Enquanto isso, Duncan se encolhia no chão, ficando azul por causa da asfixia. O relógio não parava. Num impulso heróico, Trent pulou para pegar a boneca e a jogou com todas as suas forças na direção de Harold, nocauteando-o. Duncan finalmente ficou livre e o tempo acabou. Todos comemoraram, mas de repente, perceberam que Chef não havia anunciado a vitória dos heróis. Logo, ele começou a analisar a situação.

— Hum... O garoto salvou a cidadã, mas jogou ela no vilão para imobilizá-lo... — O treinador ficou olhando para sua caderneta por alguns segundos enquanto todos os alunos presentes ficaram imóveis esperando uma conclusão — Parabéns, Stronghold! Salvou ela e ainda a usou como ajudante para combater o crime, fazendo-a se sentir útil! VITÓRIA DOS HERÓIS!

A arquibancada voltou a vibrar e comemorar a vitória e Trent pulou de alegria, ele correu em direção de Duncan para comemorar, mas o punk simplesmente o desprezou e saiu da quadra. Os colegas foram em direção a Trent para celebrar a vitória com ele e a primeira a chegar foi Courtney.

— Você realmente é um herói e tanto! Com a minha ajuda e a do Noah vai ser o melhor herói de todos, que nem seus pais!

— Sério?

— Mas é claro! Vamos combinar de estudarmos juntos!

— Beleza!

O dia passou e quando Trent chegou em casa, ele foi conversar com seus pais sobre o acontecido.

— Filho, isso é incrível! Nunca um calouro venceu esse desafio! Como eu pude duvidar que você realmente era meu filho?! Você é demais, campeão! — O senhor Thomas disse, orgulhoso.

— Valeu, pai...

— Parabéns, querido! Você merece! — A senhora Tanya concordou, enquanto cortava alguns legumes para o jantar.

De repente, a campainha tocou.

— Eu atendo! — Trent disse e foi rapidamente até a porta.

— Olá, Trent!

— Courtney? Noah? O que vocês estão fazendo aqui? — Ele disse surpreso, mas com um sorriso amigável no rosto.

— Noah vai ter compromisso amanhã, então viemos te ajudar hoje! Não tem problema, né?

— Vamos acabar logo com isso, a Courtney não me deixou em paz enquanto eu não disse que viria. — Noah confessou levemente irritado, enquanto lia seu livro.

— Ahm... Tudo bem. Podem entrar. — O garoto ficou no canto da porta e esperou os novos amigos entrarem. — Pai, mãe, esses são Courtney García e Noah Geller, meus novos colegas da turma dos heróis.

— Muito prazer! Que ótimo que você já arrumou novos amigos na sua nova turma, querido! — A mãe de Trent sorriu, deixando os legumes de lado.

— Como eles entraram na turma antes de mim, eles se ofereceram pra me ajudar com as matérias.

— Isso é ótimo, filhão! — Seu pai sorriu empolgado — Já estava na hora de você arrumar uns amigos mais... como você. Fiquem a vontade!

Os três jovens subiram as escadas em direção ao quarto do Stronghold. Ali, Noah tirou sua mochila das costas e despejou vários livros didáticos sobre a mesinha.

— Vamos começar! — Courtney falou, animada.

Depois de Noah e Courtney explicarem vários assuntos para o recém-transferido, Tanya bateu na porta e entrou.

— A janta está pronta!

— Hum... melhor a gente ir indo, então... — Courtney se levantou.

— Acha! Vocês vão jantar com a gente! Eu insisto! — Tanya convidou.

— Muito obrigada pela gentileza, senhora Stronghold!

— Não vai dar, eu tenho que ir pra casa. Prometi ajudar meus irmãos com o dever de casa.

— Que bonitinho, você ajuda seus irmãozinhos! — A mãe de Trent se encantou.

— Eles estão no último ano da faculdade, é complicado.

Trent e sua mãe arregalaram os olhos mas não disseram nada. Os quatro desceram as escadas e ao chegarem na cozinha, Noah se despediu, deixando Courtney com a família Stronghold.

Enquanto Trent aproveitava seu ótimo jantar descontraído com Courtney García, outra pessoa não estava tendo um jantar tão feliz assim. Gwen Stephan.

— Gostaria de fazer seu pedido? — Perguntou a garçonete de olhos puxados e cabelos pretos amarrados num rabo de cavalo.

— Obrigada, eu vou esperar mais um pouco... — A gótica respondeu e abaixou a cabeça, decepcionada. — Ei, eu conheço você! Heather?

"Sim, sou eu, quer me fazer passar vergonha?" A garota respondeu usando seu poder de telepatia.

— Meu Deus, o que foi isso?! — Gwen perguntou assustada em voz alta, fazendo os outros clientes a encararem.

"Eu sou telepata. Mas não conte a ninguém."

— O quê?! Mas... — Gwen começou a sussurrar — Você não pode usar os poderes aqui!

"Que poderes?" Heather respondeu em pensamento "As pessoas só estão vendo uma garçonete esperando a cliente fazer seu pedido. Aliás, é pra hoje?"

Na casa de Trent, após o jantar, os quatro começaram a ver fotos do anuário escolar da formatura de Tanya e Thomas Stronghold.

— Esse é o professor Mclean?! Não brinca! — Trent gargalhou.

— Olha o treinador Hatchet! Ele tinha cabelo! — Courtney apontou e riu.

— Havia boatos de que era peruca — A senhora Tanya revelou e deu uma risadinha abafada.

— Esse cara dava medo! — Thomas apontou para Ódio Supremo.

— Esse é o pai do Duncan?! — Trent riu — É igualzinho ele!

Os quatro não paravam de rir ao ver as fotos. Mas Gwen não estava rindo. Na mesa dela, uma tigela de ramen se esfriando.

— Quer que eu esquente isso pra você? — Uma voz masculina falou.

— Duncan?

— Você é a amiguinha do Stronghold, né?

— Sim... Por acaso todo mundo da escola trabalha aqui? — Gwen esboçou um sorriso.

— Só eu e a psicótica. Então, quer que eu esquente?

— Mas... — Gwen sussurrou — Você não pode usar os poderes aqui!

— Eu ia colocar no microondas, na verdade.

— Ah... — Gwen sorriu envergonhada. — O Trent marcou de me encontrar aqui hoje, mas...

— Ele é um babaca. — Duncan olhou para os lados para ver se outros clientes não estavam precisando de atendimento e se sentou de frente com a gótica.

— Não é assim... Às vezes ele só é meio esquecido... Que nem quando eu conheci ele. — Gwen começou a sorrir com um olhar de sonhadora — Foi no jardim de infância, ele não lembrava onde tinha colocado a mochila, aí eu fui até o armário dele e atravessei a porta com a minha mão, peguei a mochila e levei pra ele. Ele não entendeu como eu tinha pego se ele nem me viu abrir a porta. Foi aí que eu falei dos meus poderes pra ele. Aí viramos melhores amigos. — Gwen suspirou com um sorriso.

— História maneira. E foi antes ou depois disso que você se apaixonou por ele?

— Quê? — Gwen arregalou os olhos — Eu não sou apaixonada pelo Trent... — Ela corou e desviou o olhar — É tão óbvio assim? — Suspirou com pesar.

— Tá escrito na sua cara... — Duncan riu — Mas ele é um idiota, você com certeza não tá perdendo nada.

— Ele não é um idiota!

— Bom, ele te deixou plantada aqui esperando.

— Isso é verdade, mas...

— Se você acha mesmo que ele vale tão a pena, fala pra ele, ué.

— Eu até falaria, mas... Agora ele tá na turma dos heróis e anda pra cima e pra baixo com a Courtney... — Suspirou.

— Na vida você só tem uma chance... E é melhor usá-la bem.

— Uau, isso é profundo. — Gwen se surpreendeu.

— É só um trecho de uma música do Stratovarius.

— Não acredito, é minha banda favorita!

— Então não é só pra cor do seu cabelo que você tem bom gosto. — Duncan riu, fazendo a garota corar novamente.

De repente, o punk começou a se contorcer com dor de cabeça.

— A psicótica quer que eu volte pro serviço. A gente se vê.

Enquanto isso, o jantar havia acabado e Trent foi caminhando com Courtney até a casa dela.

— Obrigada por me trazer, Trent, é muita gentileza sua!

— Imagina, eu não poderia deixar você vir sozinha nesse escuro.

— Você é um doce. Aliás... O baile de boas vindas tá chegando. Com quem você vai?

— Eu... ainda não escolhi ninguém.

— É, eu também estou esperando um par. Ninguém me chamou ainda... — Courtney abaixou a cabeça.

— Sério? E você não vai com o Noah?

— O quê?! O Noah?! Pfff! — Courtney riu — O Noah é meu amigo, é como um irmão pra mim! Eu não iria com ele! Na verdade eu estava esperando o cara certo me chamar...

— Ah... entendi. — Trent ficou em silêncio.

— Você, Trent. Você não quer ir ao baile comigo?!

— E-Eu...? — Trent ficou chocado porém gostou da ideia.

Courtney se aproximou lentamente do Stronghold e ele retribuiu o movimento. Quando seus lábios estavam quase se encostando, a mãe de Courtney abriu a porta.

— ¿Qué estás haciendo, Courtney? ¿Quien es este chico?

— ¡Nada, mamá! ¡Este es mi nuevo amigo de escuela! — Ela respondeu e logo falou na língua de Trent — Boa noite! Até amanhã!

Depois que a mãe voltou para dentro de casa, Courtney deu um beijo no rosto de Trent. Quando ela entrou em casa, Trent levou a mão à bochecha e sorriu abobalhado. Ao voltar para casa, o rapaz perguntou para o pai algo que não saíra de sua mente:

— Pai, quando o Noah e a Courtney chegaram, você disse que era bom eu ter amigos "mais como eu"... O que você quis dizer com aquilo?

— Ahm... Veja bem, filho — O senhor Stronghold pôs a mão sobre o ombro do filho e começou a procurar as palavras ideais para falar — Desde pequeno você andou com esse grupo de amigos, mas agora eles não são heróis, eles são só... ajudantes! Por exemplo, a Gwen é uma ótima garota, mas ela não está do mesmo... lado... que você.  Você precisa mesmo de alguém como a Courtney, uma heroína!

— Pai, isso é ridículo, a Gwen é... — de repente, Trent se lembrou de algo importante — Ai não! A Gwen!

Trent saiu correndo para seu quarto e abriu a janela que mostrava o quarto de Gwen. Usando sua super força ele arrancou o tampo da mesinha no centro de seu quarto e usou esse tampo como uma ponte entre seu quarto e o quarto da amiga. Com cuidado ele engatinhou sobre o tampo da mesa e chegou até a janela de Gwen, caindo nada elegantemente no chão do quarto dela.

— AHH! O QUE É ISSO?! — Gwen usou os poderes para atravessar seu armário, ficando escondida lá dentro.

— Calma, Gwen, sou eu! Trent! — O rapaz falou se reerguendo e indo em direção ao armário.

Gwen colocou a cabeça para fora do armário e ao ver o garoto, saiu.

— Uau, você tá linda, Gwen. — Trent disse boquiaberto ao ver o belo vestido preto e justo, na altura das coxas.

— Eu me arrumei pra sair hoje a noite... — Gwen segurou um dos braços e olhou para baixo, chateada.

— É sobre isso que eu vim falar... Me desculpa, Gwen! Eu esqueci completamente! A Courtney apareceu lá em casa pra estudar e...

— A Courtney? — Gwen perguntou incrédula e magoada.

— Sim, ela se ofereceu pra me ajudar com a matéria!

— Puxa, que bom, Trent... — Gwen tentou parecer feliz pelo amigo mas falhou.

— Mas olha, Gwen, me desculpa mesmo, você deve estar querendo me matar agora! Sinto muito...

— Tudo bem... Na verdade, essa noite foi boa, porque ela me fez perceber uma coisa que eu queria te falar... — Gwen tomou coragem para confessar seus sentimentos, conforme foi incentivada por Duncan.

— Eu também tenho uma coisa pra contar! É sobre o baile de boas vindas. — Trent sorriu empolgado.

— Pode falar primeiro. — Gwen sorriu tímida, ainda tendo certas expectativas quanto ao que o seu melhor amigo de infância poderia revelar.

— Eu vou com a Courtney!

Nesse momento, Gwen sentiu seu mundo desabar. Ela ainda tinha uma esperança de que as coisas entre Courtney e Trent fossem meramente paranóia dela, mas ela se desiludiu. Só que em vez de continuar sofrendo e sair por baixo, Gwen pensou por um instante e num impulso, soltou uma notícia que acabou surpreendendo até ela mesma.

— Eu vou com o Duncan!

Trent arregalou os olhos e ficou encarando a amiga por alguns segundos sem saber o que dizer, até que finalmente conseguiu processar a informação:

— O QUÊ?!

Gwen sentiu seu corpo esquentar com o nervosismo. Como ela convenceria o rapaz mais bruto da escola a ir no baile com ela? Foi só então que ela percebeu o quanto essa ideia havia sido estúpida. Mas ela não podia deixar as coisas assim. Ela começou e teria que terminar.

— É, eu conversei com ele ontem e percebi que a gente tem várias coisas em comum. Ele gosta das mesmas bandas que eu e até elogiou meu cabelo. — Gwen sorriu de canto, com a cabeça erguida.

— M-mas Gwen! Ele é meu maior inimigo nessa escola! Você não pode fazer isso! Amigas não saem com os inimigos dos amigos!

— Sério, Trent? Amigos não marcam compromissos com as amigas e deixam ela esperando a noite inteira! — Gwen retrucou. — Eu vou me arrumar pra dormir, boa noite, Trent.

O garoto ficou a encarando sem saber o que dizer. Aquelas palavras doeram no fundo de seu coração mas ele sabia que era verdade. A única coisa que Trent conseguiu responder antes de voltar para seu quarto foi um baixo e soturno:

— Boa noite...