Akai Ito, o fio vermelho do destino. escrita por LethFersil


Capítulo 4
Os enigmas de Jin


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui de novo! haha

O capítulo não está longo como os anteriores (graças a Cher), mas temos novas descobertas.

Boa leitura ^.^



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Acordei no hospital um pouco desnorteada, não lembrava como eu tinha ido parar ali, pelos sons das conversas percebi que havia pelo menos duas pessoas ali, ouvindo com mais atenção reconheci as vozes, minha avó estava conversando com o Jin no quarto. Eles com toda a certeza pensavam que eu estava dormindo, pelo menos o Jin deveria pensar, porque minha avó não se importava de falar mal de mim na minha frente.

— Alice sempre foi desmiolada – dizia minha avó com irritação na voz – nunca pensou muito antes de agir isso em qualquer situação. Sempre soube que não ia demorar muito para ela quebrar a cara. Ela acredita muito nas pessoas. Acha que todo mundo é bom.

— Isso não teve relação com o acidente.

— Não falo do acidente, falo dela aparecer na sua casa do nada.

— Na verdade a casa é dela, tecnicamente eu não deveria estar lá. Estava lá por pura sorte.

— E o que fazia lá?

— O Kei me pediu que pegasse alguns objetos. Ele não queria ter que encarar a Alice novamente.

— Um pouco de vergonha na cara ele tem pelo menos isso – resmungou – A outra ai vai ficar internada toda aberta porque é burra. Parece que tem um parafuso a menos na cabeça. Onde já se viu fugir do hospital com a barriga toda aberta.

“A outra ai” era como ela me chamava quando estava decepcionada ou muito nervosa comigo, já deu para perceber o quanto minha avó me ama. Nessa altura do campeonato Jin nem abria a boca, só ouvia minha avó reclamar:

— Eu estava bem feliz por que eu seria bisavó, mas depois do que aconteceu percebi que foi melhor assim. Alice é muito descuidada, não ia saber cuidar de uma criança direito e ia acabar sobrando para o Christian. Foi assim com os dois cachorros e o gato dela. Coitado do meu menino.

De tudo que já tinha ouvido da minha avó isso foi o menos pior, ela conseguia ser mais cruel que isso, mas não quis. E provavelmente percebeu que falou demais pela expressão de Jin:

— Vou lá fora. – disse minha avó antes de sair do quarto– Preciso respirar um ar que não tenha cheiro de álcool 70°.

— Vou ficar por aqui.

Assim que minha avó saiu, me sentei com cuidado e olhei para Jin, ele ainda carregava uma expressão de espanto na face, provavelmente este seria o motivo de minha avó ter optado por sair do quarto, tentei sorrir para ele e brincar com a situação de forma que não parecesse que as palavras dela me afetavam:

— Gostou de conversar com a pessoa que mais me critica na vida?

— Sua avó é uma senhora agradável Alice, mas ela foi cruel falando de você.

— Não se prenda a isso. Ela me conhece desde que nasci e nem tudo que ela disse é mentira.

— Está dizendo que concorda com ela?

— De certa forma sim. Eu não teria responsabilidade para lidar com uma criança, então foi melhor assim.  

— Ok, se você pensa assim.

O rumo da conversa me incomodou então tentei mudar o assunto dizendo:

— O que te trás aqui?

— Eu te socorri e quis garantir que ficaria bem. E, aliás, seu pai é um homem galante.

Gelei e o encarei assustada enquanto ele sorria com seu mais debochado sorriso, não queria dizer o que passava em minha mente, mas tive que dizer:

— Não me diga que o meu pai tentou te seduzir?

— Não, mas nunca conheci homem tão polido e elegante. Eu quis apenas dizer que apesar de ser filha dele, vocês parecem não ter a mesma educação.

Respirei aliviada, ele só quis dizer que sou mal educada, mas não teria sido a primeira vez que meu pai fazia alguma investida em conhecidos meus. O estranho era que Jin estava incomodado com o que eu disse e me repreendeu:

— Seu pai está bem afetado com tudo que está acontecendo com você e seu irmão. E seria extremamente ofensivo se ele ouvisse o que você disse.

— Sim, sei. – respondi desconfortável com a situação – Acredite que tenho motivos para supor isso.

— Você tem seus motivos para supor muitas coisas.

— Porque você tem que falar tanto por enigmas? Eu estava quase entrando em choque hipovolêmico no seu carro e você falando de metamorfose de borboletas.

— Não exagera Alice. Alguns pontos da sua cirurgia se romperam. Segundo o médico você desmaiou de fome.

Não tinha um por que, mas sim, perdi o controle e acabei gritando com o Jin:  

— Você viu como eu estava sangrando! 

— Por favor, Alice. Não me culpe pela sua inconsequência. Seja madura. Você nem se quer lembra sobre a nossa conversa.

Suspirei tentando manter a calma e então recordei sobre a nossa conversa, tive que reconhecer que estava sendo imatura:

— Desculpa.

— Tanto faz – disse andando até a minha cama – já aconteceu, não tem mais o que fazer.

— Não consigo te entender – respondi – você age como se quisesse ouvir um pedido de desculpas e depois é indiferente a ele.

— Não tente entender.

— Ah – respondi com sarcasmo – Muito obrigada por me livrar do trabalho que seria tentar te entender. Estou agradecida.

Pude observar um leve sorriso brotar em sua face e então Jin completou:

— Foi um prazer ser útil.

Não esperava que ele fosse responder o meu sarcasmo com o mais debochado sarcasmo que eu já havia ouvido. Sorri apenas relevando a situação.

Entre tantos acontecimentos que me incomodavam, o maior era a presença de Jin, e essa história de “queria me certificar de que ficaria bem” não me desceu. O carro dele era igual ao que causou o atentado na ponte, e depois ele falou sobre uma Pei Yamagoshe, Yamagoshe... O nome da família na planilha que eu encontrei no notebook... Isso só piorou minhas constatações, então resolvi questionar novamente o real porquê dele estar comigo:

— Jin eu sei que o Kei estava envolvido com umas coisas perigosas de uma tal de família Yamagoshe. O meu acidente na ponte, não foi um acidente, foi um atentado, apareceram uns carros pretos iguais ao seu, uma van e um caminhão em uma estrada que geralmente não é vazia e eles me seguiram e encurralaram, foi uma tentativa de assassinato. Então por favor, me responda sem deboche, Jin. Porque você está aqui?

Ele reagiu com normalidade a minha pergunta, como se esperasse ouvi-la de mim e então com calma respondeu:

— Precisava garantir que você estava segura antes de viajar novamente. Prometi ao Kei que cuidaria de você caso algo como esse atentado acontecesse. Te observaria até te ver bem. Essas pessoas fizeram isso com você porque queriam o notebook do Kei, por isso invadi sua casa e tentei pegar ele de você. Para que essas pessoas viessem atrás de mim.

— Isso não seria perigoso para você?

— Sei muito bem lidar com essas pessoas.

— Sei... – disse desconfiada - Vou falar com o meu pai para ele te dar o notebook, as coisas que estavam no carro ficaram com ele eu acho.

— Não ficaram – Jin respondeu aparentemente aflito – falei com seu pai e ele disse que não tinha notebook no carro.

— Então aquelas pessoas já tem o que queriam. Precisamos notificar a polícia.

— Estamos falando de gente que consegue fazer assassinatos parecerem acidentes, Alice.

— E isso quer dizer que não adianta contatar a polícia.

— Exatamente.

Suspirei frustrada e então Jin com uma voz reconfortante disse:

 - Não se preocupe, como prometi ao Kei, vou cuidar de você até que fique bem.

 - Então ele se importa? – respondi melancólica – como se fizesse alguma diferença.

— Então acho que me cabe apenas repetir o que te disse uns minutos atrás, você tem seus motivos para supor várias coisas.

Mais enigmas... Foi uma semana repleta deles. Todos os dias que Jin vinha me visitar me levava a exaustão de tantas conversas quase indecifráveis. Por mais que ele fosse um pouco antiquado e tivesse o costume de me repreender mais até que o meu próprio pai, era bom ter alguém como ele para conversar. Alguém que não me dizia se eu estava certa ou errada em toda aquela situação.

A minha família reagia com naturalidade a presença do Jin e eu não entendia o porquê, preferi me contentar pensando que eles achavam que Jin era um amigo, o que de certa forma, acabei começando a o considerar assim.

***

No dia que recebi alta do hospital pensei que Jin viria me ver, mas nem sinal, ele ficou comigo durante toda a minha recuperação, achei que tivesse voltado para o Japão, já que ele havia mencionado uma viagem. Essa foi a menor das minhas preocupações, meu irmão seguia precisando do fígado e de um rim, meu pai tentou ser doador, mas não estava apto por causa da doença autoimune, além da idade e da hipertensão, Lydia fez o teste de compatibilidade e descobriu não ser compatível, ela ficou devastada e depois desse dia passava horas no hospital. Meu irmão sempre foi forte como um touro, estava em coma, mas se recuperava bem, o problema era a lesão cardíaca e a possibilidade de falência hepática e renal. Respirava com ajuda dos aparelhos e eu fiquei observando boa parte do tempo como a Lydia era devota ao meu irmão, ela não saia do hospital e permanecia ao lado dele e da minha família. Talvez esse fosse o significado do amor, estar ali, lado a lado, na saúde ou na doença, não era fidelidade, era lealdade que talvez fosse um sentimento mais forte do que o próprio amor. Eu via os dois ali, lindos, juntos, o casal vinte das reuniões familiares, nem percebi quando voltei a sentir aquela sensação da adolescência, de não merecer estar ali, queria que fosse eu ali quase morrendo e não Chris. O meu melhor amigo, meu único irmão estava morrendo e eu não podia fazer nada a não ser observar, tentava conter as lágrimas enquanto segurava firme meu antebraço direito, não, lá não estava doendo, mas era onde há cinco anos, eu e Christian fizemos nossa tatuagem de irmãos. Me perdi em pensamentos lembrando daquele dia, era meu aniversário de dezoito anos e eu queria muito fazer uma tatuagem, Chris sempre o mais sensato disse que eu não deveria tatuar qualquer coisa, que tinha que ser algo importante para mim, então nós fomos ao estúdio e eu disse que tatuaria a data de nascimento dele e as coordenadas do local que ele nasceu, meu irmão ficou super emocionado com a homenagem, porém na hora que o tatuador ia começar a minha tatuagem, ele propôs que nós fizéssemos uma frase, metade em mim e a outra nele, uma frase que resumiria a nossa vida desde que ele ganhou uma irmãzinha, a frase era “Enquanto eu existir, você nunca estará só”, até a vírgula, escrita no antebraço dele e depois da vírgula, no meu. Respirei fundo ao me lembrar disso, tinha vontade de me dar um tiro para que meu rim e meu fígado fossem dele.  Observava enquanto meus olhos mergulhavam em lágrimas quando alguém colocou a mão no meu ombro, eram delicadas mãos masculinas, conhecia aquelas mãos mais tinha que ver com os meus próprios olhos.

— Pedro?

— Oi, Dona Maria.

— Você não sabe como eu te odeio por me chamar assim. – respondi ao chamado o abraçando forte.

— Eu sei que você odeia esse apelido. O Chris melhorou?

— Na mesma. Nem melhora nem piora.

— Fiquei sabendo do seu noivo e do seu bebê, eu sinto muito.

— Não precisa sentir – interrompi o assunto - eu estou bem.

— Eu conversei com seu pai – hesitou - e ele me disse que você tentou se matar, se isso é estar bem... 

— Porque se importa tanto comigo? – questionei olhando em seus olhos - Eu te fiz mal, eu fui uma vadia com você.

— Eu passei por tudo aquilo por sua causa? Sim, passei. Estou bem, vivo e casado agora. Feliz até então. Eu sobrevivi.

— Fico feliz que tenha conseguido.

— Seu pedido de perdão foi muito importante para que eu resolvesse viver minha vida. 

— Essa é a lei do retorno – respondi com sarcasmo -estou pagando por tudo que fiz de errado. Cruelmente pagando.

— Não acredito em lei do retorno. Vamos tomar um café, você deve estar aqui há horas se te conheço.

— Vamos.

Fui até a cantina do hospital com o Pedro, compramos algumas coisas para comer e no jardim do hospital continuamos nossa conversa:

— Alice, eu realmente não esperava que ele fosse fugir assim. Via vocês juntos e tinha certeza que você o amava, uma ideia que sempre foi muito estranha pra mim. Na verdade a única pessoa que eu sempre tive certeza que você ama é o seu irmão. 

—Nossa... – não estava pronta para ouvir essa verdade, mas tive que concordar.

— Eu nunca me senti amado quando estava com você, nenhuma vez. Vi a sinceridade do seu amor pelo Kei, mas talvez ele não sentisse o mesmo.

 - Ele me amava também e muito é impossível crer que tudo acabou assim do nada.

— Às vezes ele escondeu tão bem que não estava pronto para casar que acabou enganando você.

— Deve ter alguma explicação para partida dele, ninguém sai da minha vida assim sem dar explicações!

— Entendi o problema.

— Que problema?

— Não se trata de você tentando lidar com a fuga do noivo por quem você é perdidamente apaixonada. É só você, com um ego do tamanho do mundo, não entendendo o porque de uma pessoa em todo universo não se sentir obrigada a amar você e te colocar em um pedestal. Você não é o centro do mundo Alice!

Em outra situação eu bateria no Pedro, mas eu estava sem forças até pra isso. Comecei a chorar e percebi que ele estava sem saber o que fazer, então, ele me abraçou forte e disse:

— Você vai ficar bem.

— Aconteceu tudo ao mesmo tempo. Tantas desgraças.

— Vai ficar tudo bem.

Tentei conversar com o Pedro, mas todos os assuntos terminavam em Kei. Eu não queria falar sobre o Kei, não queria falar sobre o bebê, eu queria falar sobre essa vontade de me jogar na frente de um carro para salvar a vida do Chris, mas infelizmente, Pedro não era a pessoa certa para eu conversar sobre isso. Então inventei uma desculpa qualquer para que Pedro me deixasse na casa do meu pai, eu ainda estava sem carro e o carro do Chris estava lá. Quando cheguei na mansão tentei a sorte e liguei para Jin, como o esperado fora de área. Resolvi então tomar um banho, vesti um pijama qualquer e peguei a carta que Kei me deixou, deitei na minha cama e posei o papel sobre o lençol e olhei aquela letra cursiva por alguns instantes e li a carta novamente, chorei e sem querer deixei cair uma lágrima sobre a folha, a lágrima atravessou a folha e borrou algumas letras formando um pingo de tinta no lençol branco, então eu vi que algumas letras estavam com uma tonalidade de tinta preta diferente das outras. Peguei um papel branco, coloquei a carta em cima e peguei um borrifador cheio de água. Borrifei na carta e vi que as letras em destaque se desmancharam formando um nome no papel branco "YAKUZA", de repente tudo fez sentido, família Yamagoshe não se tratava de agiotas, era uma máfia, por isso Jin não quis que eu procurasse a polícia, essa era a chave do desaparecimento do Kei.


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem pessoal!



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