Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 24
Nada Menos Esperado do Demônio de Otium


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo da temporada!
Vocês estão preparados?



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— Eu sempre soube que a Medonha era... Medonha… — Catherine tinha uma expressão apreensiva — mas não imaginava algo tão ruim.

Ryu permaneceu em silêncio, com a cabeça deitada no colo da bruxa.

— Mas foi só um pesadelo… — A garota não sabia bem o que falar, por isso apenas acariciava os cabelos de Ryu, na tentativa de afastar mais pensamentos. — Minha vó dizia que se a gente passar a mão na cabeça quando acorda, esquecemos do que sonhamos.

— Isso é coisa de bruxa? — Ryu tentava uma piada.

— Ela era humana! — Catherine deu um cascudo na cabeça de Ryu — A mãe do Ivan.

— Pancada de bruxa também serve? — Ryu esfregava o local da batida.

— Não sei porque eu ainda perco meu tempo com você. — Catherine torceu o nariz.

Ryu se levantou do colo da menina e com um sorriso disse:

— Porque você é a favor do auto sacrifício.

A bruxa virou o rosto.

— Obrigado… — A voz do guerreiro estava terna — Não sei se eu conseguiria me sentir melhor se não falasse com você.

O rosto de Catherine ficou vermelho e ela não voltou a encarar Ryu:

— Agora que está melhor deveria voltar para o seu quarto. Se alguém te pegar no meu quarto a essa hora, pode acabar pensando em coisas…

— Que tipo de coisas? — O guardião tinha uma expressão travessa.

Ele sabia do que se tratava, mas era divertido deixar a garota sem graça.

— Você sabe… — Catherine murmurou.

— O que? — o garoto se aproximou da bruxa — Não consegui te ouvir direito.

— CAI FORA RYU! — A bruxa lançou um travesseiro na direção do rapaz.

Mesmo sendo atingido em cheio na cara, o guardião foi incapaz de conter as gargalhadas.

— Te vejo mais tarde então.

Depois de se despedir, Ryu saiu do quarto da garota com um sorriso estampado em seu rosto.

Novamente sozinha, Catherine sentiu seu coração quente.

Ela não sabia bem o porquê, mas ser a primeira pessoa em quem Ryu pensou em um momento de desespero lhe causava uma felicidade inexplicável.

Depois de alguns minutos reflexiva, a garota balançou a cabeça rapidamente na tentativa de afastar aqueles pensamentos.

Eram 8 da manhã e Kai se espreguiçava em um banco no pátio do hotel.

O sol daquele horário era o favorito do bruxo. Todas as manhãs, ele se deitava em um lugar bem iluminado e meditava.

Era impossível ficar no mesmo local que ele, pois o seu corpo naquele estado refletia uma luz cegante.

— Uma funcionária veio pedir afastamento na direção do hotel. — Lya apareceu repentinamente e jogou um lençol escuro sobre o corpo do marido.

— Ai. — Kai murmurou

— O rosto da garota estava coberto de arranhões. Ela disse que se acidentou enquanto trabalhava, mas essa história está muito mal contada. E adivinha qual foi o último quarto que ela limpou antes de aparecer na direção?

— Bortoluzzi… — Kai retirava o incômodo lençol do rosto. A essa altura ele já havia adquirido a cor de um humano comum, ou quase.

— EXATAMENTE! — Lya se empolgou — Tá todo mundo muito preocupado se a Catherine Gibran vai se tornar perigosa depois de treinar no santuário, mas ignoram completamente a maluca da Clarisse! Eu tenho certeza que foi ela quem incendiou a feira em Ita!

— Lya… não podemos ter “certezas" sem provas.

— Você… é uma prova!

— Não vou vasculhar a mente de uma Bortoluzzi.

— É importante, Kai! — Lya insistiu — Você precisa fazer isso!

— E se eu não fizer? Eu vou ser disciplinado? — O bruxo tinha uma expressão de desdém em seu rosto — Além do mais, se eu me apresentar como testemunha chave na acusação de uma bruxa, serei questionado sobre a minha verdadeira função em Otium... Eu estou bem onde estou!

Lya logo notou o erro cometido.

— Eu sinto muito…

— Tudo bem — Kai suspirou— Esquece isso. Temos um longo dia de trabalho hoje.

A bruxa apenas acenou positivamente com a cabeça, ainda envergonhada.

— Bom dia! — Ryu acenou para seus amigos.

— Bom dia. — Kai sorriu — Parece que a noite foi boa.

— Na verdade eu tive pesadelos horríveis. — O garoto coçava a cabeça um pouco sem jeito.

— Mas vejo que passar parte da noite com a bruxa do azar te fez um bem danado. — Kai comentou.

— O que??? — Se tentasse descrever a reação de Lya de forma caricata, ela certamente estaria com o queixo no chão.

— N-não é isso… — Ryu ficou vermelho.

— O que eu estava fazendo que não vi você crescer? — Ignorando o rapaz a bruxa se sentou no banco ao lado de Kai.

— Se eu fosse chutar eu diria algo como “preenchendo relatórios.” — Kai soltou.

— Ei! Quantos anos aquela garota tem? — Lya se dirigiu a Ryu irritada — Não quero você se envolvendo em problemas com a polícia!

— Eu realmente mereço isso? — O guardião tinha uma expressão de descontentamento estampada em seu rosto.

Um cavaleiro se aproximou do trio e após descer de seu animal, se curvou e começou a falar:

— Senhorita Lya, houve falha na segurança da cidade e eu fui instruído a convocá-la para que me auxilie na guarda.

— Entendo — Lya assumiu um tom sério — Vejo vocês mais tarde.

Após se despedir dos dois Lya acompanhou o soldado.

— Acha que algo grave aconteceu? — Ryu perguntou a Kai.

— É melhor ficar em prontidão. — ele respondeu de forma séria.

Ryu ficou nervoso, foram poucas vezes que algo conseguiu deixar o bruxo daquele jeito.

Sem nenhuma oposição, ele apenas se dirigiu até o seu quarto para se preparar para essa tal falha.

Nas fronteiras de Vanitas, Lya e o soldado se juntaram a mais um grupo de outros oficiais.

No chão, estavam espalhados os corpos de 8 homens, todos eles em avançado estado de decomposição.

— Sei que parece estranho, mas eu falei com esse cara ontem a noite — Um guarda se aproximou de Lya.

— Todos esses homens parecem mortos há dias. — O soldado que havia trazido Lya comentou.

— Uma bruxa impura. — Lya analisava o corpo — É difícil ter certeza, mas parece ser do tipo venenosa.

Ao ouvir as informações vindas da mulher, todos os oficiais ficaram nervosos. Uma bruxa venenosa é um tipo muito temido por qualquer humano. Até mesmo os caçadores mais experientes tinham dificuldade em combatê-las.

Agachada próximo ao corpo, Lya estava pensativa, tentando ignorar os murmúrios ao seu redor. Ela estava se concentrando, tentando sentir o cheiro do invasor. Não era muito difícil para uma bruxa treinada localizar outras bruxas próximas.

Uma brisa suave mexeu os cabelos da garota e tornou a sua expressão aterradora.

— Senhorita Lya, está tudo bem? — Um dos homens se aproximou dela.

— Toquem a sirene de emergência. — Lya se levantou rapidamente.

— Uma ameaça nível S? — O homem estava assustado — Uma bruxa precisa de tudo isso?

— Não se trata apenas de uma e sim de dezenas!

As palavras de Lya puseram terror nos corações de todos os homens ali presentes.

Um deles montou em seu cavalo e cavalgou a toda velocidade na tentativa de cumprir a ordem dada pela bruxa. Mas logo após se afastar alguns metros do grupo foi engolido por uma cratera gigantesca que parecia ter o formato de um rosto.

Enquanto Lya se preparava para ajudar o oficial teve seu punho direito preso por raízes grossas e foi arrastada na direção da floresta que cercava a cidade.

Usando reforço mágico, Lya cravou a mão livre no chão, o que fez com que ela interrompesse o trajeto. Ela então reforçou ao máximo o seu braço direito e puxou as raízes na sua direção.

O inimigo, que a essa altura ainda não havia sido identificado, voou pelo ar na direção da bruxa.

Assim que estava em seu alcance, Lya o atingiu no rosto com força suficiente para deixá-lo desacordado.

Antes que pudesse se livrar das raízes Lya sentiu o chão abaixo de seus pés ceder e logo em seguida foi sugada por completo.

— Senhorita Lya! — Um dos oficiais se aproximou do local mas não havia mais vestígio da bruxa.

— Perdermos a chefe de segurança! — O homem anunciou.

Uma explosão fez com que esse homem fosse arremessado longe. Do enorme buraco do chão, Lya surgia com uma expressão de ódio estampada em seu rosto.

Do meio de toda a lama provocada pelos poderes da bruxa, um homem e um cavalo coberto de terra tentavam se pôr de pé.

— Obrigada… senhora… — Em meio a tosses o resgatado tentava forçar algumas palavras.

— Eu te dei uma ordem soldado. — Lya encarou o homem.

— Sim senhora! — O homem fez posição de sentido, correu em direção ao seu cavalo e retomou seu caminho inicial.

— Todos vocês, vão embora daqui! — Lya passou o comando.

— A senhora vai ficar aqui sozinha contra os invasores? — Um dos oficiais se mostrou preocupado.

— É de fato… — Lya tinha uma expressão de desdém em seu rosto — É realmente injusto para eles.

— Nada menos esperado do demônio de Otium. — O homem que antes havia anunciado a morte da bruxa, estava incrédulo.

Todos os homens correram na direção do centro da cidade. A terra atrás do grupo começou a ondular de uma forma estranha. Com um pequeno estalar de dedos, Lya fez o amontoado de terra explodir e uma mulher, que se escondia sob o solo, voou a metros do chão.

— Foque em mim querida. — Lya sorriu.

Aproveitando a deixa , a bruxa conjurou um feitiço enquanto tocava o solo. Ela não teve muito tempo, pois uma enorme cabeça de lama surgiu a sua frente. Usando reforço em suas pernas, Lya saltou a uma distância considerável do monstro de terra e depois saltou novamente sobre ele. Assim que as mãos da bruxa tocaram a superfície da cabeça gigante, uma explosão enorme fez com que a criação desmoronasse.

Lya aterrissou sobre os restos de areia e foi novamente sugada para debaixo do solo e mais uma vez ela explodiu sua entrada para fora da prisão de terra.

A bruxa inimiga correu na direção de Lya, usando sua magia para fazer com que pedras fossem arrancadas do solo e jogadas contra a adversária.

Sem nenhuma dificuldade a moradora de Otium detonava as pedras antes que tocassem em seu corpo.

— Você não entende quando desistir? — Lya avançou até a invasora e a golpeou no estômago.

A bruxa caiu de joelhos devido a dor, mas isso não a impediu de usar sua magia para enfraquecer o solo abaixo dos pés da inimiga. Sem hesitação, Lya chutou o rosto da mulher a deixando inconsciente.

“Não há presença de medo ou hesitação, é como se ela não sentisse nada.” Lya refletia enquanto observava o corpo da bruxa estirado no chão.

Um soco inesperado fez Lya rolar alguns metros do local onde estava. Sentindo o rosto latejar, ela tentava descobrir a origem do golpe, mas não havia ninguém no seu campo de visão.

Um estrondo fez com que a bruxa identificasse seu inimigos. Detonações em sequência, fazia chover bruxas mortas. O feitiço que Lya havia conjurado enquanto lutava com a bruxa de terra, eram várias minas invisíveis cercando o caminho que levava a cidade.

Diante da agressora invisível agora revelada, Lya sorriu.

— É uma técnica de camuflagem muito boa, tenho que admitir. — ela se pôs de pé — E ainda conseguiu esconder tantas bruxas? Você é muito talentosa.

A bruxa inimiga correu na direção de Lya e desferiu um ataque. Usando as mãos em formato de cruz à frente do corpo, ela se defendeu.

A adversária sacou uma adaga e atacou a bruxa de Otium, mesmo tendo bons reflexos, Lya levou um corte profundo no ombro.

Sem nenhuma pausa a bruxa tornou a atacar com a lâmina, percebendo uma entrada para ataque, Lya desferiu um golpe espalmado no peito da bruxa.

A adversária recuou devido a ausência de oxigênio. Sem desperdiçar a oportunidade Lya a atingiu com um chute giratório reforçado, fazendo a bruxa voar a uma distância inacreditável, parando somente após se chocar com um tronco de árvore.

Lya se preparava para impedir as outras bruxas, quando percebeu que tudo a sua volta havia desaparecido.

A bruxa teve seu braço agarrado, instintivamente ela golpeou o inimigo, mas seus punhos não haviam feito nenhum estrago.

A mulher que a mantinha prisioneira era uma velha que parecia ter mais de dois metros de altura, mas ao olhar para o seu pequeno braço Lya percebeu que ela é quem havia diminuído.

— Que tipo de feitiço é esse? — Lya tentava se libertar a todo custo, mas seus esforços eram inúteis.

Mesmo a magia de reforço parecia não funcionar contra a bruxa impura.

De repente Lya se viu no centro de Otium, cercada de pessoas que pareciam seguir as suas vidas sem nenhum empecilho.

Um estrondo seguido de uma onda de chamas consumiu todo o cenário fazendo restar apenas cinzas e gritos.

— Eu não fiz isso… — Lya estava atônita — Eu nunca fiz isso…

A bruxa caiu de joelhos completamente tomada por desespero, os olhos cheios de lágrimas transbordavam vez após vez enquanto ela tentava entender o que se passava.

— LYA! — Uma voz familiar soou ao longe.

Aos poucos o cenário se desfez e Lya se viu novamente em Vanitas, nos braços de Kai.

— Você está bem? — Kai encarava a garota.

— Eu não matei ninguém… — Lya estava completamente fora de si.

— Não matou. — Kai segurava o rosto da garota e a olhava firme nos olhos — Isso foi uma magia de ilusão.

— O que… — Lya sentia sua sanidade voltar aos poucos — O que está acontecendo?

A bruxa se pôs de pé e tomou posição de batalha.

— Aquela bruxa é um tipo impuro muito raro, lidar com ela foi fácil devido a minha vantagem natural. — Kai explicou — Ela estava sugando a sua energia vital enquanto te mantinha em uma ilusão.

Lya sentiu um arrepio percorrer o seu corpo, mas escolheu manter uma postura firme.

— Algum inimigo passou pela fronteira?

— Dezenas. — Kai se pôs de pé.

— Como? A sirene foi tocada?

— Sim… — Kai suspirou — Tem uma guerra estourando na cidade.

— Meu Deus… — Lya levou a mão a cabeça — Quanto tempo eu fiquei fora do ar?

— Aparentemente quase uma hora… — O bruxo tinha pesar na voz — Eu só não entendo porque não te mataram quando tiveram chance.

— Aquilo era uma bruxa devoradora de almas certo? — Lya esperou até que o marido respondesse, tendo a confirmação ela continuou — Essas bruxas agem por puro instinto, como se fossem animais agressivos. Eu não fui morta porque a bruxa impura que me atacou não mediu consequências, não entendeu que me matar era o mais seguro a se fazer. Ela só estava se alimentando.

— Está me dizendo que essas bruxas não têm consciência? — Kai estava surpreso.

— Estou. — Lya o encarou — Total ausência de sentimentos comuns, parecem estar programadas para matar tudo a sua frente.

— Isso torna as coisas mais complicadas — Kai tinha uma expressão séria — Se elas não tem um objetivo, todos em Vanitas são alvos.


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Notas finais do capítulo

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