Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 25
Emergência




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Eu e Elena nos aproximávamos do Convento, e eu comecei a ter a sensação de que algo familiar me aguardava ali. Era algo que me levava pro passado, mas tão presente quanto a bruxa com o senso visível de emergência. Não podia ser Vincent, não fazia sentido. Ele é perigoso, forte, inteligente, mas não é um mago. As Senhoras, que respondiam diretamente à Delula, não deveriam estar perdendo.

— Senhorita Crown? - Elena chamou a minha atenção. Pelo tom de voz, não era a primeira vez que me chamava.

— Pode me chamar de Abigail, por favor - eu deveria ter deixado claro que não quero ser reconhecida pelo sobrenome.

— Tem certeza que esse cara que tá lá dentro é o Grinn? Não se parece em nada com o homem que eu conheci.

— Você conheceu Vincent Grinn? Como foi isso?

— Ele me beijou e eu terminei empalada - ela percebeu a péssima escolha de palavras - empalada por guardas que me deixaram morta no chão. Depois Oswald Cross fez alguma coisa com ele e eu tive que ir embora. Pra falar a verdade… - Elena respirou fundo e olhou pro Convento das Bruxas - Vincent Grinn se parece mais com Oswald Cross do que com ele mesmo, agora.

Os ossos, tendões e músculos ainda são meus. Ainda é a minha consciência que os controla. Ainda são os meus olhos que enxergam, os meus ouvidos que ouvem. Eu me movo na velocidade da sombra e a Sombra faz o que quer. Ah… eu estou tão… fundo. Eu sinto a risada dele na minha pele.

— Eu sinceramente achei que as discípulas de Delula DeWrigg seriam mais imponentes, senhoras! - mas não era, de forma alguma, a minha voz a sair da minha garganta. As Senhoras Olga e Miuzand tinham cortes superficiais, mas estavam acuadas.

— Você não é mais Vincent Grinn. Identifique-se, Sombra! - Senhora Olga preparava a bruxaria dela. Pretendia congelar o salão inteiro, se fosse pela postura. Bem, a morte não é muito importante pras bruxas, afinal. Mas aquilo era perigoso. A gargalhada subiu pela minha boca como vômito.

— Eu não me lembro, Senhora Olga! Eu só tenho essa vontade de matar a sua mestra, pra falar a verdade! Tenho essa sensação de que as coisas vão se resolver quando Delula DeWrigg estiver morta! Era pra eu estar no corpo de um Crown, sabia? - eu tentava me impedir de falar, mas não tinha força pra isso. Essa era a tortura? Mas que merda. Eu quis tanto assim viver que deixei essa aberração tomar o controle? Não. 

Me escondi entre as sombras, saindo da visão de Olga e Miuzand, mas não por muito tempo. Miuzand me caçou como um animal selvagem, tentando me acertar com aquela espada dela. As sombras se erguiam, desajeitadas, pra me desviar dos ataques. Aos poucos, era como se a forma do meu corpo se adaptasse às vontades da sombra. Senti uma concentração, uma perturbação no profundo lago no qual eu me afogava. A concentração se espalhou quando Miuzand me acertou, talhando a minha roupa e respingando sombras. Ela acabou de rasgar a Não-Me-Note? Olga me jogou no chão com um vento gelado que chegava nos ossos. Mas eu levantei, claro que eu levantei. Deixei uma das adagas cair no chão, não sabia se era porque a mão doía ou se era porque eu precisava do espaço. As sombras se espalharam, ferindo as duas Senhoras. A dor que eu estava sentindo só me dava vontade de cair no chão e desistir.

— Vocês não são oponentes subestimáveis. Talvez, no meu tempo, vocês pudessem me derrotar. Nasceram na época errada, infelizmente. Venha pra mim, Coração das Sombras.

O Convento estava um caos. As bruxas sabiam que não deviam se envolver no combate das Senhoras, então todas elas estavam procurando algo pra fazer enquanto fingiam não se importar. Elena me puxava pelos corredores, na direção da batalha, até que uma explosão nos empurrou, me deixando tão enjoada e tonta que eu caí no chão na mesma hora. Um desconforto crescia e eu tinha a sensação de retirar a maldição do corpo de Ivan de novo. Sentia algo querendo sair, como se precisasse cavar minha pele de dentro pra fora pra isso. Quando abri os olhos, eu tive uma visão daquele homem novamente. Um homem alto, elegante, de longos cabelos loiros, olhava adiante. Me esforcei pra levantar, e o homem desapareceu novamente. Acho que eu já o reconhecia a essa altura. O que ele estava fazendo no corpo de uma criança, eu não fazia ideia. Eu estendi a mão para que Elena me ajudasse. Ela me puxou sem muito esforço.

A cabeça da Abigail parecia estar em algum outro lugar. Não era hora pra isso, principalmente se pretendíamos matar Vincent Grinn, ela precisava saber o que estava fazendo. Eu também não gostava muito da magia que saía dela. E ela achava que eu não percebia todas as vezes que ela fazia desaparecer o sangue em sua boca. 

— Chegamos, Abigail - a porta estava selada. As Senhoras queriam jogar a sala inteira no plano dos mortos e voltar depois. Estavam encarando a possibilidade de terem que recomeçar. Não entra na minha cabeça que Vincent Grinn pudesse jogar as Senhoras contra a parede dessa maneira - você tem certeza que é o Vincent Grinn? Isso do outro lado… é magia. Magia poderosa.

— Eu preciso vê-lo, Elena. Eu preciso saber o que aconteceu - Abigail se despia das ataduras que vestia no braço - e eu preciso estar apresentável pra ele.

Respirei fundo. Abigail provavelmente era apresentável logo depois de acordar, com a cara inchada de sono. Recuperei a compostura e abri a porta. Foi complicado desfazer o selo, mas fazer o quê? Trabalhar é o que eu faço.

A Sombra estava se agitando, sua inquietação aumentava à medida que a porta abria. Nem eu nem ela havíamos percebido que as Senhoras tinham preparado um selo. Uma outra bruxa estava entrando na sala, uma bruxa de pele clara e cabelos curtos bem escuros. Parece alguém que eu conheço, mas atrás dela…

É aquilo! A peça que falta!

— EU TE ENCONTREI, CROWN - aquela era mesmo a Abigail? As sombras não estavam me deixando enxergar direito, estavam muito rebeldes e disformes. 

— Olá, Vincent Grinn, há quanto tempo. Ainda se lembra do nosso último encontro?

Sim, eu me lembro, Abigail. Então era isso que a Sombra era. Ela se alinhou e cresceu, atrás de nós dois, formando a mesma imagem. A Sombra de Cartola.

E ele surgiu, fora da minha mente, a imagem criada nas sombras. O homem que estava nos cantos da minha mente. Alistair Crown.

— Você está aí, não está? A outra metade do feitiço, não é mesmo? Você vai completá-lo, e eu vou me lembrar de tudo! - Ele canalizou a magia pelo Coração do Mago, e tudo ficou escuro.


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