O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 6
Destino - Kishan




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Então nós estávamos no templo de Durga, nos preparando para aquela que poderia ser a última aparição da Deusa. Eu estava ansioso. A visão da Deusa me era muito agradável.

Era estranha a maneira como eu me sentia à vontade na presença de Durga. Havia algo nela que me fazia bem. Eu me sentia pleno na presença dela, a ponto de me esquecer do que mais estivesse ao meu redor. E isto era algo além da aparência da Deusa. É claro que Durga era lindíssima e eu ficava sem palavras ao olhar para ela, mas havia algo além disso. Era estranho, mas parecia que a Deusa era capaz de compreender, de alguma forma, a minha alma inquieta de guerreiro.

Quando Durga apareceu para nós, ela estava diferente. Continuava tão linda como sempre, mas parecia mais humana. Inclusive na maneira como se comportou. Eu não conseguia deixar de olhar para ela, mas ela também me olhou. Ela me desafiou e flertou comigo.

Ao me oferecer uma nova arma, Durga colocou a ponta da espada em meu pescoço, me olhando de forma desafiadora. Eu nunca resisti a um desafio. Meu espírito se agitou. Mas Kelsey tocou meu braço, pedindo para que eu me acalmasse.

Se Durga agitava meu espírito, Kelsey era a única capaz de aquietá-lo. E era por isso que eu a amava. Mas eu sentia algo por Durga, e isto eu precisava admitir. Nenhuma mulher jamais mexera comigo como a Deusa. 

Durga era como eu, mesmo sendo uma Deusa. Ela era uma guerreira corajosa e disposta. Era capaz de aniquilar exércitos, sempre à frente da batalha. E era sensual como eu nunca conhecera alguém antes. Se Durga se oferecesse a mim, seria difícil recusá-la.

O que eu sentia pela Deusa não era amor. No passado, eu amara Yesubai. Ela era o oposto de Durga: Delicada, doce e frágil, Yesubai inspirava cuidados. Ela era tão linda e maternal, que era impossível não sentir ternura por ela. Tanto que ela cativara também a Ren, que aceitou se casar com ela, ainda que não a conhecesse muito bem. 

Eu amei Yesubai, mas fora a tanto tempo, que agora eu não estava certo sobre a intensidade dos meus sentimentos à época. A impressão que tinha, era de que apenas agora eu conhecera o amor plenamente. E a dona desse meu sentimento era Kelsey. 

Kelsey era como Yesubai, em muitos aspectos. Ela era doce e maternal e sua beleza parecia delicada. Mas Kelsey era uma guerreira corajosa e mortal, como Durga, embora preferisse a paz à batalha. Kelsey reunia aquilo que me encantava nas outras duas mulheres, por isso ela era perfeita para mim e eu a amava. 

Mas isto não me impediu de flertar com a deusa. 

Por isso, quando Ren me atacou, dando-me um forte soco no rosto, eu não revidei, nem fiquei com raiva. Ele estava certo. Eu havia desrespeitado a mulher que eu amava e estava arrependido. 

— Se eu o vir tratar Kelsey desta maneira novamente, farei muito mais do que apenas bater uma vez em você. Eu o incentivo a pedir desculpas. Fui claro, irmãozinho? — Disse Ren, enquanto eu o encarava, esfregando meu queixo.

Eu abaixei a cabeça humildemente e acenei, concordando com ele. 

— Ótimo. Vamos esperar por você lá fora, Kelsey — disse Ren e saiu, com Kadam o seguindo.

Me aproximei de Kelsey, esperando que ela estivesse ofendida.

— Ele está certo. Peço desculpas. Eu não sei o que estava pensando. Sinto muito, Kells — Eu coloquei meus braços ao redor do corpo dela. — Você ainda é a minha garota, não é? 

Ela encostou a cabeça no meu peito e assentiu. Eu a peguei pela mão, guiando-a para fora. Depois me virei para ela e falei, preocupado:

— Você pode ficar com raiva de mim, se quiser. Ser insanamente ciumenta e me bater. Eu mereço.

Kelsey não disse nada. Ela deu um sorriso torto e ficou pensativa, enquanto percorríamos o caminho ao redor do templo, que agora estava sem a neve, que havia derretido com o fogo emitido pela aparição de Durga. 

Começamos a descer a montanha, que estava escorregadia. Ren e eu ajudamos Kelsey, segurando-a pelos braços. Kadam insistia que continuássemos, apesar do cansaço de Kelsey. Era como se estivéssemos atrasados para algum evento que apenas ele conhecia. 

Kadam sugeriu que eu carregasse Kelsey pelo resto do caminho até nosso acampamento. Ela se arrastou até mim, que a peguei nos braços e a levei dormindo até lá.

Kadam juntou alguns varetos e acendeu uma fogueira. Pedimos ao lenço algumas almofadas e eu coloquei Kelsey em uma delas. Ela acordou e Kadam sentou-se a seu lado, enquanto Ren e eu arrumávamos o acampamento, deixando-os a sós para conversarem.

Depois de tudo pronto, eu me sentei ao lado de Kelsey e a puxei para meu peito, sem pensar mais no episódio no templo. 

— Hora da nossa história de ninar. Sobre qual deus grego vamos ouvir esta noite?

Ela acariciava meus braços e me respondeu sorrindo:

— Acho que esta noite vou falar sobre as muitas relações de Zeus com mulheres mortais e como sua esposa, Hera, puniu todos elas.

Ren riu e eu fiquei apreensivo. Falei com firmeza:

— Eu vou me esforçar para ouvir cada palavra que passar por seus lábios, minha deusa.

Eu ri quando Kelsey me deu uma cotovelada, de brincadeira e falou:

— E não se esqueça delas, meu amigo.

— Eu não vou, amor — Sussurrei e beijei sua orelha.

Ren ficou aborrecido e resmungou mal-humorado:

— Vamos em frente com a história.

Kelsey começou a contar várias histórias sobre as relações amorosas de Zeus e as vinganças de Hera, olhando para mim sempre que falava sobre isso. Eu me encolhia e ela ria. Mesmo Ren acabou relaxando e ria também. Kadam, por outro lado, estava estranho, taciturno. Em um determinado momento, ele pegou sua espada samurai da caixa e começou a pulí-la. Depois manteve a espada no colo, fitando o fogo, sem prestar atenção nas histórias.

Kelsey continuou contando as histórias e quando terminou, falou:

— E isso é o que acontece quando os cônjuges são enganados.

Neste momento, uma voz familiar e horripilante soou atrás de nós:

— Devo dizer, a escolha da história se provou mais que profética esta noite. Você é uma mulher de muitos dons, minha querida.

Kelsey agarrou meu braço. Era Lokesh. Ele havia sobrevivido. Ren e eu nos levantamos e pegamos nossas armas para enfrentá-lo. 

Senti uma mão me tocar e meu corpo balançar e girar na escuridão. Eu senti uma pressão estranha e de repente uma luz surgiu. Então eu não estava no mesmo lugar. Kadam tocava o ombro de Kelsey e os braços de Ren e meu. Nós estávamos atrás de um arbusto há alguns metros da fogueira.

— O que… o que aconteceu? Como chegamos aqui?— Kelsey perguntou.

— Movi-nos através do espaço… Não há muito tempo para explicar —Kadam respondeu e colocou uma mão no ombro de Ren e a outra no meu.

— Meus príncipes, meus filhos, vocês tem confiado em mim desde que eram jovens, e peço que confiem em mim novamente. Vocês devem fazer algo por mim, e devem obedecer minhas instruções exatas. Irão fazer isso?

Nós assentimos.

— Em hipótese alguma deixem este lugar antes de Lokesh ter desaparecido. Não importa o que vejam e ouçam, vocês não devem interferir! Deem-me os seus votos de guerreiros.

Nós concordamos e Kadam apertou nossas mãos. Então começamos a recitar o voto do guerreiro:

— Seus na vida, seus na morte. Prometemos respeitar a sabedoria de nossos líderes, permanecermos sempre vigilantes em nosso dever, exibir bravura em face da morte, e demonstrar compaixão, da mesma forma que ela seria dada para aqueles que amamos.

Kadam nos olhou sério e disse, sombrio:

— Sua responsabilidade é Kelsey. Lokesh não deve encontrá-la. Protejam-na a todo custo. Pensem apenas nela e bloqueiem todo o resto. Esta é a única maneira de derrotá-lo. Não importa o que aconteça, se quiserem me honrar, devem fazer isso.

Depois de terminar, o Sr. Kadam desapareceu no ar.

— O que está acontecendo? — perguntou Kelsey, assustada.Naquele momento, ouvimos vozes carregadas pelo vento do outro lado da moita. Ren se aproximou da vegetação, e olhou para o nosso acampamento por entre os galhos grossos. A fogueira que esteve silenciosa alguns minutos antes estava estalando de novo. E na frente das chamas dançantes estavam  Kadam e Lokesh.

Kelsey se levantou e caminhou em direção à fogueira. Nós a empurramos de volta.

— O que vocês estão fazendo? Precisamos ajudá-lo! Temos todas as armas!

Ren sussurrou:

— Nós lhe fizemos os votos de guerreiro.

— E…?

— Nós não iremos quebrá-lo. É o código de um guerreiro, e Kadam nunca pediu isso de nós antes. É usado somente quando um plano deve ser seguido sem desvios. Se uma só pessoa não cumprir o seu dever, o esforço é em vão —Expliquei.

— Bem, ele não pensou nisso direito! Sr. Kadam não está em seu juízo perfeito! 

Enquanto isso, Kadam encarava um Lokesh deformado. Metade de seu rosto estava queimado e ele mancava.

— Para onde você os levou, meu amigo? Parece que você ainda tem alguns truques na manga — Lokesh perguntou em uma voz quase desesperada, rouca.

— Para um lugar onde estarão seguros —  Kadam respondeu.

Ele então levantou a espada samurai, soprou sua superfície, e deslizou o dedo ao longo da lâmina.

— Sei que você quer o amuleto. Ao contrário dos meus filhos, não tenho nenhuma arma para lutar com você que não seja a minha velha espada. Seja como for, irei me esforçar para protegê-los com a minha vida.

— Isso acontecerá, no devido tempo.— Lokesh fixou avidamente seu olho bom no amuleto  e perguntou: 

— Gostaria de contar-me do poder do seu amuleto de modo que alguns minutos de sua vida sejam poupados?

Kadam deu de ombros.

— Ele fornece um poder de cura. Pelo o que ouvi, você já deveria estar morto — ele apontou para o rosto de Lokesh. — Parece que o seu poder não o cura, assim como o meu.

Lokesh cuspiu a sujeira com raiva.

— Vamos testar isso em breve. Como os transportou?

— Gostaria da oportunidade de ganhar a minha parte do amuleto de forma justa? Sem amuletos, feitiços ou magia negra. Apenas dois guerreiros lutando mão a mão, aço sobre aço, como se estivéssemos ainda em parte no velho mundo.

Lokesh examinou seu oponente por um momento, e então sem problemas, com apenas um toque de deboche, ele disse:

— Quer morrer como um guerreiro. Tenho sido um guerreiro por tempo suficiente para entender e simpatizar com o seu pedido. Pergunto-lhe, porém, e quanto a sua cura? Certamente, essa luta não seria justa.

— A cura não é instantânea. Dê-me um golpe duro, e você será capaz de remover facilmente a minha parte do amuleto. Isto é, a menos que tenha medo de lutar contra um homem velho.

— O medo não me motiva — Lokesh fitou a escuridão diretamente onde estávamos sentados, como se considerasse suas opções.

— Envergonha-me dizer isto, velho amigo, mas penso que não estou tão entusiasmado para continuar esta discussão como deveria estar. Minha mente foi enfeitiçada, e não haverá descanso para mim, não até que a jovem Hayes e eu estejamos reconciliados. Acredito que eu prefira buscar minha noiva relutante antes e ensinar-lhe uma lição. Ela está perto, meu amigo, mesmo agora. Posso senti-la. Mas, com certeza, voltarei a lidar com você mais tarde.

Lokesh se virou em nossa direção, mas Kadam ergueu a espada:

— Não a encontrará facilmente.

Lokesh girou.

— Pelo contrário, eu a encontrei nesta selva. Eu tinha espiões observando os templos de Durga há algum tempo. Ela está perto, e não serei impedido por mais tempo.

Kadam brandiu a espada ameaçadoramente. Distraído, Lokesh voltou-se para assistir.

— Você tem um toque de mestre, meu amigo.

Kadam parou e ergueu a espada para Lokesh admirar.

— É extraordinário, não é?

— Na verdade, é. Muito bem, já que está tão ansioso a morrer por suas incumbências, vou ajudá-lo. Além disso, será lindo ver a expressão no rosto de minha noiva quando eu lhe contar de sua morte.

Kadam apontou a espada para Lokesh.

— Ela não será sua noiva. Ela está destinada ao meu filho. Nunca a tocará novamente, demônio vil.

— Demônio? — Ele sorriu maldosamente. — Gosto do som disso.

Kadam chicoteou a espada rapidamente para frente e fez um corte ao longo da bochecha de Lokesh. Espantado, Lokesh tocou o sangue molhado escorrendo pelo rosto. Sua surpresa se transformou em fúria em um instante e as pontas dos dedos estalaram, desencadeando uma explosão. Kadam cambaleou um pouco conforme o poder o contornava inutilmente.

Frustrado, Lokesh convocou um terremoto, mas o seu adversário ainda permanecia de pé. O vilão levantou as mãos e murmurou um canto estranho. Um estrondo sacudiu a terra em frente a ele, e depois de um momento, uma espada preta subiu no ar.

— Parece que conseguiu a sua morte de cavalheiro, afinal — ele zombou.

Os dois homens começaram a lutar. Apesar de ser muito mais habilidoso, Kadam estava em desvantagem porque Lokesh usava magia. 

Kelsey estava desesperada. Eu queria ir até lá e ajudar Kadam, sabia que com as armas e presentes de Durga, poderíamos derrotar Lokesh. Mas nós fizemos os votos e tínhamos que honrá-lo. Eu achava que Kadam sabia o que estava fazendo e tinha esperanças de que ele tivesse um plano para derrotar Lokesh definitivamente, talvez usando seu amuleto. 

Apesar de muito ferido, Kadam não era facilmente derrotado. E Lokesh deve ter perdido a paciência. Farejei algo no ar. Ren também sentiu. 

— O que foi? — sussurrou Kelsey.

— Gatos — Ren respondeu.

Era um par de leopardos das neves, que passou perto de onde estávamos e foi para o lado de Lokesh. Outros animais surgiram: Uma matilha de lobos entrou na clareira do outro lado e um urso negro caminhou para perto do fogo, ergueu-se sobre as patas traseiras e rugiu ferozmente. 

Os animais começaram a atacar Kadam. Um leopardo saltou em direção as suas costas. Ele desviou, e a criatura caiu desajeitadamente entre a matilha de lobos. O urso ameaçou, mas resvalou pela direita do corpo do Sr. Kadam como se ele fosse um fantasma. Ainda assim, quando Kadam virou-se, vimos marcas sangrentas de garras cobrindo seu lado. 

— Nós temos que ajudá-lo — Kelsey falou baixo, desesperada.

— Não — respondi

— Ele vai morrer.

Ren tocou o rosto dela e explicou:

— Ele quer que fiquemos escondidos. Temos que confiar que ele tem um plano.

Enquanto isso, Kadam continuava sendo atacado e lutando contra o demônio e seus animais. 

— Se rende agora, velho?

— Nunca — Kadam respondeu.

— Muito bem.

Lokesh avançou rapidamente, balançando sua espada negra em uma série rápida de golpes que empurrou Kadam para o urso. O urso rasgou a parte de trás da coxa de Kadam e ele tropeçou para o chão, gritando.

Kelsey apertou meu braço e fechou os olhos. Lágrimas desciam por seu rosto. Ela levantou-se lentamente e eu não percebi seu plano, até que Ren se levantou e a agarrou pela cintura. Kelsey lutou contra ele, que a deteve com firmeza, prendendo-a no chão. Kelsey chorava desesperadamente.

Nós agora não podíamos ver a luta, apenas ouvíamos o som terrível da batalha. Percebemos que Kadam estava sendo derrotado. Eu tentava manter a calma para honrar a vontade do meu mentor. Mas estava difícil. 

Enxuguei as lágrimas de Kelsey e afastei o cabelo do seu rosto, tentando me distrair da minha própria dor. Então ouvimos o som da espada e o grito de dor de Kadam. E então, o som do seu corpo caindo. Meu corpo congelou de dor e de fúria. Kelsey me empurro enquanto Lokesh ria.

— Dói-me ver que lutou por isto, meu amigo. Mas eu sempre ganho, perceba. É extremamente inoportuno que você não vá estar por perto para entregar-me minha noiva. Tenho certeza de que ela teria gostado disso.

Ouvi o murmúrio de uma resposta, em seguida, uma tosse úmida. Lokesh respondeu:

— A obstinação deve ser de família. Mesmo agora, você acha que vai ganhar. Dadas as suas atuais circunstâncias, a sua confiança talvez seja um pouco excessiva. Devo dar-lhe algum crédito, no entanto. Conseguiu atingir-me mais do que eu imaginava.

Kelsey se levantou e olhou em direção à Kadam. Eu a segui e pude vê-lo perto da fogueira. Ele estava caído, mortalmente ferido. Lokesh cutucava a ferida de sua perna. 

— Isto é por me distrair de meu propósito — ele se inclinou sobre o corpo de Kadam e torceu a espada. Kadam gritou de dor. — E isto… é pelo meu dever.

Kadam ofegante disse entre tosses molhadas:

— Então… pegue… pelo o que você… veio.

Suas palavras morreram, e ele levou uma mão sangrenta para seu colar. Com um puxão selvagem, arrancou o amuleto do próprio pescoço e estendeu-o para Lokesh, cujos olhos se fixaram no colar com prazer.

— Ela vai ser a sua desgraça.

No momento em que Lokesh fechou a mão ao redor da pedra, ele e o amuleto desapareceram em um flash, e as feras fugiram para o mato. Kadam foi de volta ao chão. Juntos, nós três corremos para a clareira e caímos de joelhos ao lado dele.

— Kadam! Kadam! — gritávamos em desespero.

Kelsey tentou estancar o sangue usando um pedaço de tecido. Ela gritou para mim:

— Kishan, onde está o kamandal? 

Levei a mão até o meu pescoço mas a concha não estava ali.

— Eu não entendo. Eu nunca o tiro!

Entrei na barraca rasgando os lençóis em busca do kamandal, imaginando que ele tivesse caído ali. Procurei desesperadamente mas não encontrei. Eu sabia que sem o elixir da sereia, não poderíamos salvar Kadam. 

Eu voltei e caí de joelhos, derrotado, ao lado do meu mentor.

— Ele se foi. Não consigo encontrá-lo.

Ouvi uma tosse e um sussurro.

— Srta. Kelsey…

— Por favor, não me deixe. Eu posso ajudar. Apenas me diga o que fazer.

Kadam ergueu a mão com dificuldade e acariciou o rosto de Kelsey. 

— Não há nada… que você possa fazer. Não chore. Eu fui… preparado para isso. Eu peguei o kamandal. Sabia que isso iria acontecer. Era… ne… necessário.

— O quê? Como pode ser necessário o senhor morrer? Poderíamos tê-lo ajudado, lutar com o senhor! Por que nos impediu?

— Se estivessem aqui, a luta… teria sido diferente. Esta era… a única maneira… de derrotá-lo.

Kelsey fechou os olhos e deixou as lágrimas descerem pelo seu rosto. Kadam sussurrou dolorosamente novamente:

— Eu preciso dizer – eu… os amo. Tanto.

— Eu também o amo.

— Estou tão orgulhoso da senhorita. De todos vocês — ele ofegou e olhou para Ren. — Você tem que prosseguir. Ter… terminar o que começamos — debilmente, ele agarrou o braço de Ren. — Ren, você deve… encontrá-lo. Encontre-o… no passado.

Ren assentiu e chorou. Lágrimas desceram também pelo meu rosto. Eu já vira muitos morrerem. Eu já perdera pessoas demais. Kadam era como um pai para todos nós, e perdê-lo era doloroso. Fechei os punhos pensando em como me vingaria do demônio que causara aquilo.

Kadam fechou os olhos. Sua mão caiu no chão, e ele sorriu fracamente. Então ele se foi.


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