Depois que você partiu escrita por Agatha


Capítulo 2
Outras dores, outros medos


Notas iniciais do capítulo

Bom, aí está mais um capítulo. Queria dizer que a minha meta é de um capítulo por semana, a não ser que aconteça algo que me impeça disto, então todas as terças pretendo postar um novo capítulo.
Também queria agradecer à Anne Carli, por seu comentário e por, com isso, ter me feito ficar feliz da vida mesmo durante uma aula de física ♥
Comentem...
Boa leitura ♥



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POV VAMPIRA

— Olha, guria... – Logan parece confuso, indeciso, no meio de um conflito, ele passa as mãos por os cabelos, impaciente – Eu preciso ir.

Fiquei estática enquanto Logan ligava a moto e se afastava de mim. Céus, o que havia acontecido? Quando ele começou a se afastar com a moto não pude evitar o impulso de correr atrás dele, me afastando da mansão, mas era inútil, eu sabia que não iria alcança-lo. Ele iria em bora, não iria voltar. A dor do abandono começou a tomar conta do meu peito e eu não aguentei, antes que pudesse pensar em segurá-las, as lágrimas já caiam, abundantes e grossas. Eu sabia que ele podia me ouvir e saber que ele não voltaria mesmo sabendo que eu chorava fazia a dor aumentar.

— Logan... – chamei-o, não tão alto, mais por impulso, a essa altura, não tinha certeza se ele poderia me ouvir.

Sem saber o que fazer, passo as mãos pelo meu rosto. Ele havia me beijado, me beijado de verdade. Havia feito meu coração disparar como o de uma criança pela primeira vez em uma montanha russa de tanta emoção, fizera meu peito aquecer-se de um jeito que eu nunca havia sentido antes, eu me enchi de esperanças, achei mesmo que ele poderia ficar, por mim... mas quando ele me soltou, senti o medo tomar conta de mim, o peito congelar e apertar forte, dificultando minha respiração, as esperanças sumiram. E esse sentimento agora crescia em meu coração, a dor aumentando junto ao choro... sentia meu peito voltar a arder, mas desta vez, era como se houvesse uma espada em brasas, que nunca esfriava, atravessando o meu coração. Ardia, doía, sangrava.

Ele iria em bora, mais cedo ou mais tarde, eu já sabia disso. Já sabia que ele a amava, já sabia que essa seria a escolha dele. Eu sabia que isso ia acontecer MERDA, EU SABIA. Então por que doía tanto? Por que, a partida dele me fazia ter vontade de arrancar o coração para parar de sentir aquela dor? Por que eu achei que ele poderia ficar por mim? POR QUÊ? Ele a amava, AMAVA. E eu sabia bem disso. Não importava o quão boa eu tentasse ser, eu não era o suficiente. Nem todos nós juntos seriamos suficientes. Só ela seria, por que ele a amava e nunca me amaria assim. Eu nunca seria o suficiente.

Diante desses pensamentos a dor aumentava de uma maneira que eu não achava que seria possível. Céus, isso não tem fim? Deus, eu o havia perdido pra sempre.

Perdido? Ele nunca foi seu.

A voz na minha cabeça lembra algo doloroso, realmente, ele nunca foi meu. Mas há algo errado, é a minha voz, mas não é como se fosse meu consciente, pelo menos não sozinho, há mais alguém, uma voz ao fundo, algo que eu não conseguia compreender...

Uma pontada na cabeça me faz cair no chão de joelhos, não consigo nada além de murmurar um “ai” abafado e continuar chorando no chão. Olho para a mansão e ela parece infinitamente distante. Sinto de novo a pontada na cabeça e um gemido abafado sai da minha boca. Meus pensamentos começaram a passar por minha cabeça, incontroláveis. Parecia que tinham vida própria, eu não conseguia mais fazer nada.

E de repente eu estava em casa. A revolta dos moradores da cidade, a decepção nos olhos de minha mãe, algo como quase ódio nos olhos do meu pai... – era o dia em que resolvi fugir, eu estava tendo uma lembrança...! – Corri do meu quarto, assustada deixando o garoto imóvel no chão e me escondi no porão. Olhei para minhas mãos, o que eu havia feito? De repente, uma de minhas mãos controlava o fogo, olhei para a outra e nela havia um isqueiro. Não era uma lembrança minha, era... Pyro...

Ouvi a porta do porão estrondar e passos descerem as escadas, antes que pudesse pensar em qualquer coisa, vi homens fardados com armas nas mãos e, quem deviam ser os pais do Pyro parados atrás dos homens, que avançavam em minha direção, ou na direção dele, e eu faço a maior bola de fogo que consigo, jogo em direção a eles e corro, corro o mais rápido que posso em direção a saída da casa, mas uma multidão nada contente está lá fora. Eu não consigo pensar em nada, só atiro fogo para todos os lados e corro. O medo, a dor e a revolta tomando conta de mim, crescendo em meu coração.

Como eles puderam fazer isso comigo? Eu não escolhi ser assim, eu só dei uma lição em uns babacas. Eles vão pagar, todos eles vão pagar.

Então um vulto meio rápido de Pyro jogado em chão sujo, me veio à mente. Ele também estava sujo, machucado, sentia-se abandonado por todos. Todos haviam lhe deixado, de novo. Eu podia sentir a dor dele, revolta e medo fortes de antes também. E tudo isso ia se misturando a minha própria dor, tornando-a mais intensa. E eu apenas grunhia no chão.

E então eu não estava mais onde Pyro, olhava agora para um quarto com malas espalhadas por o chão. Eu já havia estado ali antes, eu conhecia aquele quarto, era...

— Bob, querido. Vamos, seu pai está esperando.

Peguei as malas que estavam no chão e acompanhei a mulher (mãe do Bob) até o carro.

— Vamos lá garotão... – o pai dele disse, chamando – o para entrar no carro

Entrei no carro com a cabeça a mil, usava luvas para eles não verem a fina camada de gelo que cobria a minha mão e tentava me concentrar em não congelar nada.

Céus, estou deixando tudo que tenho, tudo que amo. E eles nem fazem ideia.

O caminho até o aeroporto pareceu eterno, cada minuto durando como uma hora, o medo de me descontrolar e revelar meu poder. Quando finalmente chegamos, o alivio era enorme. Antes de embarcar no avião, olhei-os. Eles acenavam e sorriam, minha mãe com lagrimas nos olhos, emocionada, meu pai orgulhoso...

Se eles soubessem iam ficar tão decepcionados... eu não podia fazer isso com eles.

— Estamos orgulhosos de você – minha mãe gritou antes que eu embarcasse.

Sorri para eles.

Se soubessem o que eu sou, para onde realmente estou indo, não estariam...

A tristeza, o medo e a dor de Bob foram se juntando ao que eu sentia... estava ficando cada vez pior. Então veio um vulto, Bob no quarto dele do instituto, Kit na sua frente, eles se olhavam intensamente, aproximaram os rostos, entreabriram os lábios e...

E então não pude ver mais nada, eu estava em uma sala. Não via, não ouvia nada, minha concentração estava toda em levantar uma moeda. Uma moeda que valia a vida de quem eu mais amava. Estava cheio de medo e ele ia aumentando à medida que o tempo passava e eu não conseguia nem mover a meda. Então ouvi o barulho de um tiro e quando me virei, lá estava ela: minha mãe jogada no chão, sangue escorrendo por um buraco em sua testa. O medo que eu sentia foi se transformando em raiva, revolta, ódio.

Como ele foi capaz?

Eu só queria destruir tudo, matar todos ali. Fiz tudo que era metálico voar pelo ar e joguei as coisas de um lado para o outro usando meu poder, descontrolado, sem saber bem o que fazia – só então percebi de quem eram as lembranças... Magneto...

Desgraçado, desgraçado. São todos uns desgraçados sanguinários...

Depois de um tempo parei, mas raiva ainda tomava conta de mim, eu respirava raiva. Ele deu uma risada, parecia satisfeito com aquilo.

Desgraçado, maldito...

— Nós vamos nos dar muito bem – dizendo isso, me entregou a moeda, aquela maldita moeda.

Então veio um vulto, como das duas primeiras vezes, Magneto estava sentando em algum lugar não muito higienizado, as mãos no rosto, a mente confusa... e isso junto a dor, o ódio, a revolta, o abandono, a solidão, foram se misturando aos meus sentimentos, já misturados com os de outros... parecia que a dor sempre estava presente.

E então eu vi um homem ferido, morrendo no chão – meu pai..., mas não meu pai mesmo, eu de novo, era outra pessoa – corri até ele e tentou me falar algo, mas falhou e morreu em meus braços, ouvi o homem que o matara discutindo com minha mãe, o ódio crescendo dentro de mim de uma maneira que eu não achei que seria capaz de sentir. Ele o matou... ele não tinha esse direito... sinto algo rasgar minha pele, dói, dói muito. Olho para minhas próprias mãos e então percebo quem é a lembrança, três garras saem de cada uma delas. Grito. Um grito de dor, de ódio, de medo, de desespero. Sem saber bem o que faço, me levanto, corro em direção ao assassino e enfio minhas garras em seu peito. O homem geme de dor e, com a voz esganiçada, diz:

— Eu sou seu pai... – aquelas palavras fazem meu coração congelar, não, não, não, eu não posso ser filho deste monstro, não posso – filho...

Meu mundo desabava ao meu redor, o ódio que me preenchera se convertia agora em medo.

— O que você é? – A voz da minha mãe era de desprezo, assim como a expressão em seu rosto, fazendo parecer que eu era o maior culpado de tudo ali, que eu era um monstro, um animal.

Sem saber o que fazer corri sem rumo, os pensamentos confusos...

“O que você é? ”

A pergunta ainda sem resposta fazia minha cabeça latejar.

Então eu vi uma mulher morena, com sardas no rosto.

Você não é um animal.

— Me mate...

— Eu te amo...

Então senti as garras saírem da minha mão e meu braço se mover mecanicamente em direção da mulher ruiva a minha frente e logo depois minhas garras estavam dentro dela, seu sangue escorrendo em minhas mãos...

“NÃO” – dessa vez era eu mesma, não aguentaria aquilo por nem mais um segundo. Meu corpo começou a enfraquecer, a mistura quase maciça daqueles sentimentos em meu peito parecia crescer, tomar vida própria, senti-a emergir dentro de mim e fui sentindo que perdia o controle de mim mesma, é como se todos eles se juntassem em algo forte, algo que queria me controlar, gritavam todos ao mesmo tempo na minha mente, me deixando desnorteada. Eu estava ainda no mesmo lugar da morte de Jean... escombros por todos os lados e eu ali, sozinha, como sempre estive. Eles começavam a tomar o controle de mim e eu já havia desistido de lutar. Era inútil, eu não era forte o suficiente, eu não era o suficiente, eu...

— Vampira... – uma voz conhecida me chamou e me acalmou ligeiramente: Professor, era como se ele estivesse distante, gritando – não pode deixá-los vencer – eu não conseguiria, sabia disso, mas talvez... tentei ignorar todas as vozes gritando dentro de mim e me concentrar em ouvir somente a voz do Professor – Vampira, você é forte. Sei que é. Você consegue – senti o controle voltando a mim e me concentrei ainda mais, tentando voltar à realidade – você precisa...

E então eu abri os olhos e, ao olhar para minhas próprias mãos, levei um susto: de cada uma delas saíam três garras de ossos. Recolhi-as e olhei ao meu redor, em um raio de talvez uns três metros a partir de mim, a grama estava queimada, haviam pontos de gelo já derretendo um pouco, objetos metálicos pequenos, além de vários insetos mortos e eu tinha suas lembranças irracionais e confusas, zumbidos em minha mente e lembranças de por onde haviam passado, eu os havia matado, havia sugado eles.

Me levantei atordoada e confusa e, sem conseguir assimilar direito o que havia acontecido e sem a menor força para tentar, fui – cambaleando levemente – em direção à mansão. Eu precisava dormir, descansar, precisava tirar tudo aquilo da minha mente, precisava tirar ele da minha mente. 


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Notas finais do capítulo

Bom, espero que tenham gostado. Comentem se acham que eu preciso melhorar algo ou se estão gostando, qualquer coisa, mas comentem. E acompanhem a fic também para não perder nem uma atualização.