Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 70
Você Nunca Estará Sozinha


Notas iniciais do capítulo

Nem sei se alguém ainda está acompanhando essa história, mas cá estou preparando o final de vocês ♥ Curtam!



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Três flechas de energia atingiram Josh no peito e o fizeram diminuir sua velocidade. Ele não sabia que tipo de magia aquelas flechas possuíam, mas seus músculos estavam muito cansados. Sem que pudesse ter qualquer resistência Josh despencou no chão. Apesar de ainda estar consciente seu corpo não respondia aos seus comandos.

— Ele desligou as ligações do seu cérebro para seus membros — Anabel informava — O processo de anulação de magia está em andamento.

— Levante — Kai alcançou Ryu.

O garoto se pôs de pé ainda um pouco tonto e gravemente ferido.

— Eu nunca imaginei que você fosse um híbrido — Kai sentia o cheiro confuso vindo de Ryu — Mas em todo caso, veio bem a calhar nesse momento.

Kai fez um pequeno corte em seu braço com uma pequena lâmina de luz e assim que seu sangue tomou toda a superfície do objeto, ele o encravou no braço de Ryu.

— AI! — Ryu levava a mão ao local da ferida — O que você está fazendo?

— Te dando um pouco de gás — Com essas palavras Kai deu um empurrão em Ryu com força o suficiente para fazê-lo cambalear por alguns metros — Agora corre que o boss tá levantando.

Os tropeços do guardião logo se tornaram passadas e em poucos segundos ele estava correndo a todo vapor novamente.

Josh ainda estava um pouco aturdido, mas aos poucos seus músculos pareciam retomar o vigor. Quando ele se preparava para seguir Ryu, teve seu pescoço envolto por uma corrente dourada e foi arremessado para longe de seu objetivo.

Levantando-se rapidamente ele se deparou com a imagem de Kai a sua frente.

— Para seguí-los você precisa passar por mim primeiro — Kai balançava as correntes de um lado para o outro.

Sem hesitação, Josh avançou para cima do inimigo.

— Diga xis — Kai tinha um sorriso cínico no rosto enquanto uma luz cegante emanava do corpo dele. O flash foi tão intenso que havia queimado os olhos de Josh.

Mais do que satisfeito com o resultado da sua investida, Kai usou suas correntes para arrancar de Josh as suas cimitarras e em seguida partiu para cima do inimigo como socos e chutes incessantes.

Joane e Marie se esforçavam para se livrar das correntes, mas o material enfeitiçado as mantinham sob domínio enquanto Kai continuava com sua sessão de espancamento.

— Você é como o Ryu — Josh tentava se afastar de Kai — Não tem honra!

— Com quem você acha que ele aprendeu? — O bruxo disse com orgulho enquanto acertava Josh com um chute tão forte em seu estômago que ele acabou caindo no chão.

— Eu não vou dizer a você que sadismo não é o meu forte, afinal, passei parte da minha adolescência torturando e matando desertores — Kai dizia com enquanto fazia surgir uma espada em suas mãos — Mas você nunca me fez mal nenhum, por isso vamos acabar com isso de uma forma rápida e indolor. Sua família já tirou muito de mim, não vou deixar que vocês matem mais ninguém que eu me importo.

Enquanto Kai se aproximava de Josh, o caçador rastejava pelo chão, que a essa altura já tinha uma boa quantidade do seu sangue espalhado.

— Faço isso pela memória dela… — Kai parecia ter um tom nostálgico.

Seu pequeno desvaneio foi a oportunidade perfeita para ele ser atingido pelas cimitarras de Josh. Ambas as lâminas rasgaram a parte de trás das suas pernas e ele caiu de joelho, mal teve tempo para pensar quando teve sua cabeça empurrada em direção ao chão com força o suficiente para rachá-lo. Não só atordoado com a pancada, Kai não precisou se esforçar muito para sentir os efeitos da raíz de laranjeira sobre seu corpo, enquanto sentia pedaços da planta se desprendendo da sua pele. Josh o havia acertado com um “golpe venenoso”

— Eu também tenho meus truques — O caçador se levantou e limpou o sangue do rosto com um sorriso orgulhoso.

— Que gracinha — Kai tinha um tom debochado, mesmo estando há pouco de perder a consciência — Estou paralisado diante da sua maldade.

Josh não deu muita atenção para aquela provocação, na verdade não tinha nenhuma intenção de seguir um caminho de trapaças e aquela estratégia havia sido inspirada na luta que havia tido com Ryu.

— Deixe os garotos em paz — Kai murmurava.

— Não se preocupe, meu alvo é apenas Catherine Gibran — Josh respondeu friamente e saiu correndo em direção ao caminho tomado pelos fugitivos.

Não muito longe dali, Ryu e Catherine mantinham o ritmo de corrida acelerado. Apesar de não desejar a morte de Josh, ele torcia para que Kai tivesse ao menos o deixado inconsciente. Ao seu lado, Catherine parecia que estava prestes a ter um ataque cardíaco. Ryu gostaria de pedir para que ela descansasse, mas ele estava com tanto medo que Josh os alcançasse que não tinha aquele luxo.

— Tem uma floresta ali! — Ryu apontava para um local não muito distante — Ficar em campo aberto só dificulta nossa situação.

“Ele tem a Anabel, vai nos encontrar de qualquer maneira.” Catherine pensou, mas escolheu não dizer, não parecia justo cortar as esperanças de Ryu daquela maneira. Ele estava tão certo de que conseguiriam… Ela, por outro lado, entendia que sua hora estava chegando. Catherine suspeitava que mais cedo ou mais tarde seus poderes seriam o caminho para sua morte, mas nunca imaginou que seria pelas mãos de um amigo.

“Amigo…” Uma porção de lembranças invadiam a cabeça da bruxa.

Desde o momento em que entregou aquela barra de chocolates para Josh, no primeiro dia em que se conheceram, algo dentro dela dizia que ele não era alguém ruim. Na verdade, era como se sentisse uma necessidade muito grande de torná-lo parte da sua vida e assim foi. Aventura após aventura, sempre que as coisas apertavam ele estava lá, sem ganhar nada em troca… como um bom amigo.

Cada sorriso, cada vitória, cada piada… Eles sempre fizeram o que amigos fazem, mas agora eles estavam ali, fugindo de um amigo.

A bruxa levou a mão ao rosto e usou a manga de seu vestido para limpar seus olhos molhados.

“Ora Catherine! Isso não é hora para chorar!” Ela  precisava ser forte, se Ryu que nem ao menos estava no meio daquela situação, estava dando tudo de si, não fraquejar era o mínimo que ela poderia fazer.

Ryu no entanto, não estava com sentimentos diferentes do dela. Não sabia como lidar com toda aquela situação, primeiro pelo fato da força de Josh estar além das suas capacidades, mas pensando quantas oportunidades teve para matá-lo, entendeu que a diferença de força não era sua única desvantagem. Apesar de querer proteger Catherine a todo custo, não conseguia se ver matando Josh, ele havia se tornado seu amigo, uma das pessoas importantes da sua vida. Mas agora sem Eveline, nem mesmo se quisesse poderia ter uma batalha no mínimo equilibrada com um híbrido.

“Mas se bem que…” Ryu olhava para sua mão esquerda. Aquele fenômeno de luzes em suas veias, significava algo. Seria ele um híbrido também? Mas como poderia ter tanto poder dentro do seu corpo e ter passado a vida inteira tendo tanta força quanto um humano qualquer? Será que ele  era algum tipo de híbrido mais fraco? Aquelas eram perguntam que talvez jamais fossem respondidas.

Foi nesse momento que seus pensamentos foram interrompidos pelo som de uma lâmina rasgando o ar, seguido de um grito. Catherine, que estava sendo arrastada por ele, despencou no chão com a cimitarra de Josh cravada em suas costas. Ryu preparava-se para arrancá-la, quando a própria arma voltou para as mãos de seu portador, que já estava muito próximo dos dois.

Era inacreditável, por mais que se esforçasse, Ryu sabia que não era capaz de sequer se comparar com o ritmo de Josh.

— Está tudo bem… — Catherine se levantou cambaleante enquanto o seu sangue empoçava no chão — Eu me curo rápido.

Ryu poderia até ter essa informação, mas diante da quantidade sangue que ela estava perdendo e do exterminador imparável os alcançando, talvez ela não tivesse tempo para se curar. Completamente desesperado, ele segurou Catherine em seu colo e correu o mais rápido que podia, mas não foram muitos os metros que ele conseguiu percorrer antes de ser agarrado pelo casaco e puxado para trás.

Catherine despencou no chão e Ryu foi arremessado ao longe.

Josh acelerou seus passos rumo a bruxa com sua cimitarra em punho, mas foi parado por uma nuvem de borboletas brilhantes, fruto da magia básica de Catherine. Ela nunca havia conseguido fazer tantas de uma vez, mas talvez o desespero tenha servido de impulso. No entanto, a pequena distração não foi suficiente para deter o inimigo. Encurralada entre Josh e um enorme tronco de árvore, Catherine só podia assistir a afiada lâmina de Joane se aproximar de seu corpo. O ataque de Josh não pode ser tão rápido quanto a aproximação de Ryu em defesa de Catherine.

A frente da bruxa ele não sabia bem qual atitude tomar. Em partes estava disposto a levar aquele golpe fatal e entendeu que Josh não pretendia recuar, não dessa vez.

— A mamãe precisa ir agora… — Kara não estava preparada para aquela despedida — Mas ela te ama muito.

— Mentirosa — Ryu disse de forma áspera antes de entrar em seu quarto e fechar a porta.

Uma criança tola que não tinha discernimento sobre as coisas. Por quanto tempo ele foi uma criança tola? Se sua mãe de fato era uma bruxa, quais desafios ela não teve que enfrentar? Quantos sacrifícios ela teve que fazer? Ela os amava, ele nunca havia sentido falta de amor. Mas ela os deixou e ele nunca soube lidar com isso. Mas agora ele sentia algo gritar em sua cabeça “Às vezes precisamos ir… precisamos deixar quem nós amamos. E às vezes, essa é a mais importante prova de amor.”

Uma última olhada para o rosto assustado de Catherine, fez com que Ryu sentisse seu coração aquecido. Ele não poderia deixá-la, não poderia fazer um sacrifício assim. Ele não era igual a sua mãe. Ficar era sua prova de amor. E ninguém o impediria de estar ao lado dela.

Com o punho fechado, Ryu desferiu um golpe inesperado contra a ponta da cimitarra de Josh. Nesse momento seu corpo inteiro se acendeu intensamente e uma aura poderosa cobriu suas mãos. O choque dos ataques resultou no estilhaçamento da arma e uma onda de energia poderosa fez com que Josh fosse arremessado há vários metros de distância.

— A espada… — Catherine sussurrava enquanto se lembrava da jovem bruxinha que havia conhecido em Pack.

Caído, Josh estava a ponto de perder a consciência quando se deparou com a imagem de Marie a sua frente. De joelhos, a pequena criança chorava sobre os pedaços da cimitarra destruída.

— Joane… — Josh se esforçava para alcançar a espada. Seus olhos marejados o impediam ter uma visão clara — Me perdoe Joane…

— Ryu! — Catherine correu para auxiliar seu companheiro, que aquela altura mal se aguentava de pé.

— Continue correndo Cat… — Ryu tentava afastar a garota enquanto se colocava de pé — Eu seguro ele!

“Ele mal conseguia segurar a si mesmo… do que estava falando?” A bruxa refletia. Mas naquele momento, preferiu seguir aquilo que lhe era instruído. Ela era o alvo, precisava manter isso em mente antes de tomar qualquer atitude precipitada.

Enquanto se afastava daquele campo de batalha, o som oco de um corpo despencando no chão fez com que a bruxa cessasse seu passos. Voltando seus olhos novamente para trás, ela viu Ryu ferido, enquanto Josh segurava a cimitarra ensanguentada em suas mãos.

Diante do companheiro agonizante com um buraco no peito, Josh tinha uma mistura de culpa e desespero. Existem sentimentos tão poderosos que podem corromper uma alma, quando essa alma se trata de uma relíquia, ela corrompe seu portador.

— Marie… — Josh sussurrou mas ninguém o respondeu.

Ele não poderia odiá-la, mas jamais a perdoaria.

Uma chuva intensa caiu sobre aquele lugar, espalhando o rastro de sangue por toda a parte.

— Catherine… — Ryu se agarrou a calça de Josh  — Fuja…

Ela queria obedecê-lo, queria sair dali. Mas suas pernas não se mexiam, seu corpo estava completamente paralisado.

— Por que? — A bruxa estava arrasada — Você era nosso amigo.

— Catherine… — Ryu se esforçava para falar — Ele não vai te ouvir!

— Eu não escolhi isso… — Diante de Catherine, Josh estava fragilizado — Mas você é perigosa… você é uma assassina…

— E você? — A garota o encarou — O QUE VOCÊ É? — Catherine berrava — QUEM TE DEU O DIREITO DE FERIR AS PESSOAS ASSIM?

Josh abaixou a cabeça.

— Fuja… — Ryu murmurou.

“Para onde?” Ela gostaria de perguntar.

Não estava tudo acabado? Não havia para onde ir, ou para onde voltar.

Josh caminhou em direção a Catherine. Apesar de sentir seu corpo inteiro tremer e seu coração a ponto de parar, ela não se moveu.

— Deixe o viver — Catherine sussurrou — Acabe com isso em mim.

Ryu estava com um buraco no peito, Josh queria ser sincero e dizer a ela que ele não sobreviveria. Mas gostaria de permitir que ao menos a sua partida, fosse tranquila, por isso apenas acenou positivamente com a cabeça.

Com apenas um movimento, Josh quebrou o pescoço da garota. Antes que seu corpo desfalecido despencasse no chão, ele a segurou em seus braços e a apertou contra seu peito. A dor que ele sentia era tão grande, que não era capaz de mensurá-la.

Deitado no chão, o rosto de Ryu estava mergulhado na lama. Josh caminhou até o guardião com a jovem bruxa morta ainda em seus braços e a deitou ao lado do moribundo.

— Me perdoe… — O caçador sussurrou.

— Tire as mãos dela — Ryu atacou Josh desordenadamente com o pouco de força que ainda lhe restava — Morra com essa culpa! Queime no inferno com ela!

Em silêncio, Josh se levantou e caminhou para longe dos dois. A chuva forte batia contra o seu rosto sujo e carregava as impurezas de sua pele. Ele gostaria de que ela também lavasse o sangue de suas mãos, mas ele estava impregnado em sua alma. Uma pequena mancha negra havia surgido em seu punho, aquilo só comprovava o que ele havia suspeitado. Marie estava profundamente corrompida e agora, ele também. Sem mais nada a fazer ali, ele seguiu seu caminho, sem nem ao menos saber para onde ir.

No chão, os dois corpos encharcados, eram cada vez mais engolidos pela lama.

— Cat… — Ryu tocava o rosto tranquilo da bruxa — Eu deveria ter cuidado melhor de você… Eu falhei…

O rapaz chorava amargamente aquela dor, enquanto seus olhos encharcados de lágrimas, aos poucos escureciam, devido a grande quantidade de sangue perdido.

— Fico feliz… Que a última imagem que eu verei... — Ryu sussurrava enquanto sentia seu corpo adormecer — É o rosto da mulher que eu amo. Não se preocupe, você não estará sozinha. Nunca estará sozinha.


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Notas finais do capítulo

Se você leitor fantasma ainda está entre nós, dê um sinal para eu saber que não estou escrevendo para o nada hahah



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