Ampulheta escrita por hina dono


Capítulo 11
O Preço a Ser Pago - Final


Notas iniciais do capítulo

Apareçam fantasminhas!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/760235/chapter/11

 

 

Rin podia ironizar, dizer que passou "tempo demais" com Sesshoumaru, mas a verdade é que nem a eternidade seria tempo o suficiente. Ela queria mais, muito mais. Infelizmente, não seria possível. Contudo, o que mais temia não era a dor que em breve sentiria - essa duraria somente alguns segundos - e sim a dor que infligiria à sua amada família. 

Sesshoumaru-sama, Yuki, Jaken-sama... 

 O último pensamento de Rin antes de sua espada colidir contra a daquele youkai foi: 

 Sinto muito.

 ***

 Jun estava quase finalizando o serviço para o qual havia sido contratada há mais de um ano, enquanto perguntava-se onde diabos Danai tinha se metido. Seria tão difícil assim desmaiar uma criança?! 

 Era o que ela ganhava por não ter intervindo quando notou a proximidade de Danai com a hanyou. Com certeza a youkai estava hesitante em cumprir com suas ordens, mesmo já tendo selado o acordo do negócio com seu próprio sangue. Se bem que até mesmo alguém sem escrúpulos como Jun sentia-se tentada a ter pena daquela criança sabendo o futuro que a esperava. O Lorde do Norte em pessoa queria cuidar dela e isso só podia significar uma coisa: sofrimento. 

 Perdida em pensamentos, levou um segundo a mais para notar e reagir a um ataque vindo de trás. O golpe de espada, mirado em sua cabeça pelo último youkai vivo daquela aldeia, seria fatal caso não tivesse sido frustrado por Danai, que finalmente havia dado o ar da graça. Com os olhos arregalados em choque, o youkai foi ao chão, morto por uma punhalada no coração. 

 - De nada - ironizou Danai.

 - Onde esteve até agora, Danai?!

 - Por aí. - Fugiu de sua pergunta. - Eles te deram muito trabalho?

 - Danai, eu sinto o cheiro do sangue - disse, desviando dos corpos no chão para aproximar-se de sua companheira de clã. - O que você fez? - Ela desviou o olhar. Foi apenas por um segundo, mas era mais do que o suficiente para Jun chegar a uma terrível conclusão: - Você a matou?! Maldita! O que pensa que fez? Nós tínhamos ordens! 

 - Recebemos tantas ordens no último ano, Jun. "Juntem-se ao exército do Leste", "Não, vão para o Oeste", "Vigiem Sesshoumaru", "Matem sua esposa e filha", "Não, deixem ambas para o Lorde do Norte". Francamente, você pode me culpar por ter esquecido alguma? 

 A cretina ousou sorrir. Jun quis estraçalhá-la ali mesmo, mas estava cansada demais - exterminar toda uma aldeia e mais três soldados treinadas deixava qualquer um exausto -, preferia evitar uma luta se pudesse. Além do mais, Danai havia cavado sua própria cova com aquela traição.

Tratou de lembrá-la disso, ao dizer:

 - Não haverá perdão, espero que saiba disso. 

 - Já aceitei minha morte, Jun. 

 - Ótimo. Então vamos em direção a ela. - Olhou rapidamente para o céu, já devia estar quase na hora do almoço. Bufou. Tinha demorado mais do que o previsto para terminar sua parte no plano. - A essa hora o castelo já deve ter caído. Consegue escutar alguma coisa? 

 - Você podia ao menos ter fechado os olhos delas.

 - O quê? - perguntou, virando-se para trás e recebendo como resposta um golpe violento na garganta.

Se sua boca não estivesse inundada por sangue, estaria proferindo todos os impropérios conhecidos contra aquela traidora. Mas já que não podia, fez questão de olhá-la com todo o desprezo e ódio existentes em seu corpo.

Danai não deixou-se abalar, limitando-se a dizer:

 - Podia ter fechado os olhos delas. Nossas irmãs, guerreiras como nós, vidas preciosas sendo sacrificadas pela ganância de Ryo-sama... Que desperdício. - Sentiu o corpo de Jun amolecer em seu colo. - Não se preocupe, Jun. Eu fecharei seus olhos. Vá em paz.

 *** 

 Por um longo segundo, pensou estar morta. Quando sentiu sua espada chocar-se com a do inimigo, um clarão iluminou as terras de Edras, fazendo-a pensar que aquela era a visão da travessia para o mundo dos mortos. Mas não, não estava morta. Na verdade, Rin estava bem viva. O mesmo não podia ser dito do soldado que a enfrentava há pouco, ou de todos os youkais daquele lado do exército. 

 - Desapareceram - sussurrou, chocada. Estariam seus olhos lhe pregando uma peça? 

 - Mova-se! - Hana, uma das soldados designadas para o flanco esquerdo da batalha, gritou para o youkai que se interpôs em seu caminho, separando o corpo dele em dois sem piedade alguma. Precisava chegar até a rainha. - Lady Rin! Vossa Majestade está bem?

 - E-eu... Eu não sei. O que aconteceu? Quem fez isso? 

 Como assim "quem fez isso"? Não era óbvio que tinha sido ela? A não ser que...

 - Realmente não sabe? - perguntou. A rainha negou com a cabeça, parecia realmente confusa. - Foi você. Vossa Majestade aniquilou 1/3 do inimigo com apenas um golpe!

 E também uma soldado aliada, mas não era hora de dizer aquilo. 

— Eu?

 Ao receber um aceno afirmativo, Rin olhou para Byakusaiga. Só podia ser obra dela. Mas como? Quando Sesshoumaru presenteou-lhe com ela, não mencionou nada sobre aquilo. E todas as vezes em que treinou com a espada, não houve nenhum sinal de que ela pudesse realizar ataques daquela magnitude. Entretanto, era de se esperar, afinal, Byakusaiga fora criada a partir de Bakusaiga, a formidável espada do Lorde do Oeste. 

 - Desculpe interromper seus pensamentos, Lady Rin, mas... - A soldado apontou para trás delas onde, recuperados do choque, os inimigos recomeçavam a lutar, vários deles vindo em sua direção. - Poderia fazer aquilo de novo?

 Rin bem que tentou, todavia, não conseguiu. Não foi capaz de reproduzir o pequeno milagre de antes, não conseguia sequer lembrar-se da sensação. Por Deus, como tinha feito aquilo?! 

Vendo a frustração da rainha e assumindo que por alguma razão ela estava impossibilitada de usar o mesmo ataque, Hana disse:

 - Deixa pra lá! Apenas lute como antes!

 - Hai! Eu te dou cobertura... - deixou a frase no ar, para que ela completasse com seu nome. 

 - Hana, meu nome é Hana. - Sorriu.

Seu último sorriso antes de ter uma adaga fincada em seu crânio. 

 Ao ver a youkai ser atingida, Rin não pôde impedir que um grito de horror escapasse de sua boca. Paralisada pelo choque, confusão e medo, ficou a olhar para o cadáver estirado no chão, totalmente alheia ao caos reinando ao seu redor. Para sua sorte, ou o mais completo azar, a pessoa responsável pela morte da soldado Hana ordenou que o exército não a atacasse.

Agachando-se ao lado do corpo e retirando a adaga do meio da testa da pobre criatura, o assassino comentou: 

 - Até que não fui tão mal, considerando que nunca mais treinei minha pontaria. - Sorriu, alegremente. - A propósito, sou Rihan. Mas acredito que a senhorita me conheça como Lorde do Leste. 

 Ao ouvir tal nome, Rin imediatamente colocou-se em guarda. Forçou-se a engolir a bile que sentia, não era hora de passar mal. Choraria pelos mortos depois. Primeiro tinha que dar um jeito de sobreviver àquilo.

Em uma atitude impulsiva, atacou. Talvez um ataque surpresa surtisse efeito, de preferência, um efeito positivo... 

 Ledo engano. Rihan não só foi capaz de bloquear seu ataque como também a repeliu com um chute, jogando-a a alguns metros de distância. Curvada em posição fetal, Rin tentava recuperar o fôlego perdido devido a força do impacto.

Conforme ia aproximando-se dela, Rihan dizia:

 - Sabe, nunca imaginei que te encontraria aqui - fez um gesto com a mão, indicando o campo de batalha tomado pelo caos -, no olho do furacão. Pensei que se esconderia no castelo, ou que fugiria enquanto seus servos morriam por você. Tenho que admitir que vê-la aqui foi uma surpresa deliciosa. Estou finalmente começando a entender o porquê de meu primo tê-la tomado como esposa. - Sorriu, malicioso. - Não que isso torne a decisão dele menos estúpida, é claro. 

Ele divertia-se com as tentativas dela em manter-se longe. A cada passo que dava em sua direção, ela rastejava um pouco mais para trás. Curiosamente, embora pudesse sentir o cheiro do medo dela, a tal Lady Rin não deixava que esta emoção alcançasse seus olhos. Gostou dela. Em comparação com os humanos que conheceu durante sua longa existência, aquela possuía coragem - e algum poder também, considerando seu último ataque. No entanto, isso não era o suficiente. Ela não tinha chance alguma de vencê-lo. 

 - Posso perguntar uma coisa? - Sem esperar resposta, prosseguiu: - O que foi aquilo de antes? Como conseguiu exterminar tantos dos meus em apenas um segundo? - Ele estava realmente curioso a respeito disso. Contudo, ela não parecia disposta a oferecer uma resposta. - Não quer contar, é? Bem, tanto faz. Acho que vou ter que descobrir sozinho, então.

 Rin arregalou os olhos quando percebeu a intenção do Lorde do Leste - tomar a Byakusaiga para si. Assim que notou isso, tentou desesperadamente alcançar a espada - que havia caído um pouco longe de onde estava -, mas não foi rápida o suficiente. Assistiu, com um misto de pavor e raiva, Rihan abaixar-se e pegar sua espada do chão. No entanto, seus sentimentos mudaram para surpresa ao presenciar a cena que se seguiu.

 Foi com prazer que Rihan segurou a espada de Lady Rin - sua inimiga, para todos os efeitos - e levantou-a para cima. Porém, sua satisfação durou apenas um segundo - esse foi o tempo que levou até que sentisse uma dor excruciante em seu braço direito. Olhando-o, percebeu que todo seu antebraço havia sido consumido. Se não agisse logo, acabaria perdendo a vida. Sem pensar duas vezes, sacou sua própria espada e, com toda sua força, usou-a para arrancar seu braço direito fora. Grunhiu de dor ao sentir osso, músculo e pele serem dilacerados.

Felizmente, seu sacrifício interrompeu o processo desencadeado pela espada. Infelizmente, tinha perdido seu braço dominante. Isso o deixou realmente furioso. 

 - Qual é a merda do problema de vocês?! - gritou, cheio de ódio. A cicatrização do que restou de seu braço parecia ocorrer mais lentamente que o normal. - Primeiro, Sesshoumaru arranca meu olho, e agora, por sua causa, eu perdi um braço! Mas o que é que vocês tem contra mim?! 

 Antes que Rin fosse capaz de pensar em uma resposta coerente para aquela pergunta estúpida, uma voz soou próximo a eles: 

— Lorde Rihan-sama. 

 Ao reconhecer a voz, Rin imediatamente voltou a si. Encarou a youkai de cabelos pretos com espanto. Se ela estava ali, então... Seria possível que a comandante Yang, Kayo e todas as outras...?

Suas suspeitas foram confirmadas pela próxima frase dela: 

— Está terminado. O Castelo de Edras caiu.

 E foi quando Rin finalmente olhou ao seu redor. Das quinze youkais que a seguiram até ali, apenas duas ainda resistiam: Aiko e outra da qual não recordava-se o nome. Estavam de costas uma para outra, cercadas por dezenas de youkais inimigos. Não durariam muito mais, talvez alguns minutos. Segundos, se fosse ser realista. E era sua culpa. Não apenas o final desastroso daquela luta, e sim toda aquela situação. Era tudo sua culpa. Por ter ousado querer ser feliz ao lado de um Dai-Youkai quando não passava de uma reles humana.

Ciente da culpa que carregava, tomou uma decisão. Suas próximas palavras talvez tenham sido as mais difíceis que já precisou dizer, mas elas eram igualmente necessárias. 

 - Eu me rendo. Por favor, deixe-as viver. 

 E para a surpresa de todos os que presenciavam a cena, Lady Rin do Oeste ajoelhou-se perante seus carrascos.

 *** 

Encostada no que restou dos portões do Castelo de Edras, Danai encarava os corpos sem vida de suas, outrora, companheiras de clã. Não podia fechar os olhos delas pois tal atitude despertaria a desconfiança de Ryo - que, apesar de nada dizer, não tinha acreditado totalmente em sua história. E também... não tinha o direito. Não quando participou ativamente na morte de duas delas. 

 Suspirou pesadamente. Ainda que tentasse bloquear as lembranças, elas continuavam vindo, trazendo com elas a culpa. Quando Danai deixou a aldeia para trás e finalmente alcançou o topo da montanha, a luta de Ryo e suas seis conselheiras contra as soldados fiéis ao Oeste estava quase terminando. Apenas cinco youkais continuavam de pé: Ryo, Hitomi, Cho, Kayo e Yang - as duas últimas sendo fortemente pressionadas.

Ao ver aquilo, sentiu-se pior do que nunca. Por um segundo, cogitou mandar tudo pelos ares e fazer o que queria ao invés do que era necessário. Contudo, o segundo logo passou e ela voltou a si. Cerrando o maxilar, segurou firmemente sua espada e atacou. Agora eram quatro contra duas. Danai poderia tremer diante do óbvio ódio de Kayo, mas o que mais a afetou foi o olhar decepcionado de Yang. Forçando-se a ignorá-los, continuou a lutar, até que ambos os olhos não exibissem nada além de vazio. 

— Onde está Jun? - Cho dirigiu-se a ela assim que a luta acabou.

Respirando fundo, Danai encarou a outra youkai com um olhar que esperava que transmitisse pesar. 

 - Morreu em confronto com a soldado Sasaki. Sinto muito. 

 Ao contrário do que se esperaria de uma irmã que acabou de descobrir sobre a morte de sua gêmea, Cho limitou-se a um suspirar e dar de ombros.

 - Não podemos fazer nada então. Presumo que tenha vingado-a.

 - Hai. 

 - Onde está a criança? - Ryo perguntou pela única coisa que a interessava.

Dessa vez Danai desviou o olhar, culpada. 

 - Morta - sussurrou.

 - Como disse? - A voz de sua líder não alterou-se nem um pouco, o que só podia significar uma coisa: estava furiosa. 

 - Depois da batalha, quando vi todas minhas companheiras mortas, algumas pela minha própria espada - olhou de relance para os cadáveres de Yang e Kayo -, eu amaldiçoei o destino que nos trouxe até aqui. Amaldiçoei Lorde Sesshoumaru, a humana e a hanyou. Não consegui me controlar. Sei que tínhamos ordens e que o que fiz foi traição, mas não me arrependo. - Jogou sua espada no chão, em sinal de rendição. - Aceitarei de bom grado minha punição. 

 Ryo, assim como as outras duas, olharam para ela fixamente por um tempo. Até que a líder rompeu o silêncio, dizendo: 

— Eu não poderia me importar menos com a vida de uma hanyou qualquer, mas como você disse, tínhamos ordens. Sendo assim, deixarei sua punição para Lorde Norio decidir. - Sorriu ao notar o leve tremor que percorreu o corpo de Danai. - Está proibida de cometer seppuku, fui clara?

 - Hai!

 Sem dizer mais nenhuma palavra, Ryo começou a descer a montanha - devia estar indo contar à Rihan sobre sua vitória. Hitomi, a segunda no comando, adentrou o castelo enquanto dava suas ordens:

 - Danai, vigie a entrada do castelo. Cho, venha comigo.

 - Torça para que Lorde Norio fique ocupado demais com a rainha para lembrar-se da princesa. De outro modo, você irá sofrer. - Cho sorriu, um sorriso que deixava claro que caso Lorde Norio se esquecesse sobre a hanyou ela o lembraria, e então, seguiu Hitomi.

 Isso tinha acontecido há não muito tempo, vinte minutos talvez. Durante esse meio tempo, tudo o que fez além de mergulhar em lembranças, foi ouvir o barulho de espada contra espada, tão característico de qualquer guerra. Por estar tão concentrada, pôde dizer exatamente quando cessou. A luta havia terminado.

Não sentiu surpresa alguma ao ver os vencedores alcançarem o topo da montanha, embora tenha sentindo certa pena da perdedora, Lady Rin, que vinha sendo arrastada por Ryo. Mesmo a certa distância, não era difícil enxergar os ferimentos que a rainha exibia. A roupa puída, o rosto ensanguentado, cheio de escoriações... Devia ter apanhado bastante. 

— Quem é essa? - questionou Rihan, um dos cérebros por trás daquele terrível plano.

Danai bem que tentou deixar sua expressão neutra ao notar que ele havia perdido um braço, mas sabia ter falhado. 

 - Uma das espiãs que enviamos ao castelo, Lorde Rihan-sama. - A youkai olhou para Rin, que mantinha a cabeça baixa, alheia à conversa e, sorrindo maldosamente, completou: - Seu nome é Danai.

 "Seu nome é Danai" 

 Essa frase despertou Rin de seus pensamentos, até então focados na lembrança de quando implorou pela vida daquelas duas soldados e tudo o que Rihan fez foi rir, matando ambas em seguida.

 - Danai? - sussurrou. - O que faz aqui? Onde está Yuki?

 - Yuki é a hanyou, filha de Sesshoumaru. - Ryo explicou, mesmo não havendo necessidade. - Aparentemente, a humana deixou a criança aos cuidados de Danai. - E mais uma vez, aquele sorriso doentio. 

 - Oh... Que interessante. - Rihan limitou-se a dizer. 

 E foi então que Rin percebeu. Estava tão transtornada pelos acontecimentos recentes, que demorou muito para absorver e compreender todas as palavras proferidas durante aquela curta conversa. 

 "Uma das espiãs que enviamos ao castelo" foi o que Ryo disse. Espiã? Danai era uma espiã? Rin podia ouvir as engrenagens de sua mente trabalhando, os fatos se juntando e começando a ganhar sentido. Quando finalmente montou o quebra-cabeça e descobriu a imagem mórbida que ele formava, quis desaparecer do mundo. 

— Onde está Yuki?! - Começou a se debater contra o forte aperto de Ryo. - O que fez com minha filha?! Onde está ela?! Onde está?! - gritava a plenos pulmões. Sua voz era uma mistura de ódio, descrença e desespero.

 - Cale-se! - Ryo desferiu vários tapas seguidos no rosto da rainha, mas nenhum surtiu efeito. Se quisesse calá-la, teria de matá-la.

Estava quase descumprindo a ordem que recebeu, quando Lorde Rihan intrometeu-se. 

 - Eu também quero saber: onde está a hanyou? - perguntou. - Danai, não é mesmo? - Aproximou-se da youkai. - Onde a deixou? No castelo?

 - Não - respondeu. 

— Não? - Olhou-a, curioso. Em defesa de Danai, ela aguentou o escrutínio daquele olhar sem tremer. - Se não foi no castelo... Na aldeia, talvez? 

 Rin assistiu quando Danai, sem desviar o olhar do Dai-Youkai em sua frente, levou a mão para dentro de seu traje de guarda e retirou um pequeno saco vermelho, amarrado por um fino cordão. 

 - Sim. Parte dela com certeza está lá - debochou, abrindo o saco e despejando seu conteúdo aos pés de Rihan. 

 Foi com o mais absoluto horror que Rin assimilou suas palavras, ao mesmo tempo em que percebia o que era aquilo espalhado no chão: cabelos. Um amontoado deles. Fios e mais fios de cabelos prateados, tão familiares a si como os seus próprios. Mas havia algo de diferente. O que antes era o mais puro branco, estava agora maculado pelo vermelho do sangue.

 A dor que Rin sentiu naquele momento foi tão forte que seu corpo não suportou a pressão. Um grito irrompeu de sua garganta, ecoando através das terras de Edras, fazendo os pássaros levantarem voo, assustados. Parecia não ter fim. A dor que a estraçalhava por dentro parecia não ter fim. Como sobreviveria àquilo? Não conseguiria. Não queria

Era sua culpa. 

 O silêncio e a escuridão que a abraçaram quando Ryo - farta de seus gritos - a desmaiou com um golpe na cabeça, foram bem-vindos. 

 Era sua culpa. 

 - Que barulhenta! - Ryo exclamou, voltando seus olhos para o Dai-Youkai. - O que faremos com ela Lorde Rihan-sama? 

 - Hum... Já que não temos mais a hanyou, mantenha ela segura até a chegada de Norio. Com certeza o velho vai querê-la em boas condições. - Bocejou demoradamente. - Eu vou entrar.

 - Lorde Rihan! E quanto ao seu braço? Precisa de a... - interrompeu-se ao ver o olhar assassino no rosto dele. Internamente, amaldiçoava sua própria estupidez. Oferecer ajuda era o mesmo que chamá-lo de fraco. Tratou de se desculpar: - Sinto muito. Não foi minha intenção ofendê-lo. - Deu um passo para trás. 

 Rihan não respondeu. Somente deu as costas a ela e voltou a caminhar em direção à entrada do castelo.

 - Estou faminto. Espero que eles tenham boa comida aqui - sussurrava para si mesmo. - Ah, antes que eu me esqueça... 

 Foi tudo tão rápido. Em um segundo Danai suspirava internamente, aliviada por seu plano estar correndo bem. No outro, estava caída, morta, as garras da mão esquerda de Rihan fincadas em seu peito, puxando seu coração para fora. 

 - ... Eu odeio que me desobedeçam - completou, um semblante sério no rosto. Depois, voltou a andar como se nada tivesse acontecido. - Ahhh, eu realmente espero que eles tenham carne. 

 Ryo seguiu atrás dele, arrastando uma Rin desacordada pelos cabelos. O corpo de Danai ficou para trás, abandonado. Assim como Yang, Kayo e os demais youkais mortos naquele dia, seus olhos não foram fechados.

 *** 

— Ne, Sesshoumaru-sama? 

— O quê? 

 - Algum dia, quando eu morrer, poderia prometer que não se esquecerá de mim? 

 Pego de surpresa por tais palavras, Sesshoumaru olhou para a menina ajoelhada junto aos túmulos de desconhecidos. A humana vinha o acompanhando em sua jornada já há algum tempo. Honestamente, se lhe perguntassem o porquê de mantê-la por perto, não saberia responder. E agora aquela frágil criatura ousava pedir que ele não a esquecesse... Recompondo sua expressão usualmente neutra, respondeu somente: 

— Não diga tolices.

 E ela sorriu, como sempre fazia.

 * 

 Por alguma razão, essa lembrança antiga era tudo em que Sesshoumaru conseguia pensar em seu caminho de volta para casa. Tinha dado as costas à Ezochi assim que certificou-se de que Norio não mais vivia nesse mundo. Não queria admitir, mas as palavras finais de seu tio deixaram a pior das sensações no ar.

 "Você já está morto, apenas não sabe disso. Lembre-se de quem o matou."

 O que ele quis dizer com aquilo? Sesshoumaru não sabia. Tudo o que podia fazer era preparar-se para o pior. Continuou em frente, voando em uma velocidade extrema, sem nunca parar ou olhar para trás. Já era tarde do terceiro dia de sua viagem e, diferente de quando deixou o Oeste, a sensação de "tempo de sobra" não mais existia. 

Jaken não podia ser visto em lugar algum perto de si. Como o esperado, a velocidade de Sesshoumaru não podia ser igualada por ninguém. Prova disso era que tinha percorrido o mesmo trajeto Oeste-Norte em apenas meio dia, sendo que, durante a ida, a viagem havia durado dois dias. 

O sol brilhava fortemente sobre si quando cruzou a fronteira de Edras. Pôde dizer imediatamente que algo não estava certo. A fauna estava silenciosa demais. Nem um zumbido sequer podia ser ouvido. Até mesmo as árvores pareciam apáticas, recusando-se a balançar. Talvez tenha sido por isso que demorou mais do que o normal para sentir aquele odor atrativo, levemente metálico. Sangue. Uma quantidade exacerbada, pelo que seu olfato pôde captar. E vinha da direção do Castelo de Edras.

Sem pensar duas vezes, aumentou ainda mais sua velocidade e rumou para casa. 

 Todos os corpos que encontrou no caminho, todo o sangue e cheiro de morte, nada, nada foi tão chocante quanto a cena que viu ao pousar em frente aos portões escancarados do castelo: Rin, sua amada esposa e rainha, amarrada junto a árvore cerejeira - a mesma que havia mandado plantar em homenagem a ela - no pátio central.

 Ela estava machucada. Olhos fechados, inchados. Linhas de sangue coagulado - provenientes dos machucados em seu supercílio, nariz e boca - marcavam seu belo rosto. De cada lado dela, um youkai com espadas sacadas, fazendo a vigia.

Sesshoumaru nunca sentiu ódio tão forte como naquele momento. Ao ver tal cena, prometeu a si mesmo que faria a raça youkai sangrar pelo sofrimento que impuseram à sua amada. A começar por aquele que havia acabado de aparecer: Rihan.

 - Ela é uma moça bem atraente, primo. Entendo porquê perdeu sua cabeça por ela. - Riu malicioso. - Na verdade, não, não entendo. Mas acredito que seja tarde demais para discutirmos sobre isso. 

Sesshoumaru deu um passo para frente, suas intenções mais do que óbvias. Entretanto, uma flecha lançada em sua direção, chamou sua atenção para a situação como um todo. Em cima do que restara das muralhas que outrora protegeram o castelo, dezenas de arqueiros. Todos com suas flechas apontadas para ele. O mesmo para o restante do exército: todos os youkais sobreviventes estavam em posição de ataque, prontos para avançar ao menor sinal de seu líder.

Rihan... Este não havia mudado quase nada. A única diferença óbvia era a falta de seu braço direito. Parecia recente... Teria ele perdido-o durante a tomada do castelo?

Reparando em seu olhar, ele respondeu:  

— Foi sua esposa. Ao que parece, ela é tão selvagem quanto você, Sesshoumaru. - Tocou no tampão protegendo o que costumava ser seu olho esquerdo. - Mas não precisa se preocupar, não estou bravo. Ganhei algo bem interessante em troca. - Sacou uma espada. Sesshoumaru conhecia aquela bainha. - Descobri, tarde demais, infelizmente, que nada de ruim acontece se mantivermos essa belezinha embainhada. Nunca poderei usá-la, mas vai servir como decoração. 

 Entendo... Então foi por isso que Toutousai alertou-me para não tocá-la

 - Bem, acredito que não queira ouvir sobre meus planos de redecorar meu castelo. - O sorriso alegre que até então exibia, se extinguiu. - Vou ser direto, sim? Não fazia parte do plano você estar vivo. Aliás, deixe-me parabenizá-lo por matar Norio! Matar um dos Irmãos Cachorro é um feito e tanto! Porém, isso complica as coisas. - Apoiou a espada contra o ombro. - Ele tinha planos de matá-la, sabe? Já eu, não dou a mínima para ela. Então, que tal fazermos um acordo? A vida da humana - apontou para Rin - pela sua. 

Sesshoumaru, que até então esteve em silêncio, apenas ouvindo os desatinos de seu primo, não conseguiu evitar um sorriso. Depois de tudo, ele achava que podia negociar? Que sairia dali vivo?

 - Hum... Era o que eu temia. - Rihan fez uma careta. - Você ainda não entendeu sua posição, não é mesmo? Então deixe-me ajudá-lo a se lembrar. Guardas.

 - Hai!

Um dos youkais que vigiava Rin a desamarrou e ergueu do chão, segurando-a por trás, como um escudo. Ao ouvir seu rosnado, o segundo guarda apontou sua espada para o pescoço dela. Foi quando Sesshoumaru pôde ter um vislumbre dos olhos de sua amada, agora abertos. Mas aqueles não eram os olhos de Rin. Não falava sobre o inchaço ao redor deles, e sim sobre a falta de luz, a falta de vida. Tudo o que havia ali era um vazio sem fim.

 - Rin... - Deixou que o nome dela escapasse de seus lábios. O que tinha acontecido com ela?

 - Onde estávamos? Ah, sim. Você não está em posição de recusar um acordo, Sesshoumaru. Olhe para si mesmo. Sua luta com Norio deve ter sido terrível. Acredita mesmo que conseguirá me derrotar? Meu exército acabará com você antes que me alcance! - Revirou o olho. - Tenha bom senso, por favor! Já perdeu sua filha, ao menos salve sua esposa!

 Aquilo chamou sua atenção. Desviando os olhos de Rin, encarou Rihan sem conseguir disfarçar seu pânico. 

 - O que foi que disse?

 - Oh.. Quem diria que o grande Lorde Sesshoumaru seria capaz de fazer uma expressão dessas... 

— Onde está minha filha? - Sua voz saiu pausada, perigosa.

 - Infelizmente, uma soldado descumpriu minhas ordens e a matou. Você deve ter passado por ela na entrada. A que tinha um buraco no peito, sabe? Eu fiz aquilo. Não precisa agradecer. 

Ele atacou. E uma chuva de flechas caiu sobre si. Estava tão cego pelo ódio que não conseguiu desviar de todas. Algumas acertaram suas pernas e braços. Uma delas atravessou sua clavícula esquerda, quase perto demais do pescoço. No entanto, mesmo com todos esses ferimentos, não sentia dor. Pelo menos não dor física.

Assim, continuou avançando, ferindo e sendo ferido, até que uma voz o fez estacar.

 - Pare! 

E ele parou, porque a voz vinha dela. De sua preciosa Rin.

***

 Foi como despertar de um sono profundo e deparar-se com um pesadelo. Desde que descobriu sobre a morte de sua única filha, Rin esteve presa em um estado letárgico, vagando pela imensidão do limbo. Não havia dor, menos ainda alegria. Não havia nada. Apenas vazio. Até que ela ouviu a voz dele...

 Rin... 

 Ao ouvi-lo sussurrar seu nome, sentiu algo depois do que parecia ser uma eternidade. Agarrou-se a essa sensação com toda a força que não sabia ainda ter e não soltou. Usou-a para guiar-se em meio à escuridão, um passo de cada vez, até conseguir achar a saída que a levaria para fora de si mesma. A cena que viu quando finalmente despertou fez com que toda a dor retorna-se. Estava prestes a perdê-lo e só conseguia pensar que não poderia deixar aquilo acontecer. Nunca mais deixaria algo como aquilo acontecer!

 - Por favor... Pare - sussurrou entre as lágrimas que haviam retornado junto com a dor. - Pare! 

 - Viu? Até mesmo ela sabe que você não pode me vencer. - Rihan voltou a falar, ainda que nenhum dos dois prestasse atenção nele. Sesshoumaru e Rin só tinham olhos um para o outro. - Seja sensato, primo. Se aceitar meu acordo, permitirei que ela viva. Você tem a minha palavra.

 "Não!" , Rin queria gritar, mas se via sem voz. Sua força estava se esgotando, logo voltaria para a escuridão. Precisava fazer algo antes que isso acontecesse, pois seu tolo Sesshoumaru estava cogitando aceitar a proposta de Rihan, sabia disso. Podia ver a indecisão nos olhos dele.

E era sua culpa. 

 "Por favor", implorava mentalmente, rezando para que ele a entendesse, para que a perdoasse.

E Sesshoumaru a entendeu, só não houve tempo para impedi-la. 

"Byakusaiga", Rin chamou mentalmente. 

 A espada que Rihan segurava atendeu de imediato o chamado de sua verdadeira dona, derrubando um dos guardas em seu caminho até as mãos dela. Instintivamente, Rin cabeceou o nariz do youkai que a segurava por trás, fazendo-o soltá-la. Livre, desembainhou sua espada, mas, para a surpresa de todos, não apontou-a para os inimigos e sim para si mesma. 

 - Sinto muito - sussurrou, seus olhos fixos em seu amado.

 Dois segundos - esse foi o tempo que transcorreu entre o momento em que Sesshoumaru percebeu as intenções da esposa e o momento em que alcançou-a, pronto para segurar seu corpo nos braços antes que atingisse o chão. Foram apenas dois segundos, mas mudou tudo. O mundo nunca mais seria o mesmo depois de uma criança órfã, nomeada Rin por algum desconhecido, ter esfaqueado o próprio ventre com sua espada.

 - Rin! - O normalmente tão controlado Sesshoumaru do Oeste gritava, lágrimas de desespero em seus olhos. - Sua criança tola! Por que fez algo assim? Por quê?! 

 A cena era tão chocante que nem mesmo os inimigos ousaram interrompê-la com um ataque. 

 - Sesh... 

 - Não fale! Você vai ficar bem! Vamos fazer você ficar bem!

Com cuidado, retirou a espada do corpo dela, enquanto repetia incessantemente que ela ficaria bem. Entretanto, Rin podia ver através daquelas mentiras. Ela não ficaria bem.  Nunca mais. 

 - Sinto muito - disse com esforço.  

Era difícil respirar. A escuridão estava cada vez mais próxima e dessa vez não acordaria dela.

 - Não... 

— Shh - interrompeu-o, tocando-o a face. - Eu não poderia sobreviver a isso. Nossa filha... Sou egoísta demais. - Enxugou as lágrimas que molhavam o rosto dele, enquanto sua própria visão tornava-se embaçada. - S-sesshoumaru-sama... não está mais e-encoleirado. - Foi acometida por uma forte crise de tosse, que a fez golfar sangue. Ao ver aquilo, Sesshoumaru apertou-a mais contra o seu peito. - Deve estar assustado. - A voz dela ia enfraquecendo, assim como suas carícias iam perdendo a força. - O-olhe p-para mim. - Ele olhou. E mesmo através das lágrimas podê ver o sorriso dela. - Não fiq-que... assustado. Vamos te e-encontrar... Um dia. S-e Sesshoumaru... meu a...

 Rin não conseguiu finalizar a frase. Sua boca pequena ficou levemente aberta, como se pretendesse continuar falando. Seus olhos aos poucos foram perdendo o foco, até tornarem-se vítreos. Sua respiração ficou ofegante por alguns segundos, até cessar de repente. Seu coração bateu por um minuto inteiro, cada batida mais fraca que a anterior, até ficar silencioso. Sesshoumaru ouviu tudo até não conseguir ouvir nada. A vida de Rin, a vida daquela preciosa humana que tanto amou, tinha chegado ao fim. E ela havia partido desse mundo sem saber da existência da segunda criança, tudo porque ele acreditou que tinham tempo, até que o tempo se esgotou sem nenhum aviso prévio.

 Odiando a si mesmo, levou sua boca até a da esposa, selando ambos os lábios em um último beijo. 

 - Irei encontrá-las em breve - prometeu em um murmúrio. 

 Ouvindo aquilo, Rihan percebeu que era hora de agir. Sentia muito por Sesshoumaru, mas ele também havia feito uma promessa.

 - Ataquem! - ordenou. 

Imediatamente, os arqueiros dispararam suas flechas, mas estas não alcançaram o alvo. Ao invés, ricochetearam depois de chocar-se contra uma bola de luz azul. Ignorando os ataques, Sesshoumaru levantou-se com Rin no colo e apoiou o corpo sem vida contra a árvore, cobrindo-a com seu manto em seguida. Só então, de costas para ela, deixou-se levar.

Rin estava certa sobre uma coisa: Sesshoumaru tinha finalmente escapado da coleira. Nenhum dos presentes podia fazer nada quanto a isso. 

 *** 

Já era noite quando Ah-un finalmente chegou à Edras, exausto por ter percorrido tamanha distância em tão pouco tempo. Infelizmente, o pobre dragão não poderia descansar nem tão cedo. Jaken percebeu isso quando alcançou a aldeia no sopé da montanha e deparou-se com o massacre - não havia outro modo de chamar aquilo - dos moradores do lugar.

Seu pânico só fazia aumentar conforme Ah-un sobrevoava o local e mais corpos podiam ser vistos. Não haviam somente youkais - também reconheceu vários humanos e algumas das soldados Kuryuu entre a multidão de cadáveres.

Enquanto refletia sobre o que diabos poderia ter acontecido, sua visão periférica captou um movimento ao seu lado esquerdo.

Seria possível que o inimigo ainda estivesse ali?

Segurando firmemente seu cajado, tomou as rédeas do dragão e o fez voar até lá. Estava decidido a surpreender o inimigo e vingar a morte de todas aquelas pobres criaturas. Ao menos era isso o que tinha em mente antes que um latido denunciasse sua posição, frustrando seus planos de realizar um ataque surpresa.

 - Para cima Ah-un! - ordenou. Precisava sair dali urgentemente. Alguém capaz de fazer aquilo não poderia ser vencido de forma limpa. 

— S-senhor Jaken? 

 Ao ouvir aquela voz tão familiar, virou-se imediatamente para trás. Apertando bem os olhos, pôde enxergar, em meio à destruição, uma criança. Yuki. Ladeada por três cachorros grandes e vários filhotes, lá estava a Princesa Herdeira do Oeste. 

— Yuki-hime! Ah-un, para baixo! Para baixo! Desça logo! - gritou com o animal, confundindo-o sobre qual das ordens obedecer. - Nos leve até a princesa!

Finalmente entendendo qual era seu comando, Ah-un moveu-se para baixo, em direção à criança.

 Já no chão, Jaken correu até à menina, não importando-se de sujar suas vestes com o sangue espalhado por todo o lugar. Os cachorros rosnaram devido sua aproximação, mas quando estava prestes a mandá-los para o inferno, Yuki os acalmou, acariciando-os. Foi só então que realmente percebeu o estado dela. Olhos inchados e vermelhos pelo óbvio choro, um braço rudemente enfaixado, as bandagens improvisadas sujas de sangue seco, e os cabelos... Os lindos cabelos da princesa não mais existiam. Tinham sido cortados bem rente à cabeça, restando agora apenas uma leve penumbra branca. 

— Yuki-hime... O que aconteceu?

 O que aconteceu? Essa foi a pergunta que Jaken se fez durante toda aquela noite. Perguntou-se isso ao pegar a menina no colo e subir a montanha; ao chegar no que sobrou do Castelo de Edras e ver aquela cena grotesca, da qual protegeu a princesa ao tapar-lhe os olhos e ao novamente montar Ah-un, forçando-o a ir em direção ao vilarejo de Inuyasha, a única pessoa que poderia ajudá-lo naquele momento.  Mesmo quando alcançou o lugar - já na manhã do quarto dia - e parou na frente do hanyou e seus amigos, ainda perguntava-se: o que aconteceu? Sem nenhuma resposta, mas sabendo que precisavam encontrar seu mestre, fez algo inimaginável: implorou. 

 - Por favor, Inuyasha! Precisa me ajudar a encontrar Sesshoumaru-sama! Sei que nenhum de nós fomos bons com você, mas ele ainda é seu irmão! 

Kagome olhava para aquilo tudo chocada. Onde estava Rin? Por que Yuki estava naquele estado? O que tinha acontecido com Sesshoumaru?

Fez todas essas perguntas à Jaken, mas só o que obteve em resposta foi:

 - Não há tempo para explicações! - gritou, sem levantar-se do chão, onde estava ajoelhado aos pés de Inuyasha. - Sinto que se não alcançarmos Sesshoumaru-sama a tempo, ele cometerá uma loucura! Por favor! Você pode ter minha vida se quiser, Inuyasha, mas ajude seu irmão! 

 - Fique com sua vida. Do que ela me serviria? - desdenhou, Inuyasha. - Parece que aquele cretino se meteu em uma bela enrascada dessa vez, hein? Não tenho escolha, então. Vou ser obrigada a salvá-lo! 

 - Inuyasha... 

— Não se preocupe, Kagome. Volto a tempo do jantar. - Sorriu, confiante. 

Por alguma razão desconhecida, Kagome foi dominada por uma sensação terrível de medo. Talvez tenha sido por isso que, sem se importar com todos os aldeões que presenciavam a cena, gritou: 

 - Eu te amo! 

 Ao ouvir aquilo, Inuyasha, que já afastava-se com Jaken, voltou até onde a esposa estava e beijou-a intensamente.

 - Ba-ka! Eu também te amo. E quero cozido para o jantar. 

 - Mas a carne acabou... - Sorriu, envergonhada. 

 - Kêh! Qualquer coisa então! - Deu de ombros. - Cuide da pequena Yuki até eu voltar. 

 Kagome concordou. Pegando a menina no colo e abraçando-a fortemente, observou seu marido e Jaken partirem atrás de Sesshoumaru, sem nem saber onde o Dai-Youkai estava.

 Todavia, não seria tão difícil encontrá-lo. Bastava seguir o rastro de destruição que ele havia deixado para trás. Em seu caminho para longe do Oeste, longe daquele castelo, daquela cerejeira, daquele túmulo improvisado, Sesshoumaru destruiu tudo o que viu. Massacrou sua própria raça sem piedade alguma. Varreu da face da terra todos aqueles que ousaram trair a confiança do grande Sesshoumaru. Fez  o mundo tremer com seu poder. Naquele dia e nos dias que vieram, a terra sentiu seu ódio e os céus choraram sua dor. E o tempo? O tempo passou...   


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*desviando dos tiros*

SINTO MUITO!!!!!! Vcs devem estar querendo me matar, né? Tadinha da Rin, morreu sem saber que estava grávida! E tudo poderia ser evitado se o Rihan não tivesse matado a Danai! Pra quem não entendeu, o plano dela era contar para Rin que a yuki estava segura e protegê-la a distância! No fim a Danai era do bem e fez tudo aquilo para proteger o futuro do Oeste! Ai meu coração :'(
Me digam o que acharam, tá? (Só não me xinguem)

Esse foi o fim da primeira fase de Ampulheta, espero que tenham gostado da fic até aqui. Eu vou demorar pra voltar a postar (tenho que organizar minhas ideias), então aproveitem esse capítulo. Beijos :*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ampulheta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.