— E então? Vai me contar o que está acontecendo?

Poucos minutos depois de Sakura ter saído de casa, Touya foi até a casa de Yukito e começou a praticamente interrogar o rapaz. Depois que o viu acobertando a menina que se parecia com sua irmã, nada lhe tirava da cabeça que ele sabia de alguma coisa e não tinha lhe contado. E ele ia descobrir o que era, custe o que custar.

— Bom… no momento a única coisa que está acontecendo é que vamos chegar atrasados no trabalho se não sairmos logo — Yukito respondeu confuso.
— Não é disso que estou falando — Touya avançou alguns passos na direção dele — Na noite em que eu estava jantando com a Sakura e você veio me buscar para a aula, você não percebeu nada de estranho nela? Não achou que ela estava diferente?
— Touya, eu não sei do que você está falando… aquela era a Sakura-chan, não era? - Yukito desviou os olhos dele. Céus, por que Sakura tinha lhe contado uma coisa tão importante? Agora tinha que ver Touya sofrendo de preocupação pela irmã sem poder lhe dizer a verdade — Você disse que ela estava mentindo para você, mas, se for o caso, talvez ela tenha um bom motivo…
— Olhe para mim! — Touya o segurou pelos ombros e Yukito voltou a encará-lo — Tenho certeza de aquela menina não era a minha irmã. Ela estava mentindo. E você, Yukito? Vai mentir para mim também?

Em resposta a sua pergunta Yukito fechou os olhos e foi envolvido por um enorme par de asas. Touya afastou-se alguns passos para dar espaço a figura de Yue, que se manifestou diante dele.

— Não seja tão exigente com o Yukito. Ele prometeu guardar segredo — Yue contou — Você o está colocando em uma posição difícil.
— Entendo. Vou pedir desculpas a ele depois — Touya suspirou. Ele tinha razão, estava sendo egoísta. Estava tão obcecado em descobrir quem era aquela garota parecida com Sakura que não pensou na posição delicada em que Yukito se encontrava — Mas e você? Não vai me dizer que também não pode me contar nada?
— Eu não prometi nada para ninguém — Yue respondeu indiferente — Eu ouvi a conversa da minha Mestra com Yukito. A menina que você viu de fato se chama Sakura. Ela não estava mentindo sobre isso. Mas ela não era a sua irmã.
— Espere um pouco… está me dizendo que existe uma garota com o mesmo nome e aparência da minha irmã andando pela cidade? — Touya exclamou incrédulo — Mas como isso é possível? Não vai me dizer que é por causa daquele poder dela outra vez?
— Isso não tem nada a ver com o poder da Mestra — Yue negou — A garota é uma viajante. Ela e o garoto que a acompanha vieram até este mundo em busca de um item mágico que eles perderam. Quando encontrarem, seguirão sua jornada e irão embora.
— Um garoto que a acompanha? — Touya repetiu com um mau pressentimento.
— Sim — Yue confirmou — A Princesa Sakura está sendo acompanhada por um garoto que a protege… e, se não me engano, você já o conheceu.
— Há! Quer dizer que nesse outro mundo a Sakura é uma Princesa? — Touya deu uma risada — Não combina nada com aquela monstrenga.
— Gostaria que não se referisse à Mestra desta forma em minha presença — Yue fez cara feia para ele — Ou não direi mais nem uma palavra sobre esse assunto.
— Certo, certo, foi mal — Touya abanou a mão como quem pede desculpas — Mas, esse outro garoto que você mencionou… ah! Não me diga que é aquele moleque?
— Se você se refere ao Syaoran Li, está correto. Existe um garoto muito parecido com ele, aparentemente um pouco mais velho pelo que eu ouvi falar, que acompanha a Princesa.
— Aquele miserável! Então foi ele que eu encontrei quando cheguei em casa… como não percebi isso antes? — Touya exclamou enraivecido — E aqueles dois… ei, aqueles dois homens que estavam aqui em casa. Eles também estavam andando com a tal Princesa e esse "moleque número dois"?
— A Mestra só mencionou uma Princesa parecida com ela e um garoto parecido com Syaoran Li… não sei a quem você se refere — Yue respondeu, entre confuso com a pergunta dele e curioso para saber mais sobre o assunto.
— Tem certeza? Ela não mencionou outros dois adultos? Um loiro sorridente e um com cabelos pretos e carrancudo? — Touya insistiu.
— Já disse que ela só mencionou esses dois. Não tenho motivos para mentir para você — ele repetiu, um tanto ofendido por Touya não parecer acreditar nele — Pelo que eu entendi, aqueles dois vieram de um lugar onde as almas de uma mesma pessoa pode estar vivendo vidas diferentes em outros mundos. A teoria parece fazer sentido, uma vez que uma menina tão parecida com a Mestra está aqui — Yue argumentou — Mas não precisa se preocupar. Eles estão procurando um item diferente, e quando o encontrar irão embora.
— Será mesmo? — Touya cruzou os braços — A Sakura se mete em cada problema que é bem capaz de ela acabar arranjando confusão com esses pirralhos por causa de seja lá o que for que eles estão procurando — ele falou preocupado — Bom, acho que não há nada que eu possa fazer. Obrigado por me contar a verdade.
— Não precisa me agradecer. Apenas pare de encher o Yukito de perguntas, ou terei que sair de novo para resolver esses problemas incômodos. E você também, tome cuidado para não… — Yue interrompeu-se, virando bruscamente a cabeça na direção da porta.
— O que houve?
— Sinto um poder enorme… e está perto daqui.
— É a Sakura? — Touya perguntou preocupado. Aquilo era estranho. O poder dele estava retornando aos poucos e ele já conseguia sentir a presença da magia de Sakura, mas não estava sentindo nada naquele momento.
— Não — Yue respondeu, sem tirar os olhos da porta — É diferente da magia da Mestra. Mas é um poder… muito forte — ele abriu as longas asas repentinamente.
— Ei, aonde você vai?
— Minha Mestra corre perigo — ele bateu as asas, disparando para fora da casa.
— O que? Mas você disse que eu não precisava me preocupar! — Touya exclamou e engoliu uma nuvem de poeira. Ele precisou tampar os olhos com os braços para que estes não fossem atingidos com poeira também. Quando ela se dissipou, viu apenas um ser que se assemelhava a um anjo voando no céu, na direção do colégio onde Sakura estudava.

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Enquanto isso, não muito longe dali, outra presença mágica começava a se manifestar, embora de forma mais sutil do que de costume. Geralmente cadeiras saiam voando como no filme do Poltergeist, plantas criavam vontade própria e resolviam passear pelo jardim, mas tudo parecia estar normal na escola dessa vez. No entanto, Sakura tinha certeza. Podia sentir a presença de uma nova Carta muito perto dali.

— Tomoyo-chan — ela sussurrou para a menina sentada ao seu lado. Ela encarou a amiga, que não precisou dizer mais nada. Conhecia aquela expressão em seu rosto. Sabia que alguma coisa estava prestes a acontecer.
— Precisa de uma distração? — ela sussurrou de volta.
— Seria ótimo…
— Professora — Tomoyo chamou em voz alta — Não estou me sentindo bem.
— O que você tem, Daijouji? — a mulher virou-se para ela.
— Acho que estou com dor de estômago. O café da manhã não me fez muito bem, e… — ela balançou para o lado, como se fosse desmaiar.
— Tomoyo-chan! — Sakura exclamou, segurando a amiga antes que ela caísse no chão. Parecia ter se esquecido de que ela mesma tinha pedido para que a amiga distraísse os outros.
— É melhor você ir para a enfermaria — a professora falou — Kinomoto, pode acompanhá-la?
— É claro! Vamos, Tomoyo-chan — Sakura levantou-se e passou um dos braços da garota por cima do seu ombro, guiando-a para fora da sala. Quando chegaram na metade do corredor, Tomoyo endireitou-se novamente.
— E então, Sakura-chan? O que achou da minha performance? — ela perguntou, parecendo orgulhosa de si mesma.
— Hã? mas você não estava passando mal…?
— Eu estava fingindo — Tomoyo riu. A inocência dela era realmente adorável — Você precisava de uma distração para poder sair da sala, certo?
— É verdade… obrigada, Tomoyo-chan. Desculpe por te fazer perder aula…
— Não se preocupe com isso. Filmar a minha amiga em ação é muito mais importante! — ela exclamou. Só então Sakura percebeu que ela tinha trazido uma câmera sabe-se lá como.
— Sakura! Daidouji! — uma voz chamou e as garotas viram Li correndo na direção delas — Tem uma coisa estranha acontecendo em frente a escola.
— É uma Carta? — Sakura perguntou.
— Não tenho certeza. Mas é melhor você dar uma olhada.

Os três correram até o pátio da escola e saíram escondidos pelo portão dos fundos. Quando deram a volta encontraram nada mais nada menos do que o grupo que tinham conhecido no dia anterior.

— Hã? O que estão fazendo aqui? — Kurogane encarou os três confuso.
— Eu é que pergunto! Essa é a nossa escola! — Li exclamou.
— Ah, então isso é uma escola — Fye olhou para o prédio com curiosidade.
— Sim, isso é uma escola — Li confirmou, custando a acreditar que não existiam escolas no lugar de onde eles tinham vindo — Mas não explica o que vocês estão fazendo aqui. Não me diga que se perderam?
— Está… me chamando… — a Princesa murmurou, meio que em estado de transe, caminhando lentamente na direção da entrada do colégio.
— A pena que estamos procurando está perto daqui — Syaoran explicou — Como ela pertence à Princesa, ela consegue sentir sua presença quando está muito próxima.
— Está dentro da escola? — Sakura perguntou confusa — Mas tenho certeza de que a presença que senti era de uma Carta…
— Você ainda consegue sentir a Carta, Sakura-chan? — Tomoyo perguntou.
— Não… a presença dela desapareceu.

Li encarou os viajantes de novo, cada vez mais desconfiado. Eles estavam mesmo procurando as memórias da Princesa? Se essa história toda não passasse de uma mentira e eles estivessem atrás das Cartas… não, isso não era possível. Mesmo se fosse o caso, apenas Sakura era capaz de controlar o poder das Cartas. Ainda assim, era tudo muito estranho.

A Princesa parou de caminhar quando chegou ao portão, que estava fechado com grades. Ela sacudiu as barras de ferro, mas era inútil. Não tinha força suficiente para abri-lo.

— Ei, por onde vocês vieram? — Mokona virou-se para Tomoyo — Precisamos entrar para pegar a pena.
— Isso não importa — Syaoran tomou a Princesa em seus braços e pulou o portão da escola, aterrissando no pátio.
— Hyu! Que incrível, Syaoran-kun! — Fye exclamou, imitando-o em seguida — Venha também, Kuro-tan!
— Não me chame assim, maldito! — Kurogane reclamou, mas saltou pelo portão da escola também.
— Ei, vocês não podem invadir a escola assim! — Sakura exclamou, um tanto atordoada com o que acabou de acontecer.
— Sinto muito, mas precisamos recuperar a pena custe o que custar — Syaoran gritou para ela, atravessando o pátio em seguida.
— O que faremos agora, Sakura-chan? — Tomoyo indagou.
— Não sinto mais a presença da Carta em lugar nenhum, então de nada adianta ficarmos aqui. É melhor voltarmos para a escola também — ela concluiu, encolhendo os ombros. No fim das contas, tinha matado aula por nada.
— Vocês estão se esquecendo de uma coisa — Li falou em tom preocupado — Não acham que as pessoas vão estranhar o fato de existirem dois de nós andando pelos corredores da escola?
— Ah… essa não — Sakura murmurou, sem ter a menor ideia do que fazer a seguir.