Card Captor Chronicle escrita por teffy-chan


Capítulo 15
Capítulo 15 - Desejo




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A alguns quarteirões dali, o cenário continuava sendo devorado. Árvores, postes, carros e até mesmo casas estavam desaparecendo um a um, como se estivessem sendo literalmente devorados. No lugar onde eles estavam antes restava apenas uma cratera enorme com marcas de dentes ao redor. E uma pessoa que não tinha nada a ver com aquilo observava a cena em choque.

— Mas o que está acontecendo aqui afinal? Por que todas as pessoas da cidade parecem estar dormindo? E essa coisa que está fazendo tudo desaparecer… é por causa do poder da Sakura de novo?

Touya Kinomoto andava pela rua destruída, sem saber muito bem para onde ir. Estava indo para o trabalho quando saiu de casa, mas ficou no mínimo surpreso quando descobriu que a lanchonete onde trabalhava havia desaparecido, e em seu lugar restava apenas um buraco enorme na rua com marcas de dentes ao redor, como se um monstro gigantesco a tivesse engolido. Decidiu então voltar para casa, e notou que todas as pessoas da cidade estavam dormindo, menos dele. E que a cidade em si parecia estar sendo consumida pela mesma coisa que destruiu seu local de trabalho.

Na esquina da rua onde ele estava, outra pessoa estava acordada. E não esperava vê-lo por perto.

— Aquele… é o irmão da Sakura Kinimoto? Mas por que ele não adormeceu com o poder daquela Carta, assim como aconteceu com as outras pessoas da cidade?

Syaoran observava o rapaz escondido atrás de uma das poucas paredes que ainda estavam inteiras. Não sabia como ainda estava vivo. Em um instante estava junto de seus amigos e no outro tinha aparecido naquela rua deserta e destruída. Quando aquela coisa apareceu diante dele, o garoto pensou que iria morrer, mas ao que parece tinha apenas sido levado para outro lugar.

— Syaoran! — Mokona exclamou — Esqueça ele, temos que ir atrás da pena!
— Fale baixo ou ele pode te ouvir — Syaoran murmurou — A propósito, como você veio parar aqui, Mokona? Pensei que você estava junto do Fye-san.
— Fye estava do seu lado quando aquela coisa te levou. Eu caí do colo dele acabei indo com você — Mokona choramingou. Como o amigo pôde deixá-lo cair com tanta facilidade? — Mas isso não importa! Estou sentindo o poder da pena muito perto daqui!
— Verdade? — Syaoran encarou o animalzinho em seu colo — Então me mostre onde…
— Onde o que? — Touya surgiu diante deles. Mokona petrificou imediatamente, fingindo ser um boneco de pelúcia — Onde você estava indo? Por acaso sabe por que todas essas pessoas estão desacordadas?
— Ah… não, eu… não faço ideia — Syaoran mentiu, recuando um passo. Droga, não podia perder tempo com ele agora. Mas a irmã de Touya havia dito que ele não sabia nada sobre a magia das Cartas, então precisava escolher as palavras com cuidado enquanto falava com ele. Não queria causar mais problemas para a garota.
— É mesmo? — Touya falou descrente — Bem, e por acaso sabe ao menos onde está a minha irmã? E não ouse mentir para mim, seu moleque — Touya provocou, mas não obteve nenhuma resposta imediata. Estranhou aquela falta de reação e estreitou os olhos, encarando-o melhor — Não… você não é o moleque de sempre, é? Você é o outro.

Syaoran piscou, sem saber como reagir. Tinha certeza de que Sakura tinha dito que ele não sabia nada sobre magia. Então como ele podia reagir com tanta naturalidade diante dessa informação?

— Sakura Kinomoto me disse que você não sabia nada sobre esse assunto — ele falou com cuidado.
— Está enganado. Tenho uma boa noção sobre os poderes da minha irmã. Quem não sabe de nada é a Sakura — Touya respondeu — Quem é você afinal?
— Syaoran.
— Esse é o nome daquele moleque — Touya fez uma careta.
— Também é o meu nome — o mais novo respondeu. Ele fechou os olhos soltou um longo suspiro — Olhe, sinto muito se meus amigos e eu causamos alguma bagunça na sua vida e na da sua família. Viemos até aqui porque estamos procurando uma coisa importante. Prometo que, assim que encontrarmos, iremos embora…
— Mekyo! — Mokona exclamou de repente — Syaoran, a pena! — ele apontou.
— Uma coisa importante? — Touya abaixou-se e recolheu uma coisa do chão. Quando colocou-se de pé de novo Syaoran viu que ele segurava uma pena — Não me diga que é alguma coisa com poderes mágicos também? Igual às coisas que a minha irmã está coletando?
— Não conheço os detalhes sobre o que ela está coletando, mas é dessa pena que nós precisamos — Syaoran respondeu, encarando-o com cuidado. Geralmente nada de bom acontecia quando uma pessoa comum se apoderava de uma pena — Por favor, me entregue ela para que meus amigos e eu possamos ir embora do seu mundo.
— Então era isso que vocês estavam procurando? Uma simples pena? - o rapaz a examinou com cuidado.
— Isso mesmo. Essa pena contêm um fragmento de memória da Princesa Sakura — Syaoran explicou — Como você parece estar bem informado, imagino que também saiba sobre ela.
— Aquela menina que se parece com a minha irmã, não é? — Touya perguntou retoricamente — Ela fingiu ser a Sakura outro dia e tentou me enganar. Então ela estava com você — sua expressão se tornou mais severa — E aqueles dois? O loiro sorridente e o cara de cabelos pretos carrancudo… ouvi dizer que eles eram seus parentes. Isso também era mentira?
— Nenhum de nós é parente. Mas Kurogane-san e Fye-san são meus amigos — o garoto respondeu — Sinto muito por ter mentido para você, mas não queríamos causar problemas para a Sakura Kinomoto. Agora devolva a pena para que possamos seguir nossa viagem.
— Não.
— Não?
— Esse item que vocês estavam procurando é mais forte do que pensei — Touya revirou a pena entre os dedos — Sabe porque eu sei sobre os poderes da Sakura? É porque eu também possuo meu próprio poder. Mas não se compara ao dela — o rapaz contou — Por isso eu nunca pude ajudá-la. A Sakura está sempre correndo perigo, sempre se arriscando… e eu nunca pude fazer nada por ela. Tudo porque não tenho poder suficiente. Mas, com essa pena… — Touya a encarou por longos segundos, como se estivesse segurando um valioso tesouro — Se eu unir a força que essa pena possui ao meu próprio poder, a Sakura nunca mais vai precisar se arriscar. Finalmente poderei ajudá-la.
— Touya… entendo que você queira proteger a sua irmã. É natural querer cuidar dela — Syaoran falou o mais pacificamente possível — Mas não posso permitir que fique com essa pena. Ela é um fragmento da memória da Princesa, e nós viajamos até aqui apenas para pegá-la de volta. E eu farei isso, custe o que custar.
— Outro moleque querendo me desafiar — Touya debochou — Se quiser pegar essa pena, então tente.

Syaoran não respondeu. Ao invés disso, deixou Mokona em um canto afastado, correu na direção do mais velho e acertou um chute em seu braço esquerdo. O que foi um erro, pois Touya conseguiu girar o braço e arremessá-lo para longe, de modo que Syaoran se chocou contra uma árvore. Ele levantou e mirou outro chute em Touya, dessa vez no estômago, fazendo-o cambalear. Agora tinha deixado o rapaz irritado. Uma luz dourada começou a emanar aos poucos do mais velho, junto com uma forte ventania, o que dificultava a aproximação de Syaoran. Ele queria resolver aquilo em uma luta corpo-a-corpo, mas parece que não sera possível. O poder de Touya somado ao da pena era grande demais. Ele sacou sua espada e correu na direção dele. Touya deteu a lâmina com uma das mãos, a pena bem segura na outra. Syaoran forçava a lâmina da espada contra ele, segurando o punho da arma com a mão direita, enquanto tentava alcançar a pena com a esquerda, mas Touya estava fazendo de tudo para tirar a pena do alcance dele. Sua mão tinha começado a sangrar por causa do contato com a lâmina da espada.

— Touya!

Uma voz familiar chamou, interrompendo a luta. Syaoran notou que Touya tinha percebido a breve distração para reunir mais poder e recuou antes que ele atacasse enquanto Yukito corria na direção deles, colocando-se entre os dois.

— Touya, o que está fazendo? — Yukito exclamou chocado, de braços abertos entre os dois rapazes — Você também, Syaoran-kun, por que estão lutando?
— Eu só quero a pena de volta — Syaoran respondeu, sem tirar os olhos dela.
— Esse não é o moleque de sempre, Yukito — Touya falou — Olhe bem para ele. Está mais alto. E menos mal-educado.
— Eu sei. Ele é um dos estrangeiros — Yukito respondeu, baixando os braços. Uma onda de culpa se abateu sobre ele por não ter contado para o rapaz sobre os viajantes. Sentia como se tivesse traído sua confiança — Sinto muito por não ter te contado antes, Touya… eu queria te contar, queria falar sobre eles para que você não ficasse preocupado, mas…
— Mas você prometeu para a Sakura que não diria nada, não é? — Touya completou a frase para ele. Yukito confirmou com um aceno de cabeça — Yue me contou parte da história. Aliás, é por causa dele que você está acordado?
— Sim. Meu outro eu é imune à magia que fez a cidade inteira dormir — Yukito respondeu, ainda sem conseguir encará-lo.
— Yukito-san — Syaoran chamou — Sinto muito, mas terei que pedir para você se afastar. Eu ainda preciso pegar a pena de volta.
— Syaoran-kun, deixe isso comigo. Por favor — ele respondeu. O garoto fez cara de quem queria protestar, mas acabou se conformando. Recolheu sua espada e se afastou para um canto.
— Por que? — Touya perguntou — Por que até você sabe mais do que eu sobre os problemas que a Sakura está enfrentando, hein Yukito?
— Ela não quer te colocar perigo…
— Pois eu também não quero que ela corra perigo! — Touya interrompeu. Uma onda de energia voltou a transbordar dele, fazendo Yukito recuar um passo — Eu sou o irmão mais velho dela. Eu é quem deveria protegê-la, e não o contrário!
— Touya, eu sei melhor do que ninguém o quanto você se preocupa com a Sakura-chan. Mas ela também se preocupa com você. E ela se arrisca às escondidas porque não quer que você se machuque, porque ela também te ama — Yukito falou gentilmente.
— Isso não interessa! Mesmo que ela se preocupe comigo, ela poderia me contar sobre essas coisas, me pedir conselhos… eu estou cansado de fingir que não sei de nada e deixar ela se arriscar sozinha! — ele exclamou frustrado. A onda de energia ao seu redor estava aumentando, fazendo objetos menores como lixeiras e hidrantes voarem para longe. Estava cada vez mais difícil para Yukito se aproximar dele. Se fosse Yue… ele certamente não teria dificuldades em se aproximar de Touya. Yue era poderoso e muito mais forte, aquilo não era nada para ele.

Não… Yukito não podia recorrer a Yue sempre que alguma dificuldade aparecesse. Precisava fazer as coisas por si mesmo. Tinha que resolver seus problemas com suas próprias forças. Caminhou na direção de Touya com dificuldade, protegendo o rosto com os braços, sentindo as rajadas de vento passarem pelo seu corpo com força, causando pequenos cortes nos braços e nas pernas.

— Já chega! — Yukito gritou em tom severo quando finalmente conseguiu se aproximar o suficiente do rapaz para poder tocá-lo. Ele apoiou as mãos nos ombros de Touya e falou com mais firmeza — Eu sei o quanto você ama a Sakura-chan. Sempre conheci melhor do que ninguém a sua frustração por ela não te contar nada e você não poder ajudá-la quando está com problemas. Mas é assim que você quer resolver isso, Touya? Roubando a memória de outra pessoa? Mesmo que você possa aumentar o seu poder e proteger a sua irmã usando o poder dessa pena, você vai realmente ficar com a consciência tranquila fazendo isso? Você não é assim. Se quer mesmo ajudar a Sakura-chan, então faça isso usando as suas próprias forças… não roube as lembranças de uma menina que não tem nada a ver com isso para alcançar o seu objetivo.
— Yukito… — Touya deixou a pena cair no chão, ao mesmo tempo em que desabou inconsciente. Yukito conseguiu segurá-lo a tempo para que não caísse no chão.
— Ele está bem? — Syaoran se aproximou dos dois.
— Sim. Só está inconsciente — Yukito respondeu, sentando-se na calçada e repousando a cabeça de Touya em seu colo — Só não entendi porque ele desmaiou de repente.
— Geralmente quando pessoas normais se apoderam da pena, acabam sendo controladas pelo poder dela, mesmo que sejam boas pessoas. Seus maiores desejos se manifestam nessas ocasiões e elas tentam usar o poder da pena para realizá-lo. Quando seu corpo não suporta mais o poder da pena, ou quando percebem que o que estavam fazendo é errado, a pessoa perde a conexão instável que possuía com o poder da pena e a consciência também — Syaoran explicou — No caso do Touya… parece que ele já possui algum poder, não é?
— Sim, embora não seja tão forte quanto o da Sakura-chan.
— Entendo… então foi por isso que ele ficou tão forte — o garoto concluiu — Bom, no fim das contas, parece que tudo o que ele queria era proteger a irmã. A pena só manifestou o desejo dele de um modo um tanto distorcido — ele explicou — Falando nisso, onde está a pena?
— Acho que ela caiu por aqui — Yukito olhou ao redor — Ué? Que estranho, jurava que tinha caído por aqui…
— Syaoran, a presença da pena sumiu de novo — Mokona informou tristemente.
— Ah, eu não aguento mais isso! — Syaoran bagunçou os cabelos, frustrado — Sinto muito, mas eu preciso ir. Tenho que encontrar aquela pena de qualquer jeito.
— Não se preocupe. Eu cuido dele — Yukito respondeu e o garoto deu meia-volta, determinado em encontrar a pena de uma vez por todas.

 


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