Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 12
A Bruxa Incendiária


Notas iniciais do capítulo

Quase atrasada, mas cheguei!



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— O que há com você, Ryu? — Ágata perguntou após o silêncio contínuo do garoto.

— Eu estou preocupado com uma pessoa. — Ryu suspirou — Faz algumas horas que eu não a vejo.

— Namorada?

— Não, ela é uma amiga que eu estou acompanhando na viagem. Brigamos mais cedo e ela acabou se afastando de mim. — O guerreiro encarava o vidro do restaurante, olhando para o horizonte.

— Isso parece coisa de namorados! — A menina sorriu.

Ryu permaneceu em silêncio enquanto refletia sobre o que havia acontecido naquela manhã.

— RYU! — A menina bateu na mesa com força. — Pare de ficar tão calado!

Diante da surpresa do garoto, Ágata deu uma gargalhada.

— Se você quiser eu posso te ajudar a…

— FOGO! — Um homem entrou às pressas no estabelecimento, interrompendo a fala de Ágata — Ajudem!

— Vamos! — A garota chamou Ryu.

Atendendo ao chamado, ele a seguiu. Com exceção de alguns idosos, todos que estavam próximos correram para ajudar a apagar o tal incêndio.

Não demorou muito para que os dois chegassem ao local da confusão. Era uma espécie de feira que estava sendo consumida pelas chamas. Distante de toda a destruição, alguns moradores sujos de fuligem eram amparados por voluntários.

— Como está a situação? — Ágata se aproximou de um conhecido.

— Quase todo mundo conseguiu sair, mas soube que ainda tem algumas pessoas lá dentro. — O homem estava um pouco sem fôlego.

Não demorou muito para que um alvoroço tomasse conta do local, e os moradores corressem em direção a suposta saída da contrução em chamas.

Um homem alto coberto de cinzas saiu do meio da destruição, carregando duas pessoas desacordada em seus braços.

Apesar de toda a fuligem cobrindo o seu rosto, Ryu reconheceu Josh.

Após entregar as vítimas para que o povo pudesse cuidá-las, Josh foi arrebatado pela multidão.

Ele foi coberto por uma infinidade de agradecimentos e muitos o perguntavam o que poderia ser feito para que aquele herói fosse recompensado.

— Um jantar estaria de bom tamanho! — Josh respondeu um pouco tímido.

— Senhor Lancelot… — Ryu esgueirou-se pela multidão.

— Você! — Josh virou-se com brutalidade, seu rosto estava vermelho e ele estava visivelmente envergonhado — Não me chame assim!

— Senhor Lancelot… — Ryu ergueu uma das sobrancelhas e apontou para a cabeça de Josh — Seu cabelo está pegando fogo!

— O que… — Notando a veracidade nas palavras de Ryu, o garoto começou a estapear sua própria cabeça e correu em direção a um balde cheio de água.

Depois de molhar o local atingido e se livrar por completo das chamas, Josh suspirou enquanto olhava o seu reflexo.

— Desse jeito eu nunca vou arranjar uma namorada!

— Fica tranquilo amigo! — Ryu deu tapinhas nos ombros do caçador — O estrago nem foi grande.

— Você acha mesmo? — Josh se mostrava animado, mas logo sua feição se fechou — Não somos amigos!

— Não, não somos! — Ryu sorriu de forma cínica — Mas eu gostaria de saber se você encontrou por aí… uma certa bruxa que temos em comum.

— Quem deveria saber sobre ela é o que se diz guardião, não é mesmo? — Josh se afastava dele em passos largos.

— Ela é mais difícil do que parece ser! — Ryu o acompanhou.

— Pare de me seguir! — Josh acelerou seus passos.

— Eu não estou te seguindo, por coincidência estamos tomando o mesmo caminho. — Ryu acompanhava os passos do caçador sem esforço algum.

— Você só pode estar de brincadeira… — Josh corria mais depressa.

No fim os dois estavam correndo a toda velocidade.

Nos pastos que cercavam a cidade de Ita, Catherine desabafava com o seu cavalo.

— Ela nem era bonita! — A garota escovava o pelo de Tommy pensativa — Quem gosta de um cabelo tão brilhante?

Tommy balançou a cabeça para cima e para baixo, como se demonstrasse concorda com a opinião de Cat.

— E você viu como os olhos dela eram grandes? — A menina suspirou enquanto abraçava o companheiro — O que há comigo, Tommy?

— Você está com ciúmes! — Uma voz inesperada fez Catherine pular.

— É falta de educação interromper uma conversa assim. — Cat estava irritada.

Heitor olhou para o cavalo, olhou para Catherine e repetiu isso algumas vezes com uma expressão de desaprovação no rosto. Aquilo não poderia ser considerado uma conversa.

— Como eu dizia… — Heitor suspirou — Você tá com ciúmes do seu “amigo” porque ele tava super empolgado na conversa íntima com aquela garota insanamente linda.

Uma expressão de descontamento preencheu o rosto de Catherine:

— Ela não era tão bonita... e aquilo não era uma conversa íntima.

— Você vai chorar de novo? — A feição de Heitor se fechou.

— Não… — Catherine estava chorando.

Ao notar a aproximação do garoto, a bruxa correu.

— Volte aqui! — Heitor a seguiu — Eu preciso te abraçar!

— Você é doido! — Catherine correu mais depressa.

Dentro da pequena casa de campo, os velhos avós de Heitor repousavam. Foi então que um barulho incessante de batidas na porta os fizeram levantar assustados.

— Abram a porta! — Uma voz masculina gritava de fora — Eu sei que ela está ai!

Assim que a porta foi aberta, meia dúzia de homens pularam para dentro da casa.

— Ficamos sabendo que uma bruxa está escondida nessa casa e que ela foi responsável pelo incêndio na feira do centro! — Um dos homens explicou.

— É você? — Um homem agarrou o braço da avó de Heitor.

— Deixa ela em paz! — O marido da senhora se manifestou, mas foi empurrado brutalmente para longe.

— Vamos levar essa aqui! — O invasor estava sério — Uma velha bruxa não é algo muito difícil de se encontrar.

— Larguem a minha vó! — Heitor entrou pela porta dos fundos, desesperado — Ela não é bruxa!

— Não tente impedir a lei, moleque! — Dois homens continham a aproximação do garoto.

— Ela é inocente. — Catherine se aproximou.

— Por acaso vai me dizer que você é a tal bruxa? — Um dos invasores se aproximou de Catherine. — Por via das dúvidas vamos levar as duas.

— Não precisam ter dúvidas… A senhora não tem nada a ver com isso — Enquanto falava, Catherine ergueu uma das mãos.

Uma luz púrpura surgiu de sua palma e tomou a forma de uma mariposa. O pequeno inseto brilhante voou até o homem que se aproximou dela. O homem correu da pequena magia com todo o desespero que poderia expressar, mas assim que a mariposa o alcançou, explodiu em um pequeno brilho bonito.

— ELA É PERIGOSA! — Um dos moradores gritou.

Em silêncio, Catherine apenas levantou as mãos em sinal de rendição e abaixou o rosto um pouco envergonhada.

Não demorou muito para que alguns dos homens amarrassem as suas mãos e a arrastasse para fora.

Com uma expressão decepcionada em seu rosto, Heitor seguiu a prisioneira até o lado de fora.

— Catherine… — Os olhos de Heitor pareciam incrédulos diante do que via.

— Deveríamos levar a família também — Um dos invasores se manifestou — Afinal ajudar uma bruxa dessas também faz deles criminosos!

— Não! — Catherine estava um pouco desesperada — Eu… eu os enfeitiçei… Para me ajudarem.

Satisfeito com a resposta da garota, os homens puderam sentir até um pouco de pena da família manipulada pela “magia do demônio”.

Antes de ser levada, Catherine olhou para Heitor uma última vez, e apesar de não dizer nada, seus olhos imploravam por perdão.

O garoto sorriu para a bruxa, um pouco confuso, mas agradecido.

De volta para dentro de casa, viu seus avós abraçados e nervosos.

— Você tinha razão, não devíamos ter trazido uma estranha para casa… — A avó de Heitor lamentava.

Um arrependimento consumiu toda a mente do rapaz. No momento que os velhos haviam oferecido abrigo para Catherine, ele tinha sido totalmente contra. Disse que eles deveríam ser mais cuidadosos e não abrir a casa para qualquer um, mas agora diante de toda aquela situação, Heitor tinha certeza de que estava errado.

— Eu não acho que Catherine tenha alguma culpa nisso.

— Mas ela mentiu e…

— Ela teve medo que acontecesse exatamente o que acabou acontecendo! — Heitor interrompeu a frase do seu avô e em seguida saiu de casa.

Não muito distante dali, Catherine estava sendo arrastada pelo caminho até a cidade. A corda que prendiam seus punhos estava presa a um cavalo e ela precisava seguir o seu ritmo. Depois de uma longa caminhada em meio a tropeços, Catherine finalmente estava na cidade, assim que chegou viu os restos da feira incendiada. Um vazio agonizante brotou em seu peito, era como ela se lembrava de Pacem, sua cidade natal. A culpa que ela carregava nas costas, desde antes de ter consciência de seus atos.

— Ali era a fonte de renda de muitas famílias! — Um homem que caminhava atrás de Catherine disse com desdém e depois empurrou a garota, forte o suficiente para que ela caísse no chão — Por sorte ninguém morreu.

De joelhos, a bruxa não teve tempo de se levantar, pois a corda que prendia suas mãos a arrastou pela lama. Um dos homens a pôs de pé com brutalidade, ela cambaleou um pouco mas acabou se equilibrando. Catherine não disse nenhuma palavra e não derramou nenhuma lágrima.

— Aqui está! — Josh estava completamente sem fôlego enquanto apontava para uma casinha no campo. — Agora me deixe em paz!

— Do que está falando? Fazemos uma boa dupla! — Ryu não economizava no cinismo.

O caçador lançou um olhar de ódio em Ryu, afinal ele o fizera correr em círculos por mais de uma hora. Josh achou que poderia vencer o guerreiro pelo cansaço, já que considerava sua resistência física muito boa, mas lá estava o inimigo, com disposição para mais uma daquela.

— Tommy! — Ryu avistou o fiel companheiro de Catherine — Acho que você nos trouxe ao lugar certo, senhor Lancelot.

Antes que Ryu pudesse alcançar o cavalo, desviou de uma pedra por puro reflexo. Ele poderia pensar que era obra do mau humor de Catherine, mas se fosse esse o caso, ele com certeza teria sido atingido.

— Você é o cara do restaurante! — Heitor, o autor do disparo, se aproximou de Ryu a passos rápidos — Eu não sei quem é você, mas eu sei que deixou a Catherine sozinha!

— Onde está a Cat? — Ignorando as reclamações do garoto, Ryu focou apenas no que lhe interessava.

— Ela foi levada pelos moradores da cidade… — O semblante do garoto caiu.

— O que? Por que? — Ryu estava um pouco desesperado.

— Vieram aqui acusando ela do incêndio na cidade, ela provavelmente vai ser queimada… — Heitor encarou Ryu — Você precisa ajudar ela! Eu não sei muito sobre a Catherine, mas ela passou o dia inteiro comigo…  Eu não acredito que ela seja culpada.

Ryu tinha uma expressão confusa em seu rosto. O garoto a sua frente, provavelmente não sabia muito sobre a bruxa. Estar com ele não era nem de longe um bom álibi para Catherine, afinal os poderes dela não eram visíveis e nem ao menos necessitavam de esforço por parte da garota.

Ryu sabia que não haveria possibilidade de Catherine ter feito aquilo de propósito, então mesmo que ela fosse responsável pelo o que aconteceu ainda era inocente.

— Para onde a levaram?

— Muito provavelmente para o centro, o lugar exato você encontra seguindo a multidão. — Heitor explicou.

Ryu se virou em busca de Josh, mas ele já havia desaparecido. O guerreiro não sabia o quanto da história o caçador tinha escutado, mas levando em consideração o seu histórico, ele não parecia ser de grande ajuda.

— Tommy! — Ryu correu em direção ao cavalo e o montou com apenas um salto — Eu sei que você quer encontrar ela tanto quanto eu, então é melhor que você…

Ele não teve tempo de terminar a sua frase, pois animal correu a toda velocidade em direção ao centro.


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Notas finais do capítulo

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