Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 34
Cinzas




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Acabou. Eu não consigo mais me mexer, minha consciência está ficando em branco. Mas a bruxaria de Alistair Crown acabou. Senhora Olga e Espada Elena estão a salvo, finalmente. Fecho os meus olhos.

E a dor me consome, antes da morte o fazer. Aquela escuridão que invadiu o meu corpo. É como se as chamas fossem só um alívio distante. Ela me invade o meu peito e o descanso de uma morte eterna me é negado, deixando apenas o sofrimento. Isso não é uma simples bruxaria. Isso não é nem magia, é uma interpolação das duas arcanias. Eu… eu… não dá. É como se meus braços se torcessem. Se meu pescoço girasse completamente e eu não morresse. Como se minhas unhas se tornassem lâminas e subissem pelas minhas pernas e braços. é insuportável 

por favor

alguém

faça parar

socorro

olga

elena

abigail

delula

socorro

alguém me ajuda

eu não aguento

minha cabeça

meus ouvidos

minhas unhas

meu peito

socorro

alguém

socorro

eu não aguento

ajuda

bruxaria

magia

alguma coisa

socorro

me mata

escuro

socorro

me mata

tá doendo

alguemmeajuda

eunãoaguento

delula

elena

olga

olga

olga

olga

memata

socorro

mequeima

 

Não me lembro do que aconteceu direito depois, mas lembro-me que Vincent explicou seu plano para as outras. Lembro-me que ele usou seu Estilhaço de Mentiras em mim. E que a dor passou depois disso.

 

— Quase me salvou da sombra.

Minhas mãos estavam cheias de sangue. Sangue de quem não era o nosso inimigo. Eu não entendi as últimas palavras de Vincent Grinn, mas talvez Abigail tenha entendido. Alistair Crown se pôs de pé, sem dar o golpe de misericórdia. Talvez Vincent Grinn estivesse segurando as mãos dele, lá dentro da cabeça deles. Talvez Alistair Crown fosse só esse tipo de homem. A própria bisneta. A postura de Vincent se tornou a de Alistair, aquela que vimos do outro lado do Véu.

— Eu sei que está aí, Delula DeWrigg - e ela saiu, com sua cadeira de rodas, como se sempre estivesse estado ali, bem ali. Como se tivesse nos visto lutar mas não achado necessário interferir.

— Vai tentar me matar nesse estado? Bem, eu não devo passar de uma velha, você derrotou as minhas Senhoras, matou Abigail Crown… O que te impede, não é mesmo? - por debaixo do cabelo branco desajeitado, havia um sorriso… era um flerte? Tudo isso foi só uma brincadeira entre os dois?

— Nós dois sabemos que Abigail Crown me feriu demais. Parece que meus descendentes foram muito bem instruídos. Eu não conseguiria te vencer hoje, infelizmente. Mas as suas defesas foram… superadas. Pode ser que amanhã você durma com os peixinhos. - ele está bem ali, Delula! Primeira Bruxa, ele está bem ali! Ele atacou seu convento! Passou por cima de nós! Derramou sangue de uma mulher aqui dentro! Usou uma bruxa pra derramar sangue de outra mulher! Primeira Bruxa, por favor! Será que não vê que estou aqui?!

 

— Então agora você é Alistair Crown, definitivamente? Faz um bom tempo, não? - só isso! Uma saudação entre velhos amigos?! 

— Não, ainda falta. Como você pode ver… Crowns não simplesmente morrem - Abigail tentava alcançar Alistair. Não. Tentava alcançar Vincent.

Alistair se virou, com a adaga em punhos. Eu teria usado esse movimento para acertá-lo, para cumprir o que Vincent pediu. Mas Delula o parou. Eu senti sua bruxaria poderosa, paralisando o inimigo. Minhas irmãs, as outras Bruxas, se levantavam também, depois do sono da morte. Veríamos a derrota de Alistair Crown pelas mãos de nossa mestra.

— Você deveria estar me agradecendo. Aquela Senhora teria morrido se não fosse pelo meu Estilhaço de Mentira - foi a primeira vez que Delula olhou pra mim, depois de tudo isso. Foi como se tivesse olhado pra dentro da minha alma. Mas não era o olhar que a Primeira Bruxa nos dava. Ela só enxergava a Sombra, que acreditava que o parceiro tinha conjurado em mim.

— Devo te agradecer por utilizar uma coisa que criamos juntos, Alistair? Isso foi só pagar uma dívida. E eu não vou deixar você matar Abigail Crown por outra dívida.

 

Eu quis me queimar, mas não senti as chamas. Dívida. Só por isso ela não deixaria outra mulher morrer sob o teto do Convento das Bruxas. Aquela escuridão se revirou pelas minhas entranhas, e eu parti para atender o chamado. Alistair sentia aquela escuridão dentro de mim. Deve ter achado que tinha controle sobre mim. Eu arranquei o olho dele. Não porque Vincent Grinn me pediu para atacá-lo. Era porque eu não tinha coragem de matar Delula DeWrigg. Eu quis me queimar, mas só tinha o escuro. E quando Vincent me livrou do Estilhaço de Mentiras, já não importava mais.


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