Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 14
Abigail


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me pela demora! Além de ter tido alguns problemas pessoais, passei por um leve bloqueio. Mas espero ter entregado um bom capítulo, é isso o que importa pra mim. Espero que se divirta!



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Eu consigo sentir o cheiro dele, aqui em Baronesa. O incidente em sua mansão fez com que Oswald Cross sumisse, mas não é difícil pra mim sentir a sua presença. É até melhor que eu o encontre enquanto Vincent está fora. Tenho que acertar as contas pelo braço que os capangas dele quebraram. A morte deles não foi o suficiente. Eles não eram um desafio para o Coração do Mago, surgido das chamas da Casa Crown. Mas o mago com complexo de vilão será. Vou arrastar seu nome pelo chão e assim, provar o meu.

Está chovendo hoje. Estou usando uma capa vermelha, mas deixo a chuva penetrar pelos meus cabelos dourados sem empecilhos. Usar o capuz me faz sentir menos conectada à magia. Enquanto o sol, bloqueado pelas nuvens pesadas, ainda não desiste e não vai embora, caminho calmamente, observando as pessoas que, assim como eu, vivem esta cidade. Comerciantes protegendo suas mercadorias da água que caía, magos escondendo cartas nas mangas e impressionando crianças. Os bares acendendo as luzes antes que a última luz fosse embora. Pessoas que deviam vidas inteiras ao Grinn, que não tinham como pagar e que logo seriam severamente cobradas. Oswald Cross queria acabar com cada uma dessas pequenas pessoas. Não é de grandes gênios que uma cidade vive. Cada pessoa “pequena” é uma história. É sangue que corre pelas ruas, pelas veias desse lugar. Eu posso não gostar de nenhum deles, mas não sou egoísta ao ponto de só querer que pessoas que aprecio pudessem respirar. Jamais criaria uma sociedade de gênios, escassa ao ponto de todas as histórias serem grandes ao ponto de serem contadas ao trono do Rei. Quando tudo é grandioso, tudo é medíocre. Um mago poderoso como Cross não compreender isso é ridículo. Uma maga com o meu sangue não impedir uma atrocidade dessas é imperdoável.

Enquanto a noite cai e a chuva não cessa, começo a sentir sua magia, me caçando. Não tem como ele saber, não ainda, que estou em posse do Coração, mas ele sabe que estou pronta para desafiá-lo. Sua presença está me chamando pela cidade, enquanto eu ouço canções alegres nos bares e os mesmos magos enganando crianças diferentes. Não sou uma mulher de posses, então não posso colaborar com os homens que devem dinheiro ao Grinn, além de não ser um problema meu. É incrível como Vincent está presente em todo o submundo do crime. Quantos nomes já não foram apagados por causa dele? O sangue que espirra nos becos sempre soletra as iniciais “V” e “G”. Tudo passa por ele e, mesmo assim, Vincent gosta de resolver os próprios problemas sozinho. O rei do submundo em Baronesa é um garoto de 21 anos que gosta de colecionar artefatos mágicos e apanha para garotas em bares lotados. Não importa como eu o veja, não consigo detestar este homem. Qualquer um que encare magos poderosos como eu ou Cross e não desista deve ser admirado. Vincent Grinn é o peão mais belo de todos.

O teatro. Cheguei. Eu não sei qual é a peça de hoje, apenas sei que o lugar está lotado. Péssimo gosto, Cross. Esta é uma brincadeira de péssimo gosto. O mago olha para mim imediatamente. Ele me chamou e eu atendi. Começo a sentir a pressão dessa disputa. Oswald é diferente do que eu imaginava. Mais magro do que eu imaginava. Mais velho do que eu imaginava e, por algum motivo, sempre imaginei que ele usava uma cartola. Tomei um susto quando vi sua cabeça completamente descoberta. Ele saiu do camarote, em direção aos corredores. Fui em sua direção.

— Essa chuva também te pegou de surpresa, Abigail? - a magia entre eu e ele crepitava.

— Eu gosto de pegar chuva no rosto, Oswald. A propósito, não sabia que gostava de teatro - A magia que vinha dele tentava, camada por camada, chegar até mim. Agora eu entendo o estrago que ele fez na cabeça do Vincent.

— Não gosto, mas precisava que você viesse até aqui. Você não quer se revelar ainda, não é? - Uma sombra impossível saía de seus pés - E não quer envolver ninguém aqui - os olhos dele ficaram frios de repente.

A sombra veio na minha direção com bastante ímpeto, a magia feroz se dirigindo à mim. Com um fluxo de magia no sentido contrário, desviei o ataque. O som era como o de ferro batendo em ferro, a sombra negra espirrando da colisão como faíscas. Oswald Cross permanecia parado, impassível, mas sua sombra atacava, implacável. Os barulhos da minha magia bloqueando a sombra já tinham tirado a atenção do público. As coisas estão saindo de controle. Já consigo sentir os guardas se aproximarem, movidos pela comoção. Me concentro nas lâmpadas. A sombra já me alcançaria e eu seria forçada a bloquear mais uma vez, mas…

A sombra some. As chamas das lâmpadas levantam-se como nunca. Pela primeira vez, vi Oswald Cross expressar frustração. Corri como a atleta que sou, sem que ele pudesse pensar em reagir. Quando eu o tocasse, seria o fim. Destruiria os fluxos de magia dele por dentro como se eu fosse uma pedra e ele, uma vidraça.

 

Meus dedos estão pingando sangue. Minha mão direita está inutilizada. Agora eu não conseguirei usar nenhuma das mãos. Fui arremessada como uma criança para o outro lado, repelida por algo antigo, por uma magia poderosa que se contorce dentro dele. A sombra de cartola. Ele também caiu, mas não conheço o seu estado atual. Espero que esteja morto mas, se eu tiver que ser sincera, eu sei que ele não está. Ele levanta, tonto e confuso. A parte esquerda do rosto, onde eu o toquei para destruir seus fluxos de magia, está ensanguentada e enegrecida. Nos levantamos no mesmo ritmo. Seu olho esquerdo está branco e seu globo ocular, completamente escuro.

— Não esperava que você chegaria tão perto, Abigail. Não deveria ter te subestimado - e todo o controle havia voltado ao seu rosto. Como pode? Ele está cego de um olho, porra! Eu duvido que alguém tenha chegado tão perto de matá-lo assim! E ele me olha com essa calma toda!? Vou fazê-lo se arrepender disso! Foda-se que a minha mão está ferida! Seguro o Coração do Mago na mão direita, mordendo os lábios. Ele fixa os olhos no Coração, interessado. Logo, ele também sacou sua arma. O Grimório da Mente - Mas isso não vai mais acontecer. Liberte-se, minha vida!

 

Matou guardas, matou espectadores e só não me matou porque me protegi com o Coração. Ainda assim, fui arremessada mais uma vez, pela janela dos corredores até os bancos lá embaixo. Foi uma queda feia, mas acho que não quebrei nada, caí em cima de um homem bem gordo. Um dia, eu vou rir disso. Onde estávamos, todas as lâmpadas foram quebradas e o breu dominava. Não tinha como distinguir Oswald Cross naquela escuridão toda, mas agora, eu estava exposta. Ele veio até a janela, mas sua sombra o deixava protegido pelo anonimato.

— Que bom que você sobreviveu a isso, Abigail. Não sei o que faria se tivesse te matado. Não posso te perder de novo, sabe?

— Do que está falando? - eu não poderia atacar, não com tantas pessoas correndo para a saída. Estava de mãos atadas. Eu sou obrigada a esperar, mas ele não é

— Sua mãe não te contou nada, não é? Realmente não faz ideia de quem eu sou. Como ela vai, Abigail?

— Quem é você!? - e por que mencionava a minha mãe? - Que papo é esse de me perder, Cross!? Que porra é essa!? Nós nunca nos vimos antes!

— De fato… Mas te conheço como se tivéssemos o mesmo sangue, Abigail… - suas sombras, agora muito mais poderosas, graças ao Grimório(ainda não sei o efeito que ele tinha nas sombras de Cross). Haviam pessoas no caminho. Esquecendo a dor, acumulei a magia ao redor no Coração do Mago e protegi quem eu pude, colocando a orbe na frente dos inocentes. O suor já escorria pela minha testa, como se ignorasse que, há 10 minutos atrás, era a água da chuva quem fazia o percurso - Vou dar o meu melhor para não te matar - ele tossiu e, pelo som, vomitou sangue - já que eu mesmo não vou durar mais muito tempo.

Aproveitei a brecha para correr na direção da janela que ele estava e usei o fluxo da magia para subir as paredes, trazendo o Coração comigo. Já na borda, levantei o orbe levemente e, na volta, o estapeei com força contra Cross. Ele virou o livro para a orbe e bloqueou, lançando as já mencionadas faíscas negras. Usei o Coração do Mago para criar um brilho forte, impedindo o contato com as sombras de Cross. Infelizmente, isso cansa bastante. É difícil enxergar Cross nessa escuridão toda. Pensando bem, eu não deveria ter pulado aqui. Pensando melhor ainda, eu não podia ter deixado tanta gente desprotegida. As sombras dele voltaram a descascar minhas defesas. Meu brilho está morrendo, pouco a pouco. É, parece mesmo que é o meu fim.

— Mas eu vou te levar comigo, seu maldito! - e o orbe brilhou como o sol, por um instante. Usei todo o poder que eu tinha, toda a magia que eu pude recolher com o Coração do Mago, todo o meu ser, para atacar. O orbe virou uma tempestade que atingiu Oswald Cross como um relâmpago. Ajoelhei e sorri. He, parece que não é o meu fim.

— Aelyn Crown criou uma filha excelente. Se eu tivesse interferido mais cedo, como era o meu plano, você não teria ficado tão formidável. Seu talento é absurdo, criança, talvez supere até o meu. Mas hoje você perdeu, Abigail Crown.


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