Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 59
Especial: As Crianças do Statera Parte 1


Notas iniciais do capítulo

FELIIIIIZ ANIVERSARIOOOO PARA QUESTÃO DE SORTE!
Um ano de história!
Segurem esse especial e mais um capítulo extra ♥



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A própria respiração ofegante, era tudo o que o jovem caçador do Statera conseguia ouvir naquele momento.

Ele corria com toda a sua velocidade, desviando dos obstáculos da densa floresta que cercava Otium.

Em sua mão carregava a chave para o fim daquela corrida desesperada.

— Ele está ali! — Alguém o havia notado.

Uma rápida verificação e ele se deu conta que tinham três inimigos na sua cola.

— Desista Ivan! — Um rapaz se aproximou do garoto — Você está cercado!

— Estou é? — O jovem Ivan fez surgir um sorriso confiante em seu rosto.

O perseguidor se sentiu um pouco intimidado mas continuou a tentar alcançá-lo.

— Te pegu-...

O garoto não teve tempo de terminar sua frase, quando teve o braço agarrado por Ivan.

— Não… eu te peguei! — Ao terminar sua fala, Ivan girou o inimigo no ar e o lançou contra os dois que estavam por vir.

Um dos perseguidores conseguiu se livrar do impacto do corpo do companheiro, mas os outros dois rolaram por alguns metros antes de finalmente pararem.

Usando a força das suas pernas, Ivan atingiu o chão com uma pisada poderosa,  fazendo flutuar algumas pedras. Logo em seguida, ele chutou o amontoado de terra fofa que havia surgido, formando uma imensa cortina de poeira.

O rapaz que o perseguia cessou seus passos e coçou os olhos, havia entrado areia ali, ele também estava tossindo muito, talvez pela falta de oxigênio.

No momento em que ele conseguiu se livrar daquele incômodo, se deu conta que Ivan não estava nem mais ao alcance de sua visão.

— Malditos combatentes! — resmungou.

Com a empolgação pulsando em seu peito, Ivan saltava as árvores como um macaco, até alcançar a muralha que determinava o fim daquela missão.

— Quase lá… — O garoto corria com determinação.

— Olá! — Uma garota saltou sobre os ombros de Ivan e tomou a chave de suas mãos.

Antes que ele pudesse tentar alcançá-la, ela saltou mais uma vez a frente dele e deu uma rasteira no caçador.

Ivan caiu de costas e suspirou, completamente frustrado.

— Muito lento, Ivan! — A menina tinha um sorriso triunfante em seu rosto.

O garoto se levantou para ver o caminho que a inimiga traiçoeira percorreria até a vitória, mas as coisas aconteceram diferentes do previsto.

A garota recebeu um soco no estômago, vindo de um inimigo inesperado. A chave flutuou pelo ar por poucos segundos antes de ser agarrada pelo recém-chegado, assim que pôs as mãos no que veio buscar, o rapaz chutou a menina tão violentamente, que ela rolou para longe, ultrapassando até o local onde havia deixado Ivan.

O garoto que agora detinha a chave, caminhou calmamente pela muralha até chegar a uma porta. Lá ele encaixou a chave e assim que a girou, uma sirene soou, seguida de uma voz que dizia:

— Vitória do time vermelho!

— Amélia! — Um dos rapazes que Ivan havia deixado para trás correu ao encontro da garota caída.

Ivan suspirou aliviado ao perceber que Amélia estava de pé.

— Blanc! — Ivan caminhou até o vencedor da disputa — Precisava de toda essa violência?

— Estamos em um campo de treinamento, se não estiverem dispostos a lidar com a violência, deveriam seguir outra carreira! — O garoto respondeu friamente enquanto encarava o companheiro de equipe.

— É… — Ivan refletiu alguns momentos — Você tem certa razão.

— Como de costume. — Blanc revirou os olhos.

— Mas… — Ivan tinha em seu rosto a empolgação de uma criança — VENCEMOS DE NOVO! — Ele deu alguns saltinhos e em seguida estendeu a mão — Bate aqui!

— Eu vou acabar batendo na sua cara se você continuar vacilando desse jeito! — Blanc repreendeu o companheiro duramente — Não é porque você é afim da Amélia que o nosso time precisa ficar em risco!

— AAAAA — Ivan se lançou em direção a Blanc e tapou a boca dele — Eu não sei do que você está falando! Ninguém sabe do que você está falando! Do que você estava falando?

Blanc encarou o amigo com certo desprezo e logo em seguida se libertou.

— Para de histeria, Ivan!

Ivan respirou fundo e começou a caminhar lado a lado do companheiro.

— Você poderia parar de falar tão alto… certas coisas sigilosas… — Ivan sussurrava.

— O que? — O tom de voz de Blanc era quase gritante — O seu amor platônico pela Amélia?

— AAAAA — Ivan se desesperou mais uma vez.

— Pode deixar… — Blanc disse de forma irônica.

Alguns minutos mais tarde, todos os participantes estavam no salão dentro da sede, onde seria entregue os prêmios de acordo com a colocação dos times.

Haviam um total de 8 grupos, compostos por 5 pessoas cada.

— Isso é uma injustiça! — Amélia protestava aos berros — Já é a terceira vitória deles esse mês! E só tivemos 4 provas!

— Erro meu… — Blanc comentou de forma arrogante — Acabei me distraindo no último jogo!

A garota passou um olhar raivoso ao pretensioso.

— Amélia, você pode parar de reclamar pelo menos em uma premiação? — Um homem que beirava os 40 anos e coordenava aquelas atividades, dizia de forma impaciente.

— Não! Eu não vou parar de reclamar a não ser que em algum momento vocês parem de deixar esses brutamontes na mesma equipe! — A garota estava irredutível.

— Que maldade Amélia… — Ivan odiava o termo brutamonte para se referir a sua condição física.  Blanc por outro lado, encarava aquilo como um elogio a sua boa forma.

— Você não vai parar de reclamar Amélia — Blanc interferiu mais uma vez — Não importa o motivo, você sempre fica falando e falando! Tenho pena do homem que se casar com você!

— Eu não… — Ivan sussurrou.

— O que disse Ivan? — O tom de voz de Blanc era quase como um grito — Você tem inveja do homem que se casar com a Amélia? Que péssimo gosto!

O rosto de Ivan ficou tão vermelho que era quase como se ele estivesse passando mal, Blanc por outro lado, estava gargalhando como nunca.

Amélia também ficou envergonhada, mas diferente de Ivan, manteve seu semblante intacto.

— Chega de algazarra crianças! — O coordenador ordenou e após conseguir o silêncio, prosseguiu com as premiações.

Já a noite, no quarto em que dividia com Ivan nos dormitórios, Blanc pendurava a sua nova medalha junto com as dezenas que enfeitavam a parede.

— Essas coisas são muito importantes para você não é? — Ivan observava o esmero que o colega tinha com os objetos.

— São sim… — Blanc deu um suspiro — São como pequenos sinais de que eu estou seguindo o caminho certo!

— Sua família deve ter muito orgulho de você! — Ivan sorriu de forma terna.

— É… O título de duque do meu pai faz o meu sobrenome ser muito pesado — O rapaz se sentou na cama e encarou o colega — Tudo o que eu faço é “o mínimo esperado de um Lagunov”.

— Que injustiça! — Ivan franziu a testa — Você tem as melhores notas, o maior número de medalhas! Vai liderar o Statera um dia sem sombra de dúvidas!

Blanc deu de ombros e Ivan concluiu — E tudo isso com seu próprio esforço!

— Você é um puxa saco… — Blanc estava um pouco sem graça — Mas também é um idiota e isso me faz saber que posso acreditar no que diz.

— Isso foi um elogio?

— É o melhor que terá de mim! — Blanc disse de forma descontraída.

No dia em que se conheceram, Blanc havia sido apresentado como novato no Statera, ele tinha por volta de 12 anos e o seu título de duque provocou muito reboliço.

Alguns correram para tentar fazer amizade com a celebridade mirim, outros repudiavam a atenção privilegiada que ele recebia.

Ele por outro lado, escolheu se afastar de todos e se isolar na última cadeira da sala.

— AAAAA

Uma aparição inesperada surpreendeu o jovem duque durante o intervalo.

— Esse é o volume 44 de Guardiões do Continente! — Ivan saltava de um lado para o outro como um animal agitado.

Aquele comportamento fugia completamente do que Blanc estava acostumado, o ambiente silencioso da mansão em que viveu todos os dias da sua vida até aquele.

Claramente incomodado, o garoto não respondeu ao estranho e continuou sua leitura, torcendo para que o intruso fosse embora.

— Eu achei que só iria sair mês que vem! — O menino continuava empolgado — Onde você conseguiu esse?

Blanc espiou o rosto do inconveniente por cima da revista, mas continuou em silêncio.

— Você é mudo? — Ivan se mostrava confuso. As suas palavras pareciam ironia, mas sua expressão tinha tanta sinceridade que era claro que ele não estava brincando.

— Por que você está me incomodando? — Blanc soltou.

— Porque eu quero saber onde você conseguiu essa revista! — Ivan respondeu instantaneamente.

Blanc arregalou os olhos um pouco surpreso com franqueza, mas em seguida tentou intimidar:

— Você sabe quem eu sou?

— Não… — Ivan coçou a cabeça um pouco sem jeito — Você parece novo, mas eu dormi no início da aula e acho que perdi a sua apresentação.

Blanc suspirou um pouco mais tranquilo.

— Eu me chamo Blanc… Blanc Lagunov!

O garoto deu uma risada discreta e se apresentou.

— Do que está rindo? — O jovem nobre se sentiu desconfortável — Não sabe o significado do meu nome? Sabe a que classe eu pertenço?

— A dos crustáceos? — Ivan era incapaz de conter sua risada.

— O que? — A aquela altura, Blanc já havia deixado a revista de lado e se focado totalmente no garoto estranho.

— Lagunov me lembra lagostas! — Naquele momento Ivan se entregou totalmente a uma gargalhada intensa.

Blanc não se sentiu ofendido, não era incômodo aquela reação, era apenas diferente.

— Eu sou um duque. — Ele tentou uma última vez, agora com todas as letras, esperava uma reação tradicional.  Uma reverência, talvez revolta ou mesmo aqueles olhares invejosos que almejavam aquele lugar ao sol em que ele estava. As amizades interesseiras que foi cercado em todo lugar em que esteve fora da nobreza.

— Um duque? — Ivan parou pensativo por alguns segundos e em seguida perguntou — Foi por isso que você conseguiu essa revista antes de todo mundo?

Blanc balançou a cabeça positivamente.

— Ah! — O garoto se irritou — Que injusto! Por que vocês ganham antes?

“Porque eu sou um nobre.” Blanc entendia que não havia uma melhor justificativa para aquilo, mas para o garoto não. Ele não compreendia a diferença entre um nobre e um plebeu. Blanc pensou em tentar deixar isso claro para ele, mas depois concluiu que aquilo não era um problema… Talvez fosse uma qualidade.

— Quando eu terminar de ler… — Blanc disse enquanto assistia Ivan se afastar — ...eu te empresto!

Ivan parou seus passos, encarou o duque e abriu um largo sorriso.

— Sério? — Ele saltou animadamente — Você é um cara muito legal!

Blanc pôs um leve sorriso em seu rosto, gostava de ser o cara legal por emprestar uma revista. Alguns eram nobres de títulos e outros de alma, o duque, mesmo ainda muito jovem, já havia decidido qual nobreza ele queria ostentar.


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Notas finais do capítulo

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