Depois que você partiu escrita por Agatha


Capítulo 1
Eu preciso ir


Notas iniciais do capítulo

Bom, então aqui está o primeiro capítulo e espero não demorar muito a postar o próximo. Boa leitura! Espero que gostem.



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POV LOGAN

Não dava mais. Eu havia tentado, havia de todas as maneiras possíveis tentado, mas aquele tempo que eu havia passado lá já havia sido de mais. Eu tentei ser um cara bonzinho, tentei ficar ao lado de Ororo e ajudá-la a cuidar da escola, tentei até dar aulas, mas não dava, eu não conseguia. Tudo, absolutamente tudo naquele lugar me fazia lembrar ela, seu sorriso... ela fazia parte daquilo tudo, tinha um pedacinho dela em cada cantinho daquela mansão. E a lembrança – que agora virara também um pesadelo – de eu a matando, enfiando minhas garras nela, seu sangue escorrendo em minhas mãos, não saia de minha mente. Então eu iria embora, já havia suportado de mais, voltaria a ser o velho Logan, a me preocupar somente comigo, a lutar para ganhar dinheiro e me meter em muitas confusões.

Peguei minha bolsa já preparada para a partida, e fui em direção a garagem para pegar a moto de Scoot. Depois da morte dele, fiquei com ela.

Sinto um cheiro conhecido invadir minhas narinas e uma sensação estranha me invadir. Marie... desde que Jean morrera não tenho trocado nem duas palavras com ela, na verdade não tenho falado muito com ninguém.

— Logan? – a voz atrás de mim me faz virar a cabeça para vê-la – onde vai? – ela pergunta notando a bolsa em minhas mãos – Vai fugir de novo? – ela fala tentando dar humor e descontração à pergunta, ao momento, mas posso sentir a tensão e a expectativa nela.

— Vou dar uma volta, guria – respondo, subindo na moto.

— Para onde vai? – ela pergunta, curiosa como sempre.

— Não sei   

— E quando vai voltar? – ela insiste com sua curiosidade natural, as perguntas ficando cada vez mais difíceis de responder.

— Não sei se vou voltar – ela abaixa a cabeça, trise, e, por algum motivo, sinto que devo uma explicação – você sabe que eu não iria conseguir continuar aqui por muito tempo mesmo...

— Mas não sabia que pretendia não voltar – ela fala com a cabeça baixa, o olhar evitando o meu.

— Eu disse que não sei

— Você nunca sabe. Ninguém nunca sabe.

— Esse sou eu – respondo, começando a ficar irritado.

— Se ela estivesse aqui, iria querer que você ficasse e você ficaria.

— Mas ela não esta aqui, certo? – ok, posso estar sendo grosso, mas essa conversa já estava passando dos limites.

— Não, não está. Ela está morta e nós estamos aqui, vivos. E nós precisamos de você. – Ela se aproxima, segura minha mão e fala em um tom mais baixo, quase inaudível para alguém com uma audição comum – Eu preciso de você.

Ela fala olhando em meus olhos, posso ver algo diferente em seu olhar, algo que eu nunca tinha notado... Está perto de mim, perto de mais. Posso sentir sua respiração se chocar com a minha, o hálito saindo da boca levemente aberta, as mãos quentes, agora sem luvas, em contato com as minhas mãos... Algo em minha cabeça começa a gritar para eu sair dali logo, enquanto outro algo grita para que eu faça exatamente o contrário, que me aproxime mais, muito mais. E a voz desse segundo simplesmente abafa a do primeiro e sem saber direito o que faço, a puxo e sem dá-la tempo para falar qualquer coisa e avanço meus lábios sobre os dela. Ela coloca as mãos em meu peito e tenta me empurrar com que, aparentemente, é toda a força que ela tem – e que, obviamente, não tem nem um efeito em mim – mas não a deixo se soltar e logo ela está correspondendo o beijo. Aquele beijo me traz uma paz inimaginável, não sei explicar, mas ele me faz ter vontade de ficar, de ficar e não ir em bora nunca mais, de não a largar nunca mais, de... meu corpo começa a reagir de maneira um tanto inapropriada, a lembrança dela vem forte em minha mente e a voz da razão volta a falar mais alto, Deus, o que eu estou fazendo? Ela é apenas uma criança...

Solto-a imediatamente e ela coloca as duas mãos na boca e me olha confusa e talvez um pouco assustada... Céus, onde eu estava com a cabeça para beijá-la assim? Só pode ter sido o momento de fragilidade em que me encontrava.

— Olha, guria... – procuro em vão as palavras, não há o que dizer, principalmente depois do que aconteceu... passo as mãos pelos cabelos – Eu preciso ir – disse simplesmente. Sem explicações, sem nada, tudo que eu dissesse poderia piorara situação.

Depois liguei a moto e saí, sem ao menos olhar para ela de novo. Me afastei o mais rápido possível e, por causa da minha audição apurada, pude ouvi-la chorar e chamar, aparentemente não tão alto, meu nome. Eu a estava magoando muito, sabia disso. Era difícil para mim deixar a guria assim, mas a lembrança de Jean... eu a matei, ela morreu em meus braços, seu sangue se espalhou por minhas garras, todo aquele lugar me fazia lembrar ela. Todos que eu amava tinham um fim trágico, pelo menos pelo pouco que me lembrava do meu passado. Eu precisava colocar minha cabeça em ordem, precisava ir para um lugar onde eu não pudesse mais machucar ninguém.


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Notas finais do capítulo

Eu simplesmente amo Rogan ♥