Nos dias que se seguiram, Kelsey, Ren e eu seguimos as orientações de Kadam e começamos a estudar sobre o nascimento de Durga.

Em respeito à Nilima, que sofreu mais do que todos, nós guardamos 3 dias de luto, ao invés dos 13 que mandam a tradição indiana. Isto porque entendemos que Kadam não gostaria que parássemos. Ele cuidou de tudo muito rapidamente para que seguíssemos com os últimos passos antes de quebrar a maldição e isto nos pareceu urgente. Seria a melhor maneira de homenageá-lo. Ainda assim, Mantivemos a tradição de ter uma lâmpada acesa por outros dez dias.

Descobrimos que havia várias versões para o nascimento de Durga. Kelsey chegou à conclusão, que cada suposto local de seu nascimento, correspondia a um elemento representado pelo medalhão. Ela nos entregou um papel onde havíamos feito anotações sobre o amuleto, para provar sua teoria. 

Possíveis poderes

* O rugido do tigre de Durga abalou o mundo (Terremoto? O amuleto da terra)

* Oceanos ferveram e inundaram a terra (Amuleto da água ou Colar de Pérolas)

* Montanhas se desintegraram em milhares de deslizamentos de terra (Amuleto de terra)

* Usou seu sopro divino para reabastecer seus exércitos (Alimento/água/roupas? Usando os presentes)

* Grandes chamas foram emitidas em todas as direções (Amuleto do fogo/ Corda de fogo)

* Moveu montanhas (Amuleto da terra)

* Cercou o exército de Mahishasur em uma tempestade de areia (Amuleto do ar).

— Ok, então quais das histórias é a correta? — perguntei.

— Talvez todas sejam — sugeriu ela.

— Hum… aqui tem algo — Ren adicionou. — Esse livro fala sobre uma ilha vulcânica que soa um bocado como a que Kadam disse para irmos. É o chamado Poço do Inferno.

— Sério? Isso é maravilhoso.

— Isso não é o pior.

— Ótimo. Não queria que fosse fácil demais. Então… Uma ilha vulcânica e uma batalha com Durga e Mahishasur? Acho que provavelmente Durga possuía o amuleto inteiro quando ela o derrotou, levando em conta é claro, que aceitamos a história literalmente.

— É uma boa teoria — Eu disse. — Não há menção de qualquer lugar ou data.

— Não, não há. Também não há menção de ninguém aparecendo ou desaparecendo.

— Conte-me a história da batalha, para que eu possa imaginá-la em minha mente — pedi.

— Tudo bem. Começarei quando Durga encontra Mahishasur.

 “Quando a deusa entrou no campo de batalha montada em seu tigre, todos os olhos se voltaram para ela. O tigre caminhou lentamente, e os homens cheios de temor se ajoelharam enquanto os demônios ofegaram suavemente ao ver a bela deusa. Ela estava calma, destemida. Embora caminhasse por esquadrões de demônios arqueiros, milhares de cavaleiros, centenas de elefantes de batalha, nenhum se moveu para feri-la – cada criatura se tornou totalmente temerosa ao seu poder. Quando finalmente ela alcançou o rei demônio, foi cercada por uns homens com machados de ferro brilhantes e negras alabardas.”

— Espere, o que são alabardas?

— É como uma longa lança com um machado no final — Ren respondeu.

— Entendi.

“A batalha foi um rio de sangue, mas até mesmo o rio vermelho não podia desviar a atenção do vermelho de seus lábios ou da exuberância de seu cabelo, mostrando quão imensamente bela ela era. Quando o rei demônio a viu, se apaixonou e anunciou que iria tê-la como esposa. Ele instruiu que os homens capturassem a deusa, mas nenhum deles estava ciente que por trás daquela grande beleza, havia uma criatura de grande força. Como um furacão, ela e seu tigre se ergueram e mataram cada uma das coortes do rei demônio. Ela jogou sua corda em volta do pescoço de Mahishasur, e enquanto o tigre atacava seu corpo com as mandíbulas, ela levantou a espada e cortou o demônio no meio.”

Enquanto eu ouvia, imaginava a bela Deusa em todo o seu esplendor, lutando ferozmente, como uma gata selvagem. Não consegui conter um assovio.

— Ela certamente soa como meu tipo de mulher.

Kelsey me deu uma cotovelada de leve, tirando-me de meus devaneios. Eu disfarcei, fingindo ignorá-la e comentei inocente:

— Eu adoraria vê-la em batalha.

— Acho que você está perdendo o ponto, Casanova.

Eu sorri , segurei sua mão e beijei.

— Eu me pergunto o que seria necessário para te fazer ciúmes. Aliás, eu não sou como Casanova. Sou estritamente um homem de uma mulher só.

Kelsey desviou os olhos rapidamente para Ren, que lia um livro, fingindo nos ignorar. Ela continuou:

— O ponto é: acho que precisamos nos preparar para lutar com Lokesh da mesma forma que Durga lutou com Malishasur.

Pensei um pouco e concluí que Kelsey tinha razão.

— Acho que você está certa Kelsey. Lokesh te deseja da mesma forma que o rei demônio desejava Durga. É melhor você me deixar ver esses livros.

Nós nos debruçamos sobre os livros. Depois de algum tempo, Kelsey começou a ficar sonolenta e Ren saiu da sala. Kelsey encostou a cabeça em meu ombro e dormiu. Olhei para ela, preocupado com o que estava por vir. Sussurrei mais para mim do que para ela:

— Não deixarei que ele te tenha, Kelsey. Você pertence a mim.