Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 2
O Glamour da Maga




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Você não faz ideia da reação das crianças quando matam um cara! Sério, você nem acredita! Algumas delas gritam desesperadas, como se a vida delas tivesse ganhado algum tipo de trauma depois disso. Claro que não, né? Todo mundo mata alguém em algum ponto da vida, mas essas não são o foco de hoje. Sabia que tem criança que gosta? O pequeno Kerry com certeza vai trabalhar pra mim no futuro, aquele garoto não é normal. Para entender, só olhando a cara da criança, ele amou aquilo tudo! Ah… vamos voltar pro que importa, senão eu vou ficar nessa o dia inteiro.

    Depois de ser responsável pela morte de um homem culpado, você sempre vai querer encher a cara. Não importa o quão santo você seja, sua mente nunca vai sair bem depois da morte de alguém, ou você não é normal. Maurice e  Lawrence, meus guarda-costas(mais cortesia que necessidade, diga-se de passagem), deixam-me na porta do Duas Caras, o principal bar entre as pessoas de má índole da minha querida Baronesa, cidade em que vivo e amo. Os mesmos velhos jogando o mesmo jogo de cartas. Um deles está com um número expressivo de moedas e um ar triunfante. Mentindo como um porco, tudo o que ele tem nesse jogo é futuro. Dou uma volta pela mesa, cumprimentando os rapazes. Claro que estou olhando as cartas de todos eles. O velho pirata, agora aposentado, mentia tendo apenas duas Condessas em mãos. Só o que eu tenho por ele é orgulho agora. O garoto Rodge Perna Solta tinha a melhor mão, um Duque e um Capitão, mas perdia apenas porque era medroso demais. Barnes só estava jogando por jogar, o que tornava a aposta dele nesse jogo inacreditavelmente estúpida. Quanto menos jogadores, maior era a aposta, essa era a regra. Depois de alguns turnos, o pirata cujo nome eu sou incapaz de recordar venceu, como eu esperava. Essas crianças ainda têm muito o que aprender. É claro que agora eu joguei as minhas próprias moedas.

    Depois de muita bebida e inúmeras partidas, a mente de ninguém vai funcionar direito, por isso, não posso lhe afirmar com certeza se o que descreverei nos próximos momentos é verdade ou não. Tudo pode ser o delírio de um bêbado daqui pra frente, mas tanto faz. O que eu me lembro é o velho pirata ir arranjar briga com o dono do Duas Cabeças depois de perder o dinheiro todo… pra mim. Isso, foi assim mesmo. Ele ganhou umas duas porradas e logo foi beijar o chão, porque o dono do bar é enorme, então tudo foi uma questão de burrice da parte do pirata. O grande Bruce, homem de dois metros e barbado, ele mesmo, o dono do bar, começou a gritar com o velho pirata inconsciente no chão e… Espere um segundo, nada disso é importante. Não, não era disso que eu queria falar… Ah, sim! É dela mesmo!

    Magos são a pior raça do mundo. Distorcer realidade não é algo que deveria ser dominado por nenhum humano, mas aquela mulher simplesmente não tinha limites. Sério, magos são demônios em pele humana. Mas essa aí eu já conhecia. Aqueles cachos dourados, esbanjando vida, cobrindo suas costas até a cintura e um decote aberto até a barriga definida e… Estou perdendo o foco. Não vou dizer que Abigail era uma imagem ruim de se ver, afinal de contas. Era uma das mulheres mais lindas que meus olhos já tiveram o prazer de encontrar. Só que ela ainda era o demônio.

    É sempre assim quando ela chega. Sutilmente, ela move os dedos. Todos os homens se entreolham, rosnam e começam a brigar entre si, como se estivessem lutando por um segundo da atenção dela, coisa que jamais receberam. Ela ri, como se nada estivesse acontecendo. Olho na direção dela como se estivesse hipnotizado. Talvez eu estivesse, ou era o magnetismo natural de uma mulher bela como aquela misturado ao álcool no meu sangue. Nunca saberei. É sutil demais o jeito como a magia gira sobre o corpo dela, quase imperceptível. Essa mulher seria muito menos perigosa se simplesmente fizesse gelo ou causasse combustão com um olhar, afinal, querendo ou não, vivemos num mundo controlado por homens e quem pior do que uma maga controladora deles pra fazer tudo ir ao chão?

— Rodge, comece a tocar! - em meio ao frenesi de gente se batendo descontroladamente, ele nem conseguiu assimilar a mensagem direito. É uma pena que o Não-Me-Note esteja pendurado logo ali no gancho e não aqui, comigo. Ele pode até não funcionar em espaços fechados, mas eu entraria nessa luta muito mais bonito. O garoto de pernas nada saudáveis finalmente pegou o violão. O uso de qualquer arma é proibido no Duas Cabeças, mas sinceramente, se qualquer um por aqui seguisse essa regra, esse lugar seria incapaz de operar. Armas nos mantém seguros contra outras pessoas armadas. Essa mulher tem magia, uma arma excelente. Eu tenho minhas adagas, uma defesa necessária. E Rodge começou a tocar.

— Vincent Grinn, há quanto tempo! Ainda se lembra do nosso último encontro? - rebolando, ela se aproxima. Seus olhos brilham mais intensamente. Desviava de pratos voando e ignorava homens caídos ao chão até com certa inocência. Realmente, uma visão hipnotizante. Ela já começou na vantagem, mas a música de Rodge me mantinha atento. Era ele a chave para me manter de pé contra ela.

— Ora, mas é claro, Abigail! Você é uma imagem complicada pra esquecer, querida! - Infelizmente, devo admitir. Ela é mais poderosa que eu. Quando nos encontramos pela primeira vez, há 5 anos, eu era um jovem de 17 anos que havia acabado de descobrir a lenda do Estilhaço de Mentira. Mas eu não era o único. A última das obras do mago Crown era um verdadeiro tesouro. Foi também nessa época que obtive o Não-Me-Note, minha jaqueta predileta. Eu estava indo bem, tinha boas pistas, até que cruzei o caminho com ela… Abigail me seduziu, me roubou e usou sua magia sórdida pra voltar uma cidade inteira contra mim. É por isso que agora, bêbado e confuso, guiado apenas pela música de Rodge, meu único objetivo é colocá-la pra dormir.

— Preciso de um favor seu, Vincent! Espero que não recuse o meu pedido! - Ela uniu as pontas dos dedos indicadores, fazendo um sinal curioso com as mãos e avançando na minha direção.

— Você tem um jeito curioso de pedir favores, Abigail! Que tal uma carta da próxima vez? Me chamar a um restaurante, talvez? - tento acertar os olhos dela, mas a maga é esperta e ágil demais pra tomar um golpe desses, usando sua invejável flexibilidade pra um movimento complexo com as costas, estendendo o corpo de forma estranha e não copiável. Ela tentou aproveitar o movimento e me chutar, mas essa também não era a minha primeira luta. Ela completou a cambalhota pra trás, se impulsionou pra frente e continuamos nossa conversa.

— Mas aí você não me daria atenção. Você é o único que pode me ajudar dessa vez, Vincent - ela tentou tocar a ponta dos dedos em mim. Não sei o que ela queria com isso, mas é melhor evitar, né? - Você também não quer achar o Estilhaço? - Chutei ela bem na barriga. A pessoa que chamou os homens que batem em mulheres de covardes não conheceu Abigail. Enquanto ela recuperava o ar, me aproximei pra finalizá-la. Um bom corte no pescoço nunca deixou ninguém sobrar. Mas essa mulher… Me segurou pelo braço e me arremessou ao chão. Consegui me recuperar rapidamente, mas descobri o que ela faz com os dedos. Senti meus dedos da mão direita lentamente deixarem a adaga cair no chão. Paralisia. Sou destro, o que é um problema nessa situação. A partir daí, eu já imaginava que a derrota era certa. Mas desistir não era uma opção, né? Parti pra cima como se a vida dependesse disso, porque provavelmente ela dependia. Ela pegou uma vassoura e deu com tudo no meu ombro esquerdo. Agora eu não podia usar nenhum dos braços. Com um movimento simples, mas preciso, ela tocou suavemente o meu rosto e se aproximou…

E agora, cá estou eu. Num quarto. Minhas adagas estão comigo, o que é estranho. Nenhum sinal de Maurice ou Lawrence, o que piora as coisas. Mas a pior parte é a carta, na cabeceira da cama.

Olá, Vincent. Parece que perdeu pra mim de novo. Acontece.

Preciso que você localize o anfitrião da festa e o mate. Ele está me impedindo de conseguir pistas sobre o Estilhaço de Mentira. É um baile de máscaras, o que facilita o seu trabalho. Não pude participar dessa festa, o que é uma pena. Dançar com você me diverte, Vincent. Espero receber notícias suas em breve.
Com amor, Abigail, sua maga.


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