felizes por não saberem o que as aguarda. Responsabilidades. Culpa. Obrigações. Medo. Preocupações. Rotina. Se soubessem como seriam suas vidas quando adultas, ainda estariam felizes agora? Se eu soubesse que me tornaria esse tipo de cara, teria sido feliz quando menino? Difícil dizer. Na infância, quis ser tantas coisas... Imaginava descobrir a cura para uma importante doença, ter um carro veloz, ostentar uma coleção de marionetes (adorava-as) e viver numa casa com enorme jardim. Queria ser médico, milionário e jogador profissional de futebol no videogame que minha mãe nunca me deu. Ao mesmo tempo, queria ser comentarista de luta livre e um mochileiro que nunca cortasse o cabelo. Depois, esqueci esses sonhos e simplesmente me inscrevi no curso de Administração que meu pai recomendou. É uma profissão para a qual sempre há mercado, disse ele. Não passaria necessidade. Nenhuma. Nem mesmo a necessidade de viver.

A princípio, acreditei que ser um administrador fosse minha vocação. Desempenhava as tarefas sem erros. Não vivia situações que me exaltassem. Era calmo. Era chato. Fazia o que devia sem grandes destaques, um perfeito profissional mediano. Nem bom nem ruim. Mas meu pai estava certo. Nunca fiquei desempregado. Não passei necessidade. Nem senti que precisava daquele trabalho.

Ser adulto é isso, crianças – pensei observando-as. – Aceitar que, na maior parte do tempo, o que fazemos pode ser facilmente executado por outro; e o que somos pode ser facilmente esquecido.  

Levantei-me e joguei o copo descartável no lixo reciclável. Belo dia para se ter consciência ecológica. Caminhei sem pressa até chegar ao centro. Incontáveis pessoas transitavam pela larga calçada, repleta de lojas dos mais variados produtos. Vida. Há quem corra equilibrando sacolas, há quem caminhe enquanto mexe no celular, há quem converse animadamente entre amigos, há quem passeie com seu cão. Há negros, orientais e caucasianos. Há mulheres e homens. Há jovens e idosos. No centro, parece que ninguém é igual a ninguém. As roupas gritam identidades irrepetíveis. Há quem veio de bairros nobres e quem veio de bairros pobres. Dividem as mesmas calçadas. Seguem, às vezes, para os mesmos destinos. Mas nunca retornam para os mesmos lares. Nunca retornam para as mesmas vidas. Nunca compartilharão outro espaço igual que não seja esse, onde tudo se concentra. Gosto de ir ao centro. Sinto-me anônimo, e não apenas esquecido. Sou anônimo no meu próprio sofrimento. Talvez muitos outros se sintam assim. Talvez, nessa mesma calçada, esteja passando alguém que também decidiu morrer. Alguém que me entenderia. Se nossos caminhos cruzassem, seria um encontro solidário. Eu lhe daria um tapinha amigável no seu ombro, talvez lhe dedicasse um sorriso cúmplice, e deixaria o silêncio expressar as palavras não ditas. Como deixou as coisas chegarem a esse ponto? Seus olhos nos meus. Por que não procurou socorro? Sua alma na minha. Não existe uma outra alternativa? Nossa resposta: Não. Então, quando nos afastássemos, nos confortaríamos na convicção um do outro.

Parei em uma lan house que estava cheia de estudantes certamente fugindo da escola. Jogavam em rede o que parecia um cenário de guerra. Riam com a liberdade que só os jovens têm. Aquela liberdade desprendida dos conceitos alheios. Paguei por uma hora e me dirigi até o velho computador ao fundo. Acessei o Word e, sem muito pensar, passei a redigir o que seria minha carta de despedida. Um clichê dos suicidas. Não era por mim. Não havia muito a dizer ao meu respeito. Queria apenas consolar meus pais e dar algumas poucas palavras aos meus irmãos. 

Oi, pai. Oi, mãe. Como dizer-

Horrível. 

Se vocês encontraram essa carta, é porque estou morto.

Óbvio demais.

Aos meus pais e irmãos, 

Não culpem a si mesmos ou uns aos outros pela minha decisão. Morrer foi minha negativa ao que a vida estava exigindo. Não tenho nada que realmente me prenda à rotina que levava. E não tenho arrependimentos. Obrigado por tudo. Amo vocês.

Simples. Essa despedida me satisfez. Com alguns cliques, envio para a impressão e encerro o Word sem salvar. Levanto-me e vou até o velho equipamento ruidoso, próximo ao balcão. Então, eu a vejo. Talvez seja meu constrangimento, mas posso jurar que o tempo fluiu mais lento. Consigo perceber o momento em que suas enrugadas pálpebras alargam-se em espanto. As mãos trêmulas da idosa seguram a minha breve carta suicida. Seus lábios se abrem e os óculos de armação grossa escorregam para a ponta de seu nariz. Então, ela me vê. 

— Isso é seu? – questiona surpresa. Sua atenção vai do meu rosto aos sapatos cuidadosamente limpos.

— Sim, obrigado – respondo e rapidamente recupero a carta. Aproveito-me da lentidão da pobre senhora para lhe dar as costas.

— Não acho que devo deixá-lo sozinho. – Ouço-a dizer enquanto me seguia, agitada.

Não discuto. Pretendo pagar e correr para longe dela.

— Você é um bonito rapaz, sabe?

Estou bufando quando pago a impressão e caminho até a porta.

— Eu não vou impedi-lo.

As palavras dela, de um jeito estranho, me irritam ainda mais. Devo agradecer sua gentileza de “permitir” o suicídio de um desconhecido? Quando percebo, estou estático e a encaro com uma expressão azeda. Quero mandá-la para o inferno, mas não consigo. É só uma velha, pelo amor de Deus. 

— Você parece ser alguém determinado. 

Fico em dúvida se é um elogio.

— A senhora não deve ter muito com o que se preocupar – digo com a voz calma. Não quero agredi-la, mas também não quero ouvi-la.

— Ah, você ficaria surpreso. – Nesse momento, a atendente aparece com uma sacola cheia e a entrega nas mãos idosas. – Já que você decidiu como resolver seus problemas, não se importaria de me ajudar com os meus, não é?

Fiquei encarando sua mão esticada com certo enfado, como se minha postura defensiva pudesse dissuadi-la, mas acabei vencido. Dobrei minha carta suicida e a guardei no bolso. Então segurei a sacola da senhora enquanto ignorava seu sorriso satisfeito.

— Eu moro perto, não vai demorar nadinha – garante depois de pagar pelas compras.

Segui-a carrancudo e, de certa forma, curioso. Ela caminhava lentamente, como quem tem a vida toda para chegar ao seu destino. A vida toda, no entanto, já fora gasta. Seus anos dourados já enferrujaram. Vejo-a parar numa banca de jornal e escolher, vagarosa, uma revista de palavras-cruzadas. Não entendo. Sendo velha, não deveria ter mais pressa para viver o pouco que ainda lhe resta? Bem, ela parecia não se importar com isso.

Chegamos em frente a um antigo prédio cuja fachada, composta de tijolos encardidos, estava escura pela falta de manutenção. Ela se adiantou e retirou de sua bolsinha uma chave para abrir a porta de ferro. Entramos e subimos dois lances de escada num ritmo tão devagar que – a essa altura – decidi não me impacientar. A porta dela precisava de uma pintura, notei. O número 32 estava desgastado. O apartamento era pequeno, silencioso e cheirava a talco. Mas era, de certa forma, acolhedor. Havia uma decoração simples e bastante pessoal formada por toalhas, cortinas e mantas de crochê colorido. Ao lado de uma poltrona, que parecia ter o desenho de suas ancas no estofado, havia um emaranhado de novelos de lã.

— Pode deixar as compras no sofá – orienta com sua voz cadenciada.

Obedeço e sinto-me, de repente, deslocado. O que estou fazendo aqui? Nervoso, passo as mãos nas calças antes de seguir para a porta.

— É cedo para morrer, rapaz. Não são nem dez horas – diz ela. – Ao menos tome um café comigo.

Assisto-a seguir para a cozinha, onde os móveis ostentam uma cor azul-claro antiquada. Tudo parece gritar seus anos de existência. Ela não tem uma cafeteira, apenas uma chaleira fosca que está, agora, colocando sobre o fogão. Tento não emitir comentário quando a vejo acendê-lo usando um fósforo. Enquanto a água esquenta, anda pela cozinha reunindo quitutes de potes diversos, ajeitando-os em dois pratos de porcelana que certamente são pintados à mão. Quando a chaleira apita, passa o café em um bule usando um coador de pano. Ignora minha presença. Ignoro o fato de ser ignorado. Sinto-me estranhamente confortável por estar ali, acompanhando seu lento ritual.

Não nos falamos nem mesmo quando a senhora serve duas xícaras com um cheiroso café já adoçado e caminha até a sala. Sigo-a levando ambos os pratos com quitutes. Colocamos as coisas na mesa de centro. Ela se senta na velha poltrona, sento-me à sua frente no sofá de dois lugares, nos olhamos.

— Então – pega sua xícara e saboreia um gole do café –, conte-me a sua história.

Não esperava por isso. Na verdade, até esperava, mas não exatamente assim. Acho que a morte sempre desperta certa curiosidade mórbida entre as pessoas. Talvez seja o mistério ou simplesmente a finitude que ela carrega. Suspiro, sem saber se quero contar ou se devo fazê-lo.

— Não tenho por que continuar vivendo – explico sem muito pensar. 

Ela franze as sobrancelhas.

— Não perdeu alguém importante?

— Não.

Devolve a xícara ao pires.

— Não sofre de alguma doença incurável?

— Sou saudável.

Morde um biscoito.

— Não enfrentou uma grande desilusão?

— Não tenho pelo quê me iludir.

Ouço-a murmurar:

— Hmmm... faltou um pouco de açúcar. – Fico levemente aturdido com sua naturalidade. – Experimente.

Pego um biscoito. É amanteigado; nem doce nem salgado.

— Vê? – pergunta com perspicácia. – Não tem sabor.

Entendo o que quer dizer. Esse biscoito é como a minha vida, sem paixão nem dor. 

A senhora se levanta e some na porta que leva à cozinha. Volta pouco depois com uma pequena travessa de inox. Coloca-a entre os quitutes e a assisto, confuso entre me sentir incomodado e fascinado, afundar o biscoito no seu conteúdo. O mel gruda no biscoito e escorre quando a senhora o leva à boca. Demora um pouco até ouvi-la falar:

— Agora está doce demais. – Ri sem constrangimento. – É difícil encontrar um equilíbrio, não?

“Sim, é muito difícil”, quero dizer, mas me limito a comer mais um biscoito amanteigado. Não é esse estranho papo que me fará afundá-lo até perder sua essência num pote de mel.

— Perdi meu marido há muito tempo. – Sua voz preenche o silêncio. – Depois perdi meu filho, mas não para a mesma morte.

— O que isso significa? – pergunto.

— Ele ainda está vivo, só parece não saber disso. – Com a mão livre da xícara, aponta para uma foto fixada na parede. Um homem engomado exibe a família em frente a uma casa moderna e ampla. A esposa expressa um sorriso contido com o bebê nos braços. A menina, de uns três ou quatro anos, segura-se nas pernas da mãe. O cachorro, com uma bela pelugem, está no centro. Ao lado dele, o homem em questão parece rígido. O cachorro é um marco imaginário para uma família dividida. 

— Acho que cada pessoa sabe o que é melhor para si mesma – afirmo indulgente. 

Ela nada comenta e continua a bebericar o café. Seu silêncio me incomoda. Tenho vontade de exigir uma resposta.

— Eu já pensei em morrer... – diz depois de algum tempo. – Pensei em colocar meu melhor vestido, encher a banheira com sais de banho cheirosos e imergir para não mais voltar.

— Não teve coragem? – pergunto interessado.

— Não tive a banheira.

Eu a encaro com ar de reprovação, sem saber se está zombando de mim. Levanto-me e decido:

— Vou embora.

— Eu não estou mentindo, rapaz. – Ouço-a dizer enquanto sigo até a porta. – Não é estranho que o único método que pensei em usar para morrer fosse impossível para mim? Não ter a banheira foi um sinal.

— Sinal de quê? – solto irritado.

— Ora, de que não queria realmente morrer.

Volto até o sofá e me sento. Não quero pensar no que ainda me prende aqui.

— Termine seu café, por favor. – Minha xícara está pela metade, noto. – Não é respeitoso partir sem terminar as coisas.

Suas palavras outra vez me atingem mais do que gostaria. Entendo o que quer dizer, mas sinto raiva que o faça de um modo tão mascarado. 

— Nem sempre é possível terminá-las – digo.

— Sobre o que você está falando, afinal?

Meus olhos encontram os dela. Percebo em sua expressão um suave resquício de diversão, como se me desafiasse a tornar explícita sua metáfora. Ela negaria estar falando sobre a minha vida através de biscoitos e xícaras de café?

— Por que a senhora pensou em morrer? – mudo de assunto, ainda incomodado.

— Você sabe... a vida, às vezes, não é como queremos.

Aguardo mais detalhes, em vão. O silêncio nos envolve enquanto bebemos o café. Quero saber mais, mas também quero apenas partir. Se perguntar, estarei cedendo. 

— Eu gostaria de dar uma volta pelo parque – comenta de repente. – Você me acompanharia?

— Não, obrigado – apresso-me em dizer. – Tenho um planejamento a seguir hoje.

— O quê? – Ri. – Não acredito que vai viver seu último dia preso a uma planilha!

— Não é exatamente um planejamento, sabe? É apenas... uma motivação pessoal para fazer certas coisas.

— Vamos lá, rapaz! –­ Ela se esforça para levantar o corpo senil da poltrona. – Vai mesmo negar o convite de uma velha que está sempre sozinha?

Não devia me sentir culpado por uma circunstância que sou incapaz de mudar. Se esta senhora se sente solitária, não devia me importar. Mas me culpo e me importo. Talvez porque percebo a intenção dela: distrair-me e manter-me em sua companhia até que o suicídio se torne uma ideia vaga. Minha convicção não será abalada por uma agradável conversa, mas me sinto tolamente inclinado a provar o fato.

— Certo, vamos dar uma volta. 

As palavras arrancaram um sorriso genuíno dos lábios enrugados e fui envolvido pela urgência de tornar o passeio ainda mais breve. Não quero... Não posso continuar na presença dela.

A caminhada até o parque foi lenta. Imaginei que, no trajeto, estivesse disposta a indicar qualquer tola razão pela qual a vida poderia ser um pouco mais interessante. Imaginei que fosse dizer quão absurdo era o suicídio, ao menos antes dos quarenta anos. Imaginei que fosse demonstrar um falso entusiasmo pelo canto dos pássaros, pelo clima agradável, pela música dos artistas de rua... apenas para despertar minha atenção. Mas nada disso aconteceu. Mergulhados em silêncio, caminhamos, um passo à frente do outro. A estranha senhora não me pressionava a mudar meus sentimentos pela vida, apenas seguia em frente enquanto sua tez clara ganhava um colorido rosado pelo exercício.

Quando finalmente chegamos ao parque, já não me sentia tenso ou irritado. O cenário animado de pessoas correndo, caminhando, jogando ou conversando não me despertou nada. Era a vida acontecendo enquanto a minha parecia estagnada. Vi-me vazio de sentimentos. Queria sentar em um lugar qualquer e me abandonar nele. Deixar o silêncio se estender até não sobrar som algum ao meu redor. Arrependi-me por ter acompanhado a senhora em seu passeio, pois já não queria lhe dar atenção. Não queria ouvi-la ou vê-la, então não o fiz. Assim que a notei entretida com a paisagem, afastei-me e embrenhei-me por entre as árvores até encontrar um canto remoto. Lancei-me nele. Quis desaparecer.

A ideia de acabar com minha vida ali mesmo seria tentadora, se não fosse exigente. Imaginei-me enforcado no grosso galho da árvore onde me apoiava, meu corpo balançando na brisa suave. Mas não era possível fazê-lo. Eu não tinha uma corda.

Oh.

Merda.

A corda...

Era minha banheira?

Minha garganta se fechou no momento em que as lágrimas vieram. Não sinto nada. Não sinto nada, porra! E, mesmo assim, choro como quem perdeu algo importante. Choro a ausência do que já não sinto. Choro as vidas que não vivi. Choro porque, de muitas maneiras, já estou morto. Queria ser outra pessoa.

Quando as lágrimas cessaram, cessou também minha confiança. Perguntei-me se a decisão de findar minha vida era realmente o que queria. Ao mesmo tempo, imaginei meu futuro e nada me pareceu convidativo. Definitivamente não queria continuar a viver daquela maneira, mas me cansava só de considerar uma mudança. Sair da zona de conforto não é um processo fácil e exige, no mínimo, alguma motivação pessoal. Eu simplesmente não via por que investir em mim mesmo.

Obriguei-me a levantar. Precisava voltar para casa. Ansiava, de repente, o refúgio do meu apartamento. Enxuguei o vestígio das lágrimas esfregando a manga da camisa sobre as pálpebras sensíveis. Era provável estar com o rosto inchado e vermelho, desprezível. Caminhei por entre as árvores até chegar ao calçamento do parque, então continuei o trajeto com destino à saída. Obviamente, não contava com a astúcia de uma teimosa senhora a me aguardar.

— É quase meio-dia – diz serena quando me aproximo –, vamos almoçar.

Estava prestes a negar, mas realmente tinha fome. Também queria evitar dar qualquer justificativa sabendo quão trabalhoso isso seria. Fomos a um restaurante a duas quadras do parque. Era mediano, com um limitado buffet à disposição. Muitas pessoas iam até ali a fim de comprar porções para viagem, notei. Não me importei com o entra e sai. A aparência da comida era boa e não pretendia novamente acompanhar a lenta senhora à procura de outro lugar. Ela não contestou quando me adiantei até o móvel onde estavam os pratos.

Depois que nos servimos, sentamos à mesa. A refeição estava mesmo tão saborosa quanto aparentava. Não demorou para que ela finalmente dissesse:

— Comida com tempero é maravilhosa!

Novamente me incomodei com uma possível metáfora em relação à vida.

— Não é de surpreender a quantidade de gente que vem aqui – comentei como quem interpretou literalmente.

Ela interrompeu o movimento dos talheres e encontrou meu olhar. Suas pálpebras enrugadas caíam suavemente sobre os orbes escuros, lembrando-me qual era o peso dos anos em suas palavras. Os óculos não escondiam a sabedoria de sua mirada.

— Só valoriza o sabor quem conhece sua ausência.

Perdi a fome.

— Eu e a senhora não temos nada em comum além do tédio – falo rude. – Não lhe dou o direito de julgar minhas decisões! A vida é minha, faço com ela o que quiser.

Vi seus lábios brancos tremeluzirem brevemente, mas não senti remorso. Deixei os talheres sobre a mesa e me preparei para partir.

— Você está certo, desculpe – assume ela, enfim. – Antes de você ir, no entanto, deixe-me dizer o que preciso sem rodeios.

Meu coração parecia descontrolado, minhas emoções borbulhavam. Não queria ouvi-la, encontrá-la foi estranho e tê-la invadindo minha privacidade me incomodava. Mas também não queria lhe dar tamanho poder sobre mim. Desejava ser capaz de ouvi-la, levantar-me e sair como se minha confiança jamais tivesse sido abalada. Meu silêncio a incentivou.

— A vida não é pequena, sabe? Ela é muito maior do que você. Acho injusto que você decida já não ter nada que valha a pena proteger com base apenas no que viveu até aqui. – Quis interrompê-la, mas rapidamente sua voz voltou a dizer: – Quando meu marido partiu, meu filho deu-me atenção por algum tempo. Depois, claro, ele precisou se concentrar nas próprias preocupações e acabei por me sentir cada vez mais abandonada. Escolhi morrer, mas não queria realmente a morte. Queria apenas acabar com o que parecia uma situação sem fim.

Evitei emitir qualquer comentário, porque a entendia. Neguei-me a dizer o quanto suas palavras carregavam parte do que também sentia.

— Não vou dizer a você que minha vida melhorou. Eu apenas direi que decidi conviver com o que não posso mudar. – Desviou o olhar. – Isso foi o suficiente para entender que não sou apenas uma idosa solitária, digna de pena, como costumava pensar. Sou também uma idosa que, à sua maneira, está lutando para continuar, para encontrar novos sentidos aos seus dias. Sou, quem sabe, mais corajosa do que pareço.

— Está me dizendo... que esse sentimento não vai acabar? – balbuciei incerto. – Se decidir continuar, como a senhora, nada será diferente?

Por alguma estranha razão, a ideia soou triste. Ela não deveria me encher de esperança ao invés de destacar quão pesaroso poderia ser meu futuro?

— Ah, rapaz... – Soltou um riso abafado. – A vida é o que é, e somos o que somos. Aprender a lidar com o que não se pode mudar é, na verdade, uma atitude de valor enorme. Não serei jovem outra vez, tampouco a ausência do meu marido doerá menos apenas porque decidi viver. Mas...

— O quê?

— Alguns dias podem ser incrivelmente imprevisíveis. – E com um delicado movimento, apontou em minha direção.

Foi estranho, meu rosto aqueceu em um incomum constrangimento. Não soube o que pensar ao perceber que, de um modo inesperado, de um jeito bizarro... fui o responsável por mudar um pouco a rotina de alguém.

— Não fui o único a provocar o inusitado na vida alheia – argumentei, um traço espontâneo de diversão em minha voz.

Terminamos nossa refeição e, diante do restaurante, nos despedimos. Ela disse o que precisava, não poderia interferir mais do que isso. Caminhei pela calçada sob um tímido sol que vencia as espessas nuvens. Evitei pensar no que faria ao chegar a casa. A arma estava carregada, lubrificada, devidamente guardada. Eu a adquiri alguns meses antes, de um modo ilícito, quando a ideia de morrer cresceu na medida em que os dias eram iguais.

Cheguei ao meu apartamento depois de uma longa caminhada. Não entrei. Diante da porta, tive a sensação de que ainda era cedo demais. Recuei e decidi ir uma última vez à cafeteria. Pediria uma guloseima enorme, das mais caras. Queria me proporcionar um último doce paladar.

No fim, solicitei um profiterole. Dentro da massa açucarada, uma enorme bola de sorvete de creme. Calda quente de chocolate por cima. Perfeito. Degustei o doce atento ao movimento. Àquele horário, a cafeteria estava quase vazia, muito diferente da correria matinal. A porta abriu e mal acreditei quando a vi.

Os cabelos castanhos estavam curtos, repicados e realmente despenteados. Não como um visual moderno, mas desleixado. A face estava um pouco redonda revelando o ganho de peso. Sua bolsa enorme estava semiaberta, deixando à vista uma bagunça de papéis, agenda, carteira e fraldas. Envolvida em seu abraço, uma criança rechonchuda, de aproximadamente um ano e meio, apontava agitada para o menu ilustrado na parede. Ela quase se descuidava entre apanhar a carteira, acalmar a criança e argumentar sobre qual doce pediriam.

Alice perdera a beleza jovial, a sedução, o encanto natural da estudante de Artes Plásticas que um dia fora, mas... ela continuava colorida. A bolsa azul, a camiseta amarela, o jeans branco, a face corada pelo esforço, os lábios... ah, os lábios. Ainda levavam aquele sorriso. Seus olhos me encontraram. Por um momento, me senti tímido... estúpido... pequeno. Depois tive a confiança de que não me reconheceria. Doeu.

— Felipe?! – Surpresa soou em meu nome. – Oh, meu Deus! É você mesmo!

Alice se aproximou. Entusiasmo. Riso. Confusão.

— Oi, Alice, como vai?

Ela, de repente, pareceu um pouco envergonhada.

— Ah, como pode ver, estou numa correria... Esse é meu filho, Joaquim.

Observei a criança. Tinha seus olhos. Verdes. O cabelo era preto, no entanto.

— E aí? – cumprimentei o garoto.

Ele parou brevemente, curioso. Alice pediu uma fatia de torta de morango e me convidou a sentar.

— Então, você casou? – perguntei depois que nos acomodamos.

— Ah, não... Não éramos sequer namorados. – Encolheu os ombros quando se referiu ao pai da criança. Foi estranho. Nunca a imaginei submissa. – Mas estou muito feliz, Joaquim é um garoto incrível!

— Deve ser difícil educá-lo sozinha.

Alice penteou os fios rebeldes com os dedos numa tentativa de melhorar sua aparência, a outra mão segurava Joaquim pela cintura para que não caísse do banco. Ele voltou à agitação anterior.

— Sim, é. Olha, foi realmente bom encontrar você... – comentou timidamente. – Eu sempre quis lhe dizer uma coisa.

Mantive o silêncio. Não confiava em minha própria voz para que não soasse trêmula.

— Desculpe-me pelo modo como terminamos. Não espero que me perdoe, mas gostaria que soubesse não ter sido minha intenção magoá-lo. Eu apenas era jovem demais, confiante demais, ingênua demais. – Abraçada ao filho, seus olhos me encararam. – Não estava pronta para um relacionamento sério.

— Eu entendo – respondo em um suspiro.

— Quando engravidei, percebi quão superficiais eram os meus namoros. Quero dizer, ninguém além de você me parecia disposto a um compromisso. Você acabou sendo a única pessoa que me valorizou o suficiente para isso. – Por sobre a mesa, ela segurou minha mão. – Obrigada.

Sorri em resposta. Sua gratidão e o seu reconhecimento, embora tardios, me fizeram notar que estive preso a um conceito não necessariamente errado, mas talvez incompleto sobre mim mesmo. 

— Você aceitaria jantar comigo hoje? – perguntou com um sorriso constrangido.

A garçonete trouxe a torta, e Alice precisou conter Joaquim para que não se lançasse sobre o enorme morango que a coroava. Observei-os um pouco, percebendo naquela interação quanta vida ambos pareciam ter. Esbanjavam cor.

— Eu agradeço, Alice, mas não quero jantar com você – respondi sincero. Ela assentiu, sua face corada não apenas pelos cuidados maternos dessa vez.

Levantei-me depois que o silêncio voltou a nos envolver. Ela estava ocupada, eu estava pronto. Despedi-me com um beijo em sua testa, um gentil adeus de minha parte. Voltei ao meu apartamento, entrei e retirei os sapatos. Reencontrei o quadro que nunca pendurei, mas não reencontrei a Alice que perdi. Éramos ambos diferentes agora. Ela agradeceu a quem fui no passado, ao cara que a valorizou acima de si mesmo. E quem sou hoje é incapaz de se apaixonar por ela novamente.

Apanho a arma guardada na gaveta da cômoda e desativo a trava de segurança. Deito-me na cama. Ah, o teto precisa de uma limpeza. Duas demãos dariam conta de melhorar o aspecto desse lugar, talvez devesse também mudar a cor. Engatilho. Alice estava bonita, mesmo diferente. Qual terá sido sua opinião a meu respeito?

Abandono a arma sobre o colchão e me levanto. Vou até o banheiro, retiro o papelão do espelho e me encontro. Minha barba está maior do que imaginei, há alguns seletos fios grisalhos nela. Minhas olheiras não parecem tão ruins e meus olhos... estão mais expressivos, talvez mais enigmáticos. Menos opacos. Tenho uma espinha na testa.

Dou risada de mim mesmo. Antes que perceba, estou dobrando meu corpo de tanto rir. É estranho ver a si mesmo como alguém desconhecido? Não sou nada parecido com o que idealizei. O tempo sem me ver levou-me a fantasiar minha aparência. Pareço alguém comum. E gosto disso. Sinto-me capaz de encontrar doses de felicidade e tristeza como qualquer outra pessoa. Sinto-me “menos eu”.

Volto ao quarto e desengatilho a arma. Ativo a trava de segurança e a guardo na mesma gaveta. Pego o quadro, coloco os calçados e saio. Não me preocupo em trancar a porta. Caminho, quase corro, até chegar ao meu destino. 

— Bela pintura – diz ela quando me vê.

— Achei que fosse gostar.

Ao entrar no seu pequeno apartamento, o cheiro de bolo me invade. Vamos juntos até a cozinha e fico a observar seu lento ritual. A chaleira é colocada sobre o fogão, que é aceso com o auxílio de um fósforo. Ela não tem cafeteira.

— Tenho certeza de que acertei a receita, rapaz – comenta a senhora enquanto preenche o coador com o café em pó. Ela se refere ao bolo sobre a pia, recém-saído do forno. – Doce, mas nem tanto. Apenas o suficiente para apreciar. 

Deixo o quadro no chão e me aproximo.

— Vamos experimentar.

FIM


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Notas finais do capítulo

Precisamos falar sobre o suicídio. Sobre o que leva uma pessoa a considerá-lo sua única alternativa para lidar com o sofrimento, a solidão, o desespero. Ao escrever O dia em que decidi morrer, estava decidida a provocar o leitor para perceber que cada pessoa vive e expressa seus sentimentos de um modo particular. Nunca podemos supor conhecer o sofrimento do outro ou a sua real extensão quando não nos dedicamos a ouvi-lo, percebê-lo e apoiá-lo.

É importante dizer, ainda, que esse é um conto fictício, no qual favoreci a escolha do protagonista pela vida. No entanto sabemos que, infelizmente, o pensamento suicida é insistente e muitos não recuam em sua decisão. Quando alguém expressar desejo de morrer, portanto, não ignore. Não desmereça a gravidade da situação. Acolha, cuide e encaminhe a pessoa para o suporte necessário (psicoterapêutico e/ou psiquiátrico).

Recomendo também conhecer o Centro de Valorização da Vida (CVV), uma organização sem fins lucrativos que realiza apoio emocional e de prevenção ao suicídio. Acesse: http://www.cvv.org.br | Ligue: 141.

Obrigada por ler.